Conheça como o avião presidencial dos Estados Unidos se transformou em um ícone global de poder, segurança e diplomacia
A designação Air Force One, que se tornou sinônimo de avião presidencial dos Estados Unidos, foi criada em 1954 para identificar qualquer aeronave que transporte o presidente. O callsign nasceu após um incidente de tráfego aéreo envolvendo um voo oficial e um avião comercial.
Contudo, a necessidade de aviões dedicados ao transporte presidencial surgiu ainda na Segunda Guerra Mundial, levando à adaptação de modelos como o Douglas C-54 Skymaster e, posteriormente, à incorporação do Super Constellation, seguido do Boeing 707 e do Boeing 747-200B. Hoje, o Air Force One representa muito mais do que o avião que o presidente voa, sendo símbolo de poder, segurança e mobilidade — além de uma estrutura aérea completa a serviço da Casa Branca.
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O primeiro avião presidencial: Sacred Cow

O presidente Franklin D. Roosevelt foi o primeiro a viajar oficialmente em uma aeronave presidencial. Antes disso, já havia voado em alguns aviões, como o Boeing 314 Dixie Clipper, em sua viagem para a Europa, e o Consolidated C-87 Liberator Express.
Porém, oficialmente, o primeiro avião a ser dedicado de forma exclusiva ao presidente foi o Douglas C-54 Skymaster – a versão militar do DC-4 – que foi designado como VC-54A e ficou conhecido como Sacred Cow.
O VC-54A contava com área de descanso, radiotelefone e até um elevador para cadeira de rodas, adaptado especialmente para Roosevelt. Porém, acabou utilizando o avião apenas uma vez, em fevereiro de 1945, quando viajou à Conferência de Yalta, que discutiu a reorganização da Europa após a guerra. Com sua saúde debilitada, o presidente Roosevelt faleceu em 12 de abril do mesmo ano.
O avião: Douglas C-54 Skymaster
O Douglas C-54 Skymaster, versão militar do DC-4, fez seu primeiro voo em 1942 e foi amplamente usado nas guerras da Coreia e Segunda Guerra Mundial. Com mais de 1.100 unidades produzidas até 1947, tinha capacidade para 26 passageiros e, em versões posteriores, recebeu melhorias como portas de carga e tanques adicionais de combustível.
O Independence e a viagem inaugural para o Brasil

Após Roosevelt, o presidente Harry S. Truman continuou utilizando o Sacred Cow até 1947, quando foi substituído pelo Douglas VC-118A Liftmaster – versão militar do Douglas DC-6 – que foi batizado de Independence, em homenagem à cidade natal do presidente.
O VC-118A apresentava inicialmente uma pintura com a cabeça de uma águia-careca e interior adaptado com sala privativa e cabine principal para 24 passageiros em voo diurno ou doze em configuração de leito. Posteriormente, recebeu a pintura em branco e azul claro, utilizada até hoje pela frota VIP dos Estados Unidos.

O Independence foi formalmente comissionado em 4 de julho de 1947, e o presidente Truman realizou o primeiro voo oficial no novo avião presidencial em 31 de agosto, para uma conferência internacional no Rio de Janeiro.
O VC-118A serviu como o Air Force One até a gestão do presidente Lyndon B. Johnson, sendo o último modelo com motor radial a ser designado como o principal transporte presidencial.
Após a chegada dos Boeing VC-137, o modelo passou a ser empregado apenas em viagens para localidades cujos aeroportos eram limitados para operação com jatos. Além disso, o VC-118 também foi usado como avião reserva e para transportar funcionários do segundo escalão do governo federal.
Após a chegada dos Boeing VC-137, o modelo passou a ser empregado apenas em viagens para localidades cujo os aeroportos eram limitados para operação com jatos. Além disso, o VC-118 também foi usado como avião reserva e para transportar funcionários do segundo escalão do governo federal.
O avião: Douglas C-118A
O C-118 é a versão militarizada do Douglas DC-6. A principal diferença entre as versões militar e civil é a instalação de uma grande porta de carga no lado esquerdo da aeronave. No caso da versão VIP, um confortável interior foi instalado, incluindo poltronas que podiam ser convertidas em camas. O avião é equipado com quatro motores Pratt & Whitney R-2800-52W de 2.500 hp cada. Pouco mais de cem C-118 foram adquiridos para uso pela Força Aérea como transporte de passageiros e carga.
Surge o Air Force One

