Pesquisar este blog

domingo, 16 de novembro de 2025

Electra II — A Incrível Trajetória do Avião Mais Amado do Brasil

 O avião que realizou mais de 500 mil voos e se tornou o maior ícone da aviação brasileira enfrentou um início marcado por acidentes fatais




Em homenagem ao legado do L-188 Electra na Varig, optou-se por usar a designação “Electra II” ao longo do texto - Varig

Alguns aviões transformam-se em verdadeiros símbolos de uma época, ou até mesmo de uma rota. Foi o que aconteceu, por exemplo, com o Lockheed Electra II e a ponte aérea Rio-São Paulo, o trecho mais nobre da aviação brasileira.

Durante 17 anos, o Electra II voou exclusivamente na ponte aérea, sempre com as cores da Varig. Foram 15 aviões deste modelo que voaram na companhia gaúcha e realizaram mais de 500 mil viagens, o equivalente a 17.500 voltas ao redor da Terra, ou 560 viagens à Lua. Nessa longa jornada, o Electra II percorreu o correspondente a mais de 217 milhões de quilômetros voados e transportou mais de 33 milhões de passageiros, totalizando 777.140 horas de voo e 736.806 pousos completos.

São números impressionantes do quadrimotor turboélice da Lockheed, que ficou em serviço no Brasil durante 30 anos sem nenhum acidente registrado. O Electra despediu-se do público brasileiro em 1992, mas até hoje deixou saudades entre os apaixonados pelo período românticos de nossa aviação.

Transição para o jato

No início da década de 1950, a Lockheed desenvolvia o incrível C-130 Hercules, um quadrimotor turboélice que até hoje é considerado um dos mais versáteis e confiáveis aviões já produzidos. A Lockheed, baseada nos estudos obtidos com o projeto do C-130 e em pesquisas que demonstravam sua versatilidade em linhas de curto e médio alcance, o que era comprovado pelo sucesso obtido com o Vickers Viscount, iniciou estudos para o desenvolvimento de um turboélice para o transporte comercial.

Tal estudo levou à criação de dois conceitos, o CL-303, de asa alta, que mantinha uma grande semelhança com o C-130; e o CL-310, de asa baixa e perfil mais alongado, sendo que ambos seriam equipados com o motor Allison 501, o mesmo utilizado no C-130. Porém, por diversas razões, nenhum dos projetos atraiu o interesse das empresas norte-americanas naquele momento.

No entanto, em 1954, a American Airlines definiu os parâmetros básicos para um novo quadrimotor turboélice, com capacidade para até 100 passageiros, que seria utilizado em suas linhas de médio alcance para substituir seus veteranos quadrimotores a pistão. Visando manter sua participação no mercado de aviação comercial, a Lockheed baseou sua proposta no projeto CL-310.

O protótipo, matriculado N1881, realizou seu primeiro voo em 6 dezembro de 1957 | Lockheed Martin

A Lockheed lançou no início de 1955 o L-188 Electra, um robusto quadrimotor equipado com quatro motores Allison 501, de 3.750 shp de empuxo cada, com velocidade de cruzeiro superior aos 600 km/h, capacidade para transportar até 90 passageiros e alcance superior a 4.000 quilômetros.

Em 8 de junho de 1955, a Lockheed recebeu da American Airlines a encomenda inicial de 35 exemplares do novo avião, seguida pela encomenda de outros 40 feita pela Eastern em 27 de setembro do mesmo ano. A construção do primeiro dos quatro protótipos foi iniciada no mês seguinte e foi concluída no final de 1957.

À época, a carteira de pedidos do Electra II já totalizava 144 encomendas de nove empresas: American, Braniff, Cathay Pacific, Eastern, Garuda, KLM, National, Pacific Southwest e Western. Um total expressivo para o final dos anos 1950, mas que se mostraria um problema meses depois.

O protótipo, matriculado N1881, realizou seu primeiro voo sob o comando do piloto de provas Herman Fish Salmon, em 6 dezembro de 1957. O primeiro voo partiu das instalações da Lockheed, em Burbank, com destino a Palmdale, onde seria realizado todo o programa de ensaios do L-188. O Electra II foi certificado em agosto de 1958, e a primeira entrega, para a Eastern, ocorreu no dia 8 de outubro do mesmo ano; a American recebeu seu primeiro avião apenas quatro dias depois.

