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segunda-feira, 9 de setembro de 2024

Cinquentão, caça F-15 ainda é uma plataforma de respeito

 



Grande e pesado, o F-4 desempenhava bem a função de um caça-bombardeiro de longo alcance, com uma generosa carga útil de bombas e mísseis. No entanto, o conflito no sudeste asiático deixou claro que o Phantom não era tão bom no combate aéreo quanto os MiGs fornecidos pela antiga União Soviética. Pequenos e ágeis, os MiG-21 Fishbed, entre outros modelos, tinham vantagens sobre o jato norte-americano. 

No Vietnã, caças F-4 não tiveram uma boa performance no Vietnã. F-15 Eagle foi desenvolvido para corrigir essas e outras deficiências. Foto: Força Aérea Americana.
No Vietnã, caças F-4 não tiveram uma boa performance no Vietnã. F-15 Eagle foi desenvolvido para corrigir essas e outras deficiências. Foto: Força Aérea Americana.

Em paralelo, uma nova ameaça aérea surgia na URSS. Contrastando com os pequenos MiG-21, outro caça grande e altamente veloz ameaçava os modelos ocidentais. Era o MiG-25 Foxbat, que até hoje detém o título de caça mais rápido a entrar em serviço, capaz de ultrapassar os 3100 km/h. Na época, os generais acreditavam que, além da velocidade, o MiG-25 também extremamente manobrável. 

Com essas necessidades em mente, a USAF criou o Projeto FX. Envolto em segredos, o projeto deveria entregar um caça mais rápido e mais manobrável que o F-4, capaz de enfrentar com folga as principais aeronaves da URSS e garantir a superioridade aérea no campo de batalha. 

McDonnell 

Os requerimentos da USAF foram publicados em setembro de 1968, com quatro empresas respondendo às demandas com projetos diferentes: Fairchild Republic, General Dynamics, McDonnell Douglas e North American Rockwell.

A proposta da General Dynamics (que anos mais tarde criou o F-16) foi eliminada e a USAF concedeu contratos para refinamento de projetos às companhias restantes. Após a entrega dos desenhos técnicos em junho de 1969, a Força Aérea escolheu, no final daquele mesmo ano, a McDonnell Douglas para fabricar seu novo avião de caça. 

YF-15A, protótipo do Eagle, em seu primeiro voo em julho de 1972. Foto: Força Aérea Americana.
YF-15A, protótipo do Eagle, em seu primeiro voo em julho de 1972. Foto: Força Aérea Americana.

Em junho de 1972, o F-15 Eagle era apresentado ao mundo, cumprindo seu primeiro voo no mês seguinte. O jato possuía dois motores Pratt & Whitney F100 e poderia transportar oito mísseis ar-ar de curto e médio alcance, orientados por calor ou radar. Quatro anos depois, a Força Aérea Americana introduziu os primeiros F-15 em serviço. 

Plataforma consolidada

Embora não fosse tão rápido quanto o MiG-25, o F-15 certamente ganhava nos demais quesitos. Era melhor armado, muito mais ágil e seu “recheio eletrônico” também estava anos à frente. Na verdade, sua contrapartida da URSS veio mais tarde, na forma do Sukhoi Su-27 Flanker, modelo que também é destaque atualmente. 

Altamente capaz, o F-15 logo chamou atenção do mercado externo. O modelo chegou a ser oferecido ao Irã – que na época tinha relações bem melhores com Washington – mas o F-14 Tomcat levou o contrato. Israel, por outro lado, preferiu o Eagle que logo foi posto em atividades, ao lado dos já veteranos F-4.

Saiba mais: F-15 que pousou sem uma asa há 40 anos segue voando em Israel

Foi uma decisão acertada: nas mãos dos aviadores israelenses, o F-15 conquistou o primeiro de seus 104 abates, a maioria dos quais também foi pela Força Aérea de Israel. Os mais de 100 aviões derrubados, sem nenhuma perda de um F-15 para outro caça,  lhe garantiram o apelido de ‘Matador de MiGs’. Ainda hoje o F-15 mantém esse escore, além de ter derrubado até mesmo um satélite. 

Agora, o país está adquirindo 50 novos F-15 e ainda vai modernizar seus F-15 Ra’am (Strike Eagle). O acordo, ainda a ser assinado, é estimado em US$ 18,8 bilhões. 

Stealth

Em 1997, o F-22 Raptor da Lockheed Martin fazia seu primeiro voo. Primeiro caça stealth do mundo, o Raptor era o substituto original do F-15, mas o fim da Guerra Fria mudou os rumos do projeto, que acabou ficando até mais caro. Enquanto isso, o F-15 continuou em serviço e recebeu atualizações para permanecer relevante no Século 21.

Anos mais tarde, foi a vez do F-35 Joint Strike Fighter chegar. O projeto, no entanto, acabou encarecendo ainda mais que o F-22, tornando-se o programa de defesa mais caro em toda história. Atrasos e percalços no desenvolvimento do avião trouxeram resultados negativos que refletem ainda hoje.

