M-346 Um eficaz e acessível guerreiro multifuncional
Pedro Paulo Rezende
Especial para DefesaNet
O Leonardo M-346, é um avião biturbina e biposto oferecido em dois modelos: treinamento avançado para pilotos (Advanced Jet Trainer — AJT) e de combate (Fighter Attack — FA).
O aparelho foi testado pelo comandante da Aeronáutica brasileiro, tenente-brigadeiro do ar Carlos de Almeida Baptista Júnior, no dia 28 de abril, em sua visita ao 61° Stormo, sediado na Base Aérea de Lecce-Galatina. A unidade da Aeronáutica Militar Italiana tem como objetivo dar aos pilotos as capacidades indispensáveis para operar caças de quarta, como o Eurofighter Typhoon, e de quinta gerações, o Lockheed-Martin F-35.
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Icônica foto de duas aeronaves em uma: a da esquerda é o M346 Fighter Attack – FA, com algumas de composições de armamentos e PODS que pode levar e a da direita o M346 Advanced Jet Trainer — AJT. Foto Leonardo
DefesaNet teve contato com as duas versões do M-346 na histórica fábrica de Venegono (Ver Nota 1). A planta ainda produz em uma segunda linha de montagem o M-345, um treinador monomotor leve que emprega um turbofan e que concorre na faixa de preço e custo operacional dos treinadores avançados a turboélice, como o Pilatus PC-21.
É preciso ressaltar que as versões de treinamento avançado e de combate leve do M-346 compartilham a mesma célula com sistema de reabastecimento em voo e previsão estrutural para a instalação de pontos duros para carregar armas e combustível. Também estão previstos pontos de passagem para o cabeamento para a instalação do radar Grifo M-346 e equipamentos de alerta contra radar (RWR — Radar Warning Receiver), de aproximação de mísseis (MAW — Missile Approach Warning) e despistador de mísseis guiados por radar ou infravermelho (Chaff & Flare Dispenser). Desta maneira, os custos e tempo necessários para um eventual upgrade são reduzidos.
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M-326 FA com mísseis Sidewinder AIM-9L, Bombas guiadas Lizard e tanques de combustivel Foto Alessandro Maggia
O projeto segue a filosofia de operação em rede (netcentric) e as duas versões empregam um sistema de conexão de dados para comunicação em duas vias comandado por computador (datalink). A célula do M-346 está homologada para suportar 8 G (gravidades de força (o F-39 Gripen E/F foi desenhado para uma carga de 9 G). A fuselagem abriga um cockpit com dois postos de pilotagem em tandem. A cabine do instrutor está localizada no posto traseiro em posição elevada, o que permite ampla visibilidade sobre o posto anterior, ocupado pelo aluno. O painel de bordo é digital e está separado em três visores e HUD duplo.
O avião possui dois motores turbofan Honeywell F124-GA-200 com 2.850 kg de empuxo, uma potência superior à do Northrop F-5EM em pós-combustão (dois turbojatosGeneral Electric J85-GE-21B com 2.267 cada) e à do AMX (um Rolls&Royce Spey de 5.009 kg de empuxo).
Economia
Graças ao uso de um software de controle de voo (FCS) e de um sistema de hardware digital (Fly By Wire) de quatro canais, com ampla redundância, o M-346AJT é capaz de emular as características de aviões de combate ou de transporte pesado, o que flexibiliza as operações de instrução, mas esta não é a única vantagem oferecida pelo produto da Leonardo: o avião é parte de um sistema amplo que inclui integração com simuladores de voo.
Um aluno pode participar de uma missão real, como ala, a partir do simulador. Também é possível coordenar vários simuladores entre si e com um avião no ar. Desta forma, ganha experiência sem custo de combustível até estar capacitado a voar o equipamento em ambiente real.
A fábrica em Venegono abriga o centro de desenvolvimento dos simuladores. Os engenheiros optaram por modelos sem movimentação axial por um motivo simples: a mecânica é incapaz de reproduzir a sensação imposta pela gravidade. Desta forma, o piloto não adquire vícios que poderiam ser perigosos em situações reais.
Como treinador de caça avançado (Lead-in fighter training — LIFT), o M-346AJT utiliza aviônicos e capacidade de gerenciamento de armazenamento que emulam aviões de combate operacionais. Por meio de um datalink, recebe informações compartilhadas por outras aeronaves ou estações localizadas em terra, o que inclui imagens de radar em tempo real. Situações como ataques por mísseis guiados por infravermelho ou radar, ar-ar ou antiaéreos, podem ser respondidos por contramedidas eletrônicas simuladas.
