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sábado, 21 de dezembro de 2024

SAAB J-37 Viggen



Capaz de decolar e aterrar em simples estradas no campo, o Saab Viggen foi um dos mais versáteis aviões europeus.

V_capaRaros países, além das superpotências, fabricam seus próprios aviões militares. A Suécia é uma dessas exceções. Há mais de setenta anos que esse país, com população praticamente igual à da cidade de São Paulo, desenvolve com sucesso inédito seus próprios modelos. Com tal limitação, lançar-se ao projeto de um avião militar polivalente Mach 2 é algo que precisa dar certo logo da primeira vez.

Para atingir Mach 2 a Suécia criou o Saab 35 Draken, um “duplo delta” construído em várias versões, das quais 606 foram entregues. Quando, no fim da década de 50, planejava-se o Sistema 37 (como foi chamado o sistema de armamentos), a nova geração não necessitava de mais velocidade, mas sim maior versatilidade e tamanho para transportar um poderosíssimo radar de interceptação e enorme quantidade de armas. Tudo isso numa forma aerodinâmica especial, que conciliasse a velocidade supersônica com a necessidade vital dos suecos (desconhecida até então por outros países): um avião capaz de operar em estradas afastadas, no campo, onde não possa ser destruído por um ataque preventivo no começo de uma guerra inesperada.

Os suecos planejaram o Sistema 37 para conter virtualmente todo o efetivo de sua força aérea, a Flygvapen. Tal complexo abrangia não só o veículo aéreo (Saab-37), mas também o conjunto impulsor, a estrutura, equipamentos de ar e de solo, instalações de teste e treinamento, até mesmo bibliotecas e listagens de computador. Incluía ainda a rede operacional de contato com o Stril 60 — o sistema de controle eletrônico da defesa aérea do extenso território sueco. A Suécia não tinha recursos suficientes para sediar tantos aviões quanto precisava em seu vasto litoral e em sua fronteira norte, mas o Sistema 37 foi, sem dúvida, o que existia de mais avançado entre os modernos aviões de combate do mundo na época.

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O protótipo foi apresentado em 1967, voando pela primeira vez em Fevereiro.

Cauda no nariz

Após longas pesquisas na Saab AB (Saab-Scania, depois da grande fusão de 1968) e em institutos governamentais, chegou-se a uma configuração aerodinâmica única para o novo avião. Poderia ser também um duplo delta como o seu predecessor, mas difere deste por ter uma enorme asa traseira em forma de delta modificado, suplementada por vasta superfície canard (isto é, uma cauda localizada à frente, no nariz). Tal característica é muito mais adequada, pois nos momentos de maior risco — decolagem e aterrissagem — a superfície roda o aparelho, levantando-lhe o nariz, ao invés de comprimir-lhe a cauda. Quando empurram para baixo os profundores convencionais aumentam o peso efetivo do avião, exigindo maior comprimento de pista.

Além disso, as superfícies frontais facilitam o uso de flapes poderosos, para se obter maior força ascensional e controle mesmo a baixas velocidades — enquanto uma asa delta sem cauda, como a do Dassault Mirage III, requer flapes no sentido oposto, empurrando para baixo ao invés de para cima. Para aumentar seu poder, as superfícies frontais receberam flapes também no bordo de fuga. Graças à sua construção metálica em módulo de colmeia, como quase todas as partes da estrutura, essas superfícies são excepcionalmente precisas e suaves.65344e8b486e73b96e69f14f78054800

O passo seguinte foi avançar a cabina pressurizada o máximo logo atrás do grande radar, cuja localização impossibilitava posicionar as tomadas de ar no nariz. Os testes com várias configurações levaram à opção por entradas laterais ovais à frente do canard. Projetadas de forma simples, sem difusores nem ângulos de parede variáveis, elas oferecem total proteção contra o gelo. Os dois dutos alimentam um grande turbofan com pós-queimador que, pela primeira vez num avião militar, foi dotado de reversor de empuxo, para aumentar a desaceleração do aparelho nas aterrissagens em pistas curtas.

