Na noite de 9 de abril 1982, uma aeronave cubana IIyushin 62 adentrou o espaço aéreo brasileiro, sem apresentar plano de voo e/ou autorização de sobrevoo. Nesta época, não havia acordo entre os dois países.
Para contar como os pilotos – Jaguares -, controladores de defesa aérea – Linces – e demais autoridades da FAB realizaram esta bem-sucedida interceptação em meio às péssimas condições meteorológicas daquele momento, o Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA) preparou um curta com todos os envolvidos.
Os Linces estão em festa, comemorando esses 40 anos da vitória da Defesa Aérea brasileira com o Mirage III, na expectativa da atuação dos novos caças para manter a soberania aeroespacial nacional. A produção especial pode ser assistida a seguir:
A RACOAM 2022 – Reunião de Controladores de Operações Aéreas Militares, realizada no Instituto de Controle do Espaço Aéreo (ICEA), de 3 a 8 de abril, teve um caráter agregador e proporcionou troca de experiências e congraçamento de 52 elos participantes do Sistema de Defesa Aeroespacial Brasileiro (SISDABRA) em uma maratona intelectual somada a exercícios simulados.
Coordenada pelo DECEA, em parceria com o Comando de Operações Aeroespaciais (COMAE), a RACOAM 2022 – em sua 11ª edição – avaliou as atribuições rotineiras e a correta utilização de técnicas e táticas empregadas pelos Órgãos de Controle de Operações Aéreas Militares (OCOAM) em atividades de Defesa Aeroespacial, utilizando o Simulador de Operações Militares para Defesa Aérea (SOPM).
A importância desse treinamento para a Defesa Aérea é aprimorar as técnicas, ampliar conhecimentos e dar oportunidade de os militares discutirem assuntos específicos para desenvolver a doutrina operacional.
No primeiro dia, os controladores receberam briefing do ritmo de batalha da RACOAM e, logo depois, participaram de uma prova de conhecimentos.
As equipes eram formadas por controladores de Defesa Aérea dos Centros de Operações Militares (COpM I, II, III e III) inseridos nos quatro Centros Integrados de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (CINDACTA I, II, III e IV), do Primeiro Grupo de Comunicações e Controle (1º GCC) e de seus Esquadrões subordinados. Os Chefes Controladores (CC), Ajudantes de Chefes Controladores (AJCC), Controladores de Operações Aéreas Militares (COAM) e Controladores de Tráfego Aéreo Militar (CTAM) atuaram em cenário de crise e de aumento de tensões.
As avaliações operacionais ficaram sob a responsabilidade do ICEA, do DECEA e do COMAE e, no final de cada operação simulada, o grupo se reunia para comentar as lições aprendidas analisadas operacionalmente por todos os participantes.
Simpósio de Operações Militares
Dentro da programação da RACOAM, o Simpósio de Operações Militares reuniu, no auditório do ICEA, chefes dos quatro COpM e de Divisões de Operações Militares do 1º GCC. Simulação, Capacitação, Doutrina, Guerra Eletrônica, Efetivo Operacional e Indicadores foram os temas discutidos no Simpósio.
Representando o Comando de Operações Aeroespaciais (COMAE), a Major Aviadora Carla Alexandre Borges – que trabalha na Divisão de Operações Correntes (DIVOC) -, atuou como supervisora de Defesa Aérea na RACOAM 2022.
Ela destacou a responsabilidade do COMAE no gerenciamento de todas as atividades operacionais da reunião, supervisionando o trabalho do DECEA e dos seus regionais: “A importância desse treinamento para a Defesa Aérea é aprimorar as técnicas, ampliar conhecimentos e dar a oportunidade de discutir assuntos específicos para desenvolver a nossa doutrina” – complementou a Major Carla.
O chefe da Seção de Simulação de Operações Aéreas Militares (ESOM), o Primeiro Tenente Rossi Anderson Nogueira, Especialista em Controle de Tráfego Aéreo, representou e atuou como gerente de simulação dos exercícios da RACOAM 2022. Ele ressaltou a importância da utilização do simulador para todos os treinamentos de atividades aéreas: “O SOpM tem aplicação em quase todos os cursos de operações militares do DECEA e, também, nos exercícios de simulação e adestramento simulado que atende tanto ao DECEA, quanto ao Comando de Preparo (COMPREP) e ao COMAE”.
A Força Aérea Brasileira (FAB), vislumbrando o aprimoramento da Defesa Aérea – adquiriu novos vetores, o KC-390 e o Gripen NG – direcionado para as missões de combate além do alcance visual (BVR – Beyond Visual Range). Essa percepção operacional nos impulsiona – com a configuração dessas novas aeronaves – a treinar nossos militares para essa nova era da FAB na Defesa Aérea – no tempo em que celebramos os 40 anos da primeira interceptação real brasileira.
“Hoje, o ICEA já tem a configuração dessas novas aeronaves e precisamos treinar nossos controladores para esses novos vetores. Não pudemos fazer isso nesses últimos dois anos por conta da pandemia, mas já temos o aspecto técnico personalizado para poder fazer” – revelou o Tenente Rossi.
Uma militar do CINDACTA II representou, na RACOAM, uma controladora de operações aéreas militares (COAM), simulando interceptação e combate aéreo. Ela falou da importância da capacitação em cenários de guerra para garantir e manter a soberania do espaço aéreo brasileiro.
