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sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

F-104 Starfighter, um avião controvertido


starfighter-jg-e280a6ild-farbe-3Quando o Starfighter surgiu, seu revolucionário projeto causou muita excitação nos meios aeronáuticos. No entanto, a prática demonstrou que o avião era dispendioso e de fraco desempenho.

ab7ed7ed65b0ea31214abac334681721O Lockheed F-104 Starfighter foi desenvolvido para superar as falhas dos aviões de guerra norte-americanos que haviam atuado na Guerra da Coréia (1950/53): nesse conflito, mesmo o caça mais moderno da Força Aérea dos Estados Unidos (USAF), o North American F-86 Sabre, faltou uma margem de desempenho suficiente sobre os MiG-15 soviéticos usados pela Coréia do Norte.

O novo avião se deslocava a velocidade superior a Mach 2 e tinha teto operacional de 18.300 m. Do ponto de vista aerodinâmico o aparelho era também revolucionário, com asas extremamente finas e de baixa relação corda/envergadura, além de ter fuselagem esbelta, semelhante à de um foguete (daí o motivo de ser chamado de “míssil tripulado”).

Planejado como um interceptador diurno para voo visual (VFR), o F-104 foi equipado com armas de curto alcance, sendo seu principal armamento um canhão de 20 mm, de canos rotativos, segundo o princípio de Gatling, e dois mísseis ar-ar AIM-9 Sidewinder orientados por radiação infra-vermelha. Havia um sistema de mira por radar e um detector simples para pontaria noturna no compartimento do nariz.

As linhas do Starfighter lhe valeram o apelido de "míssil com um homem dentro" está bem evidente. O desempenho do F-104 na Luftwaffe, porém, valeu-lhe uma fama negativa, devido à alta taxa de acidentes.
As linhas do Starfighter lhe valeram o apelido de “míssil com um homem dentro” está bem evidente. O desempenho do F-104 na Luftwaffe, porém, valeu-lhe uma fama negativa, devido à alta taxa de acidentes.

O Starfighter F-104A entrou em serviço em janeiro de 1958, depois de um período de quatro anos de desenvolvimento e testes. Por causa de falhas no motor e problemas na ejeção do assento do piloto (que era para baixo), porém, três meses depois o aparelho foi retido em terra para reavaliação. Quando os aviões receberam novamente autorização para voar, com motores modificados, a USAF decidiu que seu desempenho, particularmente no que se referia ao alcance, não era satisfatório, e em 1959 foram desativados de suas funções.

A maioria dos F-104A rejeitados pela USAF foi temporariamente transferida para a Guarda Nacional dos Estados Unidos, voltando para o Comando de Defesa Aérea em 1963. Alguns foram fornecidos a Taiwan e à Jordânia; outros foram convertidos em alvos teledirigidos QF-104, ou equipados com motores-foguetes Rocketdyne de combustível líquido para pesquisas a grande altitude pela Escola de Pilotos de Prova da USAF, recebendo a designação NF-104A.

O CF-104 usando pods de foguetes sob as asas, para missões de ataque leve. A versatilidade da carga de armamento era uma das vantagens do Starfighter.
O CF-104 usando pods de foguetes sob as asas, para missões de ataque leve. A versatilidade da carga de armamento era uma das vantagens do Starfighter.

Uma versão caça-bombardeiro F-104C com pontos fixos sob as asas entrou em serviço na 479.ª Ala de Caça Tática do Comando Aéreo Tático em 1958. Com um motor mais possante, o J79-GE-7, e equipados com sonda de reabastecimento em voo, os F-104C tinham alcance suficiente para desempenhar certas funções limitadas no Vietnam. Aí foram inicialmente destinados a funções de MiG-CAP. Quatro esquadrilhas de Starfighter tomaram parte na maior batalha aérea de toda a guerra, a operação “Bolo“. Esses aparelhos foram usados na função de ataque, na qual deixava de ser aproveitada a sua capacidade de superioridade aérea.

