Imagens divulgadas recentemente pela Força Aérea dos Estados Unidos (USAF) dos caças F-15E Strike Eagle durante operações de reabastecimento em voo sobre a região do Comando Central dos EUA (CENTCOM) provocaram uma intensa reação nas redes sociais. As fotos, que mostram os jatos retornando de missões de patrulha aérea de combate, revelam sinais visíveis de desgaste nas fuselagens das aeronaves, com manchas, abrasões e tonalidades escuras em diversas partes do revestimento externo.
A repercussão foi imediata, com usuários especulando nas redes sociais sobre a possibilidade de ferrugem ou corrosão, enquanto outros destacaram preocupações com o estado geral das aeronaves. Apesar da aparência desgastada, especialistas apontaram que o F-15E é construído majoritariamente com ligas de alumínio e titânio, materiais que não são suscetíveis à ferrugem como o aço. O que aparenta ser corrosão, segundo analistas, pode na verdade ser a degradação do revestimento RAM (Radar Absorbent Material), utilizado para reduzir a assinatura de radar da aeronave.
Fontes da própria USAF confirmaram posteriormente que os caças operam rotineiramente em condições climáticas extremas, onde fatores como alta radiação solar, areia abrasiva e vapor de água salgada contribuem para o desgaste superficial dos revestimentos externos. Ainda assim, a USAF destacou que o desgaste é puramente cosmético e não compromete a capacidade operacional dos F-15E. Técnicos realizam manutenções regulares e rigorosas para garantir que cada aeronave mantenha seu desempenho máximo em combate.
As imagens também reacenderam discussões sobre o envelhecimento da frota de caças táticos dos Estados Unidos, em especial os F-15E Strike Eagle, que têm desempenhado um papel fundamental em missões de combate e patrulha aérea desde a década de 1990. Mesmo com décadas de uso intenso no Oriente Médio, o F-15E permanece como uma das plataformas mais confiáveis da aviação de combate norte-americana. Em maio de 2024, um dos exemplares da frota atingiu a marca histórica de 15 mil horas de voo, um feito raro que destaca a durabilidade e robustez do modelo.
Além disso, a USAF tem investido em atualizações importantes no F-15E. A aeronave recebeu o radar AESA AN/APG-82(V)1 e está sendo equipada com o moderno sistema de guerra eletrônica EPAWSS (Eagle Passive/Active Warning Survivability System), que melhora a capacidade de sobrevivência em ambientes com ameaças múltiplas. Essas melhorias fazem parte do programa de modernização que mantém o F-15E relevante mesmo diante de plataformas mais modernas como o F-35.
Apesar do impacto visual das fotos, especialistas ouvidos por sites especializados como The War Zone e Air & Space Forces Magazine reforçam que o desempenho da aeronave não é afetado pelo desgaste superficial. Segundo o último relatório do Government Accountability Office (GAO), a taxa de disponibilidade operacional (mission-capable rate) do F-15E gira em torno de 71,3%, refletindo um bom nível de prontidão, considerando a idade média da frota.
Com a introdução gradual do F-15EX Eagle II, a Força Aérea dos EUA pretende substituir progressivamente os exemplares mais antigos da família Strike Eagle. O novo modelo conta com vida útil prevista para até 20 mil horas de voo, além de maior capacidade de armamentos e aviônicos mais modernos, reforçando o compromisso dos EUA com a superioridade aérea global.
As imagens que geraram polêmica, embora revelem o desgaste visual das aeronaves, também servem como testemunho da extensa carga operacional enfrentada pelos F-15E em zonas de conflito e patrulha intensiva. E mesmo com as marcas do tempo, o Strike Eagle continua a ser um símbolo da presença e do poder aéreo norte-americano no Oriente Médio.
A primeira força aérea latina a anunciar reforços foi a brasileira, que revelou em 2015 o entendimento para compra de 36 JAS 39E/F Gripen da sueca SAAB. Créditos: Viegas | FAB
A aviação militar é um dos ramos principais das forças armadas, um recurso importante na dissuasão e proteção a ameaças. Apesar disso, as Forças Aéreas, especialmente no que tange o aspecto da América do Sul, sempre foram tratadas como um ramo secundário, um braço militar que apenas representa um ralo monetário em que os dólares, reais ou pesos se esvaem aos milhões.
Diversos fatores contribuíram para que, durante várias décadas, ficassem congelados os investimentos nas diversas Forças Aéreas dos países sul-americanos, entre eles a própria estabilidade geopolítica da América do Sul, visto que o último confronto interamericano em que aeronaves tiveram um papel preponderante na região se deu a exatos 30 anos, durante a guerra Peru-Equador.
