O Exército do Paquistão iniciou a incorporação do Z-10ME, helicóptero de ataque de fabricação chinesa, após a circulação de imagens e vídeos em julho de 2025 que mostram exemplares com camuflagem escura e insígnias do Corpo de Aviação do Exército paquistanês.
A presença do modelo em solo paquistanês encerra anos de especulação e marca a primeira grande renovação da frota de asa rotativa de ataque desde a introdução dos AH-1F Cobra, em serviço há mais de quatro décadas.
As aeronaves observadas apresentam características condizentes com a versão de exportação modernizada do Z-10, desenvolvida pela Changhe Aircraft Industries Corporation sob a tutela da AVIC. Chama a atenção a ausência da cúpula de radar de ondas milimétricas no mastro do rotor, vista em algumas variantes anteriores, embora se mantenham sensores eletro-ópticos avançados e suíte de autoproteção, incluindo contramedidas integradas voltadas à sobrevivência em cenários de alta ameaça.
?? First look at Pakistan’s Z-10ME attack helicopter armed with next-gen air-to-ground missiles. pic.twitter.com/UbohcwRP4h
— Global Defense Insight (@Defense_Talks) July 29, 2025
O Z-10ME é promovido como a configuração mais capaz da família, com reforços estruturais e de blindagem, melhorias em sistemas de guerra eletrônica e foco declarado em operar em ambientes quentes e de alta altitude. Esse conjunto de ajustes atende a requisitos típicos do teatro sul-asiático, onde o Paquistão mantém áreas montanhosas sensíveis na fronteira, exigindo desempenho confiável em regiões elevadas e clima desafiador.
A adoção do Z-10ME também resulta de um histórico recente de impasses. Em 2015, os Estados Unidos aprovaram a venda de helicópteros AH-1Z Viper, mas as entregas foram congeladas por razões políticas e de segurança. Em seguida, a tentativa de aquisição do T129 ATAK turco esbarrou em restrições de exportação de motores e não avançou. Esse contexto abriu espaço para que Pequim posicionasse sua plataforma como alternativa disponível e com menor risco de embargo.
Ainda não há confirmação oficial de Islamabad ou Pequim sobre o total de unidades contratadas ou o cronograma de recebimentos, mas a evidência visual sugere que o programa superou a fase de avaliação e entrou em uma etapa inicial de entrada em serviço. Analistas regionais avaliam que este pode ser o primeiro passo de um esforço mais amplo de modernização, com entregas em lotes e progressiva substituição da frota Cobra conforme a capacidade industrial chinesa e o orçamento paquistanês permitirem.
A capacidade bélica do Z-10ME inclui a integração de mísseis anti-blindados guiados, foguetes de 70mm e armamento orgânico em pod, com mira eletro-óptica e designador a laser para engajamento de alvos. Embora detalhes completos de configuração das células paquistanesas não tenham sido divulgados, a tendência é que o pacote de sensores, as contramedidas e a integração de armamentos sejam ajustados ao perfil de missão local, com ênfase em apoio aéreo aproximado e interdição tática.
Comparado a opções ocidentais como o AH-64 Apache ou o próprio AH-1Z Viper, o Z-10ME tende a oferecer aquisição mais ágil, menor custo logístico e risco reduzido de sanções, ao preço de possíveis limitações de alcance, carga útil e maturidade de cadeia de suprimentos fora do ecossistema chinês. Para o Paquistão, a equação custo-benefício e a previsibilidade de suporte parecem ter pesado, além do valor político da parceria com Pequim.
A chegada do Z-10ME reforça a interdependência militar sino-paquistanesa, que já rendeu frutos como o caça JF-17 Thunder e um fluxo consistente de equipamentos terrestres e navais. Em um ambiente estratégico marcado por rivalidade regional e necessidade de prontidão em múltiplas frentes, a padronização de plataformas de origem chinesa tende a simplificar treinamento, manutenção e atualização de sistemas ao longo do ciclo de vida.
O status operacional pleno dos Z-10ME no Paquistão ainda aguarda confirmação independente, mas a introdução da plataforma já produz efeitos práticos e simbólicos. Na prática, oferece ao Exército paquistanês um salto geracional em sensores, proteção e letalidade. No plano simbólico, sinaliza a consolidação de uma arquitetura de defesa menos dependente de fornecedores ocidentais, com impactos diretos na postura de dissuasão e na autonomia de decisões estratégicas de Islamabad.
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