Na década de 1950, o presidente Dwight D. Eisenhower adicionou ao serviço presidencial dois Lockheed VC-121E, batizados como Columbine II e Columbine III. O nome é uma referência à flor oficial do estado do Colorado, sendo uma homenagem à primeira-dama Mary Geneva "Mamie" Eisenhower. O batismo do Columbine III foi feito com uma garrafa de água do Colorado em vez da tradicional garrafa de champanhe.
O Columbine II foi o primeiro a usar oficialmente o indicativo Air Force One, em 1954. A frota de VC-121E voou em missões VIP até 1966, atendendo, nos últimos anos, principalmente funcionários do segundo escalão.
O avião: Lockheed Constellation
O VC-121E era a versão militarizada do Lockheed L-1049 Super Constellation, que difere dos primeiros Constellations principalmente por possuir uma fuselagem alongada em 5,5 metros e ter sido equipado com motores mais potentes, maior capacidade de combustível, maior alcance e maior velocidade. Na aviação civil, eram popularmente conhecidos como "Super Connies".
O Air Force One ganha identidade

Com a evolução dos aviões a jato, a Força Aérea dos Estados Unidos incorporou o Boeing 707-320B para a missão de transporte oficial. Os aviões foram designados como VC-137C e, a pedido do presidente John F. Kennedy, um novo esquema de pintura foi desenvolvido. O projeto foi liderado pela primeira-dama Jacqueline Kennedy e pelo famoso designer industrial Raymond Loewy.
O avião passou a ostentar um então moderno esquema de cores, com predominância do azul claro e branco, com a inscrição "Estados Unidos da América" em destaque ao longo da fuselagem, e a bandeira do país foi colocada no estabilizador vertical. A proposta era refletir a importância do Gabinete do Presidente e servir como um símbolo do poder norte-americano.
Durante os 36 anos de carreira, os VC-137C transportaram oito presidentes em exercício e inúmeros chefes de Estado, diplomatas, dignitários e autoridades em diversas viagens históricas conhecidas como Missões Aéreas Especiais (SAM). O último avião foi retirado de serviço em 2001.
O avião: Boeing 707-320C
O VC-137C é a versão militarizada e destinada a missões presidenciais, derivada do Boeing 707-320C. O avião é uma versão de alcance intercontinental do 707-120, com capacidade de voar por até 9.600 quilômetros sem escala, sendo equipado com quatro motores Pratt & Whitney TF33 (JT3D-3B) de 18.000 lbf cada. A cabine podia acomodar até 40 pessoas, incluindo o presidente em uma suíte dedicada..
Boeing 747: O Air Force One como símbolo global

Durante o governo Ronald Reagan, nos anos 1980, foram encomendados dois Boeing 747-200B para assumirem as missões de transporte presidencial. Além da maior capacidade, o 747 ainda era visto como símbolo de poder, graças ao seu porte quase duas vezes maior que qualquer avião da época.
Designados VC-25A, os aviões foram entregues a partir de 1990 e logo se tornaram os aviões mais famosos da frota presidencial. Até então, os VC-137C tinham uma visibilidade bastante discreta, sendo pouco explorada pela Casa Branca e pela mídia.
Os VC-25A possuem três níveis, sendo o piso inferior destinado ao transporte de carga e equipamentos; no piso principal estão as instalações do gabinete presidencial, suíte, sala de reunião, área de convidados, comitiva e imprensa; já no piso superior (upper deck) foram instalados os sistemas de comunicação e controle.
A ala conhecida como “Casa Branca Aérea” inclui uma confortável e ampla suíte, banheiro privativo do presidente, além de ala médica e escritório. A tripulação pode chegar a 26 membros, incluindo membros do Serviço Secreto e equipe médica.
O avião: Boeing 747-200B
O 747-200B era a versão mais recente do Jumbo quando o governo dos Estados Unidos encomendou os novos aviões presidenciais. Contudo, ainda nos anos 1980 surgiram versões aperfeiçoadas, como as séries -300 e -400, sendo esta última a primeira com amplo uso de tecnologia digital embarcada.
Por já estar em desenvolvimento, era inviável a troca para o 747-400, tornando assim o Air Force One derivado de um modelo que saiu de linha logo após a entrada em serviço do VC-25A. Porém, suas capacidades e tecnologias embarcadas seguem como uma das mais avançadas da atualidade, com melhorias constantes sendo adicionadas ao longo dos últimos 30 anos.
O futuro do Air Force One
Há mais de uma década está em desenvolvimento um novo Air Force One, designado como VC-25B. Derivado do Boeing 747-8, os novos aviões prometem elevar as capacidades do Air Force One. Entretanto, atrasos constantes, dificuldades no projeto e orçamento fora de controle têm sido barreiras para o início das operações. A previsão é que o primeiro seja entregue em meados de 2028. Até lá, os Estados Unidos poderão usar um 747-8VVIP doado pelo Qatar, como um presente para a Casa Branca. Seu recebimento é polêmico e sua transformação em um VC-25 poderá demorar tanto quanto os dois originalmente contratados.
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