Mesmo com uma carteira de pedidos razoável no lançamento, a concorrência com jatos foi o primeiro entrave no sucesso comercial do L-188 Electra | Lockheed Martin

Por causa de uma greve de pilotos na American, coube à Eastern Airlines realizar primeiro voo com o Electra II, em 12 de janeiro de 1959, na linha Nova York–Miami. No dia 23 de janeiro, foi a vez da American Airlines realizar seu primeiro voo, na linha Nova York–Chicago.

Porém, mesmo tendo recebido novas encomendas da Ansett, Qantas, Northwest e Trans Australia Airlines, as vendas estavam longe das metas iniciais, o que gerava uma baixa cadência de produção, o que elevou o ponto de equilíbrio financeiro de 190 para 215 unidades.

Um dos principais motivos da baixa procura pelo Electra II foi a introdução dos novos jatos de médio alcance capazes de realizar os mesmos voos em menor tempo e com maior conforto. Nessa época, o maior consumo de combustível não era um problema, afinal, o petróleo ainda era um insumo barato.

Sequência de acidentes

Electra
Descida prematura e erros de referência causaram o acidente no Rio Hudson apenas 10 dias após o início dos voos comerciais com o L-188 Electra | Civil Aeronautics Board

Para piorar a situação, um Electra II da American mergulhou no rio Hudson, em Nova York, segundos antes de pousar no aeroporto de La Guardia. O acidente vitimou 65 dos 73 ocupantes e ocorreu exatamente dez dias após o Electra II realizar seu primeiro voo comercial. As investigações mostraram que o acidente foi causado por um erro operacional: a tripulação, inexperiente naquele modelo, cometeu um erro de leitura de um novo tipo de altímetro. Mas o pior ainda estava por vir.

Na noite do dia 29 de setembro, um Electra II que havia sido entregue à Braniff International no dia 18 daquele mesmo mês, desintegrou-se em pleno ar. A tripulação não enviou nenhuma informação sobre qualquer problema com o avião e não havia indicações sobre qualquer anomalia em seus sistemas.

As investigações constataram que, nos momentos finais de seu mergulho fatal, o avião rompeu a barreira do som. Imediatamente toda a frota de Electra II foi retida até que se encontrasse a causa do acidente.

Mesmo após meses de pesquisas, as investigações não conseguiram encontrar nenhum fator que tivesse contribuído para o acidente. Uma única evidência apontava que a asa esquerda havia se desprendido em pleno voo. Porém, não havia nenhum indício do motivo do desprendimento.

Em função da suposição de que cargas aerodinâmicas menores poderiam evitar novos acidentes, até que a real causa do acidente fosse apurada, a Federal Aviation Administration dos Estados Unidos decidiu impor uma restrição de velocidade: o avião não deveria ultrapassar os 418 km/h.

Acidente Electra
O voo 375 da Eastern Air Lines caiu após colidir com pássaros em março de 1960 | Civil Aeronautics Board

Porém, outro acidente, no dia 17 de março de 1960, com um avião da Northwest Airlines, em que morreram 63 pessoas, levaram a opinião pública, apoiada pela grande maioria dos congressistas, a exigir a proibição dos voos do Electra II. Rapidamente as empresas começaram a cancelar suas encomendas. Era o fim da carreira do Electra nos EUA.

Vibração dos motores

Meses depois as investigações comprovaram que ambos os acidentes foram provocados por um fenômeno chamado “whirl mode”, que era ocasionado pela vibração dos motores em seus montantes quando estes sofriam qualquer interferência externa capaz de colocá-los em ressonância, como o balanço causado por uma turbulência.

A vibração era propagada até as naceles dos motores que, por sua vez, a transmitiam para as asas. Era uma vibração tão intensa que, em menos de um minuto, a junção da asa com a fuselagem poderia ser rompida, não dando tempo para que a tripulação sequer declarasse emergência. A solução encontrada pela Lockheed foi reforçar os montantes, as naceles e as longarinas da asa. Porém, a imagem do avião já estava arrasada.