Além disso, outros fatores mais simples, como as diferentes prioridades de aquisição, as limitações orçamentárias e até mesmo a falta de cooperação em projetos de defesa e planejamento de aeronaves acarretaram em um gradual envelhecimento e obsolescência das Forças Aéreas Sul-Americanas.
No entanto, o que tem sido visto nos últimos anos é um gradual resgate do interesse das Forças Armadas do cone sul em buscaram finalmente uma modernização de seus braços aéreos, no intuito de uma atualização extremamente necessária dos seus arsenais e mantendo, mesmo que minimamente, uma força que seja reconhecida em nível regional.
Puxada principalmente por Argentina e Brasil nos últimos cinco anos, os projetos de modernização das Forças Aéreas dessas duas potências regionais não estão sozinhos nesse cenário, já que países como Peru e Colômbia também buscaram soluções para seus problemas de defasagem de material.
Argentina
Os F-16 são uma grande adição à frota da FAA, um braço das forças armadas argentinas à anos sucateada pela falta de investimentos. Créditos FAA
Depois de passar anos largada a sua própria sorte, a Força Aérea Argentina (FAA) recebeu um grande impulso moral em abril de 2024, quando do anúncio da compra de 24 caças F-16 Fighting Falcon, que formarão, ao lado dos antiquados A-4AR Fightinghawk, a espinha dorsal da aviação ofensiva argentina.
A aquisição dos F-16 faz parte de um antigo plano da FAA que passou décadas engavetado, devido à falta de fundos destinados à Força Aérea Argentina, e que foi somente resgatado no atual governo argentino. O projeto previa a necessidade urgente de modernização da força, que enfrentava sérios problemas desde a aposentadoria dos caças Mirage III, IAI Dagger e Mirage 5 durante os anos 2010.
Os 24 F-16 comprados pela FAA pertencem as variantes A/B Block 15 (subdivididos entre 16 F-16A monopostos e oito F-16B bipostos), que equiparão a VI Brigada Aérea, unidade condecorada por conta de seus feitos na Guerra das Malvinas, e com base atualmente em Buenos Aires. As aeronaves pertenceram anteriormente à Força Aérea Real Dinamarquesa (Flyvevåbnet), que vendeu os modelos e peças de reposição à FAA por US$301 milhões.
Embora seja uma variante mais antiga, os F-16A/B Block 15 tornam-se uma adição valiosa à envelhecida frota da Força Aérea Argentina, e devem estar completamente operacionais até 2028.
Brasil
Em mais um caso de Força Aérea que se deixou levar pelo sucateamento, a Força Aérea Brasileira (FAB) se viu contingenciada em fins dos anos 2000 a entrar no mercado em busca de aeronaves que pudessem suprir a necessidade urgente deixada por modelos mais antigos de interceptadores, que gradualmente, davam baixa de serviço, tais como os Mirage III e Mirage 2000.
Apesar disso, um processo longo e várias idas e vindas do Governo brasileiro significaram que o acordo final para aquisição de novas aeronaves se daria somente em 2015, quando um entendimento entre a FAB e a SAAB definiu a compra de 36 Saab JAS 39 Gripen, sendo 28 monopostos do modelo E e 8 bipostos do tipo F, em uma transação avaliada em US$4.68 bilhão.
Devido às lentas negociações, seria somente em 2020 (ou seja, quase sete anos depois da aposentadoria dos últimos Mirage) que o primeiro Gripen seria incorporado à FAB, que, em julho de 2025, conta já com 10 aeronaves do modelo.
Nove dos caças JAS 39E Gripen já estão em posse da primeira unidade da FAB a ser equipada com o modelo, 1º Grupo de Defesa Aérea (1º GDA), baseada em Anápolis (GO), enquanto que um dos Gripens se encontra empregado em campanhas voo experimentais e desenvolvimento no Centro de Ensaios em Voo do Gripen, em Gavião Peixoto (SP).
Colômbia
Os Gripen E/F comprados pela FAC serão utilizados tanto no perfil de interceptadores, como aeronaves de interdição e ataque ao solo. Créditos Erich Suameth
Desde 1989, o principal equipamento aéreo à disposição da Força Aérea Colombiana (FAC) eram os IAF Kfir C.2, aeronaves que formaram por mais de 30 anos a linha de frente da defesa aérea de todo território colombiano. Apesar do bom serviço prestado pela aeronave, desde 2020 a FAC vinha sondando a possibilidade de troca do veterano modelo, que, apesar de modificações, tinha suas origens em um design dos anos 70.
