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domingo, 2 de abril de 2023

RAFALE: uma maravilha francesa ou apenas um Typhoon menos oneroso?

 

Além disso, suas qualidades permitem que ele seja capaz de competir contra os caças norte-americanos?

O francês Rafale e o britânico-alemão-italiano-espanhol Typhoon, ambos bimotores, foram desenvolvidos em paralelo a partir do final dos anos 1980 como dois programas de caça distintos, mas em muitos aspectos muito semelhantes.

A União Soviética e os Estados Unidos tinham, no início dos anos 1980, introduzido uma nova geração de jatos de combate de quarta geração de alto desempenho, como o interceptador Mikoyan-Gurevich MiG-31 “Foxhound” e os caças pesados Sukhoi Su-27 “Flanker”, Grumman F-14 Tomcat e McDonnell Douglas F-15 Eagle. A entrada em serviço desses modelos deixou os aviões europeus muito para trás em termos de desempenho. Com as duas superpotências naquele momento trabalhando em ambiciosos programas de quinta geração, que mais tarde se tornariam o Lockheed F-22 Raptor e os protótipos MiG 1.44 e Su-47, a base tecnológica muito mais limitada da Europa significava que ela teria como objetivo desenvolver caças menos ambiciosos que pudessem preencher a lacuna com a geração anterior da aviação norte-americana e soviética.

Protótipo do Rafale em 1988

Os jatos europeus eram, portanto, consistentemente menores, de alcance reduzido, dependentes de motores mais fracos, sem capacidade de ação furtiva (stealth) e sem conseguir quebrar novos recordes ou testar novos limites como os norte-americanos e soviéticos consistentemente faziam (o Eagle e o MiG-31 bateram diversos recordes).

O Typhoon e o Rafale que foram desenvolvidos a partir da década de 1980 e hoje apresentam uma notável semelhança entre si, em grande parte devido às suas origens como um programa de caça único, com a França originalmente tendo sido parceira no programa Eurofighter. Os franceses abandonaram o programa em 1985 para desenvolver uma aeronave independente devido a divergências sobre o curso que o programa deveria tomar.

Comparando o Typhoon e o Rafale hoje, ambos são considerados os mais caros caças de combate do mundo por suas faixas de peso, em grande parte devido à maior eficiência dos setores de defesa norte-americano e russo, que são os únicos a produzir designs bimotores médios ou leves concorrentes, ou seja, o F/A-18 Hornet/Super Hornet e o MiG-29/35. Ambos os jatos europeus tiveram dificuldades nos mercados de exportação, particularmente em comparação com as plataformas dos EUA, como o F-15 e o F-35, que venceram consistentemente todas as concorrências contra eles.

O BAe EAP (Experimental Aircraft Program) foi um dos precursores do Eurofighter Typhoon

Embora ambos sejam caros, no entanto, o Rafale provou ser significativamente mais barato do que o Typhoon quando comercializado para exportação devido ao seu design ser em muitos aspectos menos ambicioso e mais conservador. Um olhar sobre as principais diferenças entre os desenhos pode dar uma ideia das prioridades divergentes dos dois programas de caça, o que por sua vez reflete as diferenças entre os requisitos da aviação francesa e os dos próprios desenvolvedores do Typhoon.

A diferença mais marcante entre o Rafale e o Typhoon é a motorização, com os turbofans franceses Snecma M88 produzindo consideravelmente menos empuxo, apenas 7.647 kg com pós-combustão, enquanto os motores britânicos EJ200 – que propulsionam o Typhoon – podem produzir 9.177 kg, ou seja, 30% a mais de empuxo com pós-combustão. As diferenças na potência do motor são em grande parte atribuídas às maiores limitações enfrentadas pelo setor de defesa da França. O M88 é o motor mais fraco de qualquer caça de produção no mundo com implicações significativas para o desempenho da aeronave. O desempenho de voo do Rafale está abaixo da média para um caça de quarta geração, com uma taxa de subida de apenas cerca de 300 m/s, uma velocidade máxima de Mach 1,8 e um teto de serviço muito baixo, de menos de 16 000 metros. O Typhoon, no entanto, tem um desempenho de voo muito alto para sua faixa de peso, rivalizado apenas pelo russo MiG-29/35, com uma taxa de subida de 320 m/s, uma velocidade máxima acima de Mach 2 e um teto de serviço de aproximadamente 20 000 metros. As desvantagens do jato francês, no entanto, são parcialmente compensadas pela natureza conservadora dos motores do Rafale, que consomem menos combustível, permitindo um maior alcance para o caça. Os motores Snecma M88 também são consideravelmente mais fáceis e baratos de manter do que o EJ200, o que contribui para os custos operacionais mais baixos do Rafale.

Um dos fatores que geraram divergência entre a França e os demais parceiros – o que acarretou com a saída dos franceses do programa – foi a exigência francesa de que o projeto básico da fuselagem fosse adequada para operações em porta-aviões CATOBAR, o que acarretava em requisitos conflitantes, especialmente no manuseio em baixa velocidade, especialmente quando o caça carregado com armas ou tanques subalares nos cabides subalares.
O Rafale também foi projetado desde o início com a capacidade de ataque nuclear, o que não foi uma consideração importante para as nações do Eurofighter

O Rafale e o Typhoon foram projetados com um baixo custo operacional em mente, o que significa que, embora não sejam tão baratos para operar como a maioria dos caças monomotores, como o F-16 ou o Gripen, eles são muito mais baratos de voar do que os jatos pesados de alto desempenho, como o F-15EX ou o Su-35, ambos superando confortavelmente seus concorrentes europeus.