Como a Lockheed não recebeu mais nenhuma encomenda, a produção foi encerrada em 1961, após a produção de apenas 170 aeronaves e um prejuízo de milhões de dólares, especialmente porque a produção não chegou nem perto de atingir o ponto de equilíbrio financeiro.

O vilão se tornou herói

Electra Varig
O Electra voou em praticamente todas as rotas domésticas da Varig

Em 28 de janeiro de 1959, o Lóide Aéreo solicitou ao então DAC (Departamento de Aviação Civil) autorização para importar alguns Electra II. O pedido foi negado. O DAC alegou que, meses antes, o Lóide Aéreo havia importado alguns Douglas DC-6A que foram arrendados à Panair do Brasil, antes mesmo de voar nas cores da empresa.

A ampla repercussão negativa causada pelos acidentes e a introdução maciça dos jatos levaram algumas empresas americanas a se desfazer de toda a frota de Electra II. Em 1961, a American Airlines colocou à venda um lote de Electra recém-recebidos. A oferta chamou a atenção de Lineu Gomes, então presidente do Consórcio Real, que negociou a compra de três aviões, visando substituir os três Super Constellations em uso pela Real. Porém, em agosto de 1961, o Consórcio Real foi vendido para a Varig.

O então presidente da Varig, Ruben Berta, tentou desfazer o negócio com a American. Ele considerava o Electra inadequado para sua empresa, além de perigoso. Porém, a American não aceitou desfazer o acordo e, após intensas negociações, a diretoria da Varig constatou as qualidades do modelo e acabou por encomendar mais dois aviões.

O Electra ganha o Brasil

Electra Varig
Eternizados na Ponte Aérea, o Electra voou também para Nova York e Portugal | Varig

No dia 2 de setembro de 1962, chegava ao Brasil o primeiro Electra II, matriculado PP-VJM. O voo de Tulsa (Oklahoma) até São Paulo (Congonhas) durou três dias, com escalas em Miami e Port of Spain.

No dia 25 do mesmo mês aconteceu o voo inaugural do Electra II, na rota Rio–Nova York. Naquele ano, os Electra II começaram a operar semanalmente na linha São Paulo–Rio–Belém–Port of Spain–Santo Domingo–Nova York. Três vezes por semana, operavam na linha São Paulo–Rio–Recife–Fortaleza e, duas vezes por semana, na linha São Paulo–Rio–Manaus.

Quando a Varig absorveu a Panair do Brasil, em 1965, os Electra II passaram a voar semanalmente no chamado “Voo da Amizade”, que ligava São Paulo a Lisboa, com escalas no Rio de Janeiro, Recife e ilha do Sal. Por causa da enorme popularidade obtida pelo Electra no Brasil, a Varig adquiriu mais quatro aviões da American Airlines entre os anos de 1968 e 1970.

Ainda em 1970, a Varig comprou da Northwest Airlines outros dois aviões, só que desta vez do modelo L-188 PF (Passenger/Freighter), que possuíam uma ampla porta de carga do lado esquerdo da fuselagem. Estes modelos não possuíam a porta de acesso dianteira nem o lounge localizado na parte traseira da cabine de passageiros.

Electra Varig

Os aviões foram matriculados como PP-VLA e PP-VLB. Apesar de operar por algum tempo no transporte de cargas, principalmente para Manaus, ambos foram transferidos para uso exclusivo de passageiros, alguns anos depois. Durante a primeira metade da década de 1970, os Electra II foram utilizados em diversas linhas domésticas, tendo voado em praticamente todo o território nacional.

Em 1975, o DAC emitiu uma norma obrigando os voos da ponte aérea a serem realizados com aviões quadrimotores. A medida fez que os bimotores Fairchild FH-227 Hirondelle, Handley-Page Dart Herald e o NAMC YS-11 “Samurai” fossem retirados de serviço naquele trecho, deixando a linha para o Viscount e o Electra II.

A Vasp logo depois tirou os Viscount  de serviço, fazendo do Electra o equipamento padrão da mais importante linha aérea brasileira. Surgia neste instante um mito, pois o Electra reinaria absoluto na ponte aérea por duas décadas, chegando a realizar até 88 voos diários.

Electra Varig
VOO DURANTE A CRISE DOS MÍSSEIS

Na noite de 31 de outubro de 1962, o Electra II PP-VJL acabou participando da famosa Crise dos Mísseis, um dos episódios mais marcantes da Guerra Fria, que por muito pouco não resultou no início da Terceira Guerra Mundial.