Os aviões de combate anteriores usavam motores britânicos. A Saab manteve negociações com a Rolls-Royce, única fabricante [na época] com ampla experiência em motores turbofan, pós-queimadores e bocais variáveis complexos que incorporavam reversores. Mas, na última hora, o governo britânico decidiu cancelar o projeto do avião de transporte HS.681 V/STOL (vertical/short take-off and landing, decolagem e pouso verticais e em pista curta) e seu motor Medway, forçando a Saab a buscar outra solução. O problema acabou sendo resolvido com a adoção do Pratt & Whitney JT8D, um motor civil subsônico para aviões de passageiros, que os suecos reprojetaram para combate supersônico com pós-queimador.

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Apesar dos seus 42m² de área alar, o Viggen foi considerado como um caça ‘pobre’ de manobrilidade. Um sistema FBW poderia ter resolvido, mas tal sistema chegou tarde demais para ele.

A tarefa, decididamente a maior no gênero jamais empreendida na Suécia, foi cumprida com êxito total pela Volvo Flygmoror, que, a partir daí, desenvolveu a série RM8 de motores. Com exceção dos motores russos usados no Tupolev Tu-26 “Backfire” e em alguns outros modelos soviéticos, os RM8 foram os motores mais potentes que os de qualquer outro avião militar.

Uma das principais necessidades era não só STOL, mas também aproximações para aterragens a pique e grandes ângulos de subida após a decolagem. Esperava-se que, na decolagem, o avião atingisse 10.000 m em apenas 100 segundos após soltar os freios — o que foi conseguido — e, na aterragem, que realizasse pousos sem arredondamentos a uma razão de descida de 300 m por minuto. As rodas principais do trem de aterrissagem foram projetadas em tandem com poderosos freios antiderrapagem que se dobram para dentro de rasos compartimentos na asa e na fuselagem. Na parte traseira desta, havia um anel ejetor, feito de titânio. Normalmente, o grande espaço entre seu extremo anterior a fuselagem ficava aberto, para reduzir o arrasto. À velocidade supersônica, fechava-se a abertura e o ejetor servia como um imenso bocal supersônico secundário, com a boca variável de pós-combustão localizada no centro. Logo depois da aterrissagem, assim que a roda do nariz tocava o chão, a compressão do trem sinalizava ao reversor pré-armado, que fechava o bocal normal do jato e puxava o avião para trás, dirigindo o jato de gás para a frente pelas três fendas ejetoras acima das asas e embaixo da fuselagem.

A asa possuia quatro amplas superfícies de controle operadas por unidades hidráulicas. Todas eram elevons e agiam como profundores, como flapes durante a aterrissagem e em diversos modos como ailerons. A cauda triangular vertical, larga e de leme com servocomando, dobrava-se horizontalmente sobre a asa esquerda. Havia também uma aleta ventral fixa.

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O RM8 foi o motor mais potente instalado em um caça que em qualquer outro avião militar da época.

A Saab foi contratada para construir sete protótipos, além de alguns modelos de teste. Sabia-se, no começo dos anos 60, que seriam necessárias várias versões, pois nenhum avião de combate polivalente pode ser tão eficaz quanto suas variantes específicas. A questão é, portanto, diminuir as diferenças, de modo que todas tenham o maior número de pontos em comum. O Saab-37, planejado para executar missões distintas das do Saab 35 Draken, teve seu projeto congelado em 1963; em abril de 1964, o programa foi apresentado de modo completo, com mais de oitocentos aparelhos em quatro versões.

Embora a inflação tenha erodido o número de aparelhos do programa, o Viggen (trovão, nome do martelo do deus Thor) teve suas variantes aumentadas para seis.

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Um Viggen deixa um dos tantos abrigos subterrâneos do país

Começo com o pé direito

O primeiro protótipo voou a 8 de fevereiro de 1967. Sem defeitos nem problemas sérios, a versão inicial, o AJ37, entrou no serviço ativo da Flygvapen com o esquadrão F7 em Satenäs, em junho de 1971, substituindo o Saab A32A Lansen. Era basicamente um avião de combate para qualquer clima. Monoplace, leva consigo cerca de 600 kg de equipamentos eletrônicos distribuídos em cinqüenta conjuntos, entre os quais um avançadíssimo radar Ericsson de antena plana coberta por um grande domo adaptado a voos supersônicos sob mau tempo. Esse domo podia ser deslizado para frente, permitindo acesso à antena.

