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quarta-feira, 26 de abril de 2023

Gripen, eu sou seu pai!

 

Saab J37 Viggen

O Saab 37 Viggen (nome do raio do deus nórdico Thor) é talvez o caça sueco mais famoso, tanto pelo design quanto pela reconhecida performance. Ele poder ser considerado o mais avançado caça europeu até a chegada do Tornado.

Viggen nasceu de estudos para um sucessor do Saab Lansen (que será abordado em próximo post), que fez seu primeiro voo em 3 de novembro de 1952. Como o Lansen deveria entrar em serviço em 1955, com uma vida operacional de 7 a 10 anos, seu sucessor teria que estar disponível em meados de 1960.

Os requisitos da Flygvapnet (Força Aérea Sueca) foram definidos preliminarmente em dezembro de 1957, para uma nova aeronave multimissão, que deveria substituir todos os Lansens Drakens em todas as versões.

A KFF (Kungliga Flyförvaltningen) – Administração de Material da Força Aérea – decidiu entretanto desenvolver a versão J 35F do Draken e postergar o desenvolvimento do J 37 até 1969, por razões orçamentárias.

Debate político

Em 1961, quando o Parlamento sueco definiu sua Decisão de Defesa (Försvarsbeslut), havia um grau de incerteza sobre o futuro da Defesa Aérea sueca e o desenvolvimento do Viggen caminhava a passos lentos.

O Parlamento questionou se não seria uma solução melhor gradualmente substituir os caças tripulados por mísseis superfície-ar (quando os mísseis Rb 365 Bloodhound Mk1 tinham sido testados com sucesso).

Depois de um longo debate, um modelo de Defesa Aérea foi escolhido, no qual os mísseis superfície-ar eram complementados com caças e artilharia antiaérea.

Em 1962, as especificações e o desenho do Viggen foram finalmente definidos e a aeronave recebeu a designação 37, com a missão inicial de ataque ao solo, substituindo os Lansen.

Mais tarde, o Viggen passou a ser apenas uma componente do Sistema 37.

A aeronave na verdade tinha sido pensada como multimissão, capaz de realizar todos os tipos de tarefas táticas, através da escolha de pods externos específicos. Mas a aviônica da época não era avançada o suficiente para acompanhar o conceito, então o Viggen foi produzido em 5 diferentes versões.

É interessante notar que dez anos depois da entrada em serviço do Viggen, o JAS 39 Gripen conseguiu unir todas as 5 funções numa só aeronave, com metade do peso, devido ao avanço da tecnologia.

O projeto

A KFF atuou como coordenadora do desenvolvimento e a Saab como contratante principal do avião a Volvo Flygmotor ficaria responsável pela turbina.

No início havia uma inclinação pela turbina inglesa Bristol Olympus, mesma propulsão do falecido BAC TSR.2. A KFF ficou com receio de deixar apenas a Força Aérea Sueca como usuária do motor, então acabou selecionando o Pratt & Whitney JT8D, escolhido para o novo Douglas DC-9 e Boeing 727.

O novo motor, que voou 15 meses depois de ter sido escolhido para o Viggen, teve sua licença de fabricação comprada e adaptado para uso militar como Volvo RM 8.

A Volvo também desenvolveu um pós-queimador, dando uma ótima potência para o motor. O afterburner era necessário para melhorar a performance do Viggen em pistas curtas, já que por razões de manutenção, a Flygvapnet preferia monomotores.

Para atingir boa performance para pousos em baixa velocidade, foi escolhida a configuração pioneira delta com canards, copiada depois por outros caças.

A Força Aérea Sueca tinha uma filosofia de operação de tempo de guerra, com um sistema de bases aéreas dispersas, com meios adequados para garantir a sobrevivência das aeronaves.

Essas bases, entretanto, tinham pistas curtas para os caças padrão, que precisam de muita pista para decolar e pousar. Como o Viggen era grande e pesado, freios normais não seriam suficientes, por isso foi desenvolvido também um reversor de empuxo para reduzir a distância de pouso.

