Antes da década de 1970, o mercado internacional parecia preferir os aviões a jato, mas a crise do petróleo tornou os jatos pouco atraentes devido ao maior consumo de combustível, especialmente nas rotas regionais. Como alternativa, a Embraer estudou o desenvolvimento de aeronaves turboélice pressurizadas, que combinavam economia de combustível com capacidade de operar em altitudes mais elevadas e obter melhor desempenho.
Assim, a fabricante brasileira iniciou o desenvolvimento de uma família de turboélices pressurizados, denominada Projeto 12X. Cada aeronave da família teria uma fuselagem comum em termos de cabine, leme e seção de asa, e uma asa com boa aerodinâmica. Os fatores de diferenciação seriam o empuxo do motor e as diferentes seções da cabine, permitindo diferentes capacidades de passageiros.
O EMB 121 foi batizado de Xingu em homenagem ao rio que nasce no Mato Grosso e deságua no rio Amazonas, passando pela primeira reserva indígena do Brasil – o Parque Indígena do Xingu. Destinada a atender o mercado de transporte executivo, tinha capacidade para até oito passageiros e seria a primeira aeronave pressurizada construída e projetada no Brasil.
Esse recurso de pressurização permitiu que ele voasse a uma altura de 28.000 pés (8,5 km) em relação ao nível do mar, acima das formações de nuvens e distúrbios atmosféricos, mantendo uma altitude de cabine (sensação percebida a bordo) de 8.000 pés (2,4 km), o que garantiu mais conforto aos passageiros.
Além da pressurização da cabine, o Xingu anunciou outros importantes avanços tecnológicos para a indústria aeronáutica no Brasil, como a instalação da cauda em “T”, onde o conjunto do estabilizador horizontal é montado em cima do estabilizador vertical. Esta configuração garante que o fluxo de ar da hélice não alcance o estabilizador horizontal, resultando em um menor nível de vibração e ruído.
Com uma variante com um nariz alongado, o projeto lembrava um jato. O baixo consumo de combustível, equivalente a um quarto do necessário para um jato semelhante, também é uma marca registrada da aeronave. Além disso, podia operar em pistas curtas, com características semelhantes ao Embraer 110 Bandeirante. Foi configurado para as pistas pequenas, mas apresentava velocidade de cruzeiro superior ao seu antecessor.
O primeiro protótipo do Xingu entrou em produção em 1976. Seu primeiro voo de teste, sem pressurização, ocorreu há exatos 45 anos da data de hoje, 22 de outubro daquele ano. A apresentação oficial do protótipo ocorreu na Embraer semanas depois, em 4 de dezembro. Em maio de 1977, o Xingu completou com sucesso seu primeiro voo-teste totalmente pressurizado.
O primeiro comprador foi a Força Aérea Brasileira (FAB), para atender o Grupo de Transporte Especial (GTE), com sede em Brasília. No entanto, a Embraer estava fortemente focada no mercado internacional. Das 32 aeronaves produzidas naquele ano, 28 seriam comercializadas pela norte-americana Piper Aircraft Corporation, o que garantiria a manutenção técnica em qualquer parte do mundo, ampliando o escopo comercial da aeronave.
O primeiro protótipo do Xingu foi pintado com as cores da Copersucar-Fittipaldi, já que a aeronave foi emprestada à equipe de Fórmula 1 para uso na Europa, Estados Unidos e Canadá para promoção comercial. Esse protótipo foi o primeiro avião de fabricação nacional a cruzar o Atlântico, ao lado de um Bandeirante nas cores do Air Littoral, no dia 26 de maio de 1977.
A aeronave decolou de São José dos Campos com destino a Paris. No caminho, parou em Fernando de Noronha, e no dia seguinte partiu para Dakar (Senegal), depois seguiu para Sevilha (Espanha) e por fim para Paris. O Xingu, pilotado por Luiz Carlos Miguez Urbano e Túlio Silviano Brandão, completou o percurso final dezenove minutos mais rápido que o Bandeirante.
Ambas as aeronaves foram expostas no Le Bourget International Air Show, do qual a Embraer participou pela primeira vez.
Cerca de dois anos depois, em 30 de agosto de 1979, ocorreu o rollout (apresentação oficial) do Xingu. A aeronave foi adquirida por várias empresas, incluindo a britânica CSE Aviation. O modelo fez tanto sucesso que um selo do Xingu comemorou o décimo aniversário da Embraer em 1979, mesmo ano em que a aeronave foi certificada para uso civil e em que o sistema anti-gelo foi aprovado nos Estados Unidos.
Após a certificação, o Xingu foi lançado no mercado internacional, obtendo grande aceitação.
Na França, a aeronave é usada para treinamento de pilotos desde 1983, e a Força Aérea Francesa decidiu estender sua vida operacional até 2025 com a modernização de seus sistemas elétricos. Isso manterá as aeronaves Xingu em operação por 42 anos consecutivos, uma raridade no setor.
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