Havia também um sistema digital de controle de fogo com computador Philips para dados atmosféricos. Uma tela Marconi HUD (head-up display, visor ao nível dos olhos), um sistema ECM (electronic counter-measures, contramedidas eletrônicas), um radar Doppler Decca Tipo 72, um radar altimétrico Honeywell, TILS (tactical instrument landing system, sistema de aterrissagem tática por instrumentos) e um sistema de orientação através de varredura de microondas para aterragem em voo cego.

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O SH37 era uma versão de reconhecimento marítimo para qualquer clima, que podia também ser utilizado para ataque, mas que normalmente operava apenas sobre o mar.

viggensEm suportes ejetáveis sob as asas podiam ser carregados 7.000 kg. Entre as armas estavam o grande míssil Saab RBO4E antinavio, o supersônico Saab RBO5A ar-superfície, a versão TV do Hughes AGM-65 Maverick e RB24 (Sidewinder) ou RB28 (Falcon), estes últimos ar-ar. Além de tudo isso, havia lugar também para um canhão Aden de 30 mm ou uma ampla variedade de bombas e foguetes. O AJ37 integrava duas esquadrilhas de F6 em Karlsborg, duas de F7 em Satenäs e uma de F15 em Söderhamm.

A versão seguinte, que voou pela primeira vez em julho de 1970, foi um biplace de treinamento, o SK37. Contando com um cockpit extra à ré ocupando o lugar do tanque principal da fuselagem e de parte do equipamento eletrônico, esta variante tinha, ainda, uma capota em tandem equipada com periscópios duplos para o instrutor e uma extensão inclinada para trás no topo da deriva. Essa versão entrou em serviço em junho de 1972.

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Sob este ângulo, percebe-se bem o cockpit extra do SK37 biplace. É equipado com periscópio, cujos tubos ópticos projetados assemelham-se a um pequeno par de chifres.

Cabine

Para não aumentar o tamanho do avião e manter os custos sob controle, o JA 37 foi projetado como monoplace. Isso reduz as despesas com treinamento e manutenção de tripulações de voo; por outro lado, aumenta muito a carga de trabalho na cabine, levando a uma eventual redução do desempenho. Para compensar isso, a Saab procurou fazer a cabine o mais ergonômica possível. O piloto tinha suas tarefas facilitadas por três telas de tubos de raios catódicos (CRT), acionadas por um sistema de mostradores eletrônicos (EDS). Esse sistema incluia um HUD para voos a baixa altitude e combate aéreo, uma tela de radar para interceptação em qualquer tempo, um mostrador tático que apresentava a situação de combate e um videomapa sintético. Um retransmissor de dados seguro permitia comunicações com o sistema de defesa aérea STRIL 60 para coleta de dados sobre alvos aéreos. A rede nacional de radares do STRIL 60 proporcionava vigilância e alerta antecipado. Estava integrada não só aos esquadrões de interceptadores J-35F/J-35D Draken e JA 37, mas também as posições de mísseis terra-ar, baterias antiaéreas e unidades de defesa civil. Procurou-se reduzir tanto quanto possível a fadiga do piloto pela otimização do sistema automático de controle de voo (que reduz a sensibilidade aos golpes de ar) e pela instalação, na espaçosa cabine, de um confortável assento ejetável zero-zero assistido por foguetes.

Variante para missões de reconhecimento

viggen na verticalO SF37, um monoplace de reconhecimento, fez seu primeiro voo em maio de 1973. Substituiu o S35 Draken e podia levar todos os tipos de armamento carregados pelo AJ37 e pelo SK37. Não possuía, porém, radar de ataque. Em vez disso, o nariz, de aspecto visual bem diverso do dos outros, estava equipado com quatro câmaras para baixa altitude, duas para altitudes elevadas, uma câmara IR (de infravermelho), além de uma variedade de miras especiais, sensores e instrumentos registradores de dados. Nos suportes externos das asas havia mísseis RB24 de autodefesa, tanques alijáveis e casulos de ECM. Um número substancial de SF37 esteve em serviço.