Em 1956 a Lockheed iniciou um programa de melhorias que transformou o Starfighter num avião multifuncional e capaz de voar em quaisquer condições atmosféricas. Apesar disso o interesse da USAF pelo aparelho já não era grande, devido à gritante deficiência do F-104 em autonomia e no desempenho do sistema de armas. Mas a OTAN estava interessada numa versão derivada do F-104C, e a República Federal da Alemanha (RFA) desejava um caça multifuncional supersônico para equipar sua Força Aérea e para expandir sua indústria aeronáutica. Assim, em março de 1959 a RFA assinou contrato para desenvolvimento e construção, sob licença, do avião chamado pela Lockheed de Super Starfighter. Seis meses mais tarde o Canadá fez um contrato semelhante, seguido logo depois pelo Japão, pela Holanda, pela Bélgica e pela Itália. Além disso, a USAF fez encomendas para o Programa de Assistência Militar.

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Temia-se tanto que durante a ejeção em altas velocidades o piloto fosse atingido pela deriva que os engenheiros dotaram o caça com assento ejetável para baixo, o que se mostrou fatal em baixa altitude.

5ae201e9bfdf032050fbcda8c3327e12Reparando defeitos

Para que pudesse suportar a aceleração da gravidade própria de suas novas funções de ataque nuclear a baixa altitude e ataque ao solo, o F-104G (G de Germany) teve a estrutura da fuselagem redesenhada e reforçada, alojando um motor J79-GE-11A. No entanto, a mudança mais significativa ficou com os novos aviônicos. Dentre eles destacava-se o F-15A NASARR, que tinha funções ar-ar e ar-terra, um indicador de orientação e posição para navegação estimada automática e um sistema de navegação por inércia LN-3, o primeiro sistema desse tipo a ser usado operacionalmente num avião.

Para reduzir a necessidade do avião de pistas longas e bem conservadas, a Força Aérea da RFA e a Lockheed realizaram uma série de testes combinados conhecidos como ZELL e SATS. Na decolagem ZELL o avião era impulsionado de uma plataforma inclinada com a força conjunta de um motor-foguete de combustível sólido de 54.430 kg e do próprio motor J79-GE-11A. Os pousos curtos SATS eram feitos em pistas semi-preparadas, equipadas com cabos de parada. Embora tecnicamente viáveis, esses arranjos acarretavam custo e problemas logísticos inaceitáveis. Finalmente, a atenção pública voltou-se para o Starfighter nos anos 60 pelo elevado número de acidentes sofridos pelo F-104G, muitos deles fatais. Como resultado, o Starfighter foi apelidado de “Ataúde Voador” e “Fazedor de Viúvas”.

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Com a USAF o F-104A participou de ações no Vietnã, sofrendo algumas perdas, com ao menos um sendo abatido por um MiG-21.
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O F-104G da Marinha alemã usava o míssil anti-navio MBB Kormoran.

O F-104G

No auge de seu sucesso, o Starfighter alemão integrou nove alas da Força Aérea e duas alas da Marinha da RFA, operando como caças-bombardeiros, interceptadores e aviões de reconhecimento. No final o avião foi destinado às funções de ataque ao solo, ataque nuclear e antinavio, muito adequadas ao F-104G. Sendo pequeno e soltando relativamente pouca fumaça, era difícil de ser visto a baixa altitude; e tinha um sistema de ECM eficaz e não podia ser alcançado facilmente.

Na função nuclear, o avião podia transportar uma única carga no cabide sob a linha central da fuselagem, dependendo somente de seu canhão interno para defender-se. Em combate aéreo os Sidewinder e os sensores infravermelhos a eles relacionados não seriam usados. A carga típica de ataque ao solo incluía bombas luminosas Lepus, bombas de fragmentação, bombas simples de queda livre e pods de foguetes não guiados LAU-3A.