Durante seu pernoite em Nova York, a ONU requisitou a aeronave para buscar em Havana seu secretário-geral, U Thant, que negociava a retirada dos mísseis soviéticos instalados na ilha de Fidel. Após decolar de Havana e deixar o espaço aéreo cubano, o PP-VJL foi escoltado até Nova York por caças americanos e todo o espaço aéreo na rota do avião brasileiro estava fechado para qualquer aeronave.

Este histórico voo foi tripulado pelos Comandantes Platô e Padovani, pelo engenheiro de voo Werner e pelo navegador Nicásio.

Sem aviões para voar entre o Santos Dumont e Congonhas, as Cruzeiro do Sul, Vasp e Transbrasil firmaram um acordo com a Varig, que cederia os aviões e pilotos. O número de assentos disponível para cada empresa do pool que operava a rota foi proporcionalmente dividido de acordo com a participação de cada empresa no mercado. A empresa que operava o voo era responsável apenas pelo pessoal de cabine.

Entre 1975 e 1979, quatro Electra II (PP-VJN/VJU/VJE/VLC) voaram na ponte aérea ostentando apenas a pintura básica da Varig, sem o nome nem o logotipo da empresa. O objetivo era não destacar individualmente o nome de nenhuma operadora do pool, visto que o serviço era realizado em conjunto entre as quatro companhias aéreas.

Posteriormente, alegando problemas de logística, os quatro aviões receberam a pintura completa da Varig. Em 1977, visando atender à crescente demanda da ponte, a Varig adquiriu da colombiana Aerocondor mais dois aviões. Essas aeronaves estavam em péssimas condições e foram completamente reformadas nas oficinas da Varig, em Porto Alegre.

Os dois últimos Electra adquiridos pela Varig foram recebidos em abril de 1986. Estes dois exemplares pertenciam à Tame (Transportes Aéreos Militares Equatorianos) e não tinham condições de voo. A Varig tinha localizado um lote de quatro aviões da Tame e propôs realizar a manutenção completa dos aparelhos, deixando-os em excelentes condições de uso. Como forma de pagamento, a Tame entregaria dois aviões para a Varig. Os equatorianos aceitaram.

Fim de uma Era

Electra Varig

A introdução dos Boeing 737-300 na ponte aérea, em 6 de dezembro de 1991, marcou o fim da brilhante carreira do Electra no Brasil. Exatamente 29 dias depois, em 5 de janeiro de 1992, o PP-VLX realizou o voo VP651 (Rio–São Paulo) e, ao cortar seus motores no pátio de Congonhas, encerrou o último voo de passageiros pagantes no Brasil.

No entanto, o Electra ganharia ainda uma série de homenagens jamais prestadas a um avião no Brasil. Em respeito a sua invejável ficha de serviço, a Varig realizou, no dia 6 de janeiro, quatro voos oficiais de despedida que contaram com a presença de personalidades, jornalistas, políticos e empresários, além da diretoria da Varig, da Vasp e da Transbrasil.

Estes voos foram realizados pelos aviões PP-VJN e PP-VJO, que decolaram do Rio com destino a São Paulo, retornando depois à capital carioca. A imprensa noticiou com destaque o fim dos voos do Electra e uma série de empresas prestou homenagens em campanhas publicitárias. Diversos passageiros foram se despedir do avião e muitos se emocionaram com o fim das operações.

Por ter sido um avião que teve uma carreira respeito e ganhou a admiração de todos que vivenciaram seus 30 anos de carreira, a Varig cedeu ao Museu Aeroespacial, da Força Aérea Brasileira, o PP-VJM, o primeiro Electra II a chegar ao Brasil. Trata-se do único modelo preservado no mundo todo.