O SH37 era uma versão de reconhecimento marítimo para qualquer clima, que podia também ser utilizado para ataque, mas que normalmente operava apenas sobre o mar, registrando e informando toda atividade estranha. O SH37, que voou pela primeira vez em dezembro de 1973, tinha no nariz um radar de vigilância e uma câmara para fotografar sua tela. Os três suportes sob a fuselagem levavam um tanque alijável no suporte central, um casulo para reconhecimento noturno no esquerdo e outro multissensor Red Baron (“Barão Vermelho”) no direito. Inúmeras câmaras e gravadores faziam parte de sua carga, enquanto os suportes das asas eram ocupados por mísseis ar-ar RB24 ou casulos de ECM ativos ou passivos. O SH37 serviu com uma esquadrilha de F13 e em conjunto com o SF37 em esquadrilhas mistas de F17 e F21.

Interceptador para todos os climas

O JA37, último dos principais Viggen, requereu tanto empenho e investimentos quanto o original AJ37. Este novo avião de defesa sueco estava para sua versão inicial assim como o Tornado F.2 da RAF estava para o IDS Tornado, multinacional. Apesar de sua capacidade secundária para missões de ataque, o JA37 era, antes de mais nada, um interceptador para todo clima. Contava para isso com estrutura de fuselagem, motor, radar, eletrônica e armamentos inteiramente modificados.

O primeiro desafio foi reprojetar o motor para satisfazer às exigências da missão de caça. Recorreu-se então a uma pesquisa da Pratt & Whitney da década de 60. Em vez de possuir turbina de dois estágios e compressor de baixa pressão de quatro, como no RM8A, o RM8B passou a ter turbina e compressor de baixa pressão, ambos de três estágios, com todas as palhetas modificadas, além de outra turbina de alta pressão e sistema de combustão de quatro queimadores. O reversor de fluxo (reverso) foi mantido. O motor resultante oferecia maior empuxo em todas as velocidades e altitudes (o empuxo de decolagem, por exemplo, aumentou de 11.790 kg para 12.950 kg), além de proporcionar maior confiabilidade funcional em grandes altitudes e nas manobras forçadas.

Para se obter maior manobrabilidade, o número de elevons com servocomando sob cada asa elevou-se de três, nas versões anteriores, para quatro no JA37. Outra mudança externa que possibilitou mais estabilidade direcional foi o leme de direção mais alto utilizado no SK37. As alterações mais importantes ocorreram, porém, nos armamentos e na eletrônica.

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Encontro insólito: Dois Viggens escoltam uma equipe acrobática russa.

Radar de caça multimissão

Um dos maiores aperfeiçoamentos realizados no JA37 foi seu radar de pulso Doppler (PD), desenvolvido apenas a partir de 1960, e que revolucionou a guerra aérea. Nesse radar, o sinal de rádio é processado de modo a eliminar tudo, exceto os objetivos de vital importância. Detectam-se até alvos sem velocidade radial relativa ao caça. Não há sinais de relevo e o mau clima pouco interfere. A tela, assim, permanece limpa, acusando apenas os dados necessários. A imagem que o piloto vê é inteiramente sintética, porém nítida, exata e informativa. O JA37 estava, portanto, equipado com o melhor radar de caça multimissão em serviço num avião não-americano na época, ultrapassado apenas pelo do Tornado F.2. Dotado de visão para baixo e capacidade anti-ECM, ele também iluminava o alvo para o armamento básico ar-ar de médio alcance — o míssil BAe Dynamics Sky Flash (designado como RB71 na Flygvapen), que podia ser transportado em número de até seis sob as asas.

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Armamento

Para a função de caça o JA 37 era armado com um canhão integrado Oerlikon KCA de 30 mm, com 150 projéteis, e uma combinação de mísseis ar-ar orientados por infravermelho RB24 (AIM-9L Sidewinder) e guiados por radar semi-ativo RB71 (BAe Dynamics SkyFlash). O canhão Oerlikon KCA de 30 mm era uma arma muito poderosa, com projétil pesado (360 g), velocidade inicial alta (1.050 m/s), 1 350 tiros por minuto; sua trajetória tensa mostrou-se importante na precisão da mira. Dentro da fuselagem havia alojamentos para novos itens, como navegação inercial, computador digital central e um sistema automático de controle de vôo, produzido em conjunto pela Saab-Scania e Honeywell.

Em condições visuais, os alvos mais distantes podiam ser atingidos com os RB24 Sidewinder; em más condições atmosféricas ou contra alvos situados a média distância eram usados os RB71 SkyFlash. A localização do casulo fixo do canhão do lado esquerdo da fuselagem permitia conservar todos os três pontos de fixação situados sob a fuselagem característicos das outras variantes do Viggen.

