O DHC-6 Twin Otter é um bimotor de sucesso e está em operação em diversos países ao redor do mundo, como nas Maldivas, onde é peça essencial para conectar as ilhas do arquipélago por meio da versão de hidroavião; no Nepal, onde é fundamental para chegar em aeroportos bastante restritos, ou no Caribe, onde é utilizado também para ligar as ilhas e pousar em locais desafiadores como St. Barths e Saba.
Na água, na neve, em pistas curtas, pavimentadas, de terra ou de grama, o Twin Otter é muito versátil e pode operar em diversos tipos de terreno. A aeronave acomoda até 19 passageiros, é ideal para rotas regionais e também pode operar com configurações militar, cargueira, para pesquisas, bem como serviços aeromédicos. A de Havilland Canada (antiga fabricante) lançou várias séries. Atualmente produzido pela Vikings, o bimotor está na sua versão DHC-6 Series 400. Somando as duas fases do Twin Otter, produziu-se quase mil unidades.
Mesmo com tudo isso a oferecer, o turboélice não emplacou no Brasil e apenas uma unidade chegou a voar, por pouco tempo, em uma linha aérea brasileira. Vamos conhecer mais detalhes sobre o PP-SRV, o único DHC-6 Twin Otter que chegou a ser registrado no Brasil:
Aeronaves para voos regionais
As décadas de 60 e 70 foram marcadas pela substituição de boa parte das aeronaves a pistão por turbojatos pelas empresas aéreas brasileiras. Uma delas foi a Vasp, que na época introduzia os Boeing 737-200 e já voava com os BAC 1-11. Com essa mudança, diversas rotas deixaram de existir pelo país, visto que os jatos não eram tão ideais para certos mercados regionais, seja pela demanda ou pela infraestrutura dos aeroportos.
Buscando reverter essa situação, a Vasp iniciou um estudo, entre 1967 e 1972, para a operação de linhas regionais a partir de Congonhas. A empresa trouxe aeronaves, como o Twin Otter, para operar em caráter experimental.
Matriculado como PP-SRV, o primeiro e, por enquanto, único Twin Otter a voar com registro brasileiro chegou para a companhia em 12 de outubro de 1967. Na época, a aeronave tinha apenas um ano de voo e estava sendo utilizada pela de Havilland Canada como demonstradora para possíveis clientes na América do Sul, entre elas a aérea paulista, que arrendou o modelo para testes.
Após quase 2 meses operando pela Vasp, o PP-SRV encerrou sua rapidíssima passagem pelo Brasil em dezembro de 1967.
Decisão do modelo
Depois do Twin Otter, a empresa testou outros modelos, como o Beech 99, em 1968, o Nord 262, em fevereiro de 1969, e o Swearingen Metro em dezembro de 1972. No entanto, a decisão final seguiu as vontades do Governo Federal e em outubro de 1973, a Vasp recebeu seus primeiros Embraer 110 Bandeirante, que ligavam Congonhas com o interior paulista.
Trajetória do PP-SRV
Após voar na Vasp, o PP-SRV voltou para a de Havilland Canada como CF-UXP e em janeiro de 1968, foi voar no Panamá como HP-466 pela TASA.
O bimotor também durou pouco no país da América Central e ficou estacionado sem voar por quase um ano no aeroporto Opa-locka, em Miami, entre outubro de 1968 e setembro de 1969.
Em 1969, o exemplar voltou ao Canadá para voar com a matrícula CF-AJB pela Gateway Aviation. Em 1974 sofreu um grave incidente ao colidir com árvores em uma decolagem abortada.
A aeronave recebeu os devidos reparos pela James Taylor Company e posteriormente ganhou uma nova vida na canadense Air West Airlines. Para voar em sua nova operadora, o bimotor foi convertido para hidroavião e recebeu flutuadores. No entanto, essa nova vida, agora entre o ar e a água, durou muito pouco. Em 1976 o CF-AJB se acidentou em um pouso brusco. Todos a bordo sobreviveram, mas o fim do bimotor foi embaixo d’água. A aeronave afundou a cerca de 90 metros no estreito de Juan de Fuca e por lá ficou.
Outras possibilidades no Brasil
Um dos principais motivos para o Twin Otter não ter emplacado no Brasil se chama Embraer 110 Bandeirante. O bimotor brasileiro é concorrente direto do canadense e o governo brasileiro criou medidas econômicas no passado que dificultavam a entrada de concorrentes no país.
Contudo, a aposentadoria de boa parte dos Bandeirantes em voos comerciais por empresas brasileiras acendeu um alerta de oportunidade para a Viking. Em 2016, o Twin Otter Series 400 recebeu o Certificado de Tipo no Brasil. Um ano antes, a fabricante trouxe o modelo para exibição na LABACE e também realizou um pequeno tour pelo país com executivos de algumas empresas. A Viking comentou que foi sondada pela MAP e pelo Exército Brasileiro. Em 2019, a Asta Linhas Aéreas revelou que tinha a intenção de introduzir o modelo em sua frota. No entanto, nenhum dos negócios foi adiante e o Brasil continua sem um operador do versátil Twin Otter.
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