O que começou com os veteranos jatos F-5 Freedom Fighter/Tiger II, A-4 Skyhawk e T-38 Talon foi sendo absorvido por aviões de gerações mais novas, como o F-15 Eagle, F-16 Viper e F/A-18 Hornet e Super Hornet, chegando ao moderno F-35 stealth.
Mas afinal, por que pintar os aviões como se fossem do adversário? Qual a ideia por trás disso?
Como dito antes, a história começa há 50 anos, no final dos anos 60 e início da década de 1970, durante a Guerra no Vietnã. Em 1969 é criada a TOPGUN, famosa academia de especialização para pilotos de caça e operadores de radar da Marinha dos EUA.
Na TOPGUN, os melhores pilotos de cada esquadrão passavam por um treinamento intenso para, não só para melhora do seu desempenho próprio nos combates aéreos nas selvas do Sudeste Asiático, mas para também compartilhar o conhecimento com seus colegas de esquadrão.
Logo em seguida os militares tomaram outras medidas para aumentar o realismo dos treinamentos, com base na experiência em combate dos próprios aviadores. Uma delas foi aplicar pinturas semelhantes às dos aviões russos e vietnamitas nos caças da academia e demais unidades, cujo propósito era justamente simular o inimigo nos exercícios.
As pinturas russas não se limitavam apenas aos tons e curvas da camuflagem, incluindo também marcações como os ‘bort numbers’ (números pintados na lateral da seção frontal da fuselagem) e a Zvezda, a famosa estrela vermelha na cauda, e algumas inscrições.
A ideia logo foi absorvida pela Força Aérea, que criou sua própria escola de especialização pouco tempo depois. Enquanto na Marinha os ‘caças russos’ eram chamados de Adversary, na USAF receberam a designação Aggressor. Esta última acabou se tornando a mais popular para se referir aos caças com pinturas russas.
Mais recentemente, alguns aviões passaram a receber marcações de aeronaves chinesas, reforçando a crescente ameaça que Pequim representa para os EUA.
Pintura vs. Combate BVR
Embora as pinturas sejam o que mais chamam atenção, Marinha, Aeronáutica e Fuzileiros Navais dos EUA tem seus próprios esquadrões dedicados ao estudo profundo de técnicas, táticas e procedimentos de nações adversárias para fornecer o treinamento aos pilotos da linha de frente. Ou seja, o trabalho é bem mais amplo que só pintar os aviões.
Com a evolução das aeronaves e seus sistemas de bordo, o combate na arena além do alcance visual (BVR) também se desenvolveu. No passado, onde a identificação visual do inimigo era, muitas vezes, imperativa, hoje a coisa é bem diferente.
Mas mesmo que os pilotos não enxerguem o avião um do outro, as pinturas aggressor/adversary ainda tem elevado grau de importância, como explicou o então comandante de uma ala da Base Aérea de Nellis, o General Brigadeirol Robert Novotny, em entrevista ao portal The War Zone.
“No livro Red Eagles: America’s Secret MiGs, Steve Davies cunhou a frase “Buck Fever”. Ele descreveu Buck Fever como a emoção que um novo caçador sente na primeira vez que aponta um rifle para um cervo. Os pilotos do Red Eagle estenderam este conceito ao combate ar-ar.
O Maj Francis “Paco” Geisler declarou: “A primeira vez que vi um MiG-17, simplesmente parei de pilotar o avião”. Os Red Eagles acreditavam que expor os pilotos a MiGs reais em treinamento era a única maneira de evitar a Buck Fever em combate. Embora os 64º Agressores não estejam pilotando aeronaves MiG reais, usamos esquemas de pintura adversários para ajudar a mitigar o risco de Buck Fever. Com base nesse treinamento representativo da ameaça, é muito mais provável que nossos combatentes cheguem a um cruzamento (merge), identifiquem visualmente o inimigo e MATEM!
Eu sei que quando eu cruzar com um Agressor usando esse esquema de pintura, isso vai chamar minha atenção!”
Em junho de 2022 os Estados Unidos apresentaram seu primeiro F-35 aggressor, provando que os jatos adversários ainda são muito valiosos. O F-35 também recebeu uma pintura especial, embora não tão “colorida” como as vistas em outros modelos.
Conspirações? Às vezes elas aparecem.
Vira e mexe, é comum ver nas redes sociais, casos de teorias da conspiração envolvendo estas aeronaves. Algumas afirmam que os Estados Unidos tentam copiar os aviões russos, outras sugerem ataques de bandeira falsa (como um caso ocorrido em 2016), onde os norte-americanos usariam os jatos para tentar imputar aos russos a culpa de um ataque perpetrado por eles.
A liberdade oferecida pelas mídias sociais permite que histórias como essa nasçam e chamem atenção, mas a realidade é bem diferente disso, como explicado acima.
A grande falha dessas e outras teorias é que mesmo com pinturas similares, o desenho dos aviões é completamente diferente, especialmente quando falamos de caças como F-16 e F/A-18 (os principais jatos aggressor em atividade nos EUA) em comparação com aviões da Rússia, como o Su-27, Su-30 e Su-35. Logo, é muito fácil identificar e diferenciar os modelos.
Um modelo de negócios
O treinamento de pilotos de combate começou como uma atividade dentro das forças armadas, envolvendo esquadrões inteiros com suporte logístico de bases aéreas. Em operações como a Red Flag, o exercício ainda inclui pilotos estrangeiros anualmente.
Mas de alguns para cá, uma série de empresas particulares também passaram a oferecer esse serviço, que no meio de negócios adotou o nome Red Air.
São firmas que adquirem aviões de caça usados e contratam ex-pilotos de combate para fazer o mesmo papel de adversário, mas sob contrato com o Pentágono. Normalmente a Marinha e Força Aérea contratam as horas de voo dessas empresas, não tendo que arcar custos de manutenção e contrato de trabalho como acontece na sua própria estrutura.
Empresas Red Air com mais recursos já realizam o serviço com caças supersônicos, inclusive investindo na atualização das aeronaves para replicar ameaças mais modernas, mesmo que em plataformas mais antigas. É o caso da Tactical Air Support, que modernizou sua frota de caças F-5 para essas atividades. Em 2021, a canadense Top Aces se tornou a primeira entidade privada a usar caças F-16 como aviões aggressor.
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