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terça-feira, 31 de dezembro de 2024

A história dos abates do F-15C que esteve na CRUZEX 2024

 


Durante a CRUZEX 2024 algumas aeronaves chamaram a atenção dos entusiastas presentes no evento. Além dos novos F-39E Gripen da FAB, certamente, os F-15 da Guarda Aérea Nacional da Louisiana também estavam no topo do interesse dos spotters e imprensa presentes nesse exercício.

Dentre os seis F-15C enviados para a Base Aérea de Natal, um deles, com o código de cauda 85-0102 se destacava, não só pela pintura diferente das demais aeronaves, mas, principalmente pelas suas três “Kill Marks” pintadas logo abaixo do cockpit na fuselagem esquerda.

A história desses abates remonta à Operação Tempestade no Deserto, lançada em janeiro de 1991, quando a coalizão liderada pelos EUA e países europeus lançaram uma grande operação para libertar o Kwait das forças iraquianas que haviam invadido o país meses antes.

Dentre as aeronaves enviadas pelos EUA para compor o poder aéreo empregado na operação, constavam 96 aeronaves F-15, encaminhadas para bases na Arábia Saudita. Dentre elas, estava a aeronave F-15C 85-0102, então pertencente ao 58º Esquadrão de Caça (58º TFS), subordinado à 33ª Ala de Caça Tático (33ª TFW), sediados na Base Aérea de Eglin. O 58º  foi convocado em agosto de 1990, para, a princípio, participar da Operação Escudo do Deserto, logo após Saddam Hussein invadir o Kuwait. Vinte e quatro F-15 da 33ª TFW, então sob o comando do Coronel Rick Parsons, partiram da Base Aérea de Eglin, na Flórida, para a Base Aérea King Faisal, na Arábia Saudita.

Quando as negociações para a retirada das forças iraquianas chegaram a um impasse em janeiro de 1991, a coalizão decidiu usar a força acumulada nos últimos meses contra o Iraque, lançando a Operação Tempestade no Deserto, que teve início nas primeiras horas do dia 17. A poderosa resposta à invasão do Kuwait demonstrou que as forças armadas iraquianas não conseguiriam deter a coalizão, sendo que nos primeiros dias de operação, além das estações de radar, bases e postos de comando destruídos, a Força Aérea Iraquiana perdeu 17 aeronaves em uma semana, contra apenas uma aeronave dos EUA derrubada em combate ar-ar.

Estando claro que não teriam chances contra as forças aéreas da coalização, a partir do dia 26 de janeiro o Iraque lançou um plano B, na tentativa de preservar seus equipamentos, enviando parte dos seus caças para exílio no vizinho Irã, país com o qual havia estado em guerra na década anterior, mas sinalizara positivamente para o abrigo das aeronaves.

É a partir desse momento que a história dos abates do F-15 85-0102 se materializa. Com a debandada de parte da Força Aérea Iraquiana, a coalização estabeleceu missões BARCAP (BARrier Combat Air Patrol) no leste do Iraque, na tentativa de prevenir a evasão de suas aeronaves e que posteriormente voltassem a armar o país.

Em uma dessas missões, no dia 29 de janeiro, o F-15 85-0102, pilotado pelo Capt. Dave “Rose” Logger, sob o código de chamada “CHEVRON 17”, foi orientado por uma aeronave E-3 Sentry, voando em território saudita, para interceptar um contato se evadindo do Iraque. Em poucos segundos, Rose detectou a aeronave inimiga e lançou um míssil AIM-7 Sparrow, logrando êxito no abate do caça iraquiano, posteriormente identificado como um Mig-23. Essa foi a primeira estrela a ser pintada na lateral do F-15.

Capt. Dave “Rose” Logger e a aeronave F-15C 85-0102 “CHEVRON 17” com a qual derrubou um Mig-23 em 29 de janeiro de 1991, meses após o fim do conflito.

Com a evolução do conflito e o incessante ataque as bases aéreas iraquianas, a oposição aérea diminuía e a opção de fuga para o Irã era mais utilizada. Nesse contexto, diversas outras aeronaves iraquianas foram derrubadas pelas forças da coalizão, com pelo menos mais duas sendo abatidas pelo 85-0102.

Em 7 de fevereiro de 1991, o Capitão Anthony ‘ET’ Murphy, voando no 85-0102, “CHEVRON 22”,  como ala do Coronel Rick Parsons (no F-15C 84-0124), “CHEVRON 21” comandande da 33ª TFW, realizavam mais uma missão BARCAP quando foram orientados pela aeronave E-3 contra um grupo de aeronaves iraquianas a caminho do Irã. Toda a perseguição se deu pelo quadrante traseiro das aeronaves fugitivas.

