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quinta-feira, 16 de março de 2023

Dassault Mercure, o A320 que deu errado

 


Dassault Mercure
Apesar de moderno e inovador, o Dassault Mercure foi um fracasso comercial, com 12 aviões produzidos e 10 vendidos (Udo K. Haafke/Wikimedia Commons)

Décadas atrás, uma fábrica na França lançara um avião comercial para bater de frente com o Boeing 737. Com tamanho e características parecidas, esse avião foi um grande… fracasso comercial. Obviamente, não estamos falando do Airbus A320, mas do Dassault Mercure, lançado em 1971. Mas por que ele deu errado?

Em 6 de abril de 1967, o Boeing 737-100 fazia seu primeiro voo. Ninguém poderia imaginar, mas ali nascia a família de aviões mais bem sucedida da história e que voa no mundo inteiro até hoje, 55 anos depois. No mesmo ano, a Dassault Aviation recebeu apoio do governo francês pra entrar no mercado da aviação civil. Até então, a fabricante havia se estabelecido na aviação militar e queria usar o que aprendeu construindo caças para fazer um avião comercial.

Então, desenvolveram o Dassault Mercure. Esse avião seria um pouco maior que o Boeing 737-100, carregando 140 passageiros. Isto é, 30 a mais do que o modelo norte-americano. Além disso, a ideia da Dassault é que seu jato fosse mais rápido, para concorrer de frente com o 737. Durante o Salão de Le Bourget de 1969, a Dassault construiu um mockup do avião em tamanho real para apresentá-lo a eventuais compradores. Em 1971, a Dassault apresentou o primeiro protótipo e fez o primeiro voo com o Mercure.

Inovador, mas de curto alcance

Cabine Boeing 787
Comum em aviões modernos como o Boeing 787, o HUD era opcional no Mercure, em 1971. (Alex Beltyukov – RuSpotters Team/Wikimedia Commons)

Ele trazia algumas características interessantes. Por exemplo, graças a sua estrutura, era mais leve que o rival norte-americano. Além disso, tinha uma aerodinâmica refinada e cabine levemente mais larga, aposta parecida que a Airbus faria com o A320 quase 15 anos depois. O avião ainda tinha certificação para pouso ILS CAT III, que permitia que ele fosse programado para pousar sozinho. E ele ainda tinha como opcional o head up display (HUD). O HUD é uma espécie de tela que aparece entre a janela e os pilotos, comum em caças e aviões mais modernos, que dá informações de velocidade, altitude e ângulo que o avião voa, entre outras informações.

Além disso, o Dassault Mercure possuía aerodinâmica e motores otimizados para subidas e descidas rápidas. Além disso, os motores, puxados para frente da asa, diminuíam o arrasto. Apesar dessas características, apenas a francesa Air Inter fez um pedido pelo avião. No fim das contas, a Dassault fabricou apenas dez aviões.

Por quê? Por causa de seu curto alcance. Apesar de ser tão revolucionário, o Dassault Mercure voava apenas 1.700 km. Para se ter uma ideia, a distância em linha reta entre os aeroportos de Congonhas, em São Paulo, e de Aracaju é de 1.730 km. Enquanto isso, o Boeing 737-100 voava quase o dobro disso, 3.185 km. Voando em linha reta a partir de Congonhas, o 737-100 alcançava Santiago do Chile (2.590 km) ou Manaus (2.691 km), sem escalas. A Dassault ainda desenhou um segundo modelo do Mercure, com alcance de 2.200 km, mas os custos de produção cancelaram o projeto.

No fim das contas, a linha de produção do Mercure chegou ao fim em dezembro de 1975, depois de fabricar dois protótipos e dez exemplares.

Diagrama do Dassault Mercure
Assim como no Airbus A320, as partes do Dassault Mercure eram construídas em diversos países e montadas na França (Julien.scavini/Wikimedia Commons)

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