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quinta-feira, 2 de março de 2017

PRODUÇÃO DO GRIPEN NG É INICIADA NO BRASIL

O centro de trabalho conjunto da Embraer e Saab em Gavião Peixoto (Divulgação)
O centro de trabalho conjunto da Embraer e Saab em Gavião Peixoto (Divulgação)
A versão brasileira do caça Gripen NG começou a tomar forma. Embraer e Saab inauguraram nessa terça-feira (22) o “Centro de Projetos e Desenvolvimento do Gripen” (GDDN), na fábrica da Embraer Defesa e Segurança, em Gavião Peixoto, no interior de São Paulo. A instalação receberá funcionários das duas fabricantes, além de colaboradores de outras empresas nacionais envolvidas no projeto e membros da Força Aérea Brasileira (FAB).
Cerca de 100 profissionais brasileiros, da Embraer e de outras empresas, enviados para treinamentos na Suécia já estão de volta e iniciaram o projeto no Brasil. De acordo com a fabricante brasileira, a unidade vai reunir mais de 300 funcionários até 2017. Ao todo, o centro terá 180 áreas de trabalho, incluindo setores “secretos”, como frisou Mikael Franzen, diretor geral da Saab no programa Gripen, durante a cerimônia de inauguração do GDDN.
O GDDN será responsável pelo desenvolvimento da versão brasileira do Gripen, ensaios de voo da aeronave e, o que é considerado a parte mais importante da parceria com a Saab, a transferência de tecnologia entre os países. “Esse processo será dividido em 60 projetos-chave, pelo período de dois anos. Envolve treinamento teórico, prática na Suécia, desenvolvimento e produção no Brasil e o programa de pesquisa e tecnologia”, explicou Franzen.
Outra responsabilidade do centro em Gavião Peixoto será o desenvolvimento e produção do Gripen F, a versão do caça para dois pilotos (biposto) – o Gripen NG será a variante brasileira do Gripen E monoposto, mas com recursos diferentes. A FAB encomendou oito unidades dessa opção.
Apesar da configuração orientada para treinamentos, o Gripen F terá a mesma capacidade de combate e desempenho da versão monoposto, incluindo os mesmos sistemas de busca e armamentos. Esse, portanto, será o primeiro avião supersônico desenvolvido no Brasil, com primeiro voo previsto somente para depois de 2020.
A maquete do Gripen NG que já viajou pelo Brasil agora está "estacionada" em Gavião Peixoto (Thiago Vinholes)
A maquete do Gripen NG que já viajou pelo Brasil agora está “estacionada” em Gavião Peixoto (Thiago Vinholes)
Os primeiros Gripen da FAB estão programados para entrar em operação a partir de 2019. Essas aeronaves, entretanto, serão fabricadas na Suécia, com participação da Embraer e outras empresas brasileiras. As 36 aeronaves encomendadas, produzidas nos dois países, serão entregues até 2024, como previsto no cronograma das fabricantes.
Oportunidades
Jackson Scheinder, presidente da Embraer Defesa e Segurança, ainda afirmou, durante entrevista coletiva, que o Gripen nacional será um produto de exportação. “A Embraer e a Saab já estão discutindo essa e outras possibilidades”, contou Scheinder, referindo-se a chance de Embraer e a Saab também desenvolverem outros projetos no futuro. O executivo, porém, não revelou maiores detalhes, mas afirmou que essa movimentação representa uma “perspectiva de crescimento importante”, na área comercial e de tecnologia da empresa.
Schneider falou sobre exportar o Gripen fabricado no Brasil
Schneider falou sobre exportar o Gripen fabricado no Brasil
O centro em Gavião Peixoto também será como um posto avançado de desenvolvimento e pesquisas do Gripen, mas fora da Suécia. Ou seja, novas soluções e adequações futuras para o caça, do Brasil ou de outros operadores, poderão ser desenvolvidas e aplicadas no interior de São Paulo. “O novo Gripen foi projetado já prevendo modificações no futuro”, explicou Ulf Nilsson, vice-presidente da Saab.
Nilsson não demonstrou preocupação com a crise econômica no Brasil. “O programa, tanto aqui como na Suécia, está correndo dentro dos prazos. O próprio centro na Embraer é um exemplo. A instalação começou a ser construída logo após a assinatura do contrato, 14 meses atrás, e já está pronta”, afirmou o sueco. O contrato de compra de 36 caças Gripen NG, além dos projetos de transferência tecnológica, custou US$ 5,4 bilhões aos cofres brasileiros.
Superioridade aérea
A cerimônia de inauguração do GDDN também contou com a presença de Raul Jungmann, ministro da defesa do Brasil. Em tom celebrativo e ao mesmo tempo alarmante, Jungmann afirmou que o projeto do Gripen é um dos mais importantes já colocados em prática na história do país e justificou sua importância: “o ônus da paz no Brasil não será eterno”.
"O ônus da paz no Brasil não será eterno", disse o ministro da defesa do Brasil
“O ônus da paz no Brasil não será eterno”, disse o ministro da defesa do Brasil
“Foram mais de 20 anos de espera pelos novos caças da FAB. Acredito, que após todo esse tempo, fizemos a melhor escolha”, contou o ministro. O Gripen NG é a concretização do projeto FX-2, iniciado em 2006 e adiado em diversas oportunidades. Os concorrentes da proposta sueca eram o Boeing F/A-18 Super Hornet e o Dassault Rafale.
O FX-2, que previa um substituto para os Mirage III, aposentados pela FAB em 2005, foi uma “remodelação” do programa FX-BR, que desde 1991 já pretendia um novo caça avançado.
Quando voa?
Como adiantou Ulf Nilsson, o primeiro voo do Gripen E, apresentado em maio deste ano na Suécia e com as configurações exigidas pela força aérea local, está programado para voar no segundo quadrimestre de 2017. Já o modelo fabricado no Brasil deve voar somente na próxima década.
O pacote de tecnologias para o Gripen NG escolhido pelo comando brasileiro possui itens mais avançados que os presentes na versão sueca. Uma das principais diferenças será o painel de controle, com uma tela panorâmica, em vez de três monitores separados, como no modelo pedido na Suécia.
Além da Suécia, o Gripen também voa em países como a Tailândia, Hungria e África do Sul (SAAB)
Além da Suécia, o Gripen também voa em países como a Tailândia, Hungria e África do Sul (SAAB)
O Gripen “brasileiro” ainda terá um aparelho de comunicação com dois rádios e sistema de encriptação, equipamentos de interceptação e destruição de mensagens eletrônicas, sensores infravermelho de busca e salvamento, além de ligação por “datalink”, recurso que permitirá ao caça “conversar” por meio de sinais eletrônicos com outros aviões e torres de controles.
Em termos tecnológicos e de ataque, o Gripen NG dará a FAB uma capacidade digna de país de primeiro mundo, com variadas possibilidades de ações com ajuda de novas tecnologias. Já para a economia e a indústria nacionais, será o primeiro produto com potencial supersônico.
Nota do editor: Outras empresas brasileiras que participam no projeto do Gripen com a Embraer são a AEL Sistemas, Akaer, Atech, Mectron, Inbra e Atmos. 

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