A Força Aérea Venezuelana adquiriu e operou 16 aeronaves Mirage da fabricante francesa Dassault. Saiba um pouco mais sobre a passagem dos deltas franceses pela Venezuela.
O começo da década de 70, já se fazia evidente a obsolescência das aviões de caça da Força Aérea Venezuelana (FAV) na época. A FAV dispunha de 79 aeronaves Fiat/North American F-86K Sabre Dog, ex-Luftwaffe, operados pelo Esquadrões Aéreos de Caça 34,35 e 36 do Grupo Aéreo de Caça nº12 “Grifos”, baseados em Barquisimeto. Estes aviões eram já bastante antiquados em relação aos Hawker Hunter e Mirage operados pelas forças aéreas da região. Devido a isso, os círculos da FAV já se pensava na substituição dessas aeronaves.
O governo venezuelano estudou a aquisição de caças-bombardeiros e acabou escolhendo os caças Mirage, construídos pela AMD/BA ( Avions Marcel Dassault/Breguet Aviation). Em 1971, se encomendou á AMD/BA a construção de dez Mirage IIIEV, quatro Mirage 5V e dois Mirage IIIDV. Pela resolução ministerial No.A-00227de 26/07/1973, foi criado o Grupo Aéreo de Caça nº11, baseado na Base Aérea de El Libertador, em Palo Negro. Este grupo era organizado em três esquadrões: Esquadrão de Caça nº33 “Halcónes”, operando os Mirage IIIEV/DV, em missão de interceptação; Esquadrão de Caça nº34 “Caciques”, operando os Mirage 5V e Mirage IIIEV, especializado em missões de ataque; e o Esquadrão de Manutenção nº 117, com a missão de manter as aeronaves do grupo.
Dentro do grupo, também era baseada a Escola de Ar e Terra do Mirage, responsável pela instrução de pessoal na operação do sistema de armas Mirage. Esta escola chegou a ter um simulador de vôo, onde treinavam não somente pilotos venezuelanos, como treinaram pilotos do Brasil, Peru e Argentina.
A FAV operava as seguintes variantes do Mirage:
Dassault Mirage IIEV/DV: Está versão é especializada para missões de interceptação. Esta aeronave era propulsada por um motor SNECMA Atar 9C, de 9.436lbf (4.280kg/f) de empuxo seco. Este motor é equipado com um pós queimador que dá a capacidade em empuxo de 13.668lbf (6.199kg/f), permitindo assim, alcançar a velocidade máxima de Mach 2.2 (2.692km/h). Era equipado com um radar de controle de fogo Thomson-CSF Cyrano IIB, que permitia realizar missões de interceptação all-weather (todo tempo). As unidades venezuelanas não contavam com o radar de navegação Thomson-CSF, instalado em uma carenagem abaixo do nariz da aeronave. Outra característica dos Mirages venezuelanos era seu míssil ar-ar. Se utilizava um AIM-9B Sidewinder norte-americano ao invés do R.550 Magic I. Os Mirages IIIEV eram monoplace (um lugar) enquanto o Mirage IIIDV são biplace (dois lugares), estes últimos, não tem radar, servindo como avião de treinamento e ataque.
Dassault Mirage 5V: Esta versão do Mirage é especializada em missões de ataque. É equipada com as mesmas turbinas, armas, assento ejetor e estrutura geral do Mirage III, a diferença está na maior capacidade de portar armas, eliminação do radar e simplificação da eletrônica, tendo o jato um bico mais longo e fino.
Modernização
Após uma década de uso, o sistema de armas Mirage já sentia o desgaste e obsolescência de seus sistemas. Os problemas principais era a falta de eletrônica dos Mirage 5, que não podia efetuar suas missões com total eficiência e os problemas nos motores SNECMA Atar 9C, na qual estava cada vez mais caro e problemático para manter.
Em 1979, começaram os estudos para a modernização das aeronaves. O projeto se viu adiado entre junho de 1980 e julho de 1982, devido aos estudos da FAV para a compra de uma nova aeronave de combate. Esses estudos levaram a compra dos caças F-16A/B Block 15 no ano de 1982. Nesse mesmo ano, os estudos para a modernização do sistema de armas Mirage foi retomado, com a premissa de reforçar a defesa aérea venezuelana e e não depender de um só provedor de aeronaves de combate.
Entre março e abril de 1983 se aprovou o primeiro projeto de contrato de modernização da frota, porém, em dezembro daquele ano, o projeto foi postergado para o próximo governo. Em 1984, um novo contrato foi aprovado pelo governo e em 1985, foram acertados os acordos finais para a modernização, porém a queda nos preços do petróleo aquele ano acabou encurtando o orçamento governamental aquele ano, cancelando assim, todos os contratos existentes. Em agosto de 1987, com a Crise da Corveta Caldas, o governo venezuelano aprovou o contrato de modernização, tendo ele sido assinado com a AMD/BA em junho de 1989.
