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sábado, 17 de abril de 2021

F-8FN: O Crusader a serviço da Marinha francesa

 

Finda a Segunda Guerra Mundial, a França estava defasada na tecnologia de aviões a jato.

A França do pós-guerra era um país devastado economicamente. Mas não só isso. Por ter sido subjugada pela máquina de guerra da Alemanha nazista, seu parque industrial não participou da revolução tecnológica que se deu ao longo do conflito. Obviamente que muito material a cerca da tecnologia do III Reich também acabou em mãos francesas.

Com dinheiro norte-americano e muita disposição para se colocar novamente como um player global relevante no cenário mundial, o governo francês incentivou a indústria a buscar o tempo perdido e a autossuficiência na produção de armas, mas quando isso não era possível, a única opção era buscar fora até que uma solução “caseira” estivesse disponível e assim foi quando a Marinha francesa precisou de um interceptador.

O Crusader

O Crusader foi desenvolvido pela Vought (uma associação de várias empresas aeroespaciais dos EUA) para a Marinha dos EUA em 1957 como um caça de combate aéreo embarcado em porta-aviões. O jato, então designado F-8 pela nomenclatura das Forças Armadas dos EUA, era um monomotor capaz de alcançar 1.600 km/h. O aparelho viu muita ação nos céus do Vietnã, abatendo 19 MiGs do Vietnã do Norte, o que lhe rendeu o carinhoso apelido de the last gunfighter, por ter sido o ultimo caça da Marinha dos EUA projetado para o combate ar-ar. Os projetistas e estrategistas da época acreditavam que o uso de canhões e aviões evoluindo um atrás do outro era coisa do Passado. O Futuro era o combate entre mísseis. Terrível engano.

Vought F-8 Crusader (1957)

O F-8 era um avião rápido. Rápido demais para pousar em segurança na pequena pista de um porta-aviões. A solução foi projetar uma “asa de incidência variável”. Pivotando pela parte de trás, o aerofólio ajustava seu ângulo em relação à fuselagem. A capacidade de aumentar o ângulo de ataque da asa enquanto mantém o nível da fuselagem deu ao piloto boa visibilidade tanto na decolagem quanto no pouso. Mesmo assim o Crusader continou rápido para o pouso no convés e seus pilotos precisaram ter muita habilidade com a máquina. O F-104 recebeu a triste alcunha de “fazedor de viúvas”, mas o que poucos sabem é que o F-8 era chamado de “assassino de alferes”.

Com a Marinha francesa

Em 1962 a Marinha francesa (Marine Nationale. Seu braço aéreo era a Aéronavale) solicitou aos fabricantes de aeronaves do país um caça naval de superioridade aérea e interceptação. O novo caça deveria ser capaz de operar embarcado nos novos porta-aviões Foch e Clemenceau. Na época o principal aparelho da Aéronavale era o SNCASE Aquilon, que nada mais era do que o de Havilland Sea Venom montado localmente sob licença.

Os fabricantes apresentaram suas propostas, com destaque para uma versão naval do Mirage III, porém esses foram considerados ambiciosos, caros e além da capacidade da tecnologia francesa da época.

Assim os oficiais da Marine Nationale decidiram buscar no exterior outras opções.

Na época as únicas aeronaves capazes de preencher os requisitos da Aéronavale eram o McDonnell F-4 Phantom II e o Vought F-8 Crusader. Pilotos franceses foram então até os EUA analisar as duas aeronaves.

Os franceses logo viram que o Phantom era a aeronave certa, mas havia um problema: o jato da McDonnell era grande demais para os porta-aviões franceses. Assim, a única alternativa recaiu sobre o F-8.

Em março de 1962 começaram os testes. Dois Crusaders decolaram do USS Saratoga, pousando no exíguo convés do Clémenceau, comprovando a viabilidade de operação do Crusader no porta-aviões.

A Vought ofereceu então uma versão modificada do F-8E para os requisitos franceses. Essa variante foi designada F-8FN (French Navy).

Como o Clemenceau era menor, era preciso reduzir ainda mais a velocidade de aproximação. Os slats foram aumentados e seu ângulo de inclinação passou para 44º graus, assim como o flap e o aileron, que passaram para 40 graus. Essas modificações aumentaram a curvatura da asa, aumentando significamente a sustentação, mas o arrasto também aumentou. Para compensar, a incidência variável da asa diminui de 7 para 5º. A velocidade de aproximação foi reduzida em 27 km/h. Essas modificações foram anos depois adicionadas na frota de F-8 da Marinha dos EUA.

O F-8FN manteve os quatro canhões, mas o AIM-9 foi substituído pelo míssil francês Matra R.530, muito menos capaz que o Sidewinder. Como precaução, a Aéronavale manteve a capacidade de usar o AIM-9 se necessário, mas em via de regra, o Crusader francês só usava o Matra. O F-8FN também recebeu um sensor IRST (Infra-Red Search and Track – infravermelho de busca e rastreamento), algo que o modelo norte-americano não possuía.

Embora o F-8FN viesse com a capacidade de usar o AIM-9 Sidewinder, os franceses em sua busca por independência tecnológica optaram por usar o R550 Magic, muito menos capaz. Na imagem um F-8E do USMC.
Outra adaptação foi o míssil R.530

A Marinha francesa comprou 40 Crusaders (6 biplaces) ao custo de US$ 65 milhões, que incluía peças e motores. Mais dois foram comprados posteriormente.

Em serviço

Em 1964 a Aéronavale colocou em serviço o primeiro esquadrão de F-8FN, que contava com 12 aviões e foram embarcados no Clemenceau. Oficialmente a variante francesa entrou em serviço em 1966.

Durante um exercício de combate simulado em 1977, dois F-8FN decolaram do Foch para interceptar o que seriam dois F-100 Super Sabre da Força Aérea francesa estacionados em Djibouti (norte da África). Os Crusaders logo engajaram os caças e iniciou-se um ranhido ballet aéreo. Foi então que os pilotos franceses perceberam que não eram os F-100 e sim caças MiG-21 do Iêmen. Os pilotos mudaram as armas para o modo de combate real, mas logo as partes voltaram para seus respectivos lados da fronteira. Foi a única interceptação real do F-8FN nos 35 anos de serviço com a Aéronavale, embora tenha participado de várias missões e estado em alerta em muitas ocasiões.

Um substituto

No início dos anos 1980, a França esperava que uma das versões do programa que deu origem ao Typhoon, da qual os franceses faziam parte no estágio inicial, fosse embarcada. Com a saída dos franceses, o país decidiu seguir sozinho com seu Rafale.

Mas o Rafale M não estaria pronto até o final da década de 1990. Assim, os oficiais da Aéronavale saíram a busca novamente por uma opção estrangeira. A aeronave que se encaixava perfeitamente nos requisitos operacionais era o McDonnell Douglas F/A-18 Hornet, porém o poder político da Dassault falou mais alto e o governo impôs a Marinha o Rafale M. Para compensar o tempo de espera, cogitou-se alugar o Hornet. Mais uma vez a Dassault entrou em campo e conseguiu fazer com que 17 F-8FN fossem “renovados” (não modernizados) nas instalações da fabricante francesa. Esses renovados F-8FN receberam a designação de F-8P (Prolongé).

Finalmente, em 1999, a Aéronavale retirou de serviço o seu ultimo F-8 Crusader, encerrando assim a carreira do último caça atirado

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