Apesar de todos os demais Electras da Varig terem deixado o Brasil em excelentes condições, nenhum encontra-se em condições de voo, alguns foram perdidos em acidentes e outros acabaram sucateados. Um final inglório para aeronaves que representam uma parte da memória da aviação brasileira

sexta-feira, 14 de novembro de 2025

KC-390 Millennium e F-39E Gripen concluem com sucesso voos de certificação de reabastecimento


Parceria entre Saab e Embraer fortalece integração tecnológica e operacional entre dois ativos estratégicos da Força Aérea Brasileira (FAB)



A Embraer, uma das líderes globais na indústria aeroespacial, e a Saab, em cooperação com a Força Aérea Brasileira (FAB), concluíram com sucesso a campanha de testes de voo de certificação para o reabastecimento em voo do caça F-39E Gripen pela aeronave multimissão KC-390 Millennium.

Realizada nas instalações da Embraer em Gavião Peixoto, São Paulo, onde está localizado o Centro de Testes em Voo do Gripen, sob a coordenação do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA) da FAB, a campanha reuniu engenheiros e pilotos de ensaios da Embraer, da Saab e da FAB. Durante os testes, foram avaliadas diversas configurações de voo, velocidades e altitudes, confirmando a precisão durante o reabastecimento em voo. Os sistemas fly-by-wire de última geração de ambas as aeronaves contribuíram para a operação bem-sucedida, com o KC-390 fornecendo uma esteira aerodinâmica favorável e o Gripen E demonstrando excelente resposta em voo.

A campanha de testes de voo consistiu em dois objetivos. O primeiro envolveu a qualificação do F-39E Gripen como aeronave receptora de reabastecimento em voo – um passo fundamental na validação do seu desempenho, estabilidade e integridade estrutural durante toda a operação. O segundo objetivo se concentrou em verificar a compatibilidade entre as duas aeronaves em todo o envelope de voo do KC-390, incluindo reabastecimentos em alta velocidade em condições diurnas e noturnas. O reabastecimento em voo do F-39E Gripen pelo KC-390 aumenta ainda mais a interoperabilidade entre essas duas aeronaves altamente tecnológicas e de última geração.

“Este importante marco confirma as qualidades incomparáveis do KC-390 como aeronave reabastecedora e fortalece ainda mais nossa parceria com a Saab e com a Força Aérea Brasileira. Além disso, a capacidade multimissão única oferecida pelo KC-390, que permite converter o avião em um reabastecedor em questão de horas, oferece flexibilidade incomparável para as Forças Aéreas em todo o mundo”, disse Walter Pinto Júnior, Vice-Presidente de Operações da Embraer Defesa & Segurança.

“Essa conquista reflete o alto nível de integração entre as equipes envolvidas. A verificação do reabastecimento em voo é um marco técnico muito significativo para o nosso negócio, pois demonstra que o F-39E Gripen atingiu um novo patamar de alcance operacional. O sucesso dessa campanha reforça ainda mais a parceria estratégica entre o Brasil e a Suécia e o papel do Brasil no ecossistema global do programa Gripen”, afirmou Mikael Olsson, Head de Ensaios de Voo da Saab.

“A verificação do reabastecimento em voo entre o KC-390 e o F-39E Gripen representa o sucesso de uma cooperação que vai além das fronteiras. É o resultado de um esforço conjunto que combina tecnologia sueca, engenharia brasileira e a excelência operacional da Força Aérea Brasileira”, concluiu o Coronel Aviador George Luiz Guedes de Oliveira.

A Autoridade de Aviação Militar da Suécia (SE-MAA) poderá agora analisar as evidências de verificação da capacidade de reabastecimento ar-ar do Gripen E como parte do seu processo de certificação. Em seguida, o processo de certificação será conduzido pelo Instituto de Fomento e Coordenação Industrial (IFI) da FAB. Essas instituições são responsáveis pela análise técnica e validação dos resultados, garantindo que ambas as aeronaves atendam aos padrões internacionais mais exigentes.

Batizada de Operação Samaúma pela FAB, a campanha envolveu cerca de 40 profissionais e coloca o Brasil entre os poucos países capazes de desenvolver, testar e validar integralmente sistemas de reabastecimento em voo com tecnologia nacional.

quarta-feira, 12 de novembro de 2025

Novo KC-390 de demonstração, E195-E2 e E190F são os destaques da Embraer no Dubai Airshow

 


A Embraer apresentará pela primeira vez o KC-390 Millennium de demonstração com a nova pintura no Dubai Airshow. A aeronave de transporte multimissão de médio porte estará em exibição ao lado do E195-E2, o jato comercial narrowbody mais eficiente do mundo, e o E190F, o jato de passageiros convertido em aeronave cargueira.

