Você sabia que os aviões têm um tempo de vida útil e que quando este termina, eles são aposentados? Mas o que exatamente significa essa aposentadoria? Pra onde eles vão? É isso que a gente te conta agora: o que acontece quando os aviões se aposentam.
O avião é uma das invenções mais incríveis do ser humano, e reúne em uma só máquina milhares de componentes vindos de várias partes do mundo. O desenvolvimento de um novo modelo leva vários anos, assim como a sua certificação pelas autoridades, o que resulta em um preço final bem alto. Um Boeing 737-700, desses que a Gol utiliza, é listado pela fabricante em US$ 89,1 milhões (quase R$ 500 milhões).
Então é natural que as companhias aéreas queiram utilizar seus aviões ao máximo, afinal o investimento é significativo. Mas os aviões também têm um limite para que permaneçam voando de maneira segura e economicamente viável, geralmente ao redor de 25 anos e não mais que 30 anos – embora existam diversos exemplos de aviões mais antigos ainda em operação.
A idade do avião não se conta em anos
Apesar de você poder datar um avião cronologicamente como fazemos com a nossa idade, este número não é o que se utiliza para saber se uma aeronave é nova ou velha. O conceito utilizado na aviação é o de horas de voo ou ciclos de pousos e decolagens.
Cada vez que uma aeronave decola e a cabine é pressurizada, a fuselagem e as asas sofrem um estresse, e a repetição deste ciclo com o tempo causa fadiga dos materiais. Por isso aeronaves novas (em idade) utilizadas em rotas curtas, com alta rotatividade, duram menos anos que aeronaves mais velhas que atuam em rotas mais longas (e com menos ciclos ao longo de um ano).
A manutenção a ser feita ao longo dos anos é baseada nas horas de voo e nos ciclos de pousos e decolagens, segundo as especificações dos fabricantes, e chega uma hora que não é mais financeiramente viável para aquela companhia aérea seguir operando aquele avião.
Armazenamento temporário
Quando uma companhia aérea aposenta uma aeronave ou a devolve para a empresa de leasing que o alugou, o avião ainda não está aposentado em definitivo. Ele segue para um aeroporto de armazenagem para aguardar a decisão sobre o seu futuro.
Estes lugares, erroneamente confundidos com “cemitérios de aviões”, ficam em localidades com clima seco e muita área disponível, geralmente em regiões desérticas. Os maiores encontram-se no sudoeste dos Estados Unidos, como o Pinal Airpark, no Arizona (que inclusive pode ser visitado!). Mas existem similares na Europa, como o Aeroporto de Teruel, na Espanha, o Aeroporto de Tarbes-Lourdes-Pyrenees, na França e o Aeroporto de Cotswold, no Reino Unido.
Chegando lá ele passa por uma limpeza rigorosa para tirar qualquer resquício de sal que possa causar corrosão no exterior do avião. O tanque de combustível é esvaziado, limpo e depois lubrificado. Os pneus são cobertos com uma película de proteção e os aviões são pintados de branco para prevenir danos causados pelo sol.
Enquanto uma decisão não é tomada, a manutenção periódica é realizada para que o avião mantenha sua capacidade operacional. Seus sistemas são operados regularmente, incluindo partida dos motores.
O que acontece quando os aviões se aposentam?
Um avião de passageiros armazenado pode percorrer alguns caminhos bem distintos: encontrar um novo operador, ser convertido para avião cargueiro ou ainda ser desmontado para que suas peças sejam vendidas. A decisão é puramente econômica.
As duas primeiras hipóteses são auto explicativas: se houver interesse de um novo operador para seguir utilizando aquele avião, ele segue sua vida útil. Muitas companhias aéreas menores ou com menos recursos podem ver valor naqueles aviões “velhos”, porém “baratos”.
Mas se o valor das peças e componentes ainda com vida útil for maior do que o valor do próprio avião, o que pode acontecer pela manutenção necessária para voltar a voar, por exemplo, começa o processo de desmontagem que é realizado por empresas especializadas.
A quantidade de componentes que podem ser utilizados depende da idade da aeronave. Até 1.200 componentes podem ser usados de um A320 relativamente novo. Destes, os motores são os itens mais valiosos no mercado de segunda mão, representando de 80 a 90% do valor das peças retiradas.
Para que se tenha uma ideia, o mercado de reciclagem de peças aeronáuticas tem previsão de atingir US$ 6 bilhões em 2022 (feita antes da pandemia).
Aposentadorias diferentes
Embora as hipóteses majoritárias de destinação de um avião aposentado sejam as apresentadas no item anterior, muitos aviões ganham uma sobrevida diferente.
Em Estocolmo um Boeing 747 foi transformado em hotel, o STF Jumbo Stay. Além de quartos compartilhados, o local conta ainda com suítes, como essa no cockpit da aeronave:
Perto do aeroporto de Zurique, um antigo Ilyushin Il-14 é a peça central de um restaurante com temática aeronáutica, o Runway34.
E, claro, algumas aeronaves de importância histórica são restauradas e ganham uma segunda vida em museus pelo mundo. É o caso do primeiro Boeing 747 produzido, que foi totalmente restaurado e hoje encontra-se no Museum of Flight, em Seattle.
É também o caso de diversos Concordes espalhados por diversos museus do planeta. Em Barbados, por exemplo, um dos destinos que o icônico avião servia, uma aeronave que pertenceu à British Airways é a grande atração do Barbados Concorde Experience.
Eu fiz esse passeio quando estive em Barbados e recomendo demais a todos que tenham essa oportunidade. Além de uma apresentação sobre a história do avião é possível entrar na cabine e ver de perto como é o avião por dentro.
Sem dúvida alguns aviões têm uma aposentaria mais digna do que outros
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