Foi desenvolvido também o novo TILS (Tactical Instrument Landing System)  para auxiliar a aeronave a encontrar um aeródromo e pousar nas pistas escondidas das bases dispersas.

Planos para 831 aeronaves

Em 28 de setembro de 1962, foi feita uma apresentação da nova aeronave ao Comitê de Defesa do Parlamento. Posteriormente, o comitê recomendou ao Parlamento a compra de 831 caças para substituir todos os aviões de primeira linha (45 esquadrões mais as perdas por atrição).

O primeiro voo foi definido para 1966 e as primeiras entregas para substituição dos Lansen deveriam começar em 1969.

Entre 1963-64 houve um grande debate político, questionando o Projeto Viggen sobre um relatório de custos excedentes. Algumas vozes se levantaram defendendo o desenvolvimento de uma versão de ataque ao solo do Draken, enquanto outras defendiam a aquisição de uma aeronave pronta já operacional no exterior.

A KFF teve que preparar um programa de redução de custos para o programa, enquanto o Ministério da Defesa nomeou um “grupo de auditoria” para o projeto Viggen.

Ao mesmo tempo, um comitê foi criado para estudar aeronaves estrangeiras contemporâneas para fazer as comparações necessárias, para avaliar a possibilidade de compra direta.

Entre os tipos estudados estavam o Blackburn Buccaneer, o BAC TSR.2 (cancelado depois), o General Dynamics F-111, o Lockheed F-104 Starfighter e o McDonnell F-4 Phantom II. O Phantom era o tipo preferido e chegou até a ser demonstrado na Suécia, mas a decisão final, do comitê foi pela continuação do Programa Viggen.

Em 1965 o Parlamento decidiu postergar as entregas em 18 meses, empurrando a data para 1971.  Em abril de 1965 um mock-up da aeronave foi exposta em público pela primeira vez.

Mais tarde naquele ano, o Comandante Supremo requisitou ao Governo a autorização para aquisição de 831 aeronaves, nas versões de ataque, caça e reconhecimento, mas o comitê de Defesa estava hesitante, principalmente por causa dos altos custos envolvidos.

Todavia, a versão de ataque tinha sido originalmente desenvolvida com a função secundária de caça, por isso a designação  AJ 37, no lugar de A 37.

Primeiro voo

Em 24 de novembro de 1966, foi feito o roll-out do primeiro protótipo, designado 37-1. Em 8 de fevereiro de 1967, a aeronave fez seu primeiro voo com o piloto de testes da Saab, Eruk Dahlström no comando.

No inverno do mesmo ano a KFF decidiu não ordenar o desenvolvimento das versões de interceptação e de reconhecimento, por razões orçamentárias. Em troca, o Governo autorizou a produção do primeiro lote de 100 aeronaves, dos quais 83 da versão de ataque AJ 37 e 17 bipostos.

O preço era de cerca de 11 milhões de coroas suecas, com 460 milhões de coroas para a adaptação de produção, uma condição para a produção em série.

Um ano mais tarde, em 5 de abril de 1968, o desenvolvimento da versão de reconhecimento foi assegurada com a encomenda de 75 aeronaves, das versões AJ 37, SH 37 de reconhecimento marítimo e SF 37 de foto reconhecimento.

Em janeiro de 1969 a Defense Materiel Administration (FMV), que em 1968 substituiu as administrações individuais das Forças Armadas, iniciou os estudos para um novo caça visando a substituição do Draken J 35.

Era na verdade uma ordem para o desenvolvimento da versão de caça puro do Viggen, mas existiam poderes dentro da Força Aérea que defendiam uma compra de prateleira no exterior, com uma performance mais de interceptação.

Esta opinião foi colocada de lado em favor do Flygplan 80 (Aeronave 80) da Saab, cujos desenhos preliminares tinham asa alta, dois motores, muito parecido com o Jaguar franco-britânico. O projeto foi mais tarde cancelado.

Em setembro de 1972 o Parlamento deu o sinal verde para o projeto do JA 37 Viggen, incluindo as mudanças da célula, aviônica e subsistemas, bem como um upgrade no motor.