Assim, a partir de uma série de propostas, que envolveram os Dassault Rafale, Eurofighter Typhoon, F-16 Block 70 e SAAB Gripen E/F, a FAC se decidiu pela proposta sueca em Abril de 2025, muito por conta da experiência bem-sucedida de outro país sul-americano, o Brasil, na utilização da aeronave.
Poucas informações do acordo entre a FAC e a SAAB foram disponibilizadas até o momento, mas estimativas dão conta de que serão incorporados pela Força Aérea Colombiana entre 16 à 24 JAS 39E/F Gripen, em uma transação que deve girar ao redor dos US$3.65 bilhões. As aeronaves provavelmente integrarão o Escuadrón de Combate 111 ‘Dardos’, sob a égide do Grupo de Combate Nº 11, unidade responsável atualmente pela operação dos Kfir da FAC.
Peru
Uma outra unidade que a anos vinha procurando por uma solução econômica e eficiente para a reestruturação de sua frota era a Força Aérea Peruana (FAP), que, por muitos anos, manteve um dos maiores arsenais de aeronaves de linha de frente na América do Sul.
Apesar disso, o envelhecimento progressivo dos modelos levou a FAP ao mercado, com os peruanos anunciando no começo de julho terem se tornado o terceiro parceiro regional da SAAB, após os acordos de Colômbia e Brasil com a construtora sueca.
Por US$3.5 bilhões, que serão pagos em duas parcelas, uma neste ano, e outra em 2026, a FAP irá adquirir 24 caças multifuncionais JAS 39E Gripen, além de sistemas de treinamento, suporte logístico, armamentos e transferência de tecnologia. A expectativa é que a Força Aérea receba seus primeiros Gripen até meados de 2026.
As aeronaves serão primeiramente utilizadas para complementar as operações dos caças já em serviço com a FAP, tais como os Mirage 2000P e MiG-29SMP, com a expectativa de que gradativamente os Gripen assumam o papel principal na rede de defesa aérea do país andino.
Paraguai
O sucesso do Super Tucano como aeronave leve de apoio cerrado foi uma das razões que levou a FAP a se interessar pelo modelo. Créditos: EMBRAER | FAP
Devido ao orçamento limitadíssimo destinado às Forças Armadas paraguaias como um todo, além das necessidades bem peculiares de operação dentro do seu próprio país, a Força Aérea Paraguaia (FAP) teve que sempre um papel secundário na agenda militar do país, jamais podendo contar com aeronaves consideradas de linha de frente em qualquer perfil que seja.
No entanto, desdobramentos recentes principalmente com relação a operações contra o narcotráfico destacaram a necessidade da FAP finalmente ter seu papel redefinido, se transformando em uma unidade que merecia real atenção por conta de seu potencial em operações COIN (contra-insurgência).
Por conta disso, em julho de 2024 a FAP afirmou um memorando de entendimento com a Embraer, para a compra de seis EMB 314 Super Tucano (designados A-29) por US$ 105 milhões; além das aeronaves, o valor também cobre serviços extras provenientes da fabricante brasileira, tais como treinamentos e pacotes logísticos multimissão integrados.
Os primeiros quatro A-29 foram recebidos pela FAP em fins de junho de 2025, com as aeronaves sendo direcionadas para a reativação do 2º Esquadrão de Caças “Indios”.
Uruguai
A Força Aérea Uruguaia (FAU) também foi outra unidade que sentiu por anos a falta recursos para levar para frente o projeto de aquisição de aeronaves mais capacitadas. Devido a política do país de buscar um entendimento diplomático com seus dois principais vizinhos (Brasil e Argentina), a necessidade de manter uma FAU forte significava apenas gastos de recursos públicos.
No entanto, como no caso do Paraguai, desdobramentos relacionados a outras áreas levaram nos últimos anos a FAU a buscar soluções acessíveis para uma renovação, visto que as aeronaves de linha de frente da unidade, sete OA-37B Dragonfly, datavam dos anos 60.
Assim, em agosto de 2024, a FAU sinalizou junto a Embraer a intenção de adquirir seis EMB 314/A-29 Super Tucano, por um valor estimado em US$100 milhões. Em janeiro de 2025, a FAU afirmou que estava disposta inicialmente a receber cinco das aeronaves, com entregas programadas para o período entre 2025/26 e que serão destinadas para o Esquadrão Aéreo N.° 2 ‘Caza’, da II Brigada Aérea.