F-22 foi projetado para substituir o F-15, mas fim da Guerra Fria mudou os rumos do projeto. Foto: Sgt. Ben Bloker/USAF.
F-22 foi projetado para substituir o Boeing F-15, mas fim da Guerra Fria mudou os rumos do projeto. Foto: Sgt. Ben Bloker/USAF.

Aproveitando os problemas do F-22 e F-35, a Boeing chegou a oferecer uma versão stealth do F-15E, chamada de F-15 Silent Eagle, que acabou não vingando. No entanto, os aprimoramentos à plataforma seguiram adiante, mais tarde dando origem à duas versões avançadas para clientes no Oriente Médio, o F-15SA e F-15QA, para a Arábia Saudita e Catar, respectivamente. 

O que a Boeing aprendeu com estes dois modelos foi aplicado no projeto F-15X, uma grande atualização para o veterano caça dos anos 1970. O upgrade virou o F-15EX Eagle II que conhecemos hoje, parte da série Advanced Eagle.

Veterano atualizado e relevante

Por fora o F-15 pode parecer inalterado, mas as diferenças tornam ele quase outro caça. Começando pelos motores, o jato agora tem um par de turbofans F110 da General Electric, cada um com 29 mil libras de empuxo, permitindo que o Eagle II ultrapasse com folga Mach 2.5 (2,5 vezes a velocidade do som). 

A capacidade de armamentos também aumentou, com a adição de mais dois pontos duros em cada asa, permitindo que o F-15EX carregue até 12 mísseis ar-ar. Com cabides duplos, esse número pode subir para 22, porém, com prejuízos à performance do avião por conta do peso das armas e o arrasto aerodinâmico. 

O cockpit é para dois tripulantes, como no F-15E Strike Eagle, mas os painéis agora são dominados por uma tela panorâmica sensível ao toque (LAD) de 25 cm × 48 cm, similar à encontrada no F-39 Gripen e F-35 Lightning II. O uso do LAD melhora a apresentação das informações ao piloto e Oficial de Sistemas d’Armas (WSO). Os tripulantes também usam o capacete Joint Helmet Mounted Cueing System II (JHMCS), que apresenta as principais informações táticas e de voo na viseira do piloto, permitindo também a pontaria e disparo de mísseis. 

Cockpit do F-15 Advanced Eagle, com display panorâmico sensível ao toque. Foto: Boeing.
Cockpit do F-15 Advanced Eagle, com display panorâmico sensível ao toque. Foto: Boeing.

O radar é o AN/APG-82(V)1 da RTX, de varredura eletrônica ativa (AESA). Além de detectar alvos aéreos e em solo, o radar trabalha junto da suíte de guerra eletrônica Eagle Passive Active Warning Survivability System (EPAWSS), da britânica BAE, para garantir uma operação segura em ambientes altamente contestados, usando os recursos avançados para identificar, monitorar e bloquear ameaças. 

Outro componente importante é o computador de missão Advanced Display Core Processor II (ADCP II). Segundo a Força Aérea Americana, o ADCP é baseado em tecnologia comercial. Ele permite a integração avançada de sistemas, maior eficácia da missão, tolerância a falhas aumentada, estabilidade aprimorada do sistema e capacidade de sobrevivência da tripulação.

O primeiro pedido para o F-15EX veio da própria Força Aérea Americana, encomendando 144 aviões. O contrato chegou a ser reduzido para 80 unidades e mais tarde aumentado para 104 aeronaves. A Arábia Saudita comprou 84 F-15SA e o Catar assinou para 36 aviões. 

A já reconhecida alta performance do F-15, aliada a uma robusta atualização de aviônicos e componentes vitais deu uma sobrevida ao F-15. Embora não tenha a furtividade do F-35, também usado por Israel, o Eagle tem mais alcance, velocidade e não tem restrições para carregar determinados armamentos que extrapolam as medidas das baias de armas do modelo stealth. 

Em termos de preço, o F-15 é um jato mais caro. A Boeing diz que o F-15EX pode chegar a US$ 97 milhões em unidade, enquanto o F-35A do Lote 13 é estimado em US$ 79 milhões. Por outro lado, já existem mil unidades de F-35 entregues, enquanto o F-15EX tem mais de 100 apenas encomendadas,, lembrando ainda de eventuais problemas e atrasos de projeto, que são comuns. 

A Guarda Aérea Nacional do Oregon, uma unidade da reserva da Força Aérea Americana, já tem seus dois primeiros F-15EX em serviço. A apresentação pública dos caças marca o início do fim dos modelos clássicos F-15C/D Eagle e uma nova era na história do lendário caça norte-americano. Meio século após seu primeiro voo, o F-15 ainda é um modelo que impõe respeito no campo de batalha.

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