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terça-feira, 4 de maio de 2021

GUERRA FRIA: Incidente Hainan completa 20 anos

 

Há duas décadas um caça da China colidia em pleno ar com uma aeronave da Marinha dos EUA.

No dia 1.º de abril de 2001, um Lockheed EP-3E Aries II da Marinha dos EUA sobrevoava o Mar da China Meridional a 102 km da costa chinesa e a 160 km de uma instalação militar da China nas ilhas Paracel. O EP-3 estava em uma missão de vigilância eletrônica. Na ilha de Hainan, o alarme soou e dois caças F-8 Finback (uma versão local baseada no MiG-21 e desenvolvida pela Shenyang) decolaram para interceptar o aparelho norte-americano.

Pouco menos de 20 min e os interceptores chineses alcançaram o EP-3. Conta-se que os norte-americanos fotografaram os F-8 (também chamados de J-8) armados com mísseis ar-ar Python, de fabricação israelense.

O Lockheed EP-3E Aries II é uma aeronave de reconhecimento Multi-Inteligência/SIGINT baseada sobre a plataforma do P-3 Orion. O EP-3E é a única aeronave de reconhecimento baseada em terra da Marinha dos EUA.

Para os norte-americanos era só mais uma interceptação. Semanas antes um F-8 havia sido fotografado a 6 metros. Os pilotos deixavam o EP-3 no modo piloto automático e pouco se importavam com os caças. A rotina a bordo seguia seu fluxo normal.

Logo os pilotos chineses começaram a assediar violentamente o turboélice, realizando passes cada vez mais próximos. A tripulação norte-americana fez gestos de alerta, tentando em vão avisar que estavam próximos demais. Foi quando um dos F-8 iniciou um passe, mas – conforme relatos – o piloto teria percebido tarde demais que estava muito rápido e para evitar a colisão, puxou para a esquerda. As lâminas do motor atingiram o caça, e ambas as aeronaves acabaram colidindo. O EP-3 teve o domo do nariz arrancado.

O F-8, sem controle, mergulhou em direção ao mar. O piloto conseguiu se ejetar, mas o seu ala não viu nenhum paraquedas. Acredita-se que o paraquedas do piloto – Wang Wei, 33 anos – tenha falhado. O corpo de Wang nunca foi recuperado.

A esquerda os tripulantes voltam para casa depois de serem detidos e interrogados por vários dias pelo governo chinês. O presidente Bush teve de enviar uma carta pedindo desculpas pelo ocorrido.

O EP-3, cambaleante, iniciou uma desesperada descida em direção à pista mais próxima: a base aérea de Hainan, em solo chinês. O comandante da aeronave decidira não evacuar a tripulação sobre o mar.

O piloto norte-americano emitiu várias vezes o pedido de socorro enquanto se dirigia para a pista, mas foi solenemente ignorado pelos controladores chineses de terra. Ao chegar, o piloto realizou uma volta sobre a pista num padrão que indicava que estava sem contato com a torre. Quando o avião pousou os 24 tripulantes a bordo se puseram a destruir o equipamento interno, enquanto a segurança da base cercava o aparelho.

Os norte-americanos foram detidos e interrogados pelo governo chinês, enquanto nos bastidores a diplomacia entrava em campo. No dia 12 de abril a China libertou os tripulantes.

O F-8 é um caça desenvolvido na década de 1960 pela Shenyang a partir de engenharia reversa no MiG-21. Várias versões foram fabricadas. O F-8II Finback-B foi desenvolvido na década de 1980 para suplementar o J-8I. O Finback-B mudou radicalmente sua forma em relação as versões anteriores. .

A morte do piloto foi amplamente explorada na mídia internacional pelo governo comunista chinês. O foco era mostrar a hegemonia da China da região. Foi uma campanha anti-EUA muito mais forte que a de 1999, quando bombardeios da OTAN atingiram a embaixada chinesa na Iugoslávia. Pequim culpou os pilotos norte-americanos, alegando que eles manobraram bruscamente para cima dos jatos, bem como diminuindo a velocidade para dificultar a interceptação.

O incidente é visto como uma mola impulsionadora no rearmamento chinês. Depois de 2001 o governo chinês injetou bilhões de dólares na modernização de suas forças

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