As vantagens econômicas são expressivas. O custo da hora/voo corresponde a menos de 25% por cento do custo de operação de um de caça ou aparelho de combate. Recentemente, na oferta feita ao governo da Áustria, a SAAB estipulou a hora/voo do Gripen C/D em 28 mil euros. A Leonardo constatou que o valor correspondente do M-346AJT é entre US$ 5 mil a US$ 6 mil. Com base nestes valores, a Força Aérea da Alemanha decidiu transferir uitas de suas atividades de treinamento avançado para a Aviação Militar Italiana enviando muitos de seus pilotos, apesar de não ter comprado o avião. Um M-346FA pode ser adquirido por menos de 30% do preço de um Gripen E.
Ataque ao solo e combate aéreo
A versão armada, batizada de M-346FA, é equipada com um radar Grifo M-346. Trata-se de um aperfeiçoamento do modelo empregado pelos F-5EM/FM modernizados pela Força Aérea Brasileira. Além de realizar as missões de treinamento realizadas pela versão básica, o aparelho é capaz de cumprir missões em modos de ataque ao solo, de policiamento do espaço e de defesa aérea a um custo bastante reduzido e uma carga útil respeitável: 3 toneladas, equivalente à do Gripen C/D adotado pelas forças aéreas da Suécia, África do Sul, Chéquia (ex-República Checa), Hungria e Tailândia.
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A versatilidade do M-346FA é exemplificada nesta imagem. Com mísseis Ar-Ar Iris-T (também serão usados no Gripen F-39 E/F) e bombas guiadas Lizard e bombas MK-82 Foto Leonardo
Uma grande lista de armas e sistemas foi integrada ao modelo incluindo equipamentos de guiagem; canhão de 20 mm; mísseis de combate aéreo e de ataque ao solo; bombas guiadas a laser e por GPS; bombas burras e lançadores de foguete (Nota 2). As duas versões do M-346 estão capacitadas e homologadas para levar três tanques de combustível de 630 litros e para realizar operações de reabastecimento em voo. . Leonardo detém toda a propriedade intelectual do software e pode adaptar a configuração às necessidades do cliente.
Um jato de baixo custo
O modelo de treinamento da Aeronáutica Militar Italiana emprega o SF-260, um clássico aparelho monomotor a pistão, como treinador primário. No Brasil, este papel cabe ao T-25 Universal. O aluno, então, parte para o M-345 (no Brasil, o T-27 Tucano) antes de finalizar o curso no M-346AJT. Na Força Aérea Brasileira, a fase final de adestramento é realizada no AT-29 Super Tucano, um avião turboélice extremamente bem sucedido como aeronave de ataque, mas que, devido ao torque excessivo em virtude do motor Pratt & Whitney Canada PT6A-68C de 1.600 shp de potência, apresenta alguns problemas como treinador avançado.
O M-345 está equipado com um motor turbofan Williams FJ44-4M-34 com 1.540 kg de empuxo. O cockpit segue o mesmo padrão do M-346AJT. O modelo foi adotado pela Aeronáutica Militar Italiana também como substituto do MB-339 no Freccia Triccolore, o esquadrão nacional de demonstração de acrobacias. Apesar de ser uma solução de baixo custo, o aparelho, por meio de datalink, usufrui do mesmo modelo de integração com os simuladores empregado pelo M-346 e possui cinco pontos duros para tanques subalares e armamento. A capacidade de carga é superios à 1 tonelada. Uma metralhadora de 20 mm pode ser instalada sob as asas. O mesmo ponto pode ser empregado para casulos de guerra eletrônica ou de aquisição de alvos.
High-low
A Força Aérea Brasileira persegue, há alguns anos, a filosofia de emprego de apenas um vetor de combate. Em teoria, isto facilitaria o fluxo de manutenção por meio de uma linha de suprimento única. Por outro lado, aumenta o risco do corte de peças de reposição em uma crise. O SAAB F-39 Gripen E/F foi adquirido pelo baixo custo operacional (que precisa se confirmar na prática).
As previsões mais otimistas apostam em uma hora/voo de US$ 20 mil, cerca do dobro da apresentada pelo Northrop F-5EM, que, aos 50 anos, se aproxima da hora da aposentadoria. A aquisição de um aparelho de treinamento de caça avançado implica em um menor uso do vetor principal, o que implica em aumento da disponibilidade e da expectativa de vida dos principais meios de uma força aérea, além das óbvias vantagens econômicas apresentadas por uma hora/voo de somente US$ 5 mil dólares.
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A disposição do dos tripulantes permite uma ampla visão Foto Leonardo
Apostar em um vetor também implica em alguns riscos. Quando ocorre um acidente, toda a frota do mesmo modelo é obrigada a permanecer no solo enquanto a investigação das causas não é fechada. Ou seja: é bom ter uma alternativa nestes momentos. Por último, o emprego do AT-29 Super Tucano como LIFT não é adequado em virtude dos vícios inerentes a uma célula turboélice com forte torque, o que pode resultar em reflexos inadequados no processo de transição para um caça supersônico de 4,5 geração.