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Viggen pertencente a Ala 13 que foi inteiramente pintado de branco para avaliação. Na imagem, visto com seu armamento completo: Dois RB71 Skyflash, quatro RB24 Sidewinder e o pod contendo o canhão.

JA-37Além deles, sob as asas havia mais quatro pontos de fixação. Uma carga típica de armamento consistia de dois RB71 nos cabides subalares internos, um tanque auxiliar sob a linha central e quatro RB24 nos outros cabides das asas e da fuselagem. Pensou-se para o JA 37 ser equipado com o AMRAAM AIM-120 do tipo “dispare e esqueça”, assim que esta arma estivesse disponível, no final da década de 80, mas tal nunca aconteceu.

Na configuração de cargas especificada para a função de ataque ao solo do JA 37 consistia em um total de 24 foguetes de 135 mm transportados em quatro casulos. Para assegurar uma alta taxa de disponibilidade, o JA 37 foi projetado para ter uma manutenção fácil, mesmo quando feita por recrutas. Um dos sinais disso era a quantidade de painéis de acesso, que cobriam 25% da superfície total da aeronave e podiam quase todos ser alcançados confortavelmente do solo.

O sistema JA37 foi desenvolvido a partir dos AJ37 e dos Saab 32 Lansen modificados. Um destes últimos resolveu a maioria dos problemas do aperfeiçoamento do radar para o voo. O êxito desses esforços foi tal que o primeiro JA37 a voar, em 4 de novembro de 1977, deu início à série, com 149 aparelhos encomendados, que, somando-se aos 180 modelos anteriores, elevaram a força de Viggen sueca a 329. As entregas começaram em 1979. Em 2005 o ultimo Viggen foi retirado de serviço, sendo substituído pelo Saab 39 Gripen.

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Versões do Saab Viggen

Saab AJ37: versão original de ataque ao solo: motor Volvo Flygmotor RM8A com 11 790 kg de empuxo estático, sete suportes exteriores de armas e capacidade secundária ar-ar.

Saab JA37: avião interceptador para todo clima, inteiramente reprojetado; motor RM8B com 12 750 kg de empuxo; radar de pulso Doppler; casulo de canhão KCA de 30 mm e possibilidade de até seis mísseis ar-ar RB71 Sky Flash de médio alcance e RB24 Sidewinder; capacidade secundária de ataque 7-3 ao solo.

Saab SF37: avião monoplace de reconhecimento terrestre; motor RM8A; nariz sem radar, mas com ampla faixa de câmaras, gravadores e vários tipos de sensores.

Saab SH37: avião monoplace de reconhecimento marítimo para todo clima; motor RM8A: carregava diversos sensores, inclusive infravermelho, e radar de vigilância no nariz.

Saab SK37: avião biplace de treinamento; cockpit elevado para o instrutor, com periscópios: leme mais alto e opção de armas do AJ37.

– Giordani –

FONTE/IMAGENS: Guerra nos Céus #4; Aviões de Guerra #86

Há 50 anos, a Saab conquistava o mercado

 

Saab J 35 Draken

Saab J35 Draken

Por Roberto F. Santana

O ano é 1969, centenas de fabricantes de peças, motores e aeronaves anunciavam seus produtos nas revistas de aviação. A fabricante de aeronaves Saab anunciava seus produtos e comemorava seu sucesso em um mercado difícil. Competindo diretamente contra dezenas de concorrentes, a empresa sueca atuava praticamente sozinha no mercado (a fusão e compra de empresas já era comum na época), chegava a fabricar boa parte dos sistemas das próprias aeronaves, como o assento ejetável e muito da aviônica e eletrônica era de fabricação local.

Seus três principais produtos eram o jato de treinamento e ataque Saab 105, que, além da encomenda original da Força Aérea da Suécia, foi exportado para Áustria. O caça supersônico Saab 35 Draken, interceptador considerado um dos mais atraentes caças da história e que possuía excelentes qualidades, podendo até mesmo, fazer frente ao F-15 Eagle no combate ‘dogfight’, o belo duplo-delta teve encomendas da Suécia, Dinamarca, Finlândia e Áustria.

