Em meados dos anos 1980, Brasil e Itália se juntaram para desenvolver um novo caça-bombardeiro. O resultado do projeto conduzido pela Aeritalia, Aermacchi e Embraer foi o AMX, que permanece em serviço com a Força Aérea Brasileira (FAB) e a Aeronautica Militare Italiana (AMI), embora já no fim de sua vida operacional.
Além de investir na criação da aeronave – algo que foi fundamental para o crescimento da Embraer – o governo brasileiro adquiriu um total de 56 A-1 (como o caça foi batizado pela FAB), ainda que o desejo inicial fosse para 79 unidades.
O AMX entrou em serviço no Brasil na década de 1990 com o esquadrão Adelphi (1º/16º GAv) da Base Aérea de Santa Cruz (RJ), mais tarde sendo entregue aos esquadrões Poker (1º/10º GAv) e Centauro (3º/10º GAV) da Base Aérea de Santa Maria (RS). Com a desativação da unidade carioca em 2016, restaram apenas os esquadrões do RS operando o A-1.
Testado em combate na Europa e Oriente Médio pela Itália e atuando em missões contra o garimpo e tráfico com a FAB, o AMX se provou uma excelente plataforma de ataque ao solo e reconhecimento tático, valendo-se de sua grande autonomia e capacidade para carregar até 3,8 toneladas de bombas, mísseis e sensores.
E parte dessa carga foi mostrada em uma foto recente do jornalista João Paulo Moralez, da Hunter Press. A imagem, cedida ao Aeroflap, mostra um display dos armamentos que equipam o A-1 AMX da FAB.
Como explica o autor da imagem em outra matéria, a maior parte do leque de armamentos disponível para o AMX é voltado para atingir alvos em solo.
Na imagem vemos:
- Bomba Mk.82 de 500 libras (3). O AMX pode carregar toda a série de bombas de emprego geral Mk.80 (81, 83 e 84 de 250, 1000 e 2000 libras, respectivamente), desenvolvida nos EUA;
- Bomba Incendiária BINC-300 (5).
- Casulo SUU-20 de treinamento (11), podendo carregar seis bombas BEX-11 ou BDU-33 (12) e mais quatro foguetes de 70mm;
- Bomba Lança Granadas BLG-252 (6). Também conhecida como bomba de fragmentação, a BLG carrega 248 granadas, cada uma pesando 750 gramas; a munição tem um peso total de 324 kg;
- Bombas BAFG-230 com o kit de orientação por laser Lizard II (7), carregadas em dupla através do twin carrier pod (16). A BAFG (Bomba Aérea de Fins Gerais) é a versão nacional da série Mk.80 norte-americana. Com o kit lizard (similar ao Paveway dos EUA), a BAFG se torna uma arma inteligente.
- Todo esse material está disposto em cima de um alvo para treinamento de emprego ar-solo (18).
Apesar da boa autonomia, o A-1 também é comumente visto com os tanques subalares como o da imagem (10), de 580 litros. O caça também pode usar um modelo maior, com capacidade para 1100 litros.
Em termos de armamento orgânico, o AMX é equipado com o canhão Mk.164 (8) de calibre 30mm (9). Fabricado no Brasil pela antiga Bernardini (a mesma responsável pelo carro de combate Tamoyo), o Mk.164 é uma versão israelense do DEFA 554, utilizado no Dassault Mirage III. O AMX italiano, designado A-11 Ghibli, usa o canhão rotativo M61A2 Vulcan, de 20 mm.
Mesmo especializado em ataque terrestre, o A-1 é um caça-bombardeiro e por isso recebeu integração com mísseis ar-ar. Na Itália, o Ghibli foi equipado com o AIM-9L Sidewinder norte-americano. No Brasil, ele recebeu o Mectron MAA-1 Piranha (1) nacional. Os dois modelos são de curto alcance, orientados por infravermelho. Embora não tenha sido usado na aeronave, o AIM-9B (2) também aparece na imagem. Assim como outros aviões, o AMX usa chaffs e flares (17) para se defender de mísseis guiados por radar e calor. Estes são instalados nas laterais traseiras da aeronave.
