Esse interesse pode ser um exemplo claro de como a China está expulsando não apenas concorrentes russos, mas também europeus, do mercado global de armas.
O Uzbequistão está em processo de substituir sua frota de cerca de 50 aeronaves de combate herdadas da era soviética, um movimento que reflete tanto necessidades operacionais quanto estratégicas. Embora o país tenha demonstrado interesse no caça francês Dassault Rafale no final de 2023, as negociações não avançaram significativamente desde então. Agora, fontes da mídia russa sugerem que Tashkent pode estar considerando alternativas chinesas, um cenário que parece causar certo desconforto em Moscou.
No entanto, essas especulações carecem de confirmação oficial, e é prudente tratá-las com cautela. Ainda assim, a possibilidade não pode ser descartada, uma vez que o Uzbequistão já recorreu à China no passado para modernizar seus sistemas de defesa. Um exemplo notável é a aquisição do sistema antiaéreo FD-2000 (uma variante exportação do HQ-9 chinês, semelhante ao russo S-300), além da possível introdução de outro sistema de defesa antimíssil em fevereiro de 2025, destinado a substituir os obsoletos S-125 soviéticos.

De acordo com o relatório The Military Balance 2024, do International Institute for Strategic Studies (IISS), a Força Aérea Uzbeque opera atualmente 12 caças MiG-29/29UB, com outros 18 MiG-29 e 26 Su-27/27UB armazenados. Para substituir essas aeronaves, os modelos mais cotados são os JF-17 Thunder (desenvolvido em parceria entre China e Paquistão) e o J-10C Vigorous Dragon, fabricado pela Chengdu Aircraft Corporation, conforme relatado pelo site Defence Express.

Esses caças oferecem vantagens significativas em relação aos antigos modelos soviéticos, incluindo tecnologia avançada como sistemas digitais, displays multifuncionais e melhor ergonomia, superando a aviônica analógica dos MiG e Sukhoi. O custo-benefício e outro fator que está chamando a atenção dos uzbeques, como preços mais acessíveis em comparação com opções ocidentais, além de manutenção simplificada. E por último um fator importante é a versatilidade operacional, com a capacidade de integrar uma ampla gama de armamentos modernos, incluindo mísseis ar-ar e armas guiadas de precisão, desenvolvidos na China.
A possível escolha por caças chineses não se deve apenas a critérios técnicos, mas também a considerações estratégicas. Tradicionalmente, o Uzbequistão foi um cliente da indústria bélica russa, mas desta vez nem mesmo consultou Moscou antes de buscar alternativas. Esse distanciamento pode estar relacionado a saída da Organização do Tratado de Segurança Coletiva (OTSC) em 2012, sinalizando uma postura mais independente. Outro fator que influi também na decisão tem relação com a dificuldade russa de cumprir contratos de exportação de caças devido às demandas da guerra na Ucrânia e às sanções internacionais.

Além disso, o orçamento de defesa do Uzbequistão, estimado em US$ 3 bilhões anuais, é um dos mais altos da Ásia Central, permitindo investimentos em modernização sem depender exclusivamente de um único fornecedor.
Enquanto a Rússia vê sua influência na região diminuir, outros players globais tentam preencher o vácuo. A França, por exemplo, teve um desempenho misto, pois tanto o Uzbequistão quanto o Cazaquistão descartaram o caça francês em 2023. Em contrapartida, a Dassault teve sucesso na Sérvia, com o Rafale vencendo a concorrência contra o Eurofighter Typhoon e o J-10 chinês.
Já a China vem ganhando espaço, especialmente entre países que operam equipamentos soviéticos antigos. Se o Uzbequistão optar pelos caças chineses, isso poderá consolidar Pequim como uma alternativa viável à Rússia na Ásia Central, redefinindo os equilíbrios de poder regional.
Mesmo sem uma decisão oficial, uma coisa é clara: a modernização da frota uzbeque será um termômetro importante das alianças geopolíticas na região.
Nenhum comentário:
Postar um comentário