Em outra ponta, um Chefe Controlador reforçou que a discussão de temas afetos à Defesa Aérea em cenários simulados de conflitos é extremamente importante tanto para o Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro (SISCEAB) quanto para o SISDABRA.
“Além de desenvolver nos controladores as competências necessárias para garantir a vigilância do espaço aéreo em situações próximas às reais, possibilita que os controladores acumulem um arcabouço de conhecimentos e experiências, que aumentam a eficiência da pronta-resposta. É através desses treinamentos que os militares constroem uma doutrina eficiente e capaz de estabelecer padrões de ação para cada situação apresentada” – evidenciou o representante do 1º GCC – reforçando que a interação dos controladores durante o treinamento proporcionou o desenvolvimento de um comportamento assertivo, pois melhora a adaptabilidade e o autocontrole.
Um representante do COpM2 – que está há 19 anos na FAB, com formação baseada em Defesa Aérea – atuou como Ajudante do Chefe Controlador (AJCC) na RACOAM – sendo o braço direito do supervisor de sala e auxiliar no gerenciamento e na supervisão da execução das tarefas pelos controladores. Participante da RACOAM em 2015, ele percebeu que nesta edição foi apresentado um cenário mais próximo da realidade e com medidas de policiamento do espaço aéreo voltadas para o tráfego aéreo fronteiriço, com uma carga de trabalho mais elevada, testando as limitações do controlador.
“Pensei numa situação próxima da real, refleti como seria a minha postura diante de um sequestro de aeronave, em como eu assessoraria as autoridades ou, ainda, como seria a interceptação de uma aeronave comercial, sendo objeto de uma interferência? São esses tipos de treinamento que precisamos para manter o alerta e que são plausíveis de acontecer na vida real. Precisamos estar preparados para agir da melhor forma quando isso acontecer, para não ficarmos expostos juridicamente por uma ação inadequada” – avaliou o controlador.
Atuando como controladora de operações aéreas militares (COAM), uma militar do 1º GCC se surpreendeu com os cenários – bem didáticos e muito próximo do real – como ela avaliou, revelando que todos conseguiram mostrar seus conhecimentos no evento. Como já participou de outros exercícios simulados promovidos pelo 1º GCC e pelo ICEA, absorveu bagagem operacional para participar da RACOAM 2022.
Os resultados da RACOM
Os indicadores coletados pela Divisão de Operações Militares (DOPM) do DECEA, durante a realização da RACOAM, vão permitir o aprimoramento do processo de capacitação e habilitação que, em última instância, significa cumprir com mais eficiência e efetividade a missão estratégica de garantir a soberania do espaço aéreo brasileiro.
O Capitão Aviador Carlos Henrique Silva Santos, chefe da DOPM, falou dos desafios encontrados para organizar e executar a RACOAM 2022 e as expectativas dos resultados, levando-se em conta as quatro Regiões de Defesa Aérea (RDA), cada uma com suas peculiaridades. Uma dessas RDA é responsável por boa parte do tráfego civil que passa pelo Brasil; outra pela Região Norte Amazônica; uma terceira, incumbida de boa parte da fronteira oceânica no Nordeste, e a última com a mesma atribuição na fronteira sul do Brasil. E, somando, temos o 1º GCC, que opera desdobrado em qualquer lugar do Brasil em caso de necessidade.
“O principal desafio foi considerar todas as particularidades de cada COpM e colocá-los todos sob um único comando, testando uma doutrina única, em caso de necessidade ou de conflito real, com todos operando e conversando numa mesma linguagem” – ponderou o Capitão Santos.
Outro fato mencionado pelo chefe da DOPM foi a montagem de um cenário que conseguisse retratar, de forma mais fidedigna possível, a atualidade mundial e local, numa esfera fictícia em que o Brasil pudesse estar inserido. Ou seja, treinar uma hipótese que realmente pudesse acontecer, aplicando técnicas e táticas utilizadas em um COpM.
“Nossa expectativa é evoluir as operações militares no que diz respeito à vigilância e ao controle do espaço aéreo. O DECEA presta apoio ao COMAE e ao COMPREP, no treinamento de comando e controle, enquanto a RACOAM treina os operadores para sua evolução operacional. Os participantes desta edição vão chegar em sede com a missão de dar continuidade à difusão da doutrina fortalecida na RACOAM 2022” – ressaltou o Capitão Santos, que deu destaque ao Simpósio de Operações Militares, que discutiu diversos assuntos de interesse para evolução da Defesa Aeroespacial.
A premiação
No encerramento da RACOAM 2022, os participantes se encontraram no auditório do ICEA, para a premiação do CINDACTA II, que venceu nas duas categorias: Destaque Operacional e Melhor Equipe; os prêmios foram entregues pelo diretor do ICEA, Coronel Aviador Plínio da Silva Becker, e pelo Brigadeiro do Ar Eduardo Miguel Soares, chefe do Subdepartamento de Operações do DECEA, respectivamente.
Finalizando o evento, o Brigadeiro Miguel ressaltou a importância da RACOAM para os Controladores de Operações Aéreas Militares na Defesa Aérea e na soberania do espaço aéreo brasileiro. “Todas as decisões geram consequências. Procurem pontos que precisam melhorar na relação com os pilotos, fazendo com que tenham confiança. Acredito que um controlador que traz assertividade passa confiança para o piloto. Vocês estão protegendo o espaço aéreo brasileiro. A missão de vocês é importante e significativa para o País. Orgulhem-se da sua atividade! Parabéns pela dedicação!” – finalizou o chefe do SDOP.
Informações do DECEA
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