Um avião que voa com tempo ruim, de dia ou à noite, a velocidade supersônica, apenas 15 metros acima das árvores e das rochas, sempre preparado para desfechar um golpe mortal sobre um inimigo muito bem defendido: só pode ser o Panavia Tornado IDS, o avião de ataque rápido.
Entre as muitas diferenças que separavam as forças da OTAN e do Pacto de Varsóvia, havia uma que interferia diretamente na operação: a padronização dos equipamentos. Desde que foi formado, o Pacto de Varsóvia obrigava seus membros a utilizarem rigorosamente os mesmos equipamentos, em geral soviéticos, o que tornava operação e manutenção fáceis e acessíveis a todos. No Ocidente, os países tinham (e ainda tem) liberdade de escolher seus aviões e armamentos. Essa é a regra da OTAN. O Tornado IDS foi a exceção.
O Panavia Tornado IDS já foi considerado o avião de interceptação e ataque (IDS significa exatamente isso, em inglês: Interdiction and Strike) mais avançado do mundo. Trata-se de um avião de geometria variável, de grande poder de fogo e versatilidade incomparável. Foi idealizado no fim dos anos 60 graças a um acordo entre Grã-Bretanha, Alemanha Ocidental e Itália — e para suprir necessidades diferentes de cada um.
O avião polivalente
Quando a Panavia GmbH foi formada, em Munique, na Alemanha, para supervisionar o programa em nome das empresas British Aerospace, MBB e Aeritalia, o projeto foi batizado como MRCA, ou Multi-Role Combat Aircraft (avião de combate polivalente). Não sem motivo. Havia pelo menos seis funções básicas que deveriam ser cumpridas: apoio aéreo cerrado e interdição de campos de batalha; interdição e contra-ataque aéreo; ataque naval; reconhecimento; superioridade aérea, e interceptação e defesa aérea — estas últimas específicas da versão ADV – Air Defence Variant (variante de defesa aérea).
Não foi muito fácil atender a todos, mas o avião afinal foi construído. Com alguns anos de atraso em relação às previsões, voou pela primeira vez em 1974. Sob qualquer ponto de vista, um êxito político e técnico: satisfazia os requisitos de todos os países clientes e podia operar com qualquer tipo de arma ofensiva de seus arsenais nos três pontos sob a fuselagem e nos quatro pontos sob as asas. O armamento da estrutura do avião, entretanto, é sempre igual: dois canhões IWKA-Mauser 27 mm.
Outras variações de equipamento estão restritas a certos itens, como rádio e IFF. Enfim, cada país pode utilizar como quiser a notável capacidade de voo em qualquer tempo, a capacidade de rastreamento do terreno a baixa altitude, a incrível precisão de navegação e o sistema avançado de disparo de armas. O Tornado IDS não tinha rival até que o Rockwell B-1 entrar em serviço.
Entre julho de 1976 e janeiro de 1984, foram assinados seis contratos de produção para 805 aeronaves Tornado, mais o recondicionamento de quatro aviões de pré-série. Quase metade desses 809 aparelhos tinha sido entregue até o fim de 1984, diretamente das linhas de produção existentes nos três países: em Warton, Grã-Bretanha; em Manching, Alemanha Ocidental; e em Turim, Itália.
Os três primeiros esquadrões a entrar em serviço na RAF – Royal Air Force, inglesa — os números 9, 617 e 27 —,baseados na própria Grã-Bretanha, em Honington e Marham, e substituíram unidades de Avro Vulcan B.Mk 2. Foram necessárias muitas modificações nas bases para possibilitar sua operação (entre elas, abrigos mais reforçados e acomodações maiores para o pessoal).
Para a RAF na Alemanha, foram previstos oito esquadrões de Tornado GR.Mk 1, substituindo os BAe Buccaneer S.Mk 2B e os Sepecat Jaguar GR.Mk 1. Por volta de 1987, muitos deles substituíram também antigos jaguar em missões de reconhecimento, aonde os canhões foram substituídos por câmeras de vídeo infravermelho.
Armas a escolher
Os Tornado de ataque em serviço na Grã-Bretanha operam com uma grande variedade de armamento, o que inclui até uma ogiva nuclear de 431 kg com carga de 500 quilotons. O armamento convencional é carregado nos três pontos fixos sob a fuselagem; as duas posições laterais transportam até oito bombas Mk 13/1 de 454 kg em dois grupos de dois pares, um atrás do outro. As bombas podem ser acompanhadas por um tanque extra de combustível, carregado na posição central.