A mais marcante aeronave do fabricante escandinavo era, sem dúvida, o Saab 37 Viggen, de aparência avançada, o caça trazia o um quase desconhecido ‘canard’ e o inédito reversor de empuxo dos motores. A configuração dava excelente performance nas decolagens e pousos, eram incrivelmente curtos. Infelizmente, o Viggen não teve exportações, apesar de ter sido usado em grande número pela Svenska flygvapnet.

Uma conquista modesta se comparada aos grandes fabricantes da época. Porém, cinquenta anos depois, com um pequeno e seleto número de fabricantes de aeronaves militares no mundo, a Saab sobrevive como uma das mais fortes companhias.

Saab J37 Viggen

P.S.1: As propagandas originais nas revistas eram mesmo em preto e branco.

P.S.2: No livro World Encyclopaedia of Aircraft Manufactures de Bill Gunston, o autor conta e lista a história de todos os fabricantes de aeronaves no mundo, um ótimo trabalho. No livro existe uma espécie de número de fabricantes que cada país já teve, o autor, porém, resolveu misturar o número com citações ou referências que cada fabricante recebe no livro ao longo da história. Por exemplo, a McDonnell Douglas, por ser uma companhia que tinha sua origem na fusão de dois fabricantes, provoca várias entradas na contagem geral.

A lista é grande, e claro, começa começa com os Estados Unidos, com 1.251 fabricantes (ou registros). A Suécia vem na 16º colocação, com somente 25 registros.

Curiosamente, o Brasil está no 11º lugar no ranking no número de entradas e referências, são 35 registros.

A Força Aérea Sueca durante a Guerra Fria

 

A Força Aérea Sueca (Svenska flygvapnet ou somente flygvapnet) foi criada em 1º de julho de 1926, quando as unidades de aeronaves do Exército e da Marinha da Suécia foram fundidas. Devido à escalada da tensão internacional durante a década de 1930, a Força Aérea foi reorganizada e expandida de quatro para sete esquadrões.

Segunda Guerra Mundial
Quando a Segunda Guerra Mundial estourou em 1939, uma nova expansão foi iniciada e essa expansão substancial não foi concluída até o final da guerra. Embora a Suécia nunca tenha entrado na guerra, uma grande força aérea foi considerada necessária para afastar a ameaça de invasão e resistir à pressão por meio de ameaças militares das grandes potências. Em 1945, a Força Aérea Sueca tinha mais de 800 aeronaves prontas para o combate, incluindo 15 divisões de caças.

Um grande problema para a Força Aérea Sueca durante a Segunda Guerra Mundial foi a falta de combustível. A Suécia estava cercada por países em guerra e não podia contar com petróleo importado. Em vez disso, o xisto betuminoso doméstico foi aquecido para produzir a gasolina necessária.

Cerca de 250 tripulantes foram mortos em acidentes de 1939-1945, de acordo com estatísticas que não foram divulgadas durante os anos de guerra, mas publicadas posteriormente.

Expansão durante a Guerra Fria

Saab J 29 Tunnan em produção

A Força Aérea Sueca passou por uma rápida modernização a partir de 1945. Já não era politicamente aceitável equipá-la com modelos de segunda categoria. Em vez disso, o Estado-Maior da Aeronáutica comprou o melhor que pôde encontrar no exterior, por exexemplo P-51D Mustangs, caças noturnos De Havilland Mosquito NF.19 e de Havilland Vampires, e apoiou o desenvolvimento de modelos domésticos de alto desempenho como o caça a jato Saab 29 Tunnan, lançado por volta de 1950.

No final da década de 1950, a Força Aérea Sueca introduziu o sistema de base aérea Bas 60, que girava em torno da dispersão da força de esquadrões aéreos em muitas bases aéreas de guerra em caso de conflito, a fim de tornar complicado para um oponente destruir a força aérea no solo. As pistas rodoviárias também foram introduzidas como pistas alternativas. O sistema Bas 60 foi desenvolvido posteriormente em Bas 90 durante os anos 1970 e 1980.

Formação de Saab J 29 Tunnan
Pilotos de Saab J 29 Tunnan estudam mapa antes do voo

Durante a Guerra Fria, grandes quantias de dinheiro (incluindo fundos destinados ao programa de armas nucleares da Suécia) foram gastas na Força Aérea Sueca e na produção de aviões domésticos.

