terça-feira, 29 de julho de 2025

Embraer intensifica lobby nos EUA contra tarifa de 50% e alerta sobre impacto bilionário e milhares de empregos

 


O presidente da Embraer, Francisco Gomes Neto, está conduzindo uma ofensiva diplomática nos Estados Unidos para evitar a entrada em vigor da tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, anunciada pelo ex-presidente Donald Trump e prevista para 1º de agosto. A medida pode afetar gravemente a indústria aeronáutica brasileira e comprometer acordos estratégicos com parceiros norte-americanos, inclusive envolvendo a possível venda do cargueiro militar KC-390.

Durante sua visita, Gomes Neto se reuniu com autoridades-chave do governo norte-americano, como o secretário do Comércio, Howard Lutnick, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, o secretário dos Transportes, Sean Duffy, e o chefe da Representação Comercial (USTR), Jamieson Greer.

A missão é reforçada por uma comitiva de senadores brasileiros, além do apoio direto do vice-presidente Geraldo Alckmin, que classificou os diálogos com Washington como “produtivos”. O Fórum de CEOs Brasil-EUA também protocolou um pedido oficial para adiar a entrada em vigor da tarifa.

De acordo com o executivo da Embraer, a companhia planeja investir até US$ 500 milhões nos EUA, valor que pode dobrar com a eventual venda do cargueiro KC-390 para as forças armadas americanas. A aeronave, desenvolvida com tecnologia de ponta, já possui 50 encomendas internacionais, incluindo versões customizadas para a OTAN, e negociações ativas com países como Portugal, Coreia do Sul, Índia e outros clientes potenciais africanos. Em caso de aquisição pelos EUA, Gomes Neto afirma que haverá montagem local, gerando empregos e impulsionando a cadeia aeroespacial norte-americana.

A ameaça tarifária, no entanto, coloca esse cenário em risco. Segundo o CEO da Embraer, o impacto imediato da tarifa de 50% pode significar a perda de até US$ 360 milhões por ano, apenas com as exportações de aeronaves regionais como o E175, modelo líder no mercado norte-americano.

A SkyWest, uma das principais operadoras de jatos Embraer nos EUA, já indicou que poderá cancelar ou adiar entregas se os custos forem repassados. O E175 é, atualmente, o único jato regional plenamente compatível com os requisitos de operação nos EUA, o que destaca sua importância estratégica para a aviação doméstica americana.

A Embraer reforça que, ao contrário da percepção de dependência brasileira, suas operações nos EUA são profundamente enraizadas. A empresa está presente em mais de 30 estados, com bases operacionais na Flórida, Arizona, Tennessee, Geórgia e Ohio. Emprega diretamente e indiretamente cerca de 12.500 pessoas no país, realiza manutenção e montagem local, e gera bilhões de dólares em compras de componentes de fornecedores norte-americanos.

Só nos próximos cinco anos, a companhia pretende adquirir US$ 21 milhões em equipamentos produzidos nos EUA, destinados a exportações para Europa e Ásia — o que geraria superávit de US$ 8 milhões para a balança comercial americana.

O CEO da American Airlines, Robert Isom, manifestou apoio à Embraer e fez um apelo público para a suspensão da tarifa. A companhia é uma das maiores clientes da fabricante brasileira e depende do E175 para rotas regionais de alto volume. Gomes Neto destaca que as aeronaves da Embraer transportam cerca de 5 milhões de passageiros por mês nos EUA e que um terço dos voos em aeroportos como La Guardia (Nova York) e Ronald Reagan (Washington) é operado com jatos da empresa.

Ainda não houve cancelamentos de pedidos por parte de clientes norte-americanos, mas o alerta está aceso. O mercado dos EUA representa 45% das encomendas de jatos comerciais da Embraer e 70% das vendas de jatos executivos.

A empresa encerrou o segundo trimestre de 2025 com a maior carteira de pedidos da sua história, somando US$ 29,7 bilhões. Foram entregues 61 aeronaves no período — um aumento de 30% em relação ao mesmo trimestre de 2024 — com destaque para a divisão de aviação comercial, que acumula US$ 13,1 bilhões em backlog.

Analistas do setor, como o banco BTG Pactual, afirmam que o E175 não possui substituto direto no mercado dos EUA, o que pode oferecer margem para negociações e reajustes de preços.

Já o economista Eduardo Velho, da Equator Investimentos, avalia que ainda existe espaço para que o governo dos EUA revise sua posição, possivelmente reduzindo a tarifa para 10% ou até mesmo a isentando, especialmente no caso de empresas estratégicas como a Embraer.

Em paralelo, a fabricante brasileira considera utilizar sua subsidiária OGMA, em Portugal — onde detém 65% do capital — como alternativa para driblar as restrições, já que a União Europeia negociou um teto de 15% nas tarifas de exportação com os EUA. Ao mesmo tempo, o Brasil estuda aplicar medidas de retaliação, incluindo novas taxas sobre produtos norte-americanos.

Enquanto as negociações seguem intensas, a Embraer continua confiante na sua capacidade de manter os contratos e a confiança de seus parceiros internacionais. Para o CEO Francisco Gomes Neto, o foco é evitar a interrupção do fluxo comercial entre Brasil e Estados Unidos, manter os empregos em solo americano e fortalecer a presença da Embraer como player global indispensável na aviação comercial, executiva e de defesa.

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