O episódio poderia soar como apenas um boato sem fundamento, mas existe até registro do dia em que uma companhia aérea brasileira quis comprar o Concorde, o supersônico anglo-francês que voava a duas vezes a velocidade do som e foi aposentado em 2003. A Panair do Brasil, então a empresa com mais rotas para o exterior, firmou um acordo com a BAC-Sud, consórcio então responsável pelo desenvolvimento do Concorde, no final de 1961 para converter três opções de compra dos jatos Caravelle para o novo supersônico.
O fato foi divulgado pela conceituada revista inglesa Flight International em outubro daquele ano, citando o então presidente da companhia, Paulo Sampaio. O executivo revelou à publicação que uma das condições no contrato para compra do Caravelle, um birreator para voos nacionais, era ter prioridade na compra do “Super Caravelle”, da Sud-Aviation (que mais tarde se tornaria uma das fundadoras da Airbus) como foi chamado provisoriamente o Concorde antes do acordo de desenvolvimento em conjunto com a British Aircraft Corporation, hoje BAe.
Os detalhes do negócio e dos planos da Panair são ainda mais espantosos. Na época, previa-se que o Concorde entraria em serviço em 1969 e que teria duas versões, uma de médio alcance “francesa” e outra de longo alcance, “britânica”. Ambas interessavam à companhia brasileira que até possuía planos de como usá-las: “A Panair já tem intenções de utilizar a aeronave menor em voos regionais entre o Rio de Janeiro e Buenos Aires, Santiago do Chile e Recife”, diz o texto da Flight. O que não se previa na época era que o Concorde só seria viável em rotas muito movimentadas e mais distantes, onde sua velocidade faria diferença.
Estreia 15 anos depois
A Flight também destacava o fato de a Panair ter intenções mais claras sobre o avião até mesmo que a Air France e BOAC (que no futuro tornou-se a British Airways ao se juntar a BEA). As duas companhias de bandeira ainda não tinham demonstrado interesse sério no jato supersônico, algo que acabaria ocorrendo depois – ambas foram as únicas operadoras do Concorde.
Antes que o projeto da Panair pudesse tomar forma, a empresa aérea acabou proibida de voar em 1965, num episódio até hoje cheio de polêmicas em que a Varig assumiu seu controle de um dia para o outro. É verdade que seria pouco provável que os planos de compra do Concorde acabassem se tornando realidade, afinal o jato levou muito mais tempo para ser desenvolvido e entrou em operação apenas no início de 1976, 15 anos depois das negociações da Panair. Como consolo, restou o fato de o primeiro voo comercial do avião ter como destino o Brasil, quando pousou no Galeão em janeiro daquele ano, mas nas cores da Air France.
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