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sexta-feira, 17 de março de 2023

Tornado IDS, o atacante

 

TornadoUm avião que voa com tempo ruim, de dia ou à noite, a velocidade supersônica, apenas 15 metros acima das árvores e das rochas, sempre preparado para desfechar um golpe mortal sobre um inimigo muito bem defendido: só pode ser o Panavia Tornado IDS, o avião de ataque rápido.

Entre as muitas diferenças que separavam as forças da OTAN e do Pacto de Varsóvia, havia uma que interferia diretamente na operação: a padronização dos equipamentos. Desde que foi formado, o Pacto de Varsóvia obrigava seus membros a utilizarem rigorosamente os mesmos equipamentos, em geral soviéticos, o que tornava operação e manutenção fáceis e acessíveis a todos. No Ocidente, os países tinham (e ainda tem) liberdade de escolher seus aviões e armamentos. Essa é a regra da OTAN. O Tornado IDS foi a exceção.

O Panavia Tornado IDS já foi considerado o avião de interceptação e ataque (IDS significa exatamente isso, em inglês: Interdiction and Strike) mais avançado do mundo. Trata-se de um avião de geometria variável, de grande poder de fogo e versatilidade incomparável. Foi idealizado no fim dos anos 60 graças a um acordo entre Grã-Bretanha, Alemanha Ocidental e Itália — e para suprir necessidades diferentes de cada um.

Entre os melhores aviões de combate do mundo, o Tornado é bem equipado — inclusive com computador localizador automático de alvo.
Entre os melhores aviões de combate do mundo, o Tornado é bem equipado — inclusive com computador localizador automático de alvo.

O avião polivalente

Quando a Panavia GmbH foi formada, em Munique, na Alemanha, para supervisionar o programa em nome das empresas British Aerospace, MBB e Aeritalia, o projeto foi batizado como MRCA, ou Multi-Role Combat Aircraft (avião de combate polivalente). Não sem motivo. Havia pelo menos seis funções básicas que deveriam ser cumpridas: apoio aéreo cerrado e interdição de campos de batalha; interdição e contra-ataque aéreo; ataque naval; reconhecimento; superioridade aérea, e interceptação e defesa aérea — estas últimas específicas da versão ADV – Air Defence Variant (variante de defesa aérea).

Não foi muito fácil atender a todos, mas o avião afinal foi construído. Com alguns anos de atraso em relação às previsões, voou pela primeira vez em 1974. Sob qualquer ponto de vista, um êxito político e técnico: satisfazia os requisitos de todos os países clientes e podia operar com qualquer tipo de arma ofensiva de seus arsenais nos três pontos sob a fuselagem e nos quatro pontos sob as asas. O armamento da estrutura do avião, entretanto, é sempre igual: dois canhões IWKA-Mauser 27 mm.

Panavia

Outras variações de equipamento estão restritas a certos itens, como rádio e IFF. Enfim, cada país pode utilizar como quiser a notável capacidade de voo em qualquer tempo, a capacidade de rastreamento do terreno a baixa altitude, a incrível precisão de navegação e o sistema avançado de disparo de armas. O Tornado IDS não tinha rival até que o Rockwell B-1 entrar em serviço.

Entre julho de 1976 e janeiro de 1984, foram assinados seis contratos de produção para 805 aeronaves Tornado, mais o recondicionamento de quatro aviões de pré-série. Quase metade desses 809 aparelhos tinha sido entregue até o fim de 1984, diretamente das linhas de produção existentes nos três países: em Warton, Grã-Bretanha; em Manching, Alemanha Ocidental; e em Turim, Itália.

Os três primeiros esquadrões a entrar em serviço na RAF – Royal Air Force, inglesa — os números 9, 617 e 27 —,baseados na própria Grã-Bretanha, em Honington e Marham, e substituíram unidades de Avro Vulcan B.Mk 2. Foram necessárias muitas modificações nas bases para possibilitar sua operação (entre elas, abrigos mais reforçados e acomodações maiores para o pessoal).

A Luftwaffe durante a Guerra Fria operava o Tornado em ações de ataque ao solo similares às da RAF. Algumas unidades adotaram um esquema de camuflagem, tipo lagarto; outras ainda usavam o cinza-verde original.
A Luftwaffe durante a Guerra Fria operava o Tornado em ações de ataque ao solo similares às da RAF. Algumas unidades adotaram um esquema de camuflagem, tipo lagarto; outras ainda usavam o cinza-verde original.

Para a RAF na Alemanha, foram previstos oito esquadrões de Tornado GR.Mk 1, substituindo os BAe Buccaneer S.Mk 2B e os Sepecat Jaguar GR.Mk 1. Por volta de 1987, muitos deles substituíram também antigos jaguar em missões de reconhecimento, aonde os canhões foram substituídos por câmeras de vídeo infravermelho.

Armas a escolher

Os Tornado de ataque em serviço na Grã-Bretanha operam com uma grande variedade de armamento, o que inclui até uma ogiva nuclear de 431 kg com carga de 500 quilotons. O armamento convencional é carregado nos três pontos fixos sob a fuselagem; as duas posições laterais transportam até oito bombas Mk 13/1 de 454 kg em dois grupos de dois pares, um atrás do outro. As bombas podem ser acompanhadas por um tanque extra de combustível, carregado na posição central.

