Nesta semana comemora-se os 58 anos do primeiro voo do Lockheed Martin SR-71, o lendário avião de reconhecimentos dos Estados Unidos que ganhou fama por sua velocidade e por suas missões secretas na Guerra Fria.
No dia 22 de dezembro de 1964, o piloto de testes Bob Gilliland, acelerava o ainda ultrasecreto SR-71 na pista da base de Edwards, na Califórnia, para alçar um histórico voo com o "pássaro preto".
A Skunk Works, um laboratório de desenvolvimento de projetos avançados da (ainda) Lockheed, foi responsável por criar a família de aviões que se tornou lendária na história da aviação. Antes do SR-71, o mundo conheceu o A-12, uma versão ligeiramente menor, com assento único, que voou dois anos antes e era usado pela CIA, a agência de inteligência dos Estados Unidos.
Curiosidades
Na época da Guerra Fria, voar alto e sobretudo muito rápido para fugir dos mísseis antiaéreos era prioridade. Por essa razão o SR-71 atingia a velocidade máxima de impressionantes Mach 3.3 (aproximadamente 4.000 km/h). Anos depois do voou inaugural o SR-71 quebrou o recorde de velocidade operacional, atingindo 3.529 km/h.
Por conta da velocidade que o avião atingia foi decidido usar liga de titânio para ter resistência e durabilidade em temperaturas excessivas. O avião enfrentaria condições extremas de temperatura e atrito, exigindo materiais de elevada resistência e baixo peso estrutural. Mas era preciso algo a mais, a tinta preta foi criada especialmente para absorver calor. Devido a isso, surgiu o famoso nome Blackbird.
O Blackbird foi criado para sobrevoar com segurança territórios da União Soviética e demais territórios rivais dos Estados Unidos. Ainda assim, o titânio usado em quase todo o avião era produzido justamente pelos soviéticos. A CIA criou empresas de fachada para poder adquirir o metal de forma legal e sem levantar suspeita. Além disso, a agência se aproveitou do elevado número cprruptos entre os altos funcionários do governo soviético para conseguir manter o completo sigilo da operação.
Falando em segredos, o A-12 foi criado exclusivamente para a CIA, que especificou suas necessidades que já não eram cumpridas pelo também ultrasecreto U-2. Ambos aviões eram tão sigilosos que nem mesmo a USAF sabia do projeto. O curioso é que os A-12 tinham pintado na fuselagem a inscrição U.S. Air Force, mesmo que a própria força aérea sequer soubesse de sua existência. O avião só foi declarado uma realidade em 1992, um ano após o fim da Guerra Fria.
O formato da família Blackbird além de suportar as forças aerodinâmicas e térmicas, tinha um propósito adicional. Não ser identificado era importante, por isso houve cautela ao desenhar as superficies do avião. Embora distante do conceito furtivo moderno, a ideia era basicamente a mesma, evitar ser facilmente identificado.
O resultado, mesmo sendo uma aeronave de 30 metros, sua assinatura radar era um pouco maior que um pássaro médio.
O teto operacinal era outro destaque do Blackbird, com incríveis 85.000 pés (26.000 metros) o que exigia um traje especial dos pilotos, basicamente igual o usado por astronautas.
"[Voar] a 85.000 pés e Mach 3 foi uma experiência religiosa. Nada me preparou para voar tão rápido... Meu Deus, mesmo agora, fico arrepiado de lembrar", contou Jim Wadkins, piloto e coronel da USAF. Diversos pilotos do SR-71 declararam a emoção de voar tão alto e tão rápido.
O nome SR-71 foi adotado por um erro cometido pelo presidente dos Estados Unidos Lyndon B. Johnson. Em um discurso feito para autoridades militares em 1964 o presidente trocou a ordem da sigla do avião, que originalmente era RS-71, acrônimo de ReconnaiSsance, mas após o erro as autoridades optaram por revisar todos os documentos com a nomenclatura RS-71, passando adotar o SR-71. A ideia era evitar eventuais constrangimentos a Presidência dos EUA.
"Gostaria de anunciar o desenvolvimento bem-sucedido de um novo e importante sistema estratégico de aeronaves tripuladas, que será empregado pelo Comando Aéreo Estratégico.Este sistema emprega a nova aeronave SR-71 e fornece um avião de reconhecimento estratégico avançado de longo alcance para uso militar...", disse Lyndon Johnson, que seguiu com a sigla errada por toda sua fala.
Hoje os aviões de inteligência são chamados popularmente de strategic reconnaissance (reconhecimento estratégico), o que valida a sigla SR.
A Lockheed desenvolveu uma versão de caça derivado do Blackbird, designado como YF-12A. Embora nunca tenha passado de um protótipo, sua atuação como caça de interceptação foi considerada um sucesso. O moderno radar e conjunto de armas garantiram bons resultados. O entrave era o elevado custo e a mudança no cenário estratégico nuclear. Os norte-americanos e soviéticos estavam priorizando mísseis balísticos intercontinentais ao invés de bombardeiros supersônicos, o que inviabilizava o uso de um caça capaz de voar Mach 3. Era rápido demais para justificar seu uso contra o Tu-95 e incapaz de derrubar um míssil voando ainda mais alto e muito mais veloz.
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