Pesquisar este blog

sexta-feira, 27 de junho de 2025

O 55º Salão Internacional de Aviação de Paris (SIAE) 2025

 

Por Jean François Auran*
Especial para o Poder Aéreo

O 55º Salão Internacional de Aviação de Paris (SIAE) foi realizado entre os dias 16 e 22 de junho de 2025 no Parc des Expositions de Paris-Le Bourget. O evento reuniu os principais atores da indústria aeroespacial mundial.

Esse encontro bienal, reconhecido como um termômetro das tendências tecnológicas e inovações estratégicas, tornou-se essencial para tomadores de decisão, fabricantes e entusiastas do setor. Com um número cada vez maior de visitantes, o SIAE 2025 destacou os grandes desafios enfrentados atualmente pela indústria: a descarbonização, o desenvolvimento de drones e da mobilidade aérea urbana, além das novas exigências em cibersegurança e inteligência artificial.

Em uma coletiva de imprensa antes da abertura do evento, Emmanuel Viellard, comissário geral do salão, afirmou que cerca de 45% da feira seria dedicada à defesa e segurança — um aumento em relação à edição de 2023. O restante do espaço foi reservado à aviação civil. A expectativa era receber cerca de 305 mil visitantes únicos, dos quais 53% vindos do público geral, e contar com 2.400 expositores de 48 países.

A edição deste ano foi marcada por diversos eventos de destaque, como o Paris Air Lab, voltado ao progresso no transporte aéreo de baixo carbono, que atraiu grande audiência. A Paris Air Mobility também chamou atenção com a apresentação de eVTOLs em larga escala (táxis aéreos). Já o Aéro Recrute facilitou a conexão entre empresas e jovens talentos para atender às demandas de recrutamento do setor.

Em termos de emprego, a expectativa era que o setor aeroespacial empregasse 222 mil pessoas até o final de 2024, um crescimento de 10% em relação ao período pré-Covid. O salão também se apresentou como uma oportunidade para recrutar jovens profissionais dispostos a integrar essa indústria do futuro.

Aviação comercial

A321XLR

A indústria da aviação continua registrando vendas expressivas, mesmo com a redução no volume de pedidos. Neste ano, a Airbus lidera com 250 encomendas confirmadas e 156 opções para diversos modelos de aeronaves. A série A350 — incluindo os modelos A350-900, A350-1000 e a variante cargueira A350F — se destacou, despertando grande interesse e admiração durante as demonstrações de voo do A350-1000. A maior parte dessas encomendas foi feita pela Arábia Saudita.

Em contraste, sua concorrente americana, apesar de marcar presença significativa no evento, não garantiu novos pedidos e ainda se recuperava do acidente com um 787 Dreamliner da Air India ocorrido em 12 de junho. Com a aproximação do Paris Air Show 2025, a Boeing demonstrou melhorias significativas em comparação a dois anos atrás, recuperando estabilidade após uma série de crises desde 2019.

Boeing 777-300ER

O grupo americano assinou um acordo com o Ministério dos Transportes de Angola. O documento prevê diversas formas de cooperação entre a Boeing e a TAAG Linhas Aéreas de Angola, incluindo digitalização da empresa, aprimoramento das capacidades técnicas e de manutenção, expansão e revisão de rotas e horários de voos, além do apoio à modernização e crescimento da frota.

ATR-72 600

No dia 18 de junho de 2025, a franco-italiana ATR anunciou seu maior pedido firme desde 2017. A companhia aérea taiwanesa Uni Air, subsidiária da EVA Air, se comprometeu com a compra de 19 aeronaves ATR 72-600. A ATR também sinalizou um retorno ao mercado dos EUA com a empresa texana JSX, que demonstrou interesse em vários modelos ATR 42 e 72, com previsão de entrega com cabines premium HighLine.

A Embraer anunciou um novo pedido de sessenta aeronaves adicionais por parte de seu principal cliente, a SkyWest. A Bridges Air Cargo será o cliente lançador do novo cargueiro E-Freighter E190F, uma conversão de passageiros para carga (P2F). Este jato, o primeiro de duas conversões iniciais, deve entrar em operação na frota da Bridges no terceiro trimestre de 2025. A fabricante brasileira também segue expandindo sua presença no mercado africano. No terceiro dia do Paris Air Show, a companhia aérea sul-africana Airlink anunciou o compromisso de leasing de 10 jatos E195-E2 da empresa Azorra.

