O Douglas A-3 Skywarrior foi um bombardeio estratégico embarcado, construido para a US Navy, que durante muitos anos foi elemento central na capacidade de dissuasão nuclear dos EUA, tendo sido, por muito tempo, o avião mais pesado operado desde os porta-aviões, o que lhe rendeu o apelido de “The Whale” (a baleia).
No início da 2ª Guerra Mundial, a US Navy já analisava conceitos para o desenvolvimento de uma aeronave com propulsão a jato que pudesse ser operada desde seus porta-aviões; o objetivo, entretanto, era para o desenvolvimento de um bombardeiro estratégico embarcado, o que permitiria aos EUA uma projeção de força sem igual, se comparada aos meios disponíveis em outros países ao redor do mundo.
As atribulações durante a guerra fizeram com que os comandantes militares focassem seus esforços em vencer a batalha, sobretudo pela severidade dos conflitos no pacífico, o que postergou o desenvolvimento da nova aeronave até o final das hostilidades. Menos de um ano após a rendição japonesa, entretanto, o assunto referente ao desenvolvimento da aeronave seria retomado, já visando desenvolver um vetor que seria a peça chave pra manutenção da supremacia americana no pós guerra.
Em janeiro de 1948, o chefe de operações navais da US Navy emitiu um requerimento para que fosse desenvolvida uma aeronave de ataque, a jato, que seria utilizada desde os novos porta-aviões dos EUA, os chamados “Supercarriers”, e que fosse capaz de transportar uma carga útil de 4.535,93 kg (£ 10.000), que nada mais era que o peso da a “Fat Man”, a bomba de plutônio que explodiu sobre Nagasaki. Pelos requerimentos da US Navy, a nova aeronave teria um peso máximo de decolagem na faixa de 45,5 Ton.
Como o desenvolvimento dos “super porta-aviões” enfrentava sérios problemas de ordem burocrática, havendo, inclusive, o risco de cancelamento do projeto, o renomado designer chefe da Douglas Aircraft, Ed Heinemann, propôs uma solução mais radical, que implicava no desenvolvimento de uma aeronave menor, mais leve, com peso máximo de decolagem na faixa de 31 Toneladas, e capaz de ser operada desde os porta-aviões existentes na época, sem comprometer, entretanto, as capacidades de carga desejadas pelos comandantes militares.
De posse da Douglas, estavam muitos projetos interessantes, sobretudo obtidos junto aos alemães após a capitulação da Alemanha Nazista. Entre eles, chamava a atenção o “Arado – Project Ar.II (E.583-2)”, que era um bombardeiro tático cujas dimensões e capacidades de carga atendiam ao conceito que seria proposto à US Navy.
Em 9 de setembro de 1949, a Douglas Aircraft e US Navy assinaram um contrato pelo qual seriam desenvolvidos 2 protótipos de voo e um terceiro que seria destinado à testes estáticos. Por definição da marinha, a motorização da aeronave ficaria à cargo de duas turbinas Westinghouse J40-WE-12.
O protótipo de voo do Skywarrior, “XA3D-1” s/n 7588, nº de cauda 125412, voou pela primeira vez em 28 de outubro de 1952, na Base Aérea de Edwards, tendo ao comando da aeronave o renomado piloto de testes George R. Jansen. As primeiras aeronaves foram pintadas em um tom de azul marinho.
Os próximos dois anos, sob o olhar atento de Ed Heinemann, seriam dedicados ao refinamento do projeto. Uma das modificações mais sensíveis foi a adoção de um motor mais potente, Pratt & Whitney J57-P-6, que equipou o primeiro A3D-1 de produção, cujo 1º voo ocorreu em 16 de setembro de 1953.
Os esforços para reduzir o peso tinha levado à supressão da instalação de assentos ejetáveis durante o processo de design para o Skywarrior, com base no pressuposto de que a maioria dos voos seria realizada em alta altitude. Pra permitir a saída da tripulação, em caso de emergência, as aeronaves eram equipadas com um duto de fuga.
Em pouco tempo, as tripulações começaram a brincar de forma mórbida, afirmando que o “A3D” significava “All 3 Dead” (todos 3 mortos), em alusão aos, então, três tripulantes da aeronave.
Imediatamente iniciou-se um elaborado programa de testes, que foi realizado no Naval Air Test Center (NATC), na Estação Aeronaval de Patuxent River (NAS Patuxent River), no Estado de Maryland, onde a partir daí houve o primeiro pouso da aeronave em um porta-aviões.
Os anos seguintes foram dedicados à introdução do programa de Frota, que previa a familiarização e treinamento de pilotos e mecânicos do esquadrão ocorreu em NAS Jacksonville, na Flórida.
As entregas para o 1º Esquadrão de Ataque Pesado da US Navy, VAH-1 (Heavy Attack Squadron One), em NAS Jacksonville, foram iniciadas em 31 de março de 1956.
Em 1962, a designação da aeronave foi alterada para A-3, com a versão de produção inicial de três lugares tornando-se A-3A. Cinco delas foram posteriormente modificadas para missões ECM, sob a designação de EA-3A.
O A-3B (anteriormente A3D-2), que entrou em serviço em 1957, foi equipado com motores mais potentes, Pratt & Whitney J57-P-10, além de uma sonda de reabastecimento em voo.
Uma variante de reconhecimento, com as câmeras instaladas no compartimento de armas, foi designada RA-3B (A3D-2P), assim como uma variante ECM, designada EA-3B (A3D-2T), que também foi modificada para missões de inteligência eletrônica contra o Pacto de Varsóvia, tendo sido empregada desde o início em missões semelhantes às executadas pelos EB-47 Stratojet da USAF.
