Era uma terça-feira, 21 de julho de 1978, quando o Douglas DC-8-63 de registro JA8033 estreou os voos regulares da Japan Airlines no Brasil.
As ligações regulares da aérea japonesa no país iniciaram-se após uma série de voos fretados entre os anos de 1960 e 1970, incluindo operações com o Douglas DC-6. A princípio, a Japan Airlines passou a realizar o serviço Tóquio/Narita-Viracopos com uma frequência quinzenal, que pousava no Brasil às quartas-feiras.
O longo voo partia de Tóquio e fazia escalas em Anchorage, Nova York, San Juan, Rio de Janeiro e por fim chegava em Campinas. A operação que decolava do Japão até o Rio de Janeiro tinha o código JL022. A partir da Cidade Maravilhosa, de volta até Narita era o voo JL021. A viagem se iniciava na terça-feira e terminava somente na sexta-feira.
Sr. Shizuo Asada, então presidente da Japan Airlines, comemorou a ocupação nos primeiros meses da rota, atingindo 75,4%. Em 1979, a empresa decidiu ampliar suas frequências para o Brasil, passando de quinzenal para um voo semanal. O Rio de Janeiro foi cortado da rota e o quadrimotor passou a ficar mais de um dia estacionado em Viracopos, antes de regressar ao Japão às quintas-feiras. Isso era feito para permitir o descanso regulamentar dos tripulantes.
Anos mais tarde, em 1982, o trajeto passou por novas alterações e Nova York e San Juan deixaram de fazer parte da rota. A linha passou a ser Tóquio-Anchorage-Miami-Viracopos e pousava no Brasil às quintas-feiras.
No ano seguinte, mais mudanças foram feitas e Los Angeles entrou no lugar de Anchorage. Uma observação é que nesse período o voo entre o Japão e a cidade californiana era realizado com o Boeing 747, enquanto o Douglas DC-8 cumpria o Los Angeles-Miami-Viracopos.
Troca do DC-8 pelo 747
Em 1984, a Japan Airlines decidiu trocar o equipamento de seus voos para o Brasil e substituiu o DC-8 pelo Boeing 747-200. A empresa também aumentou de um para dois voos semanais e deixou de operar em Viracopos, colocando o Rio de Janeiro novamente em seu mapa de rotas. Com a mudança da aeronave, o trecho foi encurtado e passou a contar somente com uma escala em Los Angeles.
Nesse período, a JAL operava voos para Guarulhos arrendando Boeing 737-200s da Vasp, que cumpriam os voos JAL063 e JAL064 entre o Galeão e Guarulhos. Posteriormente, essa linha foi passada para a TransBrasil, que realizava o trajeto com o Boeing 727-100.
A aérea japonesa ampliou sua capacidade no país em 1988 com a introdução do Boeing 747-300, um dos jatos mais modernos da época. Sendo assim 1.588 assentos semanais (ida e volta) passaram a ser ofertados entre Tóquio e o Rio de Janeiro. Em maio de 88, a JAL colocou uma terceira frequência no trecho Japão-Brasil, mas em codeshare com a Varig. O designativo do voo era o JL067.
Alteração para São Paulo
No ano de 1989, a empresa transferiu seus escritórios e operações para São Paulo e passou a utilizar o Aeroporto Internacional de Guarulhos como sua base no Brasil. Os passageiros que seguiam até o Rio de Janeiro eram transportados em voos da TransBrasil.
A década de 90 terminava em turbulência com a desvalorização do real ante o dólar, e o número de passageiros em voos internacionais no Brasil caiu. Nesse período, a JAL fez novas alterações em seu itinerário para o país e Nova York (JFK) substituiu Los Angeles no trajeto. Mesmo com o cenário desafiador, a Japan Airlines incrementou mais uma frequência entre Tóquio e São Paulo e passou a contar com três voos semanais próprios na linha. A empresa havia desfeito o code-share com a Varig e o terceiro voo realizava um caminho diferente: Tóquio-Nagóia-Nova York-Guarulhos.
A empresa introduziu o Boeing 747-400, conhecido como Skycruiser, no trecho para Guarulhos. O quadrimotor acomodava 314 passageiros, sendo 14 na primeira classe, 82 na executiva e 218 na classe econômica.
Mais voos para o Brasil
No início dos anos 2000, a JAL ampliou para cinco frequências semanais seus voos entre Tóquio e Guarulhos e a operação ficou desta forma:
- A linha São Paulo-Nova York-Tóquio acontecia 4 vezes na semana, às segundas, terças, quintas e sábados;
- A empresa criou uma nova ligação, colocando Los Angeles de novo como escala. A linha Nagóia-Los Angeles-São Paulo ocorria às sextas-feiras.
Nesse período, a ocupação na rota estava ótima, em torno de 80%.
Contudo, os cinco voos semanais duraram pouco. Com o 11 de setembro no ano seguinte, a empresa cortou o trajeto Nagóia-Guarulhos. A partir daí, uma série de questões começaram a colocar obstáculos para que a operação continuasse viável. Em 2003, a invasão no Iraque e o surgimento da gripe asiática (SARS) derrubaram o número de passageiros ao redor do planeta. Nesse mesmo ano, o governo norte-americano determinou a necessidade de visto aos brasileiros para ingresso nos EUA, até mesmo os que estivessem somente fazendo escala no país, como era o caso dos viajantes que realizavam o voo com a JAL. A medida dificultou ainda mais as viagens entre Brasil e Japão e a aérea japonesa reduziu para 3 os voos para Guarulhos.
Em 2007 somente 38.853 passageiros embarcaram na linha Brasil-Japão, número bem abaixo aos 80 mil registrados em 2000.
Ponto final
A situação econômica da Japan Airlines não era boa. A empresa atravessava um período delicado e em 2009 anunciou a entrada no processo de concordata. Buscando superar o processo de falência, a JAL passou por uma reestruturação completa. Demissões em massa aconteceram, diversas aeronaves foram devolvidas e várias rotas.
Mais uma frequência do voo para o Brasil foi cortada e, em 2010, a JAL decidiu encerrar suas operações no país.
O último voo aconteceu no dia 27 de setembro de 2010. O voo JL015 operado pelo Boeing 747-400 JA8916 pousou em Guarulhos na manhã daquela triste segunda-feira. O quadrimotor passou o dia todo no aeroporto em uma área remota, até ser rebocado para a posição novamente durante a noite.
Um pouco atrasado, o voo JA8916 partiu para o Japão naquela noite sem perspetiva de volta, colocando assim um ponto final nos 32 anos de operação da Japan Airlines no Brasil.
Anos mais tarde, em 2014, a empresa chegou a cogitar a retomada de suas operações para o país. Durante uma visita no Brasil, Masaru Onishi, então presidente da Japan Airlines, disse que a companhia tinha intenção de retomar a rota. No entanto, os planos jamais se concretizaram.
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