A necessidade de substituição dos veteranos aviões de treinamento básico e avançado North American AT-6 Texane os North American T-28 Trojan, em suas unidades de instrução, levou à USAF – Força Aérea Americana, em princípios da década de 50, estabelecer os requisitos que tal aeronave deveria atender, para participar de concorrência que seria aberta em breve.
Dentre as oito empresas que participaram da concorrência, onde foram colocados 15 projetos diferentes, a Cessna Aircraft Company, de Wichita, Kansas,foi uma das duas únicas companhias que optaram por um modelo equipado com dois motores. O resultado da competição foi anunciado em dezembro de 1952, onde a Cessna foi declarada vencedora com seu modelo Cessna 318.
O Modelo 318 recebeu a designação militar de T-37 e o seu primeiro protótipo, designado XT-37 e matriculado 54-0716, realizou o primeiro vôo em 12 de outubro de 1954, tendo em seus comandos o piloto de provas da Cessna Bob Hagen.
Os testes continuaram em ritmo acelerado com mais dois protótipos, quando foi detectada uma certa dificuldade da aeronave sair dos diversos tipos da manobra parafuso que realizava. Tal problema foi solucionado com a colocação de uma quilha adicional na parte inferior da fuselagem traseira da aeronave.
O primeiro T-37A de série, de uma encomenda inicial de 444 unidades, feita pela USAF, voou em 27 de setembro de 1955, quando já começaram as entregas para as unidades de avaliação. O T-37 foi chamado carinhosamente de “Tweety Bird” ou somente de “Tweet”, ou seja, canário, justamente pelo ruído característico de suas turbinas.
O T-37A foi equipado com duas turbinas Continental J69-T-9, com um empuxo de 417 kg cada uma. No final, somente 416 aeronaves da variante T-37A foram construídas, sendo que, posteriormente, os aviões remanescentes foram modificados com as inovações introduzidas na variante seguinte, designada T-37B.
A necessidade de uma versão com maior potência e com aviônica mais avançada levou a Cessna a apresentar uma variante chamada de 318B, que recebeu a designação militar de T-37B. Esta nova versão entrou em serviço em novembro de 1959 na USAF e em vários países que o importaram para a tarefa de treinamento básico e avançado. Estava equipado com duas turbinas Continental J69-T-25, com empuxo de 465 kg cada uma, sendo que a sua produção prolongou-se até 1970, com um total de 552 unidades produzidas.
Os constantes movimentos de guerrilha, por todo o planeta na década de 60, exigiram um vetor, de baixo custo e de qualidade comprovada, para atuar como aeronave de treinamento avançado, porém, quando necessário, ser utilizada como plataforma de combate.
Assim sendo, a Cessna desenvolveu a sua terceira variante do modelo, o 318C, em dezembro de 1961, que recebeu a designação militar de T-37C e já incorporava a possibilidade de ser empregado como uma aeronave tática, pois foi equipado com visor de tiro e provisão para casulos de metralhadoras, foguetes e bombas de treinamento e de emprego geral, em quatro pontos duros colocados na parte inferior das asas.
Paralelamente, foi equipado com tanques removíveis de 65 galões (245 litros), nas pontas das asas, que lhe possibilitavam um significativo incremento de autonomia. Esta variante foi a que teve maior sucesso para exportação, principalmente para vários países do Sudeste Asiático e da América do Sul, onde o Brasil foi o seu maior operador.
A performance do T-37C como aeronave tática acabou resultando no desenvolvimento de uma outra versão para uso exclusivo em operações antiguerrilha e de ataque, por solicitação da USAF, que divisava o seu uso na guerra do Vietnã, que se intensificava à época, com a entrada dos americanos. O primeiro protótipo dessa nova aeronave realizou o seu primeiro vôo em 22 de outubro de 1963.
Após inúmeros testes aerodinâmicos, a USAF efetuou a encomenda de um lote inicial de 39 aeronaves desse tipo, que foram designadas A-37, e que seriam entregues ao Comando Aerotático da USAF, para os ensaios operacionais correspondentes.
O A-37 foi equipado com duas turbinas General Electric J85-17A, de 1.090 Kg de empuxo cada uma. Essa aeronave podia transportar várias combinações de armamentos e de tanques suplementares de combustível, em oito pontos duros sob as asas. Os seus tanques de ponta de asa foram aumentados para uma capacidade de 95 galões, além de a aeronave ter sido equipada com um “probe” para reabastecimento em vôo, que lhe proporcionava uma enorme autonomia.
O “Dragonfly” (libélula), como ficou conhecido, continua sendo utilizado até a atualidade e ainda consegue grande sucesso na realização de suas tarefas de apoio aéreo aproximado e outras, quando necessárias, em diversos países.
