O Vigilante foi um bombardeiro nuclear médio, operado a partir de porta-aviões, desenvolvido devido à determinação da US Navy em ampliar sua capacidade de ataque com armas nucleares.
O desenvolvimento do Vigilante foi iniciado em novembro de 1953, sob a designação “NAGPAW – North American General Purpose Attack Weapon”. O objetivo era desenvolver uma aeronave que atingisse 2 vezes a velocidade do som e possuísse teto de serviço de 52.500 pés (16.000 metros).
O papel de bombardeiro nuclear embarcado já havia sido desempenhado por 2 outras aeronaves, também da North American, AJ Savage e o A-3 Skywarrior, que rapidamente se tornaram obsoletas para as missões as quais foram originalmente concebidas
Pelos requisitos, o novo bombardeiro deveria ser bimotor e possuir um inovador compartimento para transporte de uma arma nuclear, na parte traseira da fuselagem, sob a cauda e entre os exaustores dos motores, aumentando assim as hipóteses de sobrevivência à explosão atômica.
O projeto básico foi exposto para a US Navy em 1954, e depois de algumas alterações, ressubmetido e aprovado em abril de 1955, decorrendo daí a assinatura de uma carta de intenções, em 29 de junho de 1956, para a construção de dois protótipos (números de série 145157 e 145158), oficialmente designados YA3J-1, tendo a North American proposto o nome Vigilante para a nova aeronave.
O primeiro voo foi realizado em 31 de agosto de 1958, com o chefe dos pilotos de teste da North American, Dick Wenzel, aos comandos.
Sua introdução no serviço ativo se deu em junho de 1961, na Estação Aeronaval de Stanford, na Flórida.
Na US Navy, o Vigilante foi inicialmente designado A3J, mas essa denominação foi posteriormente alterada para A-5 em setembro de 1962, por conta da reorganização interna na nomenclatura das aeronaves operadas pela USAF e US Navy.
Sob todos os aspectos, o Vigilante foi um avião inovador, introduzindo novas tecnologias no segmento aerodinâmico, estrutural e eletrônico, algumas das quais só foram novamente aplicadas em aeronaves de produção, passadas quase duas décadas.
Era o segundo avião mais pesado a operar embarcado, perdendo apenas para o seu antecessor imediato, o Skywarrior.
Suas estruturas principais eram construídas de titânio, e o revestimento das asas com lítio adicionado à liga de alumínio. Ambas, soluções para poupar massa, já que o avião era bem grande para os navios da US Navy, que haviam sido modificados anteriormente para acomodar e operar o A-3 Skywarrior.
Numa sacada de mestre, a North American escolheu os mesmos propulsores do McDonnell Douglas F-4 Phantom II para a motorização do Vigilante, cujas entradas de ar dos motores possuíam geometria variável, ajustável à velocidade da aeronave. O General Electric J79 era um turbojato muito potente, tendo sido o primeiro motor de produção capaz de prover a uma aeronave duas vezes a velocidade do som.
Como o Phantom era a linha de frente dos caças embarcados, a adoção dos mesmos sistemas de propulsão facilitava a manutenção a bordo dos porta-aviões.
A eletrônica embarcada era sofisticada e, em muitos aspectos, inédita. Características eletrônicas avançadas da aeronave:
- Primeira utilização do sistema de controle de voo fly-by-wire em avião de produção não experimental.
- Computador digital de navegação e bombardeamento.
- Utilização operacional pela primeira vez do dispositivo HUD.
- Sistema automático de bombardeamento por navegação inercial autoacoplado ao radar e câmara de televisão para verificação de coordenadas, previamente inseridas.
- Primeira utilização de radar monopulso para seguimento do terreno, evitando obstáculos.
Esse era um período em que capacidade de reação inimiga melhorara significativamente, com o aperfeiçoamento dos mísseis terra-ar. Havia uma preocupação legítima por parte dos comandantes militares americanos, ainda assustados por conta do abate do U-2 de Francis Gary Powers sobre a URSS, em 1960.
Também em 1961, os primeiros submarinos armados com os mísseis Polaris tornavam-se operacionais, o que, ironicamente, contribuiu para que, no mesmo ano em que o Vigilante foi introduzido na força, o mesmo fosse retirado do serviço ativo como aeronave de ataque nuclear. Isso fez com que a aeronave passasse por um período de desprezo, relegada a missões de treinamento, até julho de 1963, com a apresentação da variante de reconhecimento tático RA-5C.
O Vigilante era uma plataforma ideal para esta função, permitindo o reconhecimento à baixa altitude, pois a velocidade seria um grande fator de penetração rápida e surpreendente no território inimigo.
Outro ponto positivo era o fato de que o compartimento interno de armas da aeronave servia perfeitamente à instalação das câmeras fotográficas, juntamente com toda parafernália eletrônica necessária às missões de reconhecimento.
Em relação às versões anteriores, o RA-5C incorporava uma série de modificações, uma delas sendo o trem de pouso, que foi reforçado para suportar com mais durabilidade as pancadas enormes resultantes da severidade dos pousos em porta-aviões. Tanques de combustível internos foram adicionados, gerando a corcova acima da fuselagem.