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A RFA foi a nação européia que mais usou o Starfighter, com mais de seiscentos aparelhos, servindo em várias unidades da Força Aérea e da Marinha.

F-104GA RFA e a Itália foram os únicos usuários do Starfighter a empregá-lo na função antinaval. Na RFA só uma ala da Marinha estava equipada com aparelhos RF-104G e F-104G. As funções dela em tempo de guerra seriam as de reconhecimento armado e ataque antinavio; a responsabilidade do esquadrão era impedir a passagem da Frota Soviética do Báltico pelos braços do mar do Norte que separam Dinamarca, Suécia e Noruega.

O principal míssil antinavio do F-104G era o MBB Kormoran, que podia ser transportado em cabides subalares. Para missões de reconhecimento armado o equipamento típico levado pelos F-104G eram quatro mísseis AIM-9L Sidewinder. Em vez do canhão M61 havia um equipamento de reconhecimento que incluía câmaras de visão lateral e oblíqua.

F-104S
F-104S

Os Starfighter monopostos construídos no Canadá pela Canadair, os CF-104, diferiam dos F-104G principalmente pelo pod fotográfico de reconhecimento Vicon, instalado na linha central sob a fuselagem. Os CF-104 tinham motor Orenda J79-OEL-7 e estavam equipados com o NASARR R-24 exclusivo para a função ar-terra; havia espaço para mais combustível no lugar do canhão M61 e da munição.

Dentre os Starfighter em serviço, os mais ativos foram os da Força Aérea de Autodefesa do Japão (JASDF). Até o final de 1984, houve pelo menos dezessete violações soviéticas do espaço aéreo japonês, contornadas pelos interceptadores da JASDF. O F-104J era basicamente uma variante de defesa aérea do F-104G. Possuía NASARR otimizado para a função ar-ar, e seu armamento principal consistia em um canhão M61 de 20 mm e quatro mísseis ar-ar AIM-9 Sidewinder.

A versão definitiva

Em meados da década de 60, o governo italiano assinou um contrato com a Lockheed para o desenvolvimento do F-104S, a “versão definitiva” do Starfighter. O aparelho era otimizado para a interceptação em qualquer tempo e era propulsado por um turbojato J79-GE-19 de 8.120 kg de empuxo. Foi atualizado do ponto de vista do equipamento eletrônico com a instalação do radar R-21G/H, com indicação e rastreamento de alvos móveis e de mísseis de médio alcance guiados por radar. O R-21G/H tinha também funções de mapeamento do relevo do solo e de evitação de obstáculos do terreno. Na função de ataque ao solo o F-104S podia transportar até 3.405 kg de armamento em nove pontos externos de fixação.

F-104S usado pela Força Aérea Italiana em missões de interceptação.
F-104S usado pela Força Aérea Italiana em missões de interceptação.

A Força Aérea da Itália operou o Starfighter numa variedade de funções que incluíam interceptação em qualquer tempo, reconhecimento e treinamento. Algumas variantes biplaces de treinamento foram construídas para apoiar os programas de treinamento de nações que operavam o F-104. Esses aparelhos não possuíam canhão interno nem cabide sob a linha central da fuselagem, mas os cabides instalados sob as asas e os pontos de fixação na ponta delas forneciam certa capacidade ofensiva a eles.

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Glossário

AAM Míssil ar-ar (Air-to-Air Missile)

ECM Contramedidas eletrônicas (Electronic Countermeasures)

MiGCAP Patrulha aérea de combate aos MiG (MiG Combat Air Patrol)

NASARR Radar norte-americano de busca e rastreamento (North American Search And Ranging Radar)

SATS Campo de pouso curto para apoio tático (Short Airfield for Tactical Support)

ZELL Lançamento do avião, com o auxílio de foguetes, de uma plataforma inclinada (ZEro-Lenght Launch)

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FONTE: Aviões de Guerra #23

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