Quando utilizada a bomba Pave-way guiada por laser, de 626 kg, a carga máxima é de uma por suporte, isto é, três por avião. A autonomia fica um pouco reduzida em função do peso, mas o avião pode ser reabastecido em voo por meio de uma unidade de sonda retrátil, alojada a estibordo da fuselagem, em frente à cabine.
Para a função de contra-ataque aéreo, destruindo campos de aviação inimigos — função importante em tempo de guerra —, podem ser montados sob a fuselagem dois pods JP233 de 2 335 kg cada um. O pod JP233 leva 30 pequenas bombas destruidoras de pistas SG357, de descida retardada por paraquedas, e 215 minas HB875 para dificultar o trabalho das turmas de reparação. O pod solta-se automaticamente quando vazio. A precisão dessas e de outras armas é garantida por um LRMTS Ferranti sob a parte dianteira da fuselagem.
Garantias de ataque
Todo esse armamento ofensivo, no entanto, será de pouco valor se o avião for derrubado. E é por isso que o Tornado IDS está bem equipado também com armas defensivas, para aumentar as vantagens do seu pequeno tamanho e de sua capacidade para voo rasante. Na parte superior da empenagem vertical, está a antena dupla do RWR; outro equipamento fica sob a asa. No suporte externo de bombordo, há um gerador de interferência programável; no lado oposto, um gerador de chamas e tiras metálicas para perturbar a pontaria de mísseis guiados por radar ou por calor.
Os suportes internos podem carregar tanques de combustível de 1 500 L, e nos pontos secundários laterais podem ser levados mísseis para autodefesa AIM-9L Sidewinder AAM (do lado interno) e BAe ALARM (lado externo). O ALARM, é um míssil que se orienta pelos radares inimigos, forçando-os a desligarem-se (caso contrário, os destrói). O Tornado pode carregar nove ALARM na fuselagem e nos suportes internos sob as asas.
Na Alemanha e na Itália
Quando começou na Luftwaffe, a força aérea da Alemanha Ocidental, as funções do Tornado eram semelhantes — mas os equipamentos mudam. Os ataques ao solo eram feitos com um pod sob a fuselagem MBB-Diehl MW-1 de 4 600 kg, que contém 112 tubos horizontais com uma variedade de pequenas bombas para destruir pistas, aviões e veículos blindados ou para dificultar a movimentação de tropas em terra. As combinações variam conforme o alvo.
A Alemanha Ocidental escolheu como míssil de ataque de precisão o Hughes AGM-65 Maverick, e na época se especulava que poderia adotar o míssil AGM-88 HARM, da Texas Instruments, para os ataques anti-radar. A proteção do avião era feita por mísseis AIM-9L Sidewinder, auxiliados por um pod de interferência eletrônica AEG Cerberus e um gerador de chamas e tiras metálicas BOZ-101.
Na Alemanha Ocidental, os Tornado substituiram os F-104 Starfighter, especialmente na Marinha, com equipamento para operação contra navios, no mar Báltico. Sob a fuselagem, levavam dois mísseis MBB AS-34 Kormoran e um opcional em cada um dos suportes internos, nas missões curtas, com equipamento ECM nos suportes externos.
A Itália usava um equipamento similar ao da Luftwaffe para seus 99 Tornado. Desses, 54 estavam em operação, 36 na reserva e dez com a TTTE na Inglaterra, para reconversão. A Itália pretendia comprar pods MW-1, Maverick AGM-65, Kormoran AS-34 e 20 pods MBB-Aeritalia. A ideia é deixar três esquadrões com capacidade de ataque ao solo, atividades antinavais e de reconhecimento.
Em qualquer caso, o Tornado superou todas as expectativas dos que imaginaram, nos anos 60, um avião de combate polivalente. É (até hoje) a melhor experiência aeronáutica de três empresas líderes europeia. Por muitos anos, ele ainda será visto nos céus da Europa Ocidental.
Glossário
AAM Míssil ar-ar (Air-to-Air Missile)
ALARM Míssil anti-radar lançado do ar (Air-Launched Anti-Radiation Missile)
IR Infravermelho (Infra-Red)
LRMTS Detector laser de alvos (Laser Ranger and Marked-Target Seeker)
RWR Receptor de radar (Radar Warning Receiver)
TTTE Organização trinacional para treinamento em Tornado (Trinational Tornado Training Establishment)
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