O RA-5C foi a mais eficiente versão do Vigilante. A aeronave possuía área alar um pouco maior, para compensar a maior massa transportada, cerca de cinco toneladas, proveniente das câmeras. Mesmo com o compartimento interno ocupado, uma adição abaixo da fuselagem foi feita para acomodar os sensores de infravermelho, luminosidade e outros.
Havia também um radar de vigilância lateral e um scanner de infravermelho para detectar seres vivos. Os radares laterais são necessários para evitar ao máximo o sobrevoo de áreas inimigas, com o avião podendo passar nas bordas do perigo, e não diretamente sobre ele.
Em junho de 1964, o RA-5C foi introduzido no serviço ativo. Ao todo, foram formados 10 esquadrões com a aeronave, dos quais, 8, apenas 2 meses depois, já estavam no Vietnã.
As primeiras missões eram fotografar alvos, antes e depois dos ataques, voando a cerca de 2.400 m de altitude, o que era considerado muito baixo, e de altíssimo risco. A única proteção existente para aeronave era a velocidade. Vários foram derrubados, o que o tornou a aeronave da US Navy com a maior taxa de atrito no conflito. Ao todo, 19 aeronaves foram perdidas em combate, de um total de 26 durante toda a guerra. A velocidade superior dos Vigilante, em relação às outras aeronaves, como os Vought F-8 Crusader, por exemplo, praticamente inviabilizada a possibilidade do envio de escoltas efetivas. Para se ter uma ideia, os Vigilante saíam depois dos aviões de ataque, e conseguiam ultrapassá-los.
Numa das missões, em dezembro de 1967, foi determinado que a um RA-5C, número de série 149299, fosse verificar o centro de Hanói, em busca da localização do campo de prisioneiros onde estavam os americanos. Voando rápido e baixo, a prisão Hoa Lo, apelidada de Hanoi Hilton, foi fotografada pela 1ª vez. Com a localização exata, a pressão política contra o Vietnã aumentou, resultando na liberação gradativa de todos os presos.
A despeito de seus excelentes préstimos, o Vigilante era considerado caro e complexo de ser operado, além de ocupar um espaço precioso a bordo dos porta-aviões americanos.
Com o término da Guerra do Vietnã já dado como certo, a partir de 1974, os esquadrões de reconhecimento começaram a ser desativados. Sua última missão ocorreu em 1979, com a aeronave tendo sido aposentada no dia 20 de novembro do mesmo ano.
North American A-5 / RA-5 Vigilante
Variantes:
- YA3J-1 / YA-5A: dois protótipos construídos, voou pela primeira vez a 31 de Agosto de 1958, com o chefe dos pilotos de teste da North American Dick Wenzel aos comandos.
- A3J-1 / A-5A: bombardeiro de ataque nuclear, em todas as condições meteorológicas, dia e noite, baseado em porta-aviões, iniciou a atividade operacional a bordo do USS Enterprise (CVN-65) em Agosto de 1962.
- A3J-2 / A-5B: similar ao A3J-1 / A-5A, mas incorporando um depósito central de combustível maior, e FLAPS de bordo de ataque para aumentar a sustentação e estabilidade em baixas velocidades.
- A3J-3 / RA-5C: versão embarcada de reconhecimento estratégico.
Quatro modelos do motor General Electric J79, foram utilizados nas diversas versões do Vigilante, com o seguinte escalonamento:
- J79-GE-2: Nos dois protótipos e nos modelos de produção inicial do A3J-1/A-5A.
- J79-GE-4: Nos A3J-1/A-5A de produção interina, na qual foi utilizado aço em substituição da liga de magnésio nos exaustores de escape e nas molduras frontais das tomadas de ar.
- J79-GE-8: Nos últimos A3J-1/A-5A, em todos os A3J-21/A-5B e nos modelos de produção inicial da versão A3J-3/RA-5C.
- J79-GE-10/10B – Nos últimos 36 exemplares produzidos do A3J-3/RA-5C.
Armamento:
- 1 bomba nuclear de queda livre do tipo Mark 27, B28 ou B43, no compartimento interno de armas.
- 2 bombas nucleares de queda livre do tipo Mark 83, Mark 84 ou B43, nos pontos fixos sob as asas.
O projeto inicial também previa a ampla utilização de um mix de armamento convencional, juntamente com o nuclear, que seria transportado em 4 pontos fixos sob as asas, além do compartimento interno de armas.
Curiosidade:
Quando o Vigilante estava no estágio inicial do seu desenvolvimento, foi considerada uma configuração onde a aeronave teria cauda dupla, Um mockup chegou a ser construído, como pode ser visto abaixo:
FONTE/FOTOS:
- North American Aircraft 1934-1999, Volume 2, Kevin Thompson, Narkiewicz//Thompson, 1999
- American Combat Planes, 3rd Edition, Ray Wagner, Doubleday, 1982.
- United States Navy Aircraft Since 1911, GordonSwanborough and Peter M. Bowers, Naval Institute Press, 1990.
- North American Rockwell A3J (A-5) Vigilante, M. Hill Goodspeed, Wings of Fame, Vol 19, 2001.
- US Navy.
- Coleção particular do Editor, e internet.
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