De acordo com os organizadores da feira, a COMAC levará quatro aeronaves para exibição estática e participará também das demonstrações de voo, uma iniciativa que demonstra a confiança da empresa na maturidade de seus programas. A presença da fabricante chinesa será um dos destaques da edição que deve reunir mais de 1.500 expositores de 150 países e cerca de 150 mil visitantes, o maior público da história do evento.
A estreia da COMAC em Dubai acontece meses depois de uma visita oficial de uma delegação da Autoridade Geral de Aviação Civil dos Emirados Árabes Unidos (GCAA) à China, liderada por Saif Al Suwaidi. Durante o encontro, representantes dos dois países discutiram cooperação industrial e possíveis parcerias na área de certificação e manutenção aeronáutica. Essa aproximação diplomática reforça o interesse crescente dos Emirados em diversificar suas fontes de tecnologia e em estreitar laços com a indústria aeroespacial chinesa.
Embora a COMAC ainda não tenha confirmado oficialmente quais modelos levará para Dubai, a publicação chinesa South China Morning Post indica que a fabricante apresentará o C919, seu jato narrowbody de nova geração, e o C909, novo nome de exportação para o jato regional ARJ21. Ambos os modelos são peças centrais na estratégia chinesa de conquistar espaço em mercados emergentes do Oriente Médio, África e Sudeste Asiático, regiões vistas como mais receptivas a novos fabricantes e com forte demanda por aviões de médio porte.
O C919, projetado para competir diretamente com o Airbus A320neo e o Boeing 737 MAX, é equipado com motores LEAP-1C da CFM International e já acumula mais de 2 milhões de passageiros transportados desde sua entrada em operação comercial na China. Atualmente, o modelo é operado por China Eastern Airlines, Air China e China Southern, que juntas planejam ter cerca de 100 aeronaves C919 em serviço até 2031. No entanto, o ritmo de produção ainda é modesto: apenas 12 unidades foram entregues em 2024, e projeções da Cirium apontam que o número deve crescer para cerca de 27 em 2025. A meta oficial da COMAC é atingir uma cadência anual de 150 aeronaves até 2028.
Apesar do otimismo, a fabricante ainda enfrenta um desafio importante: conquistar certificações internacionais de segurança e aeronavegabilidade. A EASA (Agência Europeia para a Segurança da Aviação) confirmou que o processo de certificação do C919 poderá levar até seis anos, o que limita temporariamente o alcance global do jato. Mesmo assim, países como Brunei e Indonésia já reconheceram a certificação da CAAC, o que abre caminho para futuras operações regionais no Sudeste Asiático.
Além do C919, a COMAC também deve levar para Dubai o C909, jato regional de 78 a 90 assentos, que possui atualmente cerca de 166 unidades em serviço. O modelo é operado por companhias chinesas como a Chengdu Airlines e a China Express, e também por empresas estrangeiras, como a TransNusa da Indonésia e a Lao Airlines. O avião foi rebatizado recentemente para facilitar sua promoção nos mercados internacionais, dentro de uma estratégia global que busca alinhar a imagem da COMAC à de um fabricante de alcance mundial.
A presença da COMAC no Dubai Airshow é vista como um passo estratégico dentro da política industrial da China, que pretende reduzir a dependência tecnológica de fornecedores ocidentais e posicionar suas aeronaves como alternativas viáveis em custo operacional, manutenção e suporte técnico. Embora ainda leve tempo para conquistar grandes clientes fora da China, o avanço da COMAC demonstra que o monopólio histórico de Airbus e Boeing no segmento de jatos comerciais de corredor único começa, aos poucos, a ser desafiado.
O Dubai Airshow 2025 será um palco crucial para essa nova disputa. Em um cenário global de restrições de produção e atrasos em entregas de Boeing e Airbus, companhias aéreas e arrendadoras buscam diversificar fornecedores. Nesse contexto, a COMAC chega com a oportunidade de provar que pode competir não apenas em tecnologia, mas também em confiabilidade e custos.
Resta saber se sua estreia em Dubai resultará em novos contratos internacionais, mas o simples fato de dividir o mesmo palco com os gigantes ocidentais já representa uma vitória política e comercial para a indústria aeronáutica chinesa.

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