A edição de 2025 da exposição aeroespacial bianual, realizada no Aeroporto Internacional Al Maktoum, nos Emirados Árabes Unidos, acontece de 17 a 21 de novembro. A Embraer estará localizada no Estande A63-64.

“Estamos entusiasmados em retornar ao Dubai Airshow e apresentar nosso moderno portfólio para um mercado tão estratégico. A Embraer passa por um forte momento de vendas em todos os segmentos de negócios, e vemos oportunidades significativas na região. O evento é uma ótima plataforma para impulsionar novas vendas e expandir nossa rede de clientes, parceiros e outros participantes da indústria”, disse Francisco Gomes Neto, Presidente e CEO da Embraer.

A Embraer tem vivenciado uma fase altamente positiva de crescimento rentável, impulsionado por eficiência e inovação que levam a resultados favoráveis. A divisão de aviação comercial está expandindo sua presença em mercados-chave com forte atividade de vendas para os E-Jets E1 e E2, enquanto o KC-390 avança nos mercados de defesa globais, como Índia, Europa e EUA.

A Eve Air Mobility também integrará o estande da Embraer no Dubai Airshow 2025, reforçando seu compromisso e presença no Oriente Médio. No início deste mês, a Eve anunciou um acordo com o Ministério dos Transportes e Telecomunicações (MTT) do Reino do Bahrein para acelerar a preparação do ecossistema regulatório, operacional e de infraestrutura necessário para as operações de eVTOL na região

terça-feira, 11 de novembro de 2025

 

Da década de 1950 até os dias atuais, os caças americanos definiram os limites tecnológicos de sua época.



Nos últimos 80 anos, as forças aéreas de todo o mundo rasgaram os céus em cinco gerações de caças a jato. O denominador comum de todas as cinco gerações é o motor a jato, uma invenção tão revolucionária que os EUA não construíram um único caça com hélices depois de a tecnologia ter sido comprovada.

O motor a jato desbloqueou um desempenho incrível, permitindo que os caças finalmente perfurassem a barreira do som, carregassem cargas de bombas antes reservadas para bombardeiros pesados e voassem até a borda do espaço. Aqui está a história de todas as cinco gerações e da que está por vir: o caça de sexta geração.


1942 | 1ª Geração: “Cometas” e “Estrelas Cadentes”

Bell P-59 Airacomet.

Em 1941, o primeiro avião a jato aliado, o britânico Gloster E.28/39, foi demonstrado em segredo aos oficiais da Força Aérea do Exército dos EUA, que então orientaram a indústria americana a desenvolver seu próprio caça a jato. Em um programa intensivo, a Bell Aircraft desenvolveu o P-59 Airacomet, o primeiro avião a jato da dos EUA. O Airacomet foi desenvolvido em grande sigilo, tanto que Bell colocou lonas sobre a fuselagem para esconder as enormes entradas de ar do avião – um recurso encontrado apenas em aviões a jato – e montou uma hélice falsa no nariz. A aeronave voou em outubro de 1942, mas nunca entrou em combate.

Lockheed P-80 Shooting Star.

O Airacomet foi rapidamente seguido por outro avião, o Lockheed P-80 Shooting Star (Estrela Cadente). O P-80 também foi desenvolvido em um período de tempo comprimido, começando o desenvolvimento em 1943, com primeiro voo em 1944. O Shooting Star foi o primeiro avião a ultrapassar 800 km/h em voo nivelado, chegando eventualmente a 930 km/h mph. O avião foi desenvolvido como um interceptador de alta altitude, seus motores a jato permitindo-lhe ganhar uma vantagem de altura sobre aeronaves movidas a hélice e, em seguida, atacá-las de cima. O P-80 realizou apenas algumas missões de reconhecimento na Europa antes do Dia da Vitória, mas viu extensos combates na Guerra da Coréia. O P-80 era uma aeronave somente com armas, montando seis metralhadoras calibre .50 no nariz.


