O Pentágono pode estar preparando uma mudança significativa na operação de suas plataformas de alerta aéreo antecipado, os chamados aviões AWACS.
Essas aeronaves com radares embarcados são fundamentais para garantir a superioridade aérea e desempenham um papel estratégico em combates modernos. Um exemplo claro disso ocorreu no conflito entre Índia e Paquistão, quando o Paquistão utilizou de forma mais eficaz seus turboélices Saab 340 AEW&C para guiar caças e abater aeronaves indianas.
Atualmente, os Estados Unidos operam dois tipos principais de aeronaves de alerta antecipado: o E-3 Sentry, baseado no Boeing 707 e operado pela Força Aérea (USAF), e o E-2 Hawkeye, um turboélice desenvolvido pela Northrop Grumman, usado pela Marinha (USN) em operações a partir de porta-aviões nucleares, como mostra a nossa foto de capa desta reportagem.
Embora o E-2 Hawkeye tenha origem nos anos 1960, ele passou por diversas atualizações e é produzido até hoje em sua versão mais recente, a E-2D Advanced Hawkeye. Já o E-3 Sentry, fabricado entre 1977 e 1992, possui unidades modernizadas na OTAN, com troca dos antigos motores TF33 pelo CFM56, o mesmo usado em jatos comerciais Boeing 737.

Com a frota da USAF envelhecida, o substituto do E-3 já havia sido definido: o E-7 Wedgetail, operado por países como Austrália, Coreia do Sul, Turquia e Reino Unido, além da própria OTAN em uma compra conjunta multi-nacional do bloco. A aeronave é baseada no Boeing 737-700, mas a Boeing tem enfrentado atrasos e aumento de custos em sua produção, o que gerou forte insatisfação no Pentágono.
Durante uma audiência no Congresso, o Secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, criticou o cronograma do E-7, afirmando que a aeronave pode chegar obsoleta em 2028. Ele respondeu à senadora Lisa Murkowski, do Alasca — estado que abriga esquadrões de E-3 — alertando sobre a urgência da substituição.
“O E-7 está atrasado e ficou mais caro. Para preencher essa lacuna, e depois migrar para vigilância satelital, é o melhor que podemos fazer diante dos desafios atuais“, afirmou Hegseth.

A estratégia do Departamento de Defesa inclui o desenvolvimento de satélites com radares de ultra longo alcance, que permitiriam vigilância contínua do espaço aéreo norte-americano sem a necessidade de aeronaves em patrulha constante. No entanto, esses satélites ainda estão em fase de projeto e só devem entrar em operação na próxima década.
Por isso, o Pentágono agora propõe cancelar o orçamento para o E-7 no ano fiscal de 2026 (apesar da Boeing já estar montando os jatos e cumprindo o contrato assinado em 2022) e utilizar o E-2D Hawkeye também na USAF, como revelou o site The War Zone. A proposta foi endossada por Bryn Woollacott MacDonnell, assistente especial do Secretário de Defesa, que confirmou um orçamento de US$ 150 milhões para a compra conjunta de cinco E-2D e mais US$ 1,4 bilhão para aquisições futuras.
Apesar do apoio, a ideia enfrenta resistência dentro da própria Força Aérea. Oficiais apontam as limitações do E-2D, como alcance e velocidade inferiores, o que reduz sua efetividade. O General Mark D. Kelly, então comandante do Comando de Combate Aéreo da USAF, já havia criticado em 2020 a falta de investimento dos EUA em plataformas modernas de controle aéreo, ao contrário de seus aliados que já garantiram o E-7 em sua frota bem antes da decisão da USAF, feita apenas posteriormente.
Assim como ocorreu com o processo de substituição dos reabastecedores KC-10 e KC-135 pelo problemático KC-46, a USAF enfrenta dificuldades em modernizar sua frota de alerta aéreo. O risco é que, diante de atrasos, o governo opte por soluções improvisadas, enquanto aposta em tecnologias ainda não comprovadas — acreditando que guerras futuras poderão ser vencidas apenas com inteligência artificial e sistemas automatizados.
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