O Modelo 318 da Cessna, que originalmente foi desenvolvido para ser um treinador básico e avançado, provou que, após várias modificações, pode tornar-se um versátil avião de combate, o que o levou a ser um grande sucesso da empresa de Wichita.
A UTILIZAÇÃO MUNDIAL DO CESSNA T-37
Além dos Estados Unidos, inúmeros países utilizaram diversas variantes do Cessna T-37:
- Cessna T-37A: Estados Unidos.
- Cessna T-37B: Alemanha, Camboja, Chile, Colômbia, Estados Unidos, Grécia, Jordânia, Paquistão, Peru, Vietnã do Sul e Tailândia.
- Cessna T-37C: Birmânia, Brasil, Chile, Coréia do Sul, Estados Unidos, Grécia, Paquistão, Peru, Portugal, Tailândia e Turquia.
- Cessna A-37B: Chile, Colômbia, El Salvador, Equador, Estados Unidos, Guatemala, Honduras, Peru, Uruguai e Vietnã do Sul.
O CESSNA T-37C NA FAB
O Ministro da Aeronáutica solicitou ao Estado-Maior da Aeronáutica – EMAer, em meados da década de 60, que estudasse uma aeronave, de preferência a reação, para substituir, os veteranos e já ultrapassados, North American T-6 na instrução básica e avançada dos cadetes da então Escola de Aeronáutica – EAer.
Após a análise e o estudo de inúmeros tipos, disponíveis à época, o Cessna T-37C foi a aeronave que preencheu o maior número dos requisitos determinados pelo EMAer, assim como a Cessna foi a empresa que forneceu as formas mais atraentes de pagamento, sendo então escolhido como o novo treinador básico e avançado da FAB.
O número de aeronaves compradas novas diretamente da fábrica foi de 40 unidades, que receberam as matriculas de FAB 0870 a FAB 0909 e a designação militar de T-37C. Imediatamente, foi criada uma Comissão de Fiscalização e Recebimento da FAB na Cessna – COMFIREM-CESSNA, na cidade de Wichita, que coordenou a fabricação, a transferência de tecnologia de manutenção para os nossos técnicos, o treinamento dos primeiros pilotos da FAB – que realizariam o traslado em vôo dos aviões para o Brasil – assim como efetuou o recebimento das aeronaves.
As primeiras unidades começaram a chegar à cidade de Pirassununga, no interior de São Paulo, sede do Destacamento Precursor da Escola de Aeronáutica – DPEAer, em meados de 1967, em traslado efetuado em vôo, por pilotos da EAer, em esquadrilhas constituídas com quatro ou cinco aeronaves, sempre acompanhadas por uma aeronave de apoio Fairchild C-119G.
Os anos de 1967 e 1968 foram utilizados para completar a chegada de todos os 40 aviões comprados, formar os novos instrutores de vôo, preparar a sistemática de manutenção, assim como todos os manuais e procedimentos necessários ao vôo de instrução, sendo que no dia 09 de setembro de 1968, era realizado o primeiro vôo de instrução com cadetes no Cessna T-37C no Brasil.
Com a criação do Centro de Formação de Pilotos Militares – CFPM, na cidade de Natal, RN, em 1970, a FAB optou pela compra de mais 25 aeronaves, do mesmo tipo, para equipar a nova Unidade e que foram matriculadas de FAB 0910 a FAB 0934.
O CFPM teria a responsabilidade de ministrar, em um ano, praticamente toda a instrução de vôo primária, básica e avançada para os cadetes do primeiro ano, selecionando-os como pilotos militares, que seguiriam, após, para a Academia da Força Aérea – AFA – novo nome da Escola de Aeronáutica, desde o dia 10 de julho de 1969 – onde fariam somente vôos de manutenção, pois toda a seleção de vôo já teria sido realizada no CFPM.
Tal sistemática teve duração efêmera, pois em 1973 todos os T-37C foram concentrados na AFA, onde permaneceram como o treinador padrão até o ano de 1978, quando, por uma série de motivos, como alto custo operacional, falta de peças de reposição e fadiga do material, tiveram que ser substituídos pelos NEIVA Universal T-25, no estágio avançado, até a chegada dos EMB-312 Tucano T-27, em 1983.
A ESQUADRILHA CORINGA DA AFA – O CESSNA T-37C EM DEMONSTRAÇÃO AÉREA
Um grupo de instrutores da AFA resolveu formar uma esquadrilha de demonstração aérea, denominada de ESQUADRILHA CORINGA, equipada com nove aeronaves Cessna T-37C, no âmbito do Primeiro Esquadrão de Instrução Aérea – 1º EIA, em princípios de 1969, a fim de manter o treinamento do vôo de formação, assim como participar de atividades de representação aérea na própria AFA, nas datas festivas como a entrega do espadim aos novos cadetes e na formatura dos aspirantes-a-oficial, no final de cada ano. Porém, o motivo principal do grupo seria proporcionar vibração e confiança aos jovens cadetes aviadores da Força Aérea Brasileira.
