Chengdu J-10CE da Força Aérea do Paquistão
Apesar do entusiasmo público com o aparente sucesso do caça na disputa entre Índia e Paquistão, Pequim permanece cautelosa por razões de segurança e diplomáticas
Por Amber Wang
Enquanto cidadãos chineses comemoravam o desempenho do caça J-10C no conflito entre Índia e Paquistão — descrito por alguns como um momento “DeepSeek” para a indústria de defesa chinesa — Pequim permaneceu cautelosa, uma postura que analistas atribuíram tanto a considerações geopolíticas quanto à prudência militar.
O Paquistão afirmou ter abatido caças Rafale de fabricação francesa operados pela Força Aérea Indiana usando um J-10C de fabricação chinesa na quarta-feira. Segundo a Reuters, pelo menos um Rafale teria sido derrubado por um J-10C.
Isso marcaria o primeiro sucesso em combate da família J-10 desde que o J-10 original — um caça monomotor multifunção — foi revelado há 27 anos. O Paquistão, aliado de longa data da China, é o único país estrangeiro a operar o avançado J-10C, com uma frota de 20 unidades. O incidente também representaria a primeira perda relatada de um caça Rafale em combate.
O governo chinês e a mídia oficial permaneceram em grande parte em silêncio. Na quinta-feira, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Lin Jian, disse que “não estava familiarizado” com os relatos de envolvimento de caças chineses no conflito Índia-Paquistão.
A única declaração oficial do ministério veio na quarta-feira, pedindo às duas partes que “exerçam contenção” e evitem ações que possam complicar ainda mais a situação.
Parte da moderação de Pequim está ligada a considerações diplomáticas sobre um conflito entre a Índia, vizinha da China com quem tem uma fronteira disputada, e o Paquistão — o “amigo de ferro” da China e principal comprador de armas chinesas.
O aumento das tensões também ocorre em meio a um ambiente global complexo e à própria situação de segurança regional da China, enquanto Pequim enfrenta tensões crescentes com os Estados Unidos em relação a comércio, tecnologia e contenção militar, além de disputas com Japão, Filipinas e tensões no Estreito de Taiwan.
A China tem buscado expandir suas exportações de armas — especialmente para o Oriente Médio — em um mercado global dominado pelo Ocidente liderado pelos EUA. No entanto, apesar dos avanços tecnológicos nos últimos anos, os equipamentos militares chineses enfrentam ceticismo há muito tempo, inclusive internamente, devido à ausência de experiência real em combate por décadas.
O sentimento público na China mudou com comentários exaltando o avanço dos caças de 4,5ª geração e os mísseis ar-ar PL-15 da China, que acredita-se terem sido usados para abater os aviões de guerra indianos, segundo uma enxurrada de postagens nas redes sociais.
A Chengdu Aircraft Industry Group (AVIC), fabricante do J-10, anunciou na quinta-feira que suas ações haviam subido mais de 30% em dois dias consecutivos de negociação.
Na rede social chinesa Weibo, a hashtag “Autoridades dos EUA afirmam que J-10 abateu pelo menos dois aviões indianos” foi tendência na sexta-feira, atraindo mais de 35 milhões de visualizações. Uma publicação viral da Força Aérea do Paquistão com uma imagem do J-10C e alegando a destruição de um Rafale foi amplamente compartilhada. Um usuário popular, “Muhaiguanhaitian”, comentou: “Sem precisar dizer nada — que seja um sucesso de vendas”.
Um comentário na postagem dizia: “Embora tenha perdido seu prestígio internamente e seja visto como de segunda linha, [o J-10C] ainda é de primeira linha no cenário global.” Outra pessoa afirmou: “Esse foi o melhor comercial para as armas chinesas”.
Uma análise do site de notícias Guancha.cn, sediado em Xangai, observou que o entusiasmo do público chinês não vinha do conflito Índia-Paquistão em si, mas da força comprovada da indústria de defesa da China — sua tecnologia e modelos de produção escaláveis e com bom custo-benefício. O conflito, segundo o artigo, serviu como um teste prático dessas capacidades.
“Isso também mostra que qualquer tentativa de desafiar a soberania e a segurança da China agora enfrentará uma barreira quase intransponível”, dizia o texto.


A China foi o quarto maior exportador de armas do mundo entre 2020 e 2024, respondendo por 5,9% das exportações globais de armamentos, de acordo com um relatório de março de 2025 do Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo. Os EUA lideraram com 43% das exportações globais para 107 países. O Paquistão continua sendo o único operador do J-10C, embora países como o Egito estejam supostamente demonstrando interesse.
Shi Yinhong, especialista em relações internacionais da Universidade Renmin, em Pequim, disse que a resposta contida da China se deve à cautela geopolítica.
“Uma guerra em larga escala [entre Paquistão e Índia] representaria sérios riscos à segurança e à estabilidade regional da China, por isso o país está sendo muito cuidadoso”, disse Shi.
Ele acrescentou que, embora o J-10C possa ter levado vantagem em um único confronto, “se o conflito escalar para múltiplos combates, é difícil prever qual lado prevaleceria no fim”.
Lin Minwang, vice-diretor do Centro de Estudos Sul-Asiáticos da Universidade Fudan, disse que a diferença entre o sentimento público e a política oficial não é incomum.
“A opinião pública chinesa em relação à Índia tem sido geralmente negativa nos últimos anos após os confrontos na fronteira disputada, mas o governo tem mantido uma postura diplomática equilibrada e pragmática”, afirmou Lin.
Ele observou que, embora as tensões China-Índia tenham diminuído um pouco desde o ano passado, e a China agora enfrente uma guerra comercial com os EUA, esses fatores provavelmente não são os principais na posição cautelosa de Pequim.
Enquanto isso, a mídia estatal chinesa, incluindo veículos afiliados aos militares, tem adotado uma linha tênue — destacando os avanços tecnológicos do J-10C, mas evitando qualquer confirmação direta sobre seu envolvimento nas batalhas.
“Zhongguojunhao”, uma conta militar nas redes sociais afiliada ao Diário do Exército de Libertação Popular (PLA Daily), publicou três atualizações na sexta-feira sobre exercícios de treinamento do PLA com o J-10C.
A conta da CCTV.com no Weibo também publicou uma postagem promocional sobre o míssil PL-15E, destacando seu “alcance de mais de 145 km, capacidade para todos os climas e engajamento fora do alcance visual”.
FONTE: South China Morning Post
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