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segunda-feira, 9 de setembro de 2024

Os F-4 Phantom de exportação

 


F-4K RAFAlém dos Estados Unidos, dez países empregaram o poderoso avião de combate.

O F-4 Phantom surgiu originalmente para atender a especificações da Marinha dos Estados Unidos, que queriam um avião de ataque de longo alcance. No entanto, ele entrou em serviço como avião embarcado de defesa da frota, de longo alcance e para operação com qualquer tempo. Seu desempenho foi tão bom que o avião logo foi comprado também pela Força Aérea. Especialmente por sua atuação na Guerra do Vietnam, o Phantom tornou-se um dos símbolos do poderio aéreo norte-americano.

No entanto, um pouco mais de 20% de todos os Phantom II produzidos foram vendidos a outros países. Dez nações operaram diferentes modelos do F-4.

Irã, Turquia e Grécia ainda voam com o modelo. O Japão, Alemanha e Coreia do Sul os mantêm em armazenamento. Se necessário, podem retornar a ativa em pouco tempo.

F-4E de Israel, com a característica sonda para reabastecimento em voo. Os Phantom II de Israel passaram por exaustivas modificações.
F-4E de Israel, com a característica sonda para reabastecimento em voo. Os Phantom II de Israel passaram por exaustivas modificações.

“O décimo usuário foi a Força Aérea da Austrália, que recebeu 24 F-4E emprestada” no início da década de 1970, enquanto esperava pela entrega dos General Dynamics F-111C que havia encomendado. O primeiro comprador estrangeiro dos Phantom foi a Grã-Bretanha. O primeiro exemplar foi entregue em agosto de 1968, e logo em seguida o Irã começou a receber seus Phantom: metade dos 32 F-4D encomendados chegou a Teerã em setembro de 1968, e os restantes foram entregues durante 1969. Logo depois o governo do xá encomendou aviões F-4E. Entre abril de 1971 e agosto de 1977 foram entregues ao Irã não menos de 177 aparelhos F-4E, e havia planos de comprar F-4G.

O embargo

A instauração do regime fundamentalista muçulmano em 1979 levou a um embargo do fornecimento de armas ao Irã por parte dos Estados Unidos. Embora Israel tenha dado alguma ajuda durante um certo tempo, a entrega de peças de reposição quase cessou; por outro lado, parte do pessoal treinado foi expurgada. Com isso, a Força Aérea do Irã ficou muito enfraquecida. Aviões F-4 chegaram a ficar no solo apenas por falta de pneus. Com a intensificação do conflito armado com o Iraque, os iranianos fizeram tudo a seu alcance para dar condições de funcionamento a seus aviões. Os F-4 disponíveis foram empregados em ataques contra alvos em Bagdá e nas cercanias, e também contra a refinaria de Abadan e navios petroleiros no Golfo Pérsico. Os problemas com peças de reposição e as perdas em combate levaram a força de F-4 iranianos a um número estimado em 45 ou cinqüenta. Um grande programa do governo iraniano (muita espionagem industrial e ajuda turca) capacitou a indústria local a retrofiar os aviões.

A Coréia do Sul

Quando o Irã estava recebendo a segunda remessa de F-4D em 1969, estavam chegando à Coréia do Sul os primeiros dezoito de um lote de 36. Os restantes seriam entregues em 1972. Esse segundo lote foi um “prêmio” dado pelos Estados Unidos pela transferência de um número equivalente de aviões Northrop F-5A/B da Força Aérea da Coréia do Sul para a Força Aérea do Vietnam do Sul. Pelo menos outros seis F-4D foram fornecidos para compensar o desgaste. Mais tarde foram encomendados 37 F-4E novos, armados com canhões.

Grande e pesado, o Phantom pode precisar de um bom comprimento de pista para frear. O exemplar iraniano que aparece acima está com o pára-quedas de freio totalmente aberto.
Grande e pesado, o Phantom pode precisar de um bom comprimento de pista para frear. O exemplar iraniano que aparece acima está com o paraquedas de freio totalmente aberto.

Israel

Logo depois de começarem as entregas de F-4D para a Coréia do Sul, Israel passou a receber aviões F-4E. A França não estava disposta a fornecer mais aparelhos Dassault Mirage III, e houve uma resistência inicial à entrega dos Phantom, por temor de que a venda estimulasse uma corrida armamentista no Oriente Médio. No entanto, logo Estados Unidos e Israel chegaram a um acordo para a entrega de cinqüenta aviões. Os primeiros chegaram em setembro de 1969, e o grosso da encomenda voou até Israel durante 1970. As modificações locais incluíram a substituição do receptáculo dorsal para reabastecimento em voo com lança por uma nova sonda alojada do lado direito da seção dianteira da fuselagem, para ligação com funil.