Ao lado do SUU-20, o casulo SUU-25 (4) para emprego de flares iluminativos. Ao contrário dos flares usados para enganar mísseis guiados por calor, estes são usados para iluminar grandes áreas à noite. Ao ser disparado, um paraquedas se abre e o material pendurado queima de forma lenta e intensa, gerando uma luz forte.
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Para identificar alvos e orientar suas bombas inteligentes, o AMX recebeu o pod Rafael LITENING III (13). Já para as missões de reconhecimento tático, emprega-se o Reccelite (14), baseado no Litening. Este substituiu uma série de outros casulos usados pelo jato em sua carreira, como Pallet II e III, Vinten e Vicon. Para a guerra eletrônica, o A-1 foi integrado com o casulo de interferência e ataque eletrônico Rafael Sky Shield (15). O Sky Shield seria usado em conjunto com os mísseis antirradar Mectron MAR-1, mas o projeto acabou sendo cancelado.
As armas do A-1, mas em outros tempos
Se agora observamos os armamentos atuais do AMX A-1, outras duas fotos apresentam o que o jato de ataque da FAB usava debaixo de suas asas há quase 30 anos. As imagens, do fotógrafo Rob Schleiffert, mostram o A-1A 5505 exposto com seus armamentos na Base Aérea de Santa Cruz (RJ) em julho de 1995, ao lado de um prédio do Esquadrão Adelphi (1º/16º GAv).
Novamente, João Paulo nos ajuda a identificar o material bélico do caça-bombardeiro, alguns dos quais ainda são vistos nas aeronaves modernizadas.
- Na ponta da asa, o míssil ar-ar AIM-9B Sidewinder (1);
- No cavalete, o tanque subalar de 1100 litros (2), com o tanque de 580 litros instalado na aeronave;
- O AMX da foto está carregado com quatro bombas incendiárias BINC-300 (3), instaladas debaixo das asas, e outras duas BINC-500 (3) na fuselagem. Os dois modelos suspensos com o twin carrier pod;
- No cavalete ao lado do tanque, novamente o SUU-20 (4) com seis bombas de treinamento BEX-11 (8) e foguetes de 70mm;
- Casulo LAU-3 com 19 foguetes de 70mm (5). Segundo Moralez, os LAU-3 eram usados no F-5, com o AMX recebendo outro modelo, o LM-70/19, de fabricação nacional;
- ‘Escondida’ atrás do SUU-20, uma bomba Mk.82/BAFG-230(6) e uma Mk.83/BAFG-460 (7). As duas bombas estão pintadas de azul, indicando que são materiais inertes;
- A baia do canhão Mk.164 de 30mm (9) aberta, com as fitas de munição (10) expostas no chão;
- Ao fundo, em vermelho, um pod de alvo aéreo rebocado (11), o Equipaer NP-AV-1TAS. Este equipamento é usado em missões de treinamento de tiro aéreo;
- Finalmente, na segunda foto, os lançadores de flare e chaff (12).
Curiosamente, tanto o avião quanto o esquadrão foram desativados. Em julho de 2022, os restos do AMX FAB 5505 foram colocados para venda como sucata. Já o Esquadrão Adelphi, criado para implantar o AMX no Brasil, foi desativado em dezembro de 2016 em Santa Cruz.
Em 2019, o então Comandante da Aeronáutica, Tenente-Brigadeiro do Ar Antonio Carlos Moretti Bermudez, que voou na unidade, confirmou que o Adelphi seria reativado na Base Aérea de Anápolis com os caças multimissão F-39 Gripen.
A modernização, que contemplou apenas 11 dos 44 aviões originalmente planejados, deu uma bela sobrevida ao principal avião de ataque do Brasil. Mesmo assim, as luzes para o pequeno mas potente AMX já estão se apagando. Sua operação com a FAB se aproxima do fim, com o modelo devendo dar baixa entre 2025 e 2028.
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