Embraer E195

Aviação sem carbono

Embora ainda existam demonstradores e tecnologias em desenvolvimento, esta edição do salão aéreo serviu como plataforma de lançamento para aeronaves regionais elétricas. A empresa francesa Aura Aero, sediada em Toulouse, recebeu um pedido firme de 57 unidades da Era, um jato regional híbrido-elétrico de 19 assentos previsto para entrar em serviço antes de 2030. A companhia está atualmente construindo fábricas na França e na Flórida, e o primeiro voo da aeronave está agendado para 2026.

O desenvolvimento de drones continua, embora o foco este ano esteja voltado para aplicações militares. Um exemplo é a EVE, subsidiária da Embraer, que assinou uma carta de intenção para um pedido significativo de 54 aeronaves para sua plataforma eVTOL.

Além disso, o Pipistrel Nuuva V300 é uma aeronave de carga híbrida-elétrica não tripulada, com decolagem e pouso vertical (VTOL), desenvolvida pela Pipistrel. Ela é equipada com oito motores elétricos que acionam hélices para sustentação e um motor de combustão interna para propulsão. A empresa afirma que a aeronave será capaz de transportar uma carga útil típica de 300 kg e terá alcance padrão de 300 km.

Pipistrel Nuuva V300

O CX300 é a versão de asa fixa do modelo VTOL A250 da BETA, capaz de decolar e pousar verticalmente como um helicóptero. Com mais de 22.000 horas de voo acumuladas, o A250 já provou sua confiabilidade e capacidade de transição do modo pairado para voo de cruzeiro. A BETA agora busca obter a certificação completa em 2025, abrindo caminho para a comercialização em larga escala de sua aeronave elétrica.

Projetado em parceria entre Daher, Safran e Airbus, com apoio do CORAC e da DGAC, o EcoPulse é um demonstrador de propulsão híbrida distribuída. Exibido em Paris, é um dos principais projetos colaborativos da indústria aeronáutica francesa, contribuindo para os objetivos de descarbonização do transporte aéreo até 2050.

Beta Technologies CX300

No início do salão, a VoltAero anunciou um grande pedido de 30 aeronaves híbridas elétricas Cassio 330 pela escola de aviação malaia HM Aerospace. O VoltAero Cassio 330 é uma aeronave híbrida de cinco assentos em estágio final de desenvolvimento em Royan, na França.

EHang

A Aviation Sans Frontières e a Médicaéro apresentaram um projeto inovador no SIAE 2025: o avião hospital. Diante da deterioração do acesso à saúde em áreas isoladas, as duas organizações lançaram uma resposta prática e inovadora — um avião hospital que pode ser implantado em poucas horas para fornecer atendimento médico, evacuações de emergência e transporte de suprimentos humanitários.

Produtos militares

O ministro das Forças Armadas da França, Sébastien Lecornu, aproveitou o Paris Air Show para apresentar a estratégia francesa para altitudes extremamente elevadas (VHA), uma zona entre 20 e 100 km acima do nível do mar que se tornou um novo domínio de conflito. Essa estratégia baseia-se em três objetivos: detecção, interceptação e operação.

No estande das Forças Armadas Francesas, os visitantes puderam ver uma prévia do Rafale F5 e seu UAV (veículo aéreo não tripulado), equipado com tanques conformes. A Safran aproveitou o evento para apresentar os avanços no motor M88, denominado M88 T-REX. Compatível com os futuros padrões do Rafale da Dassault Aviation, esse motor visa aumentar o empuxo para 9 toneladas (88,3 kN) com pós-combustão. Para atingir essa performance, o M88 T-REX incorporará melhorias significativas: uma atualização do compressor de baixa pressão para lidar com maior fluxo de ar, integração de novos materiais e circuitos de resfriamento de nova geração para a turbina de alta pressão, além da otimização da aerodinâmica dos bocais.

O financiamento para o desenvolvimento do T-REX ainda precisa ser garantido, com um custo estimado de cerca de €600 milhões, valor ainda não contemplado na Lei de Programação Militar. Previsto para 2030, o Rafale F5 deverá ampliar significativamente as capacidades operacionais da Força Aérea Francesa. Essa aeronave inovadora será capaz de transportar o futuro míssil nuclear hipersônico ASN4G.

O programa FCAS (Sistema de Combate Aéreo do Futuro) ainda está na fase de maquetes, sem avanços significativos, apesar de diversas tentativas de relançamento em nível político. O atraso no programa SCAF representa um risco para a manutenção das competências tecnológicas das empresas envolvidas. Independentemente do progresso do SCAF, foi decidido desenvolver as tecnologias necessárias em blocos modulares, que poderão ser integrados posteriormente.

