Responsável pela produção de mais de 40% da atual frota mundial de aeronaves comerciais à reação, a fábrica da Boeing, localizada na cidade de Renton, cerca de 24km ao sul de Seattle, Estado de Washington, é um verdadeiro solo sagrado da aviação mundial.
Da pequena pista de seu aeroporto municipal já decolaram, entre outros modelos, a quase totalidade dos mais de 12 mil jatos 707/KC-135/727/737 e 757 produzidos em quase 60 anos. Um local onde se fez – e ainda se faz – boa parte da história do transporte aéreo e que, por isso mesmo, leva a cidade a receber o apelido de “Jet City USA”.
A ligação de Renton com a aviação tem início em 15 de outubro de 1920, quando o pioneiro Edward Hubbard – que fora um dos primeiros pilotos de testes da Boeing, inaugura a linha de correio internacional entre Seattle e Victoria, no Canadá, com o hidroavião Boeing B-1. Os primeiros voos partiam das margens do Lago União e, após 1922, de um deck de madeira que Hubbard construiu, onde hoje se encontra a pista do Aeroporto Municipal, adjacente à fábrica.
No verão de 1922 uma pequena pista de terra de 762 metros de comprimento foi aberta ao sul do pequeno deck de Hubbard e o aeródromo, que então era chamado de Bryn Mawr, passou a ser, no final dos anos 20, a sede da Northwest Air Services – NAS, que disponibilizava combustível e óleo, fazia pequenos reparos e operava uma escola de instrução de voo. Em outubro de 1928, o local foi oficialmente denominado de Aeroporto de Renton.
A história de Renton começa a se voltar para a produção de aeronaves quando, em 1936, o Governo do Estado de Washington repassou a área ao Governo Federal para que a Marinha construísse uma fábrica destinada a produzir o hidroavião de patrulha e bombardeio Boeing PBB Sea Ranger. As instalações da fábrica começaram a ser erigidas em setembro de 1941 (sendo terminadas em abril de 1942), conjuntamente com a construção de uma pista pavimentada de orientação norte-sul de 1.670 metros de comprimento.
Entretanto, advindo o ataque japonês a Pearl Harbour e com a entrada definitiva dos Estados Unidos na 2ª Guerra Mundial, a prioridade da política de defesa do governo norte-americano passou a ser a contenção do avanço nipônico no Oceano Pacífico e Renton foi escolhida para ser um dos locais onde seriam montadas as famosas super-fortalezas voadoras Boeing B-29 (também fabricadas em Wichita, Omaha e Marietta).
Assim, entre dezembro de 1943 e maio de 1946, um total de 1.119 B-29A’s foram produzidas em Renton, tendo sido esta aeronave de vital importância para a consolidação do poderio aéreo dos Estados Unidos no teatro de operações do Pacífico.
Encerrado o conflito mundial e com o cancelamento das encomendas de aeronaves militares, a fábrica permaneceu sem atividade industrial. Com efeito, de julho de 1946 até o início de 1949, nenhuma aeronave foi produzida em suas instalações.
Naquele último ano, entretanto, a Boeing passou a fabricar os KC-97, aeronaves quadrimotoras a pistão para transporte e reabastecimento em voo e a partir da qual seriam desenvolvidos os primeiros estudos visando o desenvolvimento de uma aeronave à reação destinada ao mercado civil. No total foram fabricados 875 KC-97 em Renton, no período compreendido entre o início de 1949 e meados de 1956.
Mas o início da verdadeira saga de Renton como “Jet City USA” teve lugar em 14 de maio de 1954, quando saiu de seus hangares para apresentação oficial aos jornalistas, empregados e convidados, adornado com um chamativo esquema amarelo e marrom e registrado N70700, o histórico Boeing 367-80, aeronave precursora do KC-135 e do Boeing 707.
O primeiro dos 820 KC-135 produzidos em Renton entre 1956 a 1966, apelidado muito apropriadamente de “City of Renton”, fez seu roll out em 18 de julho de 1956, na mesma ocasião em que a Boeing entregava à USAF o último KC-97.