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A versão M-346FA, além disto, soma todas as vantagens de um sistema de treinamento com forte suporte de simuladores com as de um avião de combate bem armado, capaz de reabastecimento em voo e com alta consciência situacional, o que é indispensável para missões de proteção do espaço aéreo, apoio a forças de terra ou marítimas. A aquisição de um vetor adicional de baixo custo para suplementar o F-39 Gripen E/F traria novas capacitações à FAB e não inviabiliza a compra de um segundo lote do caça sueco. Traria a possibilidade de um maior número de aeronaves para aumentar a cobertura do território nacional, o mesmo papel ocupado pelo AT-26 Xavante no passado. Barato não é antônimo de sofisticado.
Nota 1: Sob a direção do engenheiro Mario Castoldi, a Macchi projetou e fabricou aviões de recorde e de corrida que marcaram as décadas de 1920 e 1930. O hidroavião MC72 bateu o recorde de velocidade em 1934. A empresa foi responsável pela fabricação de caças durante a Segunda Guerra Mundial. Os caças Macchi MC202 Folgore e MC205 Veltro, junto com o FIAT G.55, foram considerados os melhores aviões de combate italianos durante o conflito. Um exemplar do MC205 está exposto na entrada do prédio administrativo em Venegono.
Entre os anos de 1960 e 1970, já rebatizada de Aermacchi, sob a orientação do engenheiro Ermanno Bazzocchi, desenvolveu o treinador avançado a jato MB-326, que teve um grande sucesso no mercado por suas qualidades de voo e baixo custo operacional. Ao todo, foram construídos em Venegono 778 aparelhos, vendidos para treze países. Ele deu origem ao primeiro avião de combate construído em série pela EMBRAER, o AT-26 Xavante, que formou a base da Força Aérea Brasileira (FAB) nos anos 1970 e 1980 e criou um forte laço entre Brasil e Itália. A planta de São José dos Campos produziu 176 unidades para o Brasil, dez para a Força Aérea Paraguaia e seis para a Força Aérea Togolesa. O aparelho também foi fabricado sob licença na África do Sul e na Austrália. Um MB-326 guarda o portão de entrada em Venegono.
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MB 326 na FAB – AT-26 4478, 1º Grupo de Aviação de Caça (foto Base Aérea de Santa Cruz via Arquivo A. Camazano A.)
O MB-339 é um desenvolvimento direto do MB-326. Uma nova fuselagem foi construída para aumentar o campo de visão do instrutor sobre o aluno. Ao todo, 260 unidades equiparam cinco forças aéreas, inclusive a Aeronáutica Militar Italiana.
Atualmente a FAB opera o AMX que é um produto ítalo-brasileiro e que tem dado excelentes resultados operacionais e foi um fator de excelente impulso para a indústria aeronáutica brasileira.
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AMX em operação na FAB
O M346FA pode ser considerado um sucessor natural do AMX, que está chegando ao final de sua vida útil. A comunallidade entre o M346AJT e o M346FA pode criar no futuro uma comunidade de frotas entre AJT e FA com otimização de recursos financeiros e manutenção da formação de pilotos em excelente nível de eficiência, com impacto no desempenho de ambos CAS / operações de COIN e para a gestão de rentabilidade e treinamento para Gripen F-39E/F
Nota 2: A versão M-346FA está equipada com um radar de uso múltiplo Grifo-M346, fabricado pela Leonardo Electronics, otimizado especificamente com um IFF (Identification Friend or Foe — identificação amigo ou inimigo) para missões de combate aéreo ou ataque ao solo. A FA Version pode ser equipado com um Datalink Tático (Tactical Datalink) que pode ser tanto integrado ao sistema LINK 16, padronizado pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN); uma versão Non-NATO também está disponível. Casulos externos para reconhecimento, contramedidas eletrônicas, para designação de alvos e para simulação de combate estão disponíveis. O aparelho possui sete pontos duros para cargas externas.
Armamentos integrados (Nota DefesaNet – itens marcados compem o arsenal do Gripen F-39E/F)
Nota DefesaNet
Mísseis para combate aéreo
• AIM-9L ou IRIS-T. Possível integração de mísseis de médio alcance.
Míssil de ataque ao solo:
• Brimstone
Bombas guiadas
• GBU-12/16 (500/1000 libras) Paveway II LGB
• Lizard 2 LGB (500 libras)
• GBU-38/32 (500/1000 libras) JDAM
• GBU-49 (500 libras) Enhanced Paveway II GPS/LGB
• Lizard 4 (500 libras) GPS/LGB
• Small Diameter Bomb (SDB)
• TEBER (250 libras) GPS/LGB
• SPICE (250 libras) EO/GPS
Sistemas tradicionais de ataque ao solo:
• Casulo para canhão de 20 mm ou 30 mm
• MK.82FF (500 libras) general-purpose bomb
• MK.82HD Snakeye/MK.83 (500/1000 libras) GPB
• Lançadores de foguete
PODS
M-346 pode carregar os pods de designação de alvos Litening. Também está integrado o pod Reccelite de reconhecimento.
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