O Capt. Anthony Murphy, CHEVRON 22 retorna a base saudita após ter derrubado dois SU-22 em 7 de fevereiro de 1991.

Segundo os relatos, os dois F-15 em perseguição alijaram seus tanques subalares e ingressaram em velocidade supersônica para alcançar os contatos no radar. Quando estavam a 16 quilometros do grupo ambos os pilotos dispararam suas armas, com o Capitão Murphy destruindo dois Sukhoi SU-22 Fitter com mísseis AIM-7 Sparrow e seu líder, Coronel Parsons, abatendo um Sukhoi SU-7 com um AIM-9 Sidewinder. No entanto, ainda pairam dúvidas sobre esse episódio.

A aeronave F-15C 85-0102 com suas “quatro” vitórias logo após retornar do Golfo Pérsico.O Coronel Parsons, então líder do elemento de F-15 nesse dia, relatou em uma entrevista mais tarde nunca ter visto seus mísseis atingindo o alvo que perseguia. Enquanto isso, na análise dos dados após o combate, investigando as mensagens trocadas entre os pilotos e os controladores, aponta o Capitão Murphy, no CHEVRON 22 (F-15 85-0102) reinvidicando 3 abates, enquando o Coronel Parsons no CHEVRON 21 reinvidicava um. Ocorre que nesse episódio somente 3 das 4 aeronaves ditas como abatidas foram posteriormente confirmadas. Acredita-se que “o kill” do Coronel Parsons foi posteriormente recusado, e em uma reanalise dos eventos levou o Capitão Murphy a atribuir uma de suas “kills” ao seu então líder e comandante da unidade. Nesse sentido, é possível que o F-15C 85-0102 tenha abatido 4 aeronaves iraquianas e não 3 como é registrado na história. Curiosamente, ao retornar do Golfo, esse F-15 teve sua fuselagem adornado com 4 vitórias, a primeira de 29 de janeiro de Capt. Dave “Rose” Logger, as duas seguintes atribuídas ao Capitão Anthony ‘ET’ Murphy, todas sinalizadas com a bandeira iraquiana e mais uma, com uma estrela negra ao lado do nome do Coronel Parsons, a quem a aeronave estava atribuída na unidade, porém, obtida quando este voava no F-15C 84-0124. Segunda a história, essa última estrela poderia ser o reconhecimento não oficial das quatro vitórias desse F-15, mas ainda atribuindo uma delas ao Coronel Rick Parsons.

Nos anos seguintes, o F-15C 85-0102 continuou a servir à 33ª Ala de Caça Tático (33ª TFW) e seus esquadrões subordinados, o 58º, 59º e 60 º TFS), até que em entre 2008 e 2009 essa ala de caças fez a transição para os novos F-35. Após isso, esse F-15 passou operar junto à 1º Ala de Caças (1st Fighter Wing), com o indicativo FF em sua cauda. Logo no início da segunda década do século XXI, esse F-15 foi novamente transferido, chegando ao seu atual esquadrão, o 159º Esquadrão de Caça da Guarda Aérea Nacional da Louisiana.

A atual arte que adorna o F-15C 85-0102 durante a CRUZEX 2024

Ao longo dos anos, à medida que a aeronave sofria suas manutenções periódicas, a sua pintura foi sendo renovada e modificada, recebendo novas artes e modificações nas marcações de vitórias. Atualmente, o esquema traz as 3 estrelas verdades nas quais estão marcados os tipos de aeronaves e as datas em que foram abatidas e, ao seu lado, a arte “Gulf Spirit” sobre o mapa do Estado da Louisiana.

F-15C 85-0102 com a arte “Killer Legacy”

A fama da aeronave logo após a Guerra do Golfo logrou uma homenagem da fabricante de kits AMT, usando como base os moldes da italiana ESCI sob licença nos EUA. Em 1992, a empresa lançou uma série de kits com o selo “DESERT STORM”, com o F-15C sendo disponibilizado com decais para o F-15C 85-0102 e uma bela arte na tampa da caixa.

A “goiaba” da AMT.

Com a aproximação do fim da vida útil das aeronaves F-15C, esperamos que essa histórica aeronave seja preservada por algum museu nos EUA, haja vista que recentemente outra aeronave, portando 2 vitórias, foi festejada ao ser doada para preservação.

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