1958 | 2ª Geração: Amanhecer do Jato + Míssil

O norte-americano F-86 Sabre não foi o primeiro caça a jato americano, mas foi o primeiro caça a jato armado com mísseis ar-ar, uma combinação poderosa que ainda hoje domina o céu. O programa foi um enorme sucesso, com quase 10.000 aeronaves construídas e operadas em 30 países em todo o mundo, incluindo a Força Aérea dos EUA e a Marinha dos EUA. O F-86 é considerado um caça a jato de segunda geração, atrás de jatos de guerra como o Me262 e o Meteor por apenas alguns anos.

Em 1958, caças F-86 da Força Aérea da República da China estiveram envolvidos em dogfights com caças MiG-15 e MiG-17 da Força Aérea do Exército de Libertação Popular sobre o Estreito de Taiwan. No âmbito da Operação Black Magic, a Força Aérea dos EUA enviou vinte F-86 equipados para transportar mísseis ar-ar guiados por infravermelho AIM-9B Sidewinder para Taiwan. Os pilotos taiwaneses reivindicaram um total de 25 abates com o Sidewinder contra os MiGs, interrompendo 50 anos de combate aéreo canhão contra canhão.


1961 | 3ª Geração: O motor a jato na sua plenitude

No serviço militar dos EUA entre 1961 e 1996, o F-4 Phantom foi a promessa do moderno motor a jato entregue. O motor a jato J-79, exponencialmente mais potente que o motor radial, produziu caças mais rápidos que podiam transportar cargas de bombas maiores do que os bombardeiros da Segunda Guerra Mundial. O F-4 era uma aeronave multifuncional capaz de funcionar nas funções de superioridade aérea, ataque, apoio aéreo aproximado, reconhecimento e supressão de defesa aérea. O F-4 foi considerado um caça a jato de terceira geração.

O F-4 Phantom estreou apenas 16 anos após o fim da Segunda Guerra Mundial. Com uma velocidade máxima de 2.750 km/h, o F-4 era quatro vezes mais rápido que o lendário P-51D Mustang e podia voar duas vezes mais alto, a uma altitude máxima de 60.000 pés. Embora pesasse menos da metade do bombardeiro pesado B-29 Superfortress, ele podia transportar 50% mais munições, até uma carga combinada de 18.000 libras de bombas, mísseis e cápsulas de sensores. O F-4 fez tudo isso com uma tripulação de dois, nove tripulantes a menos que o B-29.


1964 | A asa de geometria variável

General Dynamics F-111 Aardvark.

Uma das inovações mais interessantes na aviação durante a Guerra Fria foi a asa de geometria variável, ou “asa oscilante”. Um avião com asas inclinadas para frente tinha características de manuseio superiores em velocidades mais baixas, enquanto as asas inclinadas para trás eram superiores em voos de alta velocidade. A asa oscilante permitiu aos engenheiros projetar um avião que desfrutasse do melhor dos dois mundos, um avião com asas montadas em engrenagens que permitiam que fossem inclinadas para frente ou para trás durante o voo.

Grumman F-14 Tomcat.

A primeira aeronave americana de asa de geometria variável foi o F-111 “Aardvark”, um caça-bombardeiro especializado em ataques de baixa altitude. A segunda aeronave foi o icônico F-14 Tomcat, que decolava e pousava com as asas para frente e disparava para interceptar aviões inimigos com as asas voltadas para trás. As asas de geometria variável gradualmente caíram em desuso, devido ao seu peso e complexidade mecânica, sendo substituídas por controles auxiliados por computador.


1971 | Decolagem e pouso verticais

Em 1971, o Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA recebeu o primeiro caça de decolagem e pouso vertical do mundo. O AV-8A Harrier, desenvolvido pelo Hawker Siddeley do Reino Unido, era movido por um motor Rolls-Royce Pegasus que podia vetorizar o impulso horizontal, vertical ou qualquer ângulo intermediário. O resultado foi um caça único que não dependia de pistas de aeroportos, podia operar a partir de navios anfíbios da Marinha dos EUA e era altamente manobrável em combate aéreo.

O AV-8A Harrier foi eventualmente substituído pelo AV-8B Harrier II, mais capaz. O Corpo de Fuzileiros Navais ficou tão apegado ao conceito de caças de decolagem curta ou vertical que insistiu em uma versão especial do F-35 Lightning II, o F-35B, com características semelhantes.