Em termos de aeronaves de transporte, Portugal anunciou a compra de um sexto Embraer KC-390 Millennium, exercendo uma opção de compra. A Lituânia deverá encomendar três aeronaves desse tipo para complementar sua frota de cargueiros C-27J Spartan. A Leonardo apresentou seu helicóptero de ataque AW249, armado com mísseis avançados como o foguete guiado FZ275, o Akeron LP e o Brimstone, destacando seu papel como uma plataforma de combate de nova geração para missões de alta intensidade. A Itália vê o AW249 como a resposta mais moderna da Europa às exigências da OTAN e de missões expedicionárias.

A400M da Força Aérea e Espacial Francesa

Durante o Paris Air Show, o A400M da Força Aérea Francesa foi declarado totalmente operacional (FOC – Full Operational Capability). Agora, ele é capaz de realizar projeção de poder, reabastecimento em voo e operações especiais. Em breve, também poderá empregar munições remotamente e executar operações de inteligência.

O presidente Emmanuel Macron anunciou o lançamento do projeto da aeronave espacial de defesa VORTEX (Veículo Orbital Reutilizável de Transporte e Exploração). Para apoiar inovações disruptivas no setor espacial, a França destinará €30 milhões ao projeto Vortex. A proposta é criar um “avião espacial”, um veículo tripulado capaz de manobrar no espaço e retornar à Terra, semelhante a um ônibus espacial.

Drones militares

VSR700

Os principais grupos europeus estão agora lançando drones de diversos modelos, capazes de competir com os produtos dos concorrentes. Entre eles estão o CAPA-X, SIRTAP, Aliaca, VSR700 e Flexrotor. Dez anos após seu lançamento, o Eurodrone continua sendo um projeto hipotético. Ele reúne quatro grandes nações aeronáuticas sob a égide da Organização para Cooperação Conjunta em Armamento (OCCAR).

A empresa francesa Turgis et Gaillard apresentou o Aarok, o primeiro drone europeu de combate e vigilância da categoria MALE (Média Altitude Longa Autonomia). Algumas semanas antes do salão, a mesma empresa revelou o Foudre, um lançador de foguetes unitário de nova geração e sistema conectado de ataque de longo alcance. Ambos estiveram em exibição no Le Bourget.

Em 17 de junho, a Direção Geral de Armamento (DGA) assinou um acordo-quadro com a Airbus Helicopters e o Naval Group para adquirir seis VSR-700. Essas aeronaves equiparão quatro das oito fragatas FREMM e duas das cinco futuras fragatas de defesa e intervenção (FDI). A versão do VSR-700 escolhida não inclui capacidades de guerra antissubmarino.

Na segunda-feira, a MBDA apresentou uma munição de longo alcance projetada como um drone kamikaze. A fabricante de drones Delair, sediada em Toulouse, e o grupo KNDS apresentaram a DAMOKLES, munição de curto alcance remotamente pilotada, como parte do programa MTO CP da DGA. Também esteve em exibição a versão híbrida recarregável do drone DELAIR DT46, incorporando a tecnologia Sterna desenvolvida pela Ascendance.

No campo dos armamentos, a SAFRAN apresentou uma maquete da Hammer XLR, uma bomba AASM guiada a laser de longo alcance, que poderá atingir entre 150 e 200 km. O projétil, ainda em fase de concepção, contará com um pequeno reator em vez da carga de pólvora presente nos modelos atuais. No mesmo evento, a DGA anunciou a assinatura de um contrato com a KNDS France para o fornecimento de munição telescópica de 40 mm, destinada aos veículos blindados JAGUAR e às torres RAPIDFire a partir de 2026. O contrato cobre 8.000 munições de combate e 18.000 de treinamento, fornecidas pela BAE Systems na França e novos fornecedores qualificados no Reino Unido.

Em conclusão, a edição deste ano do Le Bourget correspondeu às expectativas, mesmo com um volume de encomendas de aeronaves bem inferior ao do evento anterior.  Em 2023, os dois principais fabricantes somaram mais de 1.200 pedidos, um recorde que destaca o impacto negativo da crise atual sobre a Boeing.

O próximo Dubai Air Show, previsto para novembro de 2025, deverá oferecer à Boeing uma oportunidade para anunciar múltiplos contratos. No setor de defesa, a transição da Europa para veículos aéreos não tripulados já começou. A aeronave de sexta geração é o próximo passo.

Decolagem do Eurofighter
Eurofighter
Rafale
F-35A
Tracker de combate a incêndios
Eurodrone MALE
Airbus Helicopters Racer
Airbus Helicopters Racer em voo
AW 249
TAI Hürkuş
Família Dassault
Saab GlobalEye
Drone de carga Lourd Aviation Sans Frontière
Bayraktar Akinci


Nenhum comentário:

Postar um comentário