Das aeronaves originais, foram enviadas seis Mirage IIIEV, dois Mirage IIIDV e três Mirage 5V para a sede da AMD/BA, em Toulouse, França. Estas aeronaves se juntariam a outros cinco Mirage 5M, ex-Zaïre, que foram adquiridos pela FAV. Todas estas aeronaves seriam modernizadas para o padrão Mirage 50V. Todos os sistemas foram adquiridos por US$ 300 milhões que também incluía um Dassault Falcon 20DC como plataforma de instrução, porém essa compra foi cancelada, devido a problemas de financeiros.
O Mirage 50V era uma modernização completa da aeronave, baseada em Mirages já existentes, que contava com eletrônica e peças similares as do Mirage F1 e do Mirage 2000. A modificação mais significativa era seu motor: O velho Atar 9C foi trocado por um Atar 9K50. Esta planta propulsora produz 11.023lbf (5.000kg/f) de empuxo seco, contando com pós-combustor, que produz 15.873lbf (7.200kg/f) de empuxo.
A aeronave ganhou ‘canards’ fixos uma sonda de reabastecimento em vôo tipo ‘probe’, assentos ejetores Martin-Baker Mk.10, com capacidade zero-zero, um radar de controle de fogo Thomson-CSF Cyrano IVM, com capacidade de operar misseis Super 530D e AM.39 Exocet, além de melhores capacidades ar-terra), HUD, INS (Sistema de Navegação Inercial), computador de voo, sistemas de RWR (Alerta Radar), EW (Guerra Eletrônica), IFF (Sistema de Identificação Amigo-Inimigo), lançador de chaff/flare e capacidade HOTAS (Sistema de Controle com Mãos em Manche e Manetes)
Com a modernização, se incorporou um grande numero de armas para os Mirage 50V. Entre elas se encontram mísseis antinavio Aérospatiale AM.39 Exocet, mísseis ar-ar infravermelho Matra R.550 Magic II, bombas anti pista Matra Durandal e Brandt BAP-100, bombas de queda livre SAMP, de 400kg e bombas anti blindagem Brandt BAT-120. Estas armas se uniram as bombas de queda livre Mk.82, de 227kg e os lança-foguetes Matra JL-100R, que lança foguetes SNEB, de 68mm.
Um dado curioso dessa modernização foi a transformação de um Mirage 5V em uma aeronave biplace, devido a perda de uma unidade biplace em um acidente em 1990 e a necessidade de cobrir o requerimento de três aeronaves do tipo modernizadas. No mesmo ano, um Mirage IIIEV foi perdido em um acidente, assim diminuindo o numero de aeronaves para modernização de 18 para 16. A primeira aeronave foi entregue para a Venezuela em 30 de novembro de 1990 e a última aeronave entregue para o país aconteceu em 1992.
Com a modernização dessas aeronaves, se reestruturou a organização do Grupo de Caça Nº11, trasladando todos os pilotos e equipamentos para o Esquadrão de Caça Nº34, que se especializou em operações de ataque e antinavio. O Esquadrão de Caça Nº33 se tornou uma unidade de conversão operacional do modelo.
Ao longo de sua carreira na FAV, o sistema de armas Mirage participaram de uma variedade de exercícios em Venezuela e no exterior. Um comum era a Operação Dardo, onde todas as aeronaves de combate da FAV são enviados para a Ilha de Margarita, para praticar tiro com canhão no Mar do Caribe, utilizando um alvo aéreo chamado ‘Dardo’, rebocado por um caça VF-5. Nos exercícios no exterior, se destacam o intercambio coma Guarda Aérea Nacional de Porto Rico, os exercícios UNITAS, com a US Navy, a Operação Miranda 98′, onde houve participação da Armée de L’Air com quatro Mirage 2000N, do EC 1/3, em exercícios onde participaram caças F-16 e VF-5 da FAV e os exercícios Cruzex 2004 e 2006.
No começo de 2008, devido aos altos custos de manutenção e desgaste das aeronaves, os três primeiros Mirage 50V foram retirados de serviço e canibalizados para manter o restante da frota. Em 2009, decidiu-se por retirar de serviço da FAV o sistema de armas Mirage, o que ocorreu em julho daquele ano, após 35 anos de serviço.
Os aviões foram armazenados nas instalações do Grupo de Caça Nº11, na Base Aérea de El Libertador. Dois meses depois, o governo venezuelano ofereceu as aeronaves a titulo de doação. Na época, a Força Aérea Equatoriana (FAE) sofria uma baixa na operatividade de seus Mirage F.1 e Kfir CE e aceitou a doação no setembro de 2009, após as aeronaves serem inspecionadas por técnicos da FAE. No total, seis aeronaves (três EV e três DV), peças de reposição, equipamentos de terra e armamento foram transferidos para o Equador. Os três primeiros Mirage chegaram a Base Aérea de Taura em 29 de outubro de 2009. No dia 15 dezembro de 2009, outras trçes aeronaves chegaram a Taura, porém, a autorização de transferência da França só chegou no di 27 de março de 2010, quando as aeronaves foram repintadas e entraram oficialmente em serviço pela FAE
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