1978 | 4ª geração: A geração que não quer ir embora

A Guerra do Vietnã teve um grande impacto nos aviões de combate dos EUA. A experiência americana durante a guerra, que viu jatos grandes e pesados de terceira geração apresentarem desempenho inferior em combates aéreos com caças norte-vietnamitas, resultou em caças como o F-16 Fighting Falcon, que estreou em 1978. O F-16 combinava alto relação empuxo-peso com manobrabilidade excepcional para criar um dogfighter como poucos iguais.

A adição de munições guiadas com precisão, dirigidas por um pod de navegação/alvo, radares atualizados e novos e aprimorados mísseis ar-ar, como o AIM-9L Sidewinder e o AIM-120 AMRAAM, mantiveram os aviões de quarta geração relevantes para muito mais tempo do que as gerações anteriores. Hoje, 45 anos desde que o primeiro F-16A entrou em serviço, a aeronave ainda está em produção, com novos F-16V saindo das linhas de montagem na Carolina do Sul.


1983 | Furtividade

Há quarenta anos, o conceito de aeronave que evitava radares era considerado um sonho. Pesadas perdas de aeronaves durante a Guerra do Vietnã levantaram a questão: e se fosse possível construir um avião indetectável pelo radar? Uma aeronave, com o exterior cuidadosamente elaborado para reduzir os reflexos do radar e revestido com uma tinta absorvente de radar, poderia, em teoria, passar pelas defesas inimigas sem alertá-las. Emparelhado com bombas guiadas a laser, tal aeronave poderia não apenas atingir um alto nível de precisão de bombardeio, mas também teria elevada capacidade de sobrevivência.

Sem o conhecimento dos sonhadores de 1983, um “caça” furtivo já voava em segredo. O F-117A Nighthawk, desenvolvido, construído e voado em total sigilo, estava operando a partir do campo de testes de Tonopah, em Nevada. Cinquenta e nove aeronaves foram eventualmente construídas, sendo sua primeira experiência de combate a invasão do Panamá em 1989. O F-117A voou mais tarde na Operação Tempestade no Deserto em 1991, na intervenção da ONU na Iugoslávia em 1999, na invasão do Afeganistão em 2001 e a invasão do Iraque em 2003.


2005 | 5ª Geração: Raptors & Companhia

Lockheed F-22 Raptor.

No final da década de 1980, o programa Advanced Technology Fighter (ATF) decidiu colocar em campo um novo caça para substituir o F-15 Eagle. Este novo caça seria o primeiro caça ar-ar a incorporar stealth desde o início, motores Pratt & Whitney F119 poderosos o suficiente para permitir que ele voasse acima da velocidade do som e um radar de varredura eletrônica ativa que poderia detectar alvos inimigos a longas distâncias. O fim da Guerra Fria retardou o desenvolvimento, mas o caça – o F-22 Raptor – estreou em 2005.

Lockheed F-35B Lightning II.

Sendo o primeiro caça de quinta geração, as características do F-22 viriam a definir a geração. O F-22 foi seguido pelo chinês Chengdu J-20 “Mighty Dragon”, o Sukhoi Su-57 e o americano F-35 Lightning II, todos os quais compartilham o conjunto de recursos do F-22. Apenas 195 caças F-22 foram construídos.


2020 | 6ª Geração

Os F-22 e F-35 foram desenvolvidos durante uma época de relativa paz e, como resultado, cada um levou mais de uma década para ir da prancheta ao hangar. O aumento da concorrência com a Rússia e a China, que desenvolveram os seus próprios caças de quinta geração, levou a Força Aérea e a Marinha dos EUA a começar os trabalhos nos primeiros caças de sexta geração. Os dois serviços militares dos EUA estão projetando seus próprios caças separados, ambos chamados Next Generation Air Dominance (NGAD).

Em setembro de 2020, a USAF revelou que havia projetado, testado e pilotado um protótipo de caça a jato NGAD. Três anos depois, ainda não sabemos como é ou do que é capaz. Embora ainda seja cedo, os recursos prováveis que definirão os caças de sexta geração incluirão radares reconfiguráveis e multifuncionais, drones de combate sem piloto que atuam como alas robóticos e motores de ciclo adaptativo que podem otimizar a velocidade ou a eficiência de combustível com o pressionar de um botão.