Jato comercial que até pouco tempo era uma parte intrínseca na paisagem dos aeroportos nos Estados Unidos, o McDonnell Douglas MD-80, conhecido por lá pelo apelido “Mad Dog” (cachorro louco) também teve uma curta e discreta passagem pelo mercado brasileiro no início da década de 1980 e que durou apenas alguns meses.
Em 1982, a antiga companhia aérea Cruzeiro do Sul foi abordada pela McDonnell Douglas, que tentava emplacar o então recém-lançado DC-9 Super 80, avião que posteriormente deu origem a família MD-80. Era uma das aeronaves de passageiros mais avançadas daquele tempo e surgia como uma alternativa aos jatos de médio porte 727 e 737 da Boeing.
No passado era comum os fabricantes oferecerem aeronaves para períodos de testes com empresas aéreas. Era uma chance para as companhias avaliarem o produto no dia a dia com passageiros e tripulantes e chegar a uma conclusão na prática. Foi o caso da Cruzeiro, que recebeu um modelo MD-82 para experimentações em dezembro de 1982. Por aqui, o jato recebeu a matrícula PP-CJM.
O MD-82 operado pela Cruzeiro era um avião “zero km”. A unidade havia sido encomendada originalmente pela companhia Aeromexico, que na época decidiu por adiar o recebimento da aeronave que já estava pronta para entrar em serviço. Sem um operador comercial imediato, o aparelho foi direcionado para a frota de testes da McDonnell Douglas.
O modelo que veio ao Brasil era configurado para embarcar 155 passageiros e tinha uma pintura adaptada diferente dos demais aviões da Cruzeiro do Sul, com a parte superior da fuselagem em metal polido. Esse detalhe compunha o esquema de cores da Aeromexico na década de 1980.
Experiência foi positiva, mas não rendeu pedidos
Embora fosse u
De acordo com a página, o PP-CJM operou principalmente a partir do Aeroporto de Congonhas, em São Paulo (SP), e voou nas principais rotas domésticas da Cruzeiro, como os trechos para Curitiba (PR), Porto Alegre (RS) e Manaus (AM). O modelo da Cruzeiro também teve atuação internacional, servindo na rota entre a capital paulista e Buenos Aires, na Argentina.
Um fato interessante destacado no artigo foi o bom desempenho das equipes de pilotos da Cruzeiro durante a fase de treinamento em simuladores de voo do MD-80. Instrutores da McDonnell Douglas avisavam aos aviadores brasileiros que uma pane introduzida no simulador os levaria a uma queda no voo simulado, como acontecia com pilotos de outras nacionalidades. No entanto, todos eles conseguiram contornar a falha nos testes virtuais.
Conforme descrito no texto, a passagem do MD-80 pela Cruzeiro do Sul foi considerada positiva, com raros atrasos nas partidas e chegadas ou problemas técnicos. A empresa aérea, então controlada pela Varig, decidiu adquirir seis jatos da McDonnell Douglas. Porém, uma variação brusca no câmbio tornou o avião muito caro para a realidade brasileira na época e o plano de compra foi abortado. O PP-CJM foi devolvido ao fabricante em março de 1983.
O MD-82 operado pela Cruzeiro do Sul por quase quatro meses foi o único de sua espécie que voou por uma empresa aérea brasileira. Foi um período de atuação tão curto que nem houve tempo para deixar saudades ou um legado no Brasil, como outros aviões conseguiram e até hoje são lembrados e cultuados, como o clássico Lockheed Electra II e as primeiras versões do Boeing 737.
As múltiplas personalidades do “Mad Dog”
Em 1967, a Douglas se fundiu com McDonnel Aircraft e deu origem a McDonnell Douglas. O nome da aeronave, entretanto, foi alterado para MD-80 somente em 1983. A série teve cinco versões com portes e desempenhos diferentes, nomeados como MD-81, MD-82, MD-83, MD-87 e MD-88. Ao todo, foram produzidos 1.191 jatos da família MD-80 entre 1979 e 1999.
No fim da década de 1980, a McDonnel Aircraft iniciou o programa MD-90 (este o nome do avião propriamente dito e não a designação de uma família de aeronaves, como foi o MD-80), desenvolvido a partir do MD-80 e contendo modificações significativas, como instrumentos digitais e motores turbofan mais silenciosos.
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O modelo otimizado voou pela primeira vez em 1993 e estreou no serviço comercial em 1995. A aceitação do avião no mercado, contudo, não chegou nem perto dos níveis de seus antecessores e apenas 116 aparelhos foram fabricados entre 1993 e o ano 2000. A título de comparação, a Douglas produziu 976 unidades do DC-9 entre 1965 e 1982.
Numa nova cartada, a McDonnel Aircraft lançou a variante MD-95, com maior alcance de voo. Todavia, o modelo nunca chegou ao mercado com este nome.
Em 1997, a Boeing absorveu a McDonnel Aircraft e, consequentemente, todos os projetos de aeronaves comerciais e militares da empresa. Foi assim que o MD-95 foi rebatizado como 717, que mais adiante se tornaria um dos maiores fracassos da fabricante de Everett, que concluiu 156 exemplares do jato entre 1998 e 2006, quando o clássico Mad Dog foi descontinuado nos EUA.
Em 2008, o MD-90 “renasceu” na China sob a alcunha ARJ21, um projeto iniciado pelo consórcio estatal ACAC (AVIC Commercial Aircraft Company) e depois rebatizado como COMAC (Commercial Aircraft Corporation of China), fabricante chinesa que hoje disputa contra o duopólio Airbus-Boeing no setor de jatos comerciais de médio porte.
As origens do MD-80 chinês remontam ao início dos anos 1990, quando a McDonnel Douglas firmou uma parceria com a fabricante chinesa Shanghai Aviation Industrial Corporation para produzir sob licença uma versão da aeronave na China, chamada MD-90-30.
A expectativa inicial era produzir 40 jatos no país, mas o programa terminou com apenas dois aviões concluídos. Anos depois, aproveitando as ferramentas importadas dos EUA, os chineses criaram seu próprio MD-90, que se tornou o primeiro avião comercial fabricado em série na China.
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