As aeronaves foram escolhidas, assim como as duplas de instrutores para cada avião, de 1 a 9, e os treinamentos começaram, nas áreas de instrução da AFA, ou seja, bem longe da Academia, pois somente quando todas as manobras estivessem bem dominadas e treinadas por todos os 18 pilotos, a Coringa viria para a vertical da Academia da Força Aérea onde realizaria a sua primeira aparição em público.
A primeira demonstração aérea da Esquadrilha CORINGA foi realizada no dia 10 de julho de 1969, exatamente na entrega dos espadins aos novos cadetes e para comemorar a transformação da Escola de Aeronáutica em Academia da Força Aérea, assim como a transferência definitiva da Escola do Campo dos Afonsos para a Cidade de Pirassununga, SP. O sucesso foi total, sendo, inclusive, uma grande surpresa para todos os presentes que se impressionaram com a perfeição e o arrojo das manobras realizadas por nove jatos birreatores pesados na ala.
A Esquadrilha Coringa foi liderada por inúmeros oficiais, principalmente pelo comandante do 1º EIA, e acabou ficando tão famosa que era convidada para realizar demonstrações por todo o Brasil, em solenidades militares e aniversários de cidades, tendo, inclusive, feito uma demonstração no exterior, quando apresentou-se no Paraguai, por ocasião do aniversário da independência daquele País amigo.
As aeronaves da Coringa não receberam pintura especial, ou seja, utilizavam os padrões normais da AFA, a única diferença era na aeronave líder FAB 0897, que possuía um horizonte artificial extra, para proporcionar maior segurança nos deslocamentos da Esquadrilha. A outra novidade estava nos pilotos, que utilizavam o emblema da Coringa em seus macacões de vôo, diferenciando-os dos demais instrutores da AFA.
Com a desativação temporária da Esquadrilha da Fumaça, em virtude da retirada de serviço dos aviões North American T-6, em 1976, a Coringa era a única esquadrilha de demonstrações da FAB, mesmo não sendo oficializada, porém, as solicitações para demonstrações eram enormes, em sua maioria atendidas pelo Comando da AFA, dentro da disponibilidade das aeronaves e do quantitativo de horas de vôo aprovadas para o esforço aéreo da Academia.
Infelizmente, no final de 1978, a Esquadrilha Coringa fez a sua última demonstração, em decorrência da pouca disponibilidade dos jatos T-37C, que não atingiam o total de nove aeronaves para formar a Esquadrilha. Assim, o Comandante da AFA determinou que durante as solenidades os vôos fossem realizados somente por quatro aeronaves, o que acarretou na prematura desativação de tão querida equipe, que tantas alegrias e emoções proporcionou aos cadetes da AFA e ao público em geral de 1969 a 1978.
O FIM DA CARREIRA DOS T-37C NA FAB
Finalmente, todas as aeronaves foram concentradas no Campo de Marte, em São Paulo, no final de 1980, quando as mesmas começaram a ser preparadas para uma possível colocação em concorrência internacional para venda. O Boletim da Diretoria de Material – DIRMA de nº 028, de 20 de outubro de 1981, dá baixa do acervo da FAB de 42 aeronaves Cessna T-37C, remanescentes da antiga frota de 65 aeronaves, recebidas em 1967 e 1970.
Completando o processo, a FAB colocou à venda 42 aeronaves Cessna T-37C, em 1981, que estavam estocadas no PAMASP. Apareceram inúmeros países interessados em adquirir tais aviões como o Chile, o Uruguai e até os Estados Unidos. Porém, foi a Coréia do Sul que apresentou a melhor oferta e acabou adquirindo todo o lote de aeronaves que foram entregues no mês de março de 1982.
Para os saudosistas, a aeronave T-37C FAB 0922 está preservada no Museu Aeroespacial. As outras aeronaves foram perdidas em acidentes durante os 15 anos de sua operação na FAB.
Assim, este magnífico avião, que teve a responsabilidade de formar toda uma geração de pilotos da FAB, conseguindo introduzir a doutrina do jato aos novos oficiais e capacitando-os para a pilotagem de aeronaves mais sofisticadas, com certeza, deixou um preito de saudade e emoção nos que tiveram o prazer de tê-lo voado ou, principalmente, nele ter começado os primeiros passos na arte de voar!
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