O Rafale, entretanto, é aproximadamente 10% mais barato para operar e tem mantido taxas disponíveis muito mais altas na Força Aérea Francesa do que os Typhoons em geral. Isso, combinado com seu preço mais baixo, tornou o Rafale atraente para algumas Forças Aéreas. Estima-se que as últimas variantes do jato francês custem cerca de US$ 245 milhões por aeronave, quando comercializadas no exterior como parte de um pacote de exportação, incluindo armamentos, peças de reposição, treinamento e infraestrutura de manutenção.

o Rafale tem uma ênfase maior no transporte de carga e manobrilidade excepcional, mesmo em velocidades muito baixas, enquanto o Typhoon tem um design mais focado no desempenho máximo em altitude e agilidade em regime transônico e supersônico

O Typhoon, em sua forma mais avançada, a Tranche 3A, custa consideravelmente mais, cerca de US$ 321 milhões cada, em pacotes semelhantes, ou quase o dobro de um F-16 Bloco 72, que custa cerca de US$ 120 milhões cada em pacotes semelhantes. O preço do Tranche 3 traz seu custo para mais do dobro do de um F-35, tornando-o difícil de justificar e causando consideráveis polêmica para seu único cliente de exportação recente, o Kuwait¹.

Com o F-35A sendo produzido em uma escala muito maior e integrando tecnologias com mais de uma década à frente de seus equivalentes europeus, o novo caça furtivo deverá “varrer” ambos os caças europeus menos eficientes de qualquer mercado de exportação, onde quer que seja oferecido, tanto quanto o F-15 conseguiu fazer de antemão em Cingapura e Coréia do Sul e o F-16 no Marrocos e nos Emirados Árabes Unidos, apesar do F-35 e do F-15 terem custos operacionais e consumo de combustível mais altos.

Ambos os caças são bastante caros para operar em comparação com caças como o Gripen ou o F-16. O custo exato por hora de voo dependerá muito do operador e da versão. Por exemplo, os Typhoons espanhóis custam muito mais para voar do que os britânicos, uma vez que a RAF voa muito mais e tem formas de suporte de manutenção mais simplificados.
O Rafale teve um sucesso impressionante no mercado de exportação desde 2015, com a combinação de radar RBE2, registro de combate na Líbia e apoio agressivo do estado francês para esforços de marketing contribuindo para o sucesso no Egito, Qatar e Grécia (bem como na Índia). O Typhoon teve sucesso no Qatar e no Kuwait, e uma assinatura de intenção da Arábia Saudita para mais 48 aeronaves.

O interesse estrangeiro no Rafale e no Typhoon veio em grande parte de países que não têm acesso ao F-35, incluindo países árabes na região do Golfo Pérsico, Egito e Índia. A única exceção notável foi a Grécia, que embora tenha almejado o F-35, optou por um punhado de caças Rafale em 2020. A oferta da França de fornecer quase metade desses “gratuitamente” como ajuda e entregar todas as aeronaves quase instantaneamente, retirando de seus próprios estoques, era necessária para dar à aeronave qualquer chance de competir contra aeronaves norte-americanas para futuros contratos com a Grécia, já que o F-35 conta uma longa fila de espera. O crescente apoio militar da França a Atenas também ajudou a fornecer um motivo político para a compra.

Em última análise, não se espera que nem o Rafale nem o Typhoon vejam mais pedidos de exportação significativos. As compras devem se concentrar nos parceiros originais do programa, como foi a escolha da Alemanha e recentemente da Espanha comprando mais 20 aeronaves.

Enquanto os fabricantes europeus estão atualmente buscando desenvolver um caça de sexta geração, efetivamente pulando completamente a quinta geração, as limitações de suas bases tecnológicas e as ineficiências do setor de defesa significam que programas futuros deverão entrar em serviço muito atrás de seus concorrentes norte-americanos, chineses e russos.

Em termos de custo unitário, o Rafale é comercializado como mais barato do que os padrões mais recentes do Typhoon, embora a experiência indiana sugira que, na prática, os requisitos do cliente de exportação em compensações industriais e responsabilidade podem alterar drasticamente os custos em comparação com a oferta inicial.
Tanto o Rafale quanto o Typhoon têm características de baixa assinatura de radar, mas na prática nenhum dos dois é tem uma real capacidade stealth. Completamente polido, sem cargas externas, o Rafale provavelmente teria um RCS frontal inferior em comparação com um Typhoon, mas na prática nenhum dos dois seria eficaz em combate nesta configuração. Com cargas externas, ambos têm RCS suficiente para serem detectados a longas distâncias por sensores de outros caças ou radares de defesa baseados em solo.

Embora o Rafale possa ser o último caça desenvolvido de forma independente pela França, a aeronave ganhou uma vantagem competitiva sobre o Typhoon em muitos casos devido ao seu custo mais baixo, com a aeronave também colocando uma maior ênfase nas operações ar-solo, o que o tornou mais versátil do que seu rival e foi a chave para influenciar o Ministério da Defesa indiano a seu favor.

A França acredita-se que grandes subornos pagos para garantir uma compra indiana tenham dado ao seu jato uma vantagem significativa, especialmente fora da região do Golfo Pérsico, onde a influência britânica é mais limitada. O Rafale pode ser considerado um irmão mais barato do Typhoon em alguns aspectos, mas seu design mais conservador provou ser vantajoso de várias maneiras, apesar de seu inferior desempenho de voo

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