Em 1957, a Suécia tinha a quarta força aérea mais poderosa do mundo, com cerca de 1.000 aviões modernos em serviço na linha de frente. Durante a década de 1950, introduziu caças como o Saab J 29 Tunnan, Saab J 32 Lansen e Saab J 35 Draken.

Formação de Saab J 32 Lansen

Pilotos de Draken após um voo de treinamento
Linha de voo de Saab J 35 Draken
Saab J 35 Draken

Em junho de 1952, a Força Aérea Sueca perdeu duas aeronaves em operações da Guerra Fria, no que ficou conhecido como o caso Catalina. Uma aeronave de inteligência de sinais Douglas DC-3 foi interceptada por caças MiG-15 soviéticos sobre o Báltico e abatida com a perda de três tripulantes e cinco técnicos civis. Um hidroavião de resgate PBY Catalina também foi abatido, a tripulação de cinco homens sendo resgatada do mar por um cargueiro.

No papel de defesa aérea, a Força Aérea Sueca também operou mísseis terra-ar. O Svea Air Corps (F 8) operou a aeronave a jato Havilland J-28B Vampire em 1949, sendo substituída em 1953 por Saab J 29 Tunnan e em 1957 por caças J 34 Hunter.

Em 1961, o F 8 foi transferido para a função de defesa contra mísseis, tornando-se o centro de treinamento técnico da força aérea para usar os novos sistemas RB-68 Bloodhound em 2 esquadrões até 1974.

RB-68 Bloodhound
RB-68 Bloodhound

Essas unidades suecas também operaram o sistema de mísseis RB-68 (1 esquadrão cada):

  • Scania Wing, também F 10 Ängelholm
  • Kalmar Wing, também F 12 Kalmar,
  • Bråvalla Wing, também F 13 Norrköping
  • Blekinge Wing, também F 17 Kallinge,

Número de mortos durante a Guerra Fria
Na era da Guerra Fria, mais de 600 pilotos de caça suecos morreram em acidentes durante exercícios e treinamento em tempos de paz no período de 1945 a 1991. Na era 1950-60, o currículo de treinamento de voo era deficiente e os regimes de treinamento eram muito arriscados e alguns tipos de aeronaves tinham falhas de projeto. Na década de 1950, cerca de 21 pilotos morreram anualmente.

Na década de 1960, o número médio de mortos era de 13 por ano, o que significava que a Suécia tinha uma taxa de mortalidade seis vezes maior por 100.000 horas de voo em comparação com os Estados Unidos.

Na década de 1960, a segurança de voo começou a ser considerada, não devido ao número de mortos, mas porque as aeronaves estavam ficando cada vez mais caras. Em outubro de 1960, um caça Lansen colidiu com uma casa de fazenda e matou 7 pessoas. Na década de 1970, o número de mortos foi reduzido para 6–7 por ano. Nos anos seguintes, continuou a cair e, a partir de 1996, nenhum acidente fatal foi registrado.

Congo 1961-1964

Saab J 29 Tunnan voando sobre o Congo

A Força Aérea Sueca viu o combate como parte da missão de manutenção da paz das Nações Unidas ONUC durante a Crise do Congo em 1961 a 1964. Ela estabeleceu uma ala aérea separada, F 22, equipada com uma dúzia de Saab 29 Tunnans, que teve um bom desempenho sob condições difíceis condições na África Central. Os adversários separatistas possuíam apenas um pequeno número de aeronaves com baixa capacidade de combate, como os treinadores Fouga Magister.

1990 – reestruturação
Com o fim da Guerra Fria, as Forças Armadas suecas passaram por um processo de reestruturação massivo. Durante esse tempo, várias bases aéreas foram consideradas desnecessárias e fechadas com caças como o Saab 37 Viggen sendo aposentados prematuramente.

Em 1994, a Força Aérea Sueca tinha mais de 400 caças, em 2005 o número havia caído para menos de 150.

Saab A 37 Viggen saindo de um base subterrânea
Saab 37 Viggen
Saab 37 Viggen acompanha e fotografa um Tupolev Tu-22
Um J 37 Viggen encontra um SR-71 Blackbird no corredor aéreo internacional através do Mar Báltico entre Öland e Gotland. Pintura de Stefan Löfgren

Bases da Força Aérea Sueca durante a Guerra Fria – Norte e Sul

Bases da Força Aérea Sueca em 2021

FONTE: Wikipedia / FOTOS: Força Aérea Sueca