Não foi nenhuma surpresa quando os F-4E de Israel atacaram bases de SAM e de radar dos egípcios, em Dahas Huí, em 7 de janeiro de 1970. Essa foi apenas a primeira de muitas incursões dos F-4E israelenses para destruir sistematicamente a rede de defesa aérea do Egito. Eram feitas surtidas de penetração à baixa altura e muitas vezes havia combates aéreos com os MiG egípcios. Em 30 de julho de 1970 os F-4E da Força de Defesa de Israel destruíram cinco MiG egípcios em uma surtida de combate. Muito contente com o Phantom II, Israel tratou de comprar mais exemplares. De 1969 a 1977, todos os anos os Estados Unidos forneceram F-4 a Israel, e esses aviões serviram para equipar pelo menos seis esquadrões de linha de frente da IDF/AF.

Quando estourou a Guerra do Yom Kippur, em 6 de outubro de 1973, a IDF/AF já tinha em serviço cerca de 150 Phantom II, mas viu-se diante da necessidade premente de mais. Os Estados Unidos então transferiram para Israel 32 F-4E diretamente de unidades operacionais da USAF. A operação, batizada “Nickel Grass“, foi realizada em questão de dias. Pelo menos um dos aviões entrou em combate com a Força Aérea do Egito ainda com o código da Ala de Caças Táticos da USAF pintado na cauda. As perdas foram pesadas: pelo menos 22 F-4E de Israel sucumbiram aos SAM. Além dos mísseis vindos da superfície, porém, os Phantom II começavam a se defrontar com aviões novos, capazes até de superá-los.

F-4_Israel #2Isso não determinou o fim do trabalho dos F-4E em Israel. Embora tenha sido sobrepujado por outros tipos, o avião ainda tinha muito a oferecer, como ficou demonstrado no Líbano em 1982, quando aparelhos F-4E atuaram em diversos papéis contra as forças sírias no vale de Bekaa. Por outro lado, a IAI (Israel Aircraft Industries) vinha trabalhando para melhorar o desempenho geral do F-4E. Entre as modificações feitas em Israel no decurso dos anos estão a substituição do canhão de 20 mm por outro de 30 mm (DEFA), o aumento do cano do canhão para dar maior precisão de tiro, e a alteração dos sistemas de disparo de armas, para que o avião pudesse levar armamento israelense, como os mísseis ar-ar Shafrir e Python ou o míssil antinavio Gabriel.

Israel testou o uso do turbojatos Pratt & Whitney PW1120, para melhorar o desempenho do avião em cerca de 15% e dar às células existentes vida útil até o século XXI. Entre os outros melhoramentos planejados estavam a substituição dos aviônicos por um sistema combinado de navegação e disparo das armas, visor frontal e outros mostradores novos, software para armas “inteligentes” e novos equipamentos de radar e comunicações.

A estrutura básica também mereceu atenção, com um programa de reforma das asas para ampliar sua vida útil. Por outro lado, também seria possível aumentar os pesos operacionais, graças ao reforço do trem de pouso.

Kurnas 2000

Em 1980, a IAF iniciou a fase de planeamento do projeto de melhoramento do Phantom. Em 15 de julho de 1987, o primeiro protótipo decolou. Ele foi apelidado de Kurnas de 2000, entrando em serviço em abril de 1989. O Kurnas era diferente do Phantom original principalmente por seus aviônicos. Embora pareçam praticamente idênticos, o Kurnas 2000 se revelou um aparelho completamente diferente.

A produção japonesa

Depois de cuidadosa avaliação de diversos aviões, em 1968 os japoneses chegaram a um acordo com a McDonell para a fabricação sob licença de aviões F-4E pela Mitsubishi. O primeiro de dois aviões-modelo voou nos Estados Unidos em 14 de janeiro de 1971, e os dois foram entregues ao Japão no mesmo ano. Na verdade, os primeiros quinze aviões encomendados pelo Japão foram construídos pela companhia norte-americana ou montados a partir de kits vindos dos Estados Unidos. A fabricação pela Mitsubishi, em Nagoya, foi de 125 exemplares. O último foi entregue em 21 de maio de 1981 e representou o derradeiro F-4 construído em qualquer parte do mundo.

Todos os Phantom japoneses eram basicamente F-4E, mas com modificações locais que determinaram a mudança de sua designação para F-4EJ. De início eles não tinham capacidade de reabastecimento em voo, já que essa capacidade é própria de aeronaves ofensivas, e pela Constituição do país o Japão só pode ter forças defensivas. No entanto, os F-4EJ receberam posteriormente um receptáculo para reabastecimento em voo, ainda que a JASDF não tenha aviões-tanque. Entre as outras características dos F-4EJ foi a inclusão de um radar de alerta na cauda e a redução da capacidade interna de combustível.

A incorporação de aparelhos F-4E à Força Aérea do Egito foi um sinal do realinhamento do país com o Ocidente, depois dos acordos de Camp David. No entanto, problemas de manutenção mantiveram muitos desses aviões no solo.
A incorporação de aparelhos F-4E à Força Aérea do Egito foi um sinal do realinhamento do país com o Ocidente, depois dos acordos de Camp David. No entanto, problemas de manutenção mantiveram muitos desses aviões no solo.

A exemplo de outros usuários, o Japão também realizou um programa de extensão da vida útil de seus Phantom II, compreendendo cerca de cinqüenta adições a cem aparelhos, redesignados F-4EJ-Kai.