A aeronave era operada com sete tripulantes, sendo três na cabine de comando e os demais (1 oficial de guerra eletrônica e 3 operadores de sistemas eletrônicos) num espaço convertido onde ficava o então no compartimento de armas. O EA-3B ofereceu capacidades únicas de reconhecimento eletrônico em numerosos conflitos da Guerra Fria e durante a Guerra do Vietnã.
Ao total, 15 variantes do Skywarrior foram desenvolvidas, o demonstra a versatilidade da plataforma.
Até que os submarinos armados com os mísseis Polaris estivessem operacionais, em 1961, o Douglas Skywarrior foi o elemento central na capacidade de dissuasão nuclear dos EUA, tendo permanecido como um dos vetores mais importantes da US Navy mesmo depois desse período.
Em 1964, o North American A-5 Vigilante seria também implantado para essa função, operando em conjunto com a aeronave da Douglas.
O batismo de fogo do Skywarrior ocorreu em 1964, durante a Guerra do Vietnã, onde, até 1967, a aeronave foi usada basicamente em missões de bombardeio convencional e colocação de minas marítimas (A-3B). Subsequentemente, o A-3 também foi empregado em versões de reabastecimento em voo (KA-3B, EKA-3B), operando em conjunto com o Boeing KC-135 Stratotanker, além das variantes de reconhecimento fotográfico (RA-3B), reconhecimento eletrônico (EA-3B), e guerra eletrônica (EKA-3B).
Durante a maior parte da Guerra do Vietnã, os EA-3B pertencentes ao 1º Esquadrão de Reconhecimento Aéreo (VQ-1), eram operados desde a Base Aérea de Da Nang, no Vietnã do Sul, cobrindo uma vasta área que incluía a chamada trilha Ho Chi Minh (Ho Chi Minh trail) e todo o caminho para o norte, até o porto de Haiphong.
Partiam também de Da Nang os RA-3B, realizando mapeamento e inteligência de todo o sudeste asiático, inclusive realizando o mapeamento cartográfico de áreas onde não existiam mapas detalhados. Algumas aeronaves foram equipadas com sensores de infravermelho e empregadas, à noite, para monitorar o movimento de tropas no solo.
Durante o Vietnã, o Skywarrior foi modificado em uma variante multimissão reabastecedora, também equipado com equipamentos de contramedidas eletrônicas, a EKA-3B, tendo se tornado uma das aeronaves mais requisitadas de toda a frota embarcada até 1973, quando passou a dividir a cena com os Grumman KA-6D Intruder, que apesar de menor e menos capaz, foi introduzido em grandes números.
Durante a Guerra Fria, a variante EA-3 foi um recurso indispensável ao comando da frota, tendo sido amplamente empregada como aeronave ELINT (Inteligência Eletrônica) / SIGINT (Inteligência de Sinais), sendo operada tanto desde os porta-aviões, quanto de bases em terra, e dando apoio aos Lockheed EP-3, missão essa que desempenhou até a 1.ª Guerra do Golfo, durante a Operação Tempestade no Deserto, em 1991.
Apesar de ser uma aeronave de sucesso, o peso do Skywarrior era um problema, o que constantemente representava uma dificuldade extra durante a aterrissagem.
Em algumas ocasiões, ocorria o colapso do trem de pouso, em outras, a aeronave simplesmente não conseguia parar a tempo.
Ao todo, a US Navy operou 282 unidades da aeronave que, por mais de três décadas, serviram efetivamente em muitos papéis.
Na segunda metade da década de 1980, algumas unidades foram especialmente modificadas para atuarem no programa testes de mísseis do Pacífico (Pacific Missile Test Center – PMTC), que era um centro de lançamento de mísseis da US Nvy, localizado em NAS Point Mugu, na Califórnia.
Em 27 de setembro de 1991, a aeronave dava baixa do serviço ativo na US Navy, mas isso não significou o final da carreira para o Skywarrior.
Depois desse período, a USAF utilizou alguns alguns exemplares do Skywarrior em programas de testes de radar do F-15…
e posteriormente, em testes de radar para as futuras gerações de aeronaves de combate furtivo.
Douglas A-3A Skywarrior
Características:
- Comprimento (m): 23,27
- Envergadura (m): 22,10
- Altura (m): 6,5
- Motores/Empuxo: 2x P&W J57-P-10 (5.625 kg)
- Peso max. decol (kg): 33.112
- Velocidade de cruzeiro: 837 km/h
- Velocidade máxima: 982 km/h
- Alcance (km): 4.667
- Teto de serviço: 41,000 ft (12,500 m)
- Tripulação: de 3 a 8
Armamento:
- 2 canhões M3L de 20 mm, controlados por controle remoto, localizados na torreta de cauda
- 5.800 kg de bombas de queda livre de vários tamanhos, ou minas, ou
- bomba nuclear de queda livre
O Skywarrior foi um dos dois únicos aviões de ataque da US Navy projetados para ser um bombardeiro estratégico embarcado a entrar em serviço ativo e tendo sido produzido em grande escala (o outro foi o seu antecessor, o North American A-2 Savage).
A aeronave entrou para a história como uma das plataformas mais versáteis já desenvolvidas para a Marinha dos EUA.
Curiosidade
Em 1973, a viúva de um dos tripulante do Skywarrior mortos no Vietnã processou a McDonnell Douglas Aircraft Company por não equipar o A-3 com assentos ejetáveis.
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