Quando utilizada a bomba Pave-way guiada por laser, de 626 kg, a carga máxima é de uma por suporte, isto é, três por avião. A autonomia fica um pouco reduzida em função do peso, mas o avião pode ser reabastecido em voo por meio de uma unidade de sonda retrátil, alojada a estibordo da fuselagem, em frente à cabine.

O pod JP233 libera centenas de bombas e minas que destroem aeroportos inimigos e retardam a recuperação (as minas ficam entre os destroços e explodem quando removidas).
O pod JP233 libera centenas de bombas e minas que destroem aeroportos inimigos e retardam a recuperação (as minas ficam entre os destroços e explodem quando removidas).

Para a função de contra-ataque aéreo, destruindo campos de aviação inimigos — função importante em tempo de guerra —, podem ser montados sob a fuselagem dois pods JP233 de 2 335 kg cada um. O pod JP233 leva 30 pequenas bombas destruidoras de pistas SG357, de descida retardada por paraquedas, e 215 minas HB875 para dificultar o trabalho das turmas de reparação. O pod solta-se automaticamente quando vazio. A precisão dessas e de outras armas é garantida por um LRMTS Ferranti sob a parte dianteira da fuselagem.

Garantias de ataque

Todo esse armamento ofensivo, no entanto, será de pouco valor se o avião for derrubado. E é por isso que o Tornado IDS está bem equipado também com armas defensivas, para aumentar as vantagens do seu pequeno tamanho e de sua capacidade para voo rasante. Na parte superior da empenagem vertical, está a antena dupla do RWR; outro equipamento fica sob a asa. No suporte externo de bombordo, há um gerador de interferência programável; no lado oposto, um gerador de chamas e tiras metálicas para perturbar a pontaria de mísseis guiados por radar ou por calor.

Os suportes internos podem carregar tanques de combustível de 1 500 L, e nos pontos secundários laterais podem ser levados mísseis para autodefesa AIM-9L Sidewinder AAM (do lado interno) e BAe ALARM (lado externo). O ALARM, é um míssil que se orienta pelos radares inimigos, forçando-os a desligarem-se (caso contrário, os destrói). O Tornado pode carregar nove ALARM na fuselagem e nos suportes internos sob as asas.

Tornado IDS com sete mísseis ALARM que se orientam pelos radares inimigos.
Tornado IDS com sete mísseis ALARM que se orientam pelos radares inimigos.

Na Alemanha e na Itália

Quando começou na Luftwaffe, a força aérea da Alemanha Ocidental, as funções do Tornado eram semelhantes — mas os equipamentos mudam. Os ataques ao solo eram feitos com um pod sob a fuselagem MBB-Diehl MW-1 de 4 600 kg, que contém 112 tubos horizontais com uma variedade de pequenas bombas para destruir pistas, aviões e veículos blindados ou para dificultar a movimentação de tropas em terra. As combinações variam conforme o alvo.

A Alemanha Ocidental escolheu como míssil de ataque de precisão o Hughes AGM-65 Maverick, e na época se especulava que poderia adotar o míssil AGM-88 HARM, da Texas Instruments, para os ataques anti-radar. A proteção do avião era feita por mísseis AIM-9L Sidewinder, auxiliados por um pod de interferência eletrônica AEG Cerberus e um gerador de chamas e tiras metálicas BOZ-101.

Na Alemanha Ocidental, os Tornado substituiram os F-104 Starfighter, especialmente na Marinha, com equipamento para operação contra navios, no mar Báltico. Sob a fuselagem, levavam dois mísseis MBB AS-34 Kormoran e um opcional em cada um dos suportes internos, nas missões curtas, com equipamento ECM nos suportes externos.Z imagem #4

Tornado #2A Itália usava um equipamento similar ao da Luftwaffe para seus 99 Tornado. Desses, 54 estavam em operação, 36 na reserva e dez com a TTTE na Inglaterra, para reconversão. A Itália pretendia comprar pods MW-1, Maverick AGM-65, Kormoran AS-34 e 20 pods MBB-Aeritalia. A ideia é deixar três esquadrões com capacidade de ataque ao solo, atividades antinavais e de reconhecimento.

Em qualquer caso, o Tornado superou todas as expectativas dos que imaginaram, nos anos 60, um avião de combate polivalente. É (até hoje) a melhor experiência aeronáutica de três empresas líderes europeia. Por muitos anos, ele ainda será visto nos céus da Europa Ocidental.

Z imagem #5


Glossário

AAM Míssil ar-ar (Air-to-Air Missile)

ALARM Míssil anti-radar lançado do ar (Air-Launched Anti-Radiation Missile)

IR Infravermelho (Infra-Red)

LRMTS Detector laser de alvos (Laser Ranger and Marked-Target Seeker)

RWR Receptor de radar (Radar Warning Receiver)

TTTE Organização trinacional para treinamento em Tornado (Trinational Tornado Training Establishment)

Tornado


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