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terça-feira, 11 de abril de 2023

Conheça os MiG da Força Aérea dos EUA

 Durante vários anos os EUA usaram uma pequena frota de MiG para treinar pilotos da força aérea e da marinha



A existência dos MiG nos EUA foi revelada gradualmente, o MiG-23 foi exibido pela primeira vez apenas em 2017 - USAF

A foto acima não é montagem e nem se trata de um avião parecido com um MiG-21 criado pelos norte-americanos. Pode parecer mentira, mas, sim é um MiG-21 da Força Aérea dos Estados Unidos (USAF, na sigla em inglês), que foi usado por vários anos em um programa secreto de treinamento de pilotos e avaliação das capacidades técnicas dos projetos soviéticos.

  • A Força Aérea dos EUA tinha na frota os MiG-17, MiG-21F-13 e MiG-23
  • O chamado Red Eagles era um esquadrão ultrasecreto e voava na mesma base que o F-117 realizava seus testes
  • A existência do MiG-23 só foi confirmada nos anos 2000 e apenas em 2017 o avião foi revelado
  • Parte dos aviões foram 'roubados' de bases inimigas e outros foram obtidos com a deserção de pilotos

No final dos anos 1960, ainda durante a Guerra do Vietnã, a USAF secretamente adquiriu e testou vários MiG, com o objetivo de primeiro entender como era a engenharia e produção soviética, e não menos importante, conhecer as capacidades dos aviões e suas limitações em combate.

Os programas ultrasecretos Have Donut e Have Drill permitiram fornecer aos pilotos dos Estados Unidos as primeiras técnicas completas de combate contra os caças MiG-17 e MiG-21. A escolha dos modelos da MiG e não Sukhoi se deu por questões práticas. A família de jatos MiG eram maioria no arsenal da força aérea soviética, existiam milhares disponíveis e eram aviões baratos de produzir e simples de operar. A combinação perfeita para ser uma ameaça real aos rivais ocidentais.

MiG-21
O MiG-21F-13  chegou a voar nas cores dos Estados Unidos | Imagem: CIA USAF e a comunidade de inteligência, incluindo a famosa CIA, deram inicio ao que se tornaria o programa Constant Peg, surgido em 1977 para aplicar de forma sistemática as lições aprendidas anteriormente no Sudeste Asiático e apoiar o treinamento de pilotos contra caças MiG.

Quase dez anos antes, em 1969, a Marinha dos Estados Unidos (US Navy, na sigla em inglês) criou a Fighter Weapons School, mundialmente conhecida como Top Gun, que passou a criar uma doutrina de ensino para evitar as grandes perdas de aeronaves norte-americanas durante a Guerra do Vietnã, sobretudo para mísseis terra-ar e combates aéreos (dogfight). Os pilotos dos EUA estavam cada vez mais dependentes de mísseis ar-ar, perdendo a capacidade de combate. Com o avanço do programa e com a aquisição dos primeiros MiG-17, seguido dos MiG-21, foi possível criar um esquadrão destinado apenas a ensinar como combater aeronaves inimigas.

O 4477º Esquadrão de Teste e Avaliação da USAF, apelidado de Red Eagles, voou com uma frota de MiG-17, MiG-21 e, posteriormente até com o MiG-23. Além disso, a inteligência conseguiu farto material de instrução soviética, somado a depoimento de pilotos desertores que detalhavam todo o processo, incluindo táticas de combate usada em diversos esquadrões operacionais. Assim, os pilotos “aggressor” (inimigos) do Red Eagles não apenas usavam táticas de caça soviéticas, mas voavam os aviões reais.

MiG Red Eagle

Embora a inteligência dos Estados Unidos tivesse sido eficiente em conseguir os aviões e os materiais de treinamento, havia o risco de serem descobertos. O que exigiu um nível de segurança e sigilo sem precedentes na instrução aérea, seja dos pilotos, instrutores ou mecânicos.

O programa Constant Peg era tão sigiloso que a maioria dos alunos só era informado sobre a natureza do treinamento quando chegava. Não ao acaso o local escolhido para instalar o Red Eagles foi a o complexo de Nellis, em Nevada, que embora seja vizinha de Las Vegas conta com parte da estrutura localizada em locais remotos do deserto. Um desses locais era o Tonopah Test Range, que segue sendo uma das instalações militares mais secretas do mundo, ao lado da vizinha base de Groom Lake, também chamada de Área 51.

Uma das características do treinamento era permitir os pilotos norte-americanos verem como era a aproximação de um MiG. No imaginário dos aviadores o embate com os MiG era mortal e apenas os bravos e heróicos pilotos sobreviviam. Parte era verdade, já que com uma doutrina baseada no uso de mísseis e com pouca habilidade para combate dogfight, ou seja, avião contra avião, a USAF e US Navy sofreram baixas consideráveis na Coreia e Vietnã. Contudo, bastava conhecer o avião inimigo e ver que havia pouca novidade, que, em geral, os caças dos EUA eram superiores quando pilotados por aviadores capazes e bem treinados. Após cada fase os pilotos realizavam com os instrutores extensos interrogatórios para revisar os métodos mais eficazes e onde haviam falhado.

  • Ao menos 26 caças MiG estiveram envolvidos no Constant Peg
  • Os instrutores e alunos voavam até Tonopah para não serem perseguidos por agentes de inteligência da União Soviética
  • O projeto era considerado tão secreto que poucos na USAF e US Navy sabiam da sua existência. Os pilotos que realizavam o treinamento jamais comentavam sobre o que haviam feito
Constant Peg
Centenas de pilotos voaram contra os MiG durante o treinamento do programa Constant Peg

Já em 1982 o MiG-17 foi aposentado, por ser um avião muito ultrapassado e com manutenção cada vez mais difícil. Ainda assim, logo chegou o MiG-23 que mesmo não sendo o mais avançado avião do arsenal soviético era um dos mais populares, com milhares de unidades construídas. Embora fosse um equivalente do F-111 Aarvak, em termos práticos o MiG-23 estava para o F-16 no combate aéreo, embora fossem de gerações diferentes. O importante não era a capacidade tecnológica, mas as capacidades de voo, doutrina de emprego, quantidade disponível, técnicas de combate, entre outros.

O uso do MiG-23 nos Estados Unidos era tão secreto que apenas nos anos 2000 sua existência foi confirmada, com os documentos sendo desclassificados em meados de 2017.

Atualmente os Estados Unidos continuam avaliando as capacidades dos aviões inimigos, buscando modelos de combate que sejam superiores no campo de batalha. A maior parte do treinamento hoje é feito baseado no aprendizado dos últimos 40 anos, assim como em simulações realistas das capacidades dos aviões mais modernos da Rússia e China. Oficialmente não existe nenhum avião russo ou chinês modernos no inventário da USAF ou US Navy, da mesma forma que nenhum MiG-23 existia até os anos 2000.

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