Em 21 de junho de 1971, o primeiro AJ 37 foi entregue à Força Aérea, mas só em 1973 a aeronave entrou em operação na Ala de Ataque F 7.

Em 1973, ambas as versões de ataque voaram e em 1974, foi a vez do primeiro protótipo do JA 37.

Asas quebradas

Em 1974-75, logo no início da vida operacional do Viggen, algumas aeronaves caíram inexplicavelmente, como resultado da separação da asa em voo, durante manobras. Foi um problema grave no sistema Viggen e toda a frota teve que ser “groundeada”, até que a causa do problema fosse revelada.

A causa descoberta foi o enfraquecimento de longarinas durante a fabricação, devido à incorporação de pequenas perfurações. Os primeiros aviões de série foram retirados de serviço e refeitos, enquanto os que estavam em fabricação tiveram as longarinas substituídas.

O caça Viggen

O primeiro JA 37 Viggen “real” (37-71) voou pela primeira vez em 27 de setembro de 1974. Três meses mais tarde, em 20 de dezembro, a FMV encomendou o primeiro lote de 30 aeronaves. Em 1979 a primeira foi entregue à Ala F 13.

O JA 37 Viggen era na época um dos mais avançados caças do mundo, equipado com um canhão Oerlikon KCA de 30mm, mísseis Rb 74 Sidewinder e Rb 71 Skyflash. Ao todo, 329 Viggens foram fabricados, mais 9 nove protótipos e aeronaves de pré-produção.

Em 1993, o mais velho AJ 37 atingiu o fim da vida útil da célula e foi retirado de serviço. O custo para extensão da vida útil através de um programa de revitalização foi considerado proibitivo, principalmente porque o JAS 39 Gripen já estava chegando.

A maior parte dos Viggen de ataque e reconhecimento foram modificados e modernizados entre 1993 e 1996.  Todas as aeronaves eram basicamente do mesmo padrão, designadas AJS 37, indicando a capacidade multimissão.

Entre as melhorias, a habilidade de levar novas armas, por causa de novos aviônicos e computadores. Mesmo os Viggens mais antigos podiam levar o míssil antinavio RBS 15 e um número maior de mísseis Sidewinder.

Em 25 de junho de 1998, o primeiro Saab SK 37E de guerra eletrônica foi entregue à FMV. Era uma versão específica de ECM do Viggen, baseada no modelo biposto.

Inovações do Viggen

Os requisitos da Força Aérea Sueca ditavam a capacidade de Mach 2 em grandes altitudes e Mach 1 em baixas altitudes, ao mesmo tempo em que se exigia performance de pouso e decolagem curtas.

Viggen foi projetado inicialmente para missões de ataque ao invés de interceptação (pois o Saab 35 Draken cumpria o papel), por isso deu-se ênfase no baixo consumo de combustível em altas velocidades subsônicas em baixas altitudes, com bom alcance.

Os motores turbofan estavam começando a surgir e ofereciam justamente essas características, mas com um diâmetro maior do que os turbojatos. O RM 8 foi o segundo turbofan do mundo com pós-queimador e o primeiro equipado com reversor de empuxo. O consumo do motor  RM 8 com pós-combustor acionado esgotava todo o combustível interno do Viggen em 7 minutos.

Na década de 1960 foi decidido que o Viggen seria monoposto, por isso foi instalado um computador digital e um HUD para substituir o navegador. O computador, chamado CK37 (centralkalkylator 37), foi o primeiro computador aerotransportado do mundo.

Ele utilizava o sistema STRIL 60 com link para o sistema de defesa sueco. O sensor principal era o radar Ericsson PS-37 de banda X, monopulso, com várias funções: ar-superfície, telemetria ar-ar e cartografia.

Um radar altímetro Honeywell com transmissor receptor nos canards foi instalado para ajudar nos voos a baixas altitudes. Um radar doppler de navegação Decca Type 72 e vários outros subsistemas foram instalados, incluindo o TILS (Tactical Instrument Landing System), sistema RWR SATT, pod ECM Ericsson Erijammer e pod chaff/flare BOZ-100.

O peso da eletrônica era de 600kg, o que era substancial num monomotor da década de 1960.