Já o Boeing 707 teria uma longa produção de quase 34 anos, tendo o primeiro modelo, um ‘121 para a Pan American feito seu roll out em 28 de outubro de 1957 e o último (um E-3D Sentry para a Royal Air Force – RAF, aeronave de controle e alerta avançado, baseado na célula do ‘320B) em 30 de abril de 1991, encerrando então uma produção de 1010 exemplares (incluídos 154 Boeing 720) do clássico quadrirreator, que havia alterado para sempre a face do transporte aéreo mundial.
Das portas da fábrica de Renton também saíram os 1.832 trijatos Boeing 727-100/200, fabricados de 1962 a 1984 e quase todos os mais de 9.000 Boeing 737 produzidos desde dezembro de 1970. Vale lembrar que os primeiros 271 exemplares do Boeing 737 (versões ‘100 e ‘200) foram fabricados entre janeiro de 1967 a dezembro de 1970 em Seattle Boeing Field.
Finalmente, nada menos do que 1.050 Boeing 757-200/300 foram montados entre 1982 e 2004 (esta última versão do 757 foi a maior aeronave já construída em Renton).
Hoje, Renton dedica-se à manufatura das diversas versões do Boeing 737NG’s (‘700, ‘800, ‘900, BBJ’s, de controle e alerta antecipado AEW&C – baseado no modelo ‘700, além dos P-8A Poseidon, aeronave de patrulha marítima baseada na célula do 737-800) e da nova família 737 MAX, cujo primeiro exemplar da versão MAX 8 foi apropriadamente batizado como “Spirit of Renton”, tendo efetuado seu voo inaugural desde a histórica pista adjacente à fabrica, em 26 de janeiro de 2016.
Saem das enormes portas dos hangares de Renton, todos os meses, a média de 42 Boeing 737, estando planejado o aumento da taxa mensal de produção do birreator para 47/mês em 2017, 52/mês em 2018 e até 57/mês em 2019.
Atualmente, as fuselagens dos 737 são montadas em Wichita, Kansas, pela Spirit Aeroespace (subsidiária da Boeing) e transportadas em trens especiais para Renton, num percurso de mais de 3.500km. Ao chegar a Renton, em sua primeira posição na fábrica, a fuselagem recebe as tubulações, cabos, fiações, painéis acústicos e de isolamento interno, radome, tail cone e também o conjunto de estabilizadores horizontal e vertical. Em um segundo estágio, as asas são juntadas à cessão central da fuselagem e, ainda, é instalado o trem de pouso.
A seguir, o conjunto segue em uma linha de produção móvel, que avança em média 5cm por minuto, onde a aeronave tem instalados os motores, bagageiros, tapetes, assentos, painéis internos e janelas. Todo o processo de montagem leva em média onze dias, ao fim dos quais mais uma aeronave 737 estará pronta para seu primeiro voo em direção a Boeing Field, na característica pintura protetiva de tom verde escuro, onde receberá as cores de seu operador (embora alguns exemplares sejam pintados ainda em Renton) e após a realização de voo de testes, será finalmente entregue.
Contratos de compras de aeronaves 737NG e MAX ainda não entregues, da ordem de 4.392 aviões (sendo 3.072 MAX), conforme números de 31 de dezembro de 2015, asseguram que a fábrica de Renton da Boeing ainda terá muitos anos pela frente para seguir sendo protagonista da história da aviação.
Tabela de Aeronaves Produzidas em Renton:
AERONAVE | TOTAL CONSTRUÍDAS em RENTON (*até 31/04/2016) | ANO(S) DE PRODUÇÃO |
B-29A Superfortress | 1119 | 1942-1946 |
KC/C-97 Stratofreighters | 888 | 1949-1956 |
367-80 (“Dash 80”) | 1 | 1954 |
KC/C-135 | 820 | 1956-1966 |
707/720 | 1010 | 1957-1991 |
727 | 1832 | 1962-1984 |
737-100/200 | **854 | 1970-1988 |
737-300/400/500 | 1988 | 1984-1999 |
737-600/700/800/900 (+ BBJ’s/P-8A/A&W) | *5842 (ainda em produção) | 1996- |
737 MAX 8 | *3 (em produção) | 2015- |
757-200/300 | 1050 | 1982-2004 |
** excluindo 271 B737-100/200 construídos em Boeing Field (Fábrica n. 2), de 1967 a 1970.
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