Espanha, Alemanha (Federal) e Grécia

O F-4E foi de longe a variante do Phantom II com mais exemplares exportados: 566. No entanto, o próximo cliente estrangeiro, a Espanha, comprou 36 aviões F-4C, redesignados C.12. Os aparelhos foram entregues entre outubro de 1971 e setembro de 1972, para equipar dois esquadrões do Comando Aéreo de Combate (MAC), dentro dos termos de um acordo intergovernamental garantindo o uso de bases espanholas pelas Forças Armadas dos Estados Unidos. Aos Phantom II cabia realizar ataque ao solo, como parte da 5ª Força Aérea Tática Aliada (5th ATAF) da OTAN.

Durante a Guerra Fria, a República Federal da Alemanha optou pelo F-4E com modificações que fizeram dele o F-4F. O primeiro exemplar voou em 18 de maio de 1973. Foram eliminados a sétima célula interna de combustível, os slats dos estabilizadores e a capacidade de operação com AAM Sparrow.

De início, o F-4F não possuía dispositivo para reabastecimento em voo, mas posteriormente foi feita alteração nesse sentido nos aparelhos dos quatro esquadrões operacionais, que tinham funções de interceptação e de caça-bombardeiro. No total, foram fabricados 177 F-4F, dos quais entre dez e quinze ficaram nos Estados Unidos até 1977, quando foram transferidos para a Alemanha, para cobrir as perdas havidas.

Os australianos usaram o F-4 em combate no Vietnã.
Os australianos usaram o F-4 em combate no Vietnã.
F-4E_Israel killing marks
F-4E israelense exibe as marcas de três inimigos abatidos.
An air-to-air right side view of an Egyptian air force F-4E Phantom II aircraft in formation with a 347th Tactical Fighter Wing F-4E aircraft during exercise PROUD PHANTOM.
F-4E da EAF (Egyptian air force) forma com um F-4E da USAF durante o exercício PROUD PHANTOM.

Com tantos aparelhos do tipo, também a RFA criou um programa para melhorar seus Phantom II e estender sua vida útil, embora o Programa de Eficiência de Combate Melhorada (ICE) fosse aplicado aos F-4F usados como interceptadores pelos Esquadrões 71 e 74. A Luftwaffe recebeu assim aparelhos F-4F com aviônicos avançados, radar melhorado, sistemas de disparo de armas projetados para o uso do AMRAAM AIM-120A e menor emissão de fumaça dos motores. Embora a Espanha tenha escolhido um modelo mais velho e a Alemanha um modificado, o F-4E ainda estava longe de parar de ser exportado. No início de 1972, o governo grego encomendou uma primeira remessa de 36 F-4E para substituir os velhos F-84 da Força Aérea da Grécia. Os primeiros aviões foram entregues em 1974. Dois novos exemplares foram comprados em 1976, para reposição, e outros dezoito seguiram-se em 1978/79.

Os F-4E turcos

Dada sua proximidade com a União Soviética e com países árabes que não simpatizam com os Estados Unidos, os norte-americanos consideram a Turquia um aliado estratégico. Os F-4E turcos inicialmente tinham como incumbências primárias a defesa aérea em quaisquer condições atmosféricas, o apoio aéreo aproximado e a interdição; as demais tarefas de que os aviões são capazes são consideradas secundárias. Nas unidades de interceptação, de início eram mantidos dois F-4E 24 horas por dia em alerta, de reação rápida (QRA), prontos para patrulhar a fronteira turco-soviética ou para sobrevoar o mar e escoltar para fora do espaço aéreo turco qualquer visitante indesejado. No decorrer dos anos, a Turquia adquiriu mais desses aviões.

Egito

Depois de um longo período de predominância de aparelhos soviéticos, a Força Aérea do Egito recebeu 36 aviões F-4E em 1979, como resultado dos acordos de Camp David. Esses Phantom II eram usados; tinham pertencido à 31ª Ala de Caças Táticos da USAF. Depois de um certo tempo da entrega, soube-se que apenas nove exemplares estavam em condições de funcionamento, devido principalmente à manutenção inadequada a aviões que inegavelmente são complexos. Com a ajuda dos norte-americanos, porém, os problemas foram resolvidos, e dois esquadrões egípcios operaram com F-4E. A função primária deles era apoio aéreo aproximado/ataque; em caráter secundário, eles desempenhavam missões ar-ar.


Glossário

AAM Míssil Ar-Ar (Air-to-Air Missile)

AMRAAM Míssil Ar-Ar Avançado de Médio Alcance (Advanced Medium-Range Air-to-Air Missile)

ATAF Força Aérea Tática Aliada (Allied Tactical Air Force)

IDF/AF Força de Defesa de Israel/Força Aérea (Israel Defence Force/Air Force)

JASDF Força de Autodefesa Aérea do Japão (Japan Air Self-Defence Force)

MAC Comando Aéreo de Combate (Mando Aéreo de Combate)

QRA Alerta de Reação Rápida (Quick-Reaction Alert)

SAM Míssil Superfície-Ar (Surface-to-Air Missile)

TFW Ala de Caças Táticos (Tactical Fighter Wing)

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