A versão de treinamento biplace SK 37 omitiu o radar e o computador CK37, navegando apenas como o sistema Decca e DME. O RWR também foi removido.

Inicialmente somente uma versão de reconhecimento (S) foi considerada, mas a instalação de câmeras obrigou a retirada do radar. A versão de ataque marítimo e reconhecimento SH 37 era similar à AJ 37, com radar marítimo otimizado PS-371/A com longo alcance, câmera de cockpit e gravador para análise de missão. Pods “Red Baron” e câmera LOROP eram levados sob a fuselagem. O tanque ventral foi convertido por um tempo em pod de câmeras, com duas CA-200 de 1676 mm. Em adição ao equipamento de reconhecimento, o SH 37 podia usar as mesmas armas do AJ 37.

A suíte aviônica da versão JA foi um grande salto em relação às outras, desenhadas uma década antes. O computador de bordo era o Singer-Kearfott SKC-2037 fabricado sob licença pela Saab como CD 107, o computador de dados do ar Garrett AiResearch LD-5 ( o mesmo do F-14 Tomcat), um sistema de controle de voo Saab-Honeywell SA07 (um dos primeiros digitais a entrar em produção) e o sistema de navegação inercial KTL-70L.

No cockpit, vários instrumentos analógicos foram substituídos por dois displays CRT, um indicador tático no centro e um indicador de mapa móvel, mantendo o HUD.

O radar do JA 37 era uma versão multimodo modernizada do Ericsson PS-46/A pulso-doppler, otimizada para as funções de caça/interceptação. Tinha capacidade lookdown/shootdown, alcance de 48km, iluminação de ondas contínuas para os mísseis Skyflash, bem como a habilidade de rastrear dois alvos enquanto buscava outros. O MTBF era de 100h, considerado alto para aquela geração de aviônica.

Em 1992, um programa de upgrade envolveu as aeronaves com menos horas de voo das versões AJ/SF/SH, redesignadas como AJS/AJSF/AJSH. Essa modernização deveu-se ao atraso da entrada em serviço do JAS 39 Gripen.

As modificações incluíram um novo computador Ericsson, um barramento MIL-STD-1553B e um sistema de interface de armas MIL-STD-1760 para levar os mísseis antinavio Rb 15F e o dispensador de submunição DWS 39 Mjölner.

O sistema RWR foi modernizado com capacidade de gravação e um sistema de planejamento de missão com fita também foi implementado. O radar original PS-37/A do AJ 37 foi modernizado para o PS-371/A (do SH 37), permitindo ao novo AJS 37 realizar missões de reconhecimento.

O JA 37 foi continuamente modernizado ao longo de sua vida útil. Em 1985, o “fighter link” entrou em serviço, permitindo a comunicação de dados entre 4 caças e uma estação de comando no solo.

Este link permitia também a um caça “pintar” um alvo aéreo inimigo com seu radar para que os outros três caças disparassem seus mísseis com seus radares desligados. Esse sistema estava operacional 10 anos antes de qualquer outro país. O piloto automático também podia ser escravizado ao radar de controle para obter uma maior precisão na interceptação.

Em 1990, o radar PS-46/A foi modernizado para maior resistência a “jamming” e a habilidade rastrear vários alvos ao mesmo tempo. Em 1993, a habilidade de gerar alvos virtuais para treinamento foi adicionada ao radar, para economizar no treinamento.

Entre 1992 e 1997, um grande upgrade de aviônicos foi implementado nos JA, mudando a designação destes para JA 37D. A modernização consistiu de um computador de missão Ericsson CD207, um computador de gerenciamento de armas ANP-37, linkados com dois databuses MIL-STD-1553B, permitindo o uso do míssil Rb 99 AMRAAM.

No cockpit, foi instalado um display colorido TI 327 com mapa móvel (originalmente feito para o Gripen), e um Synthetic Attitude Heading Reference System.

As suítes de ECM e ECCM foram melhoradas, RWR modernizados, um jammer Ericsson U95 e a habilidade para levar dispensadores de chaff/flare BOY-401 em local diferente que os pilones para armas.


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