Há quase 50 anos, em 15 de abril de 1969, um avião EC-121M Warning Star de ELINT (eletronic Inteligence) da Marinha dos EUA (modelo baseado no lendário Lockheed Super Constellation) com base no Japão decolou para mais uma missão no espaço aéreo internacional próximo a costa leste da Coréia do Norte.
Sua missão foi considerada de baixo risco e incluía a coleta de toda uma série de coleta de sinais e comunicação do país recluso. O sinal de chamada da missão era DEEP SEA 129.
O tipo de vôo de reconhecimento que o DEEP SEA 129 naquele dia não era nada exclusivo, bem diferente do programa conhecido como Peacetime Aerial Reconnaissance Program (PARP), código chamado Beggar Shadow, que eram vôos regulares de vigilância da Coréia do Norte durante o final da década de 1960.
O DEEP SEA 129 e sua equipe de 31 tripulantes, dos quais 9 eram lingüistas e criptólogos, dirigiram-se para o Mar do Japão e estabeleceram uma órbita perto da fronteira da Coréia do Norte com a Rússia. A tripulação foi proibida de chegar a menos de 140 km das costas da Coréia do Norte. Depois que seus deveres de coleta de inteligência fossem concluídos, o avião deveria rumar para a Base Aérea de Osan na Coréia do Sul.
Pouco depois das 12h30, hora local, quase duas horas após o DEEP SEA 129 estar na estação, dois MiG-21 partiram de um aeródromo perto de Wonson, Coréia do Norte. Trinta minutos depois, o DEEP SEA 129 fez um relatório no horário combinado, mas não relatou nada fora do comum. Os operadores de radar do Exército dos EUA na Coréia do Sul perderam brevemente os dois MiG-21 em torno das 13h22, mas depois os localizaram por volta das 13h37. Eles estavam em um curso de interceptação para o DEEP SEA 129.
Às 13h44, o esquadrão do DEEP SEA 129, que monitorava as comunicações do Norte, emitiu uma chamada de rádio “condição três” para o DEEP SEA 129, o que significava que eles estavam possivelmente para serem atacados. A equipe imediatamente abortou a missão, ordenando que o grande avião a pistão ruma-se para a Coréia do Sul.
Às 13h47 os dois caças alcançaram o EC-121 e, dois minutos depois, o DEEP SEA 129 desaparecia do radar.
No início, pensou-se que a equipe poderia ter sobrevivido simplesmente mergulhando a aeronave abaixo da cobertura do radar como uma manobra defensiva. Os pilotos nunca informaram que estavam sendo atacados. Caças partiram para dar a cobertura enquanto se esperava que o DEEP SEA 129 surgisse nos céus da Coréia do Sul e também para criar uma postura de alerta perto da DMZ. O EC-121 nunca mais apareceu. Por volta das 14h45 o incidente foi considerado um ato hostil, levando as mensagens de emergência a serem encaminhadas para a Autoridade de Comando Nacional. Os ativos de busca e salvamento foram acionados para procurar equipe do DEEP SEA 129 pouco depois.
Dentro de poucas horas, a Coréia do Norte emitiu um comunicado afirmando ter abatido um avião espião dos EUA que violou seu espaço aéreo. Mas não ficou claro por que o abate foi ordenado. Ninguém poderia realmente explicá-lo de uma perspectiva externa, mas não havia dúvida de que era uma escalada maciça e um ato de guerra.
Em Washington, a administração Nixon estava relutante de como responder. Ocorreu uma quebra total de comando e controle após o incidente. A informação era escassa e até mesmo a localização e o status das forças americanas na região não estavam claros. O processo de simplesmente reagir ao evento com base em informações de qualidade durou tanto tempo que uma rápida retaliação não era mais possível.
Ninguém sabia dizer se fora um incidente isolado ou o aviso de coisas por vir.
Enquanto a Casa Branca estava perdida, aviões estacionados na Coréia do Sul foram carregados com armas nucleares táticas e colocados em alerta máximo, com as tripulações aguardando em seus cockpits e na cabeceira das pistas.
O sentimento de alguns comandantes militares norte-americanos era de atacar, atacar e atacar, como descreve um relatório após a ação.
À medida que os dias passaram, a Coréia do Norte não alterou sua postura militar geral e eles não interceptaram outros aviões de inteligência que voavam com escolta. Enquanto isso, vários esquadrões da USAF chegavam eram, silenciosamente, enviados para a região.
A Nixon foi apresentado um menu de opções revisado, não apenas para responder a derrubada do DEEP SEA 129, mas também como contingência para futuros atos agressivos pelos norte-coreanos. A Administração foi claramente pega desprevenida pela derrubada e eles não queriam que isso acontecesse novamente. A opção nuclear foi informada como parte da lista de opções, mas a verdade é que durante esse período o uso de armas nucleares táticas em resposta a um ato norte-coreano sempre foi a melhor opção. Os caças passaram a ficar em alerta com as bombas nucleares B-61. Essas armas ficaram no teatro até 1991.
Nixon refletiu e decidiu que queria a opção de ordenar a destruição do aeródromo de onde os jatos se originaram. Ele poderia ordenar um ataque como uma tentativa de retaliação ao abate do EC-121 ou poderia aguardar um novo ataque da Coréia do Norte. Os planos foram colocados em ação, considerando o uso de aviões navais, incluindo quatro porta-aviões, nas águas da península coreana para que o contra-ataque pudesse ocorrer em curto prazo. A flotilha naval na península coreana foi chamada “Task Force 71” (Enterprise, Ticonderoga, Ranger, Hornet e o navio de guerra USS New Jersey entre muitos outros cruzadores, destroyers e fragatas). Foi uma das maiores demonstrações militares de força de todo o período da Guerra Fria. Nixon nunca ordenou ataque e a Coréia do Norte não tentou abater outra aeronave dos EUA.
No final, a perda de DEEP SEA 129 e seus 31 tripulantes nunca foi vingada. Em retrospectiva, isso poderia ter evitado uma guerra total na península coreana, o que pode ter sido o melhor para os EUA, que estavam bem enrolados no atoleiro do Vietnã. Cerca de 12 mil militares americanos morreram no Vietnã em 1969 e quase 17 mil no ano anterior. Outra guerra, especialmente uma com sendo potencialmente sangrenta e dispendiosa como um conflito na Coréia, teria sido catastroficamente impopular nos Estados Unidos e até possivelmente insustentável.
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