O projeto do que viria a ser o bombardeiro B-52 surgiu logo após a Segunda Guerra Mundial, quando as forças armadas dos Estados Unidos fizeram um requerimento para a indústria aeronáutica do país desenvolver um novo avião estratégico capaz de fazer frente às ameaças que surgiam mundo afora após o conflito de seis anos.
Em abril de 1952, o primeiro voo ocorreu com o protótipo YB-52 e três anos depois o imenso jato de oito motores entrava em serviço na Força Aérea dos Estados Unidos como principal arma de ataque nuclear da época. E até hoje, 62 anos depois, o bombardeiro criado pela Boeing segue em serviço ativo.
O inconfundível B-52, conhecido pelos militares pelo sugestivo apelido de “BUFF” (Big Ugly Fat Fucker – Grande, Feio, Gordo Patife, para usar um termo mais brando), ao contrário do que possa parecer, está distante da aposentadoria. A força aérea já pensa em modernizá-lo mais uma vez e trabalha com a hipótese de contar com a aeronave por mais algumas décadas a ponto de ser possível completar seu centenário ainda em serviço.
Sinal claro dessa admiração e da utilidade do veterano avião é que na semana passada um B-52H, a última série produzida, voltou ao serviço ativo após passar quase dois anos sendo restaurado.
O B-52 “Ghost Rider” (cavaleiro fantasma), número de cauda 61-007, foi fabricado em 1961 e estava estocado no deserto junto com outros 12 irmãos no chamado “nível 1000” de conservação, quando a USAF deseja manter o avião em condições de voltar a ser usado.
Ele era o mais bem conservado dos B-52 aposentados, mas ainda assim precisou de 19 meses para ter condições de voar e servir à 5ª Ala de Bombardeiros sediada na base aérea de Minot, na Dakota do Norte. No dia 27 de setembro passado, ele se juntou a outros 75 bombardeiros B-52 numa missão hoje um pouco diferente de quando surgiu, na década de 50.
Mísseis de cruzeiro
No início da Guerra Fria, os bombardeiros mantinham o mesmo tipo de missão da época da Segunda Guerra: voavam até o alvo e despejavam seu arsenal por queda livre. Por isso o importante era chegar em grande altitude e longe das baterias anti-aéreas. Mas esse panorama mudou com a chegada dos mísseis terra-ar e caças interceptadores equipados com armamento de longo alcance.
Curiosamente, essa mudança causou mais danos à carreira de aviões mais modernos que o B-52, como o bombardeiro supersônico B-58 Hustler e mesmo o futurista XB-70 Valkyrie, que acabou nem entrando em serviço. Até mesmo o B-1 Lancer, um imenso avião de asas de enflechamento variável, teve que mudar seu perfil original para o de ataque em baixa altitude. Mas o B-52, cujo nome oficial é “Stratofortress” (fortaleza da estratosfera), seguiu em serviço, equipado com mísseis de cruzeiro, que podiam ser lançados a uma distância segura.
Versátil, o gigante de oito turbojatos fumacentos desempenhou outros tipos de missões em lugares tão variados quanto o Vietnã, Oriente Médio e mesmo na Europa, durante os conflitos na antiga Iugoslávia. Mas o fim da Guerra Fria e acordos com a Rússia fizeram a força ativa de B-52 ser reduzida significativamente, sobretudo da versão B-52G, antecessora da série H.
Com um custo operacional baixo, o B-52 reluta a sair de cena mesmo com novos aviões surgindo como o B-2, o bombardeiro stealth que é até hoje o mais caro avião já produzido. Mas a situação deve mudar com a chegada do B-21 Raider, um novo jato ‘invisível’ mas de custo mais realista que o Spirit. Mais uma vez, os planos são de fazê-lo o sucessor do B-52 e do B-1, mas para alguns o “BUFF” ainda será útil nas próximas décadas.
Se isso ocorrer de fato, o B-52 será uma visão única nos céus, com suas enormes asas enflechadas, o longo rastro de fumaça de seus motores e sua cara de poucos amigos e com mais de 70 anos de história.
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