Hoje nós iremos conhecer a história de uma empresa que chegou prometendo mudar o mercado aéreo brasileiro, mas acabou não durando dois anos no ar. Estamos falando da Nacional Transportes Aéreos.
Início das Operações
Era final de 2000 quando a companhia deu início às suas operações. Com as cores da bandeira do Brasil e fundada pelo executivo Aramis Maia Patti, a Nacional Transportes Aéreos decolou em 26 de dezembro de 2000, trazendo um modelo low-cost e com a promessa de mudar o conceito do então mercado aéreo brasileiro.
Na época, Aramis explicava que a empresa se baseava em simplicidade aliada à eficiência, bem como em segurança e conforto nos aviões. A ideia era transportar turistas do Sul até as praias do Nordeste e empresários entre as principais metrópoles do país, oferecendo um serviço honesto, com horários e frequências convenientes.
Com apenas uma aeronave em sua frota, o Boeing 737-400 PP-NAC, arrendado da espanhola Futura, a empresa sediada em São Paulo começou a linha Guarulhos / Recife / Fortaleza / São Luís, aplicando preços competitivos com o modal rodoviário. Seu único Boeing havia sido produzido em 1990 e antes de voar na Nacional, passou por várias empresas, como a Pegasus, da Turquia, e também pela TransBrasil, onde operou como PT-TDA somente por alguns meses. A Nacional optou pela configuração de alta densidade para 170 passageiros em classe única.
Com lojas próprias em São Paulo e São Luís, a empresa também comercializava suas passagens por meio de seu site e por canais de televendas. A companhia optou por não vender bilhetes através de agentes de viagem.
Mudança de planos
As operações iniciais estavam indo bem, até que em março de 2001, um incidente ocorreu e balançou os planos da empresa. Enquanto realizava o voo entre Guarulhos e Recife, com paradas no Rio de Janeiro e Salvador, as comissárias da galley traseira notaram que o piso da aeronave estava quente. O Boeing estava a 15 minutos da capital baiana. Ao serem alertados, os comandantes trataram de acelerar o processo de aproximação em SSA. O jato pousou em segurança, os passageiros evacuaram a aeronave e as chamas foram alimentadas pelo oxigênio com a abertura dos porões de carga. Os bombeiros controlaram a situação, mas o PP-NAC ficou impedido de voar por algumas semanas. As investigações concluíram que um vazamento de líquido acondicionado em uma das malas provocou uma reação química, superaquecendo assim a área.
Com sua única aeronave fora de serviço, os voos da Nacional foram temporariamente paralisados até abril de 2001. Naquele mês, a empresa devolveu o PP-NAC após realizar os devidos reparos, substituindo-o de imediato com o Boeing 737-200 de matrícula PR-NAC. Posteriormente, em julho de 2001, a Nacional incorporou um segundo 737 da versão -200, o PR-NCT. Os jatos contavam com capacidade para acomodar 113 passageiros.
Expansão
Agora com duas aeronaves em atividade, a Nacional ampliou seu leque de destinos e adicionou cidades como Caldas Novas, Araçatuba, Goiânia, Campo Grande, Cuiabá e Brasília ao seu mapa de rotas. Veja mais detalhes da malha da empresa naquele período:
- NCT 9410 – Guarulhos / Salvador / Fortaleza / São Luís (diário, exceto aos sábados)
- NCT 9420 – Guarulhos / Goiânia / Brasília / São Luís (segundas, terças, quartas e sextas-feiras)
- NCT 9420 – Guarulhos / Caldas Novas / Brasília / São Luís (quintas e domingos)
- NCT 9411 – Guarulhos / Campo Grande / Cuiabá (segundas, quartas, sextas-feiras e domingos)
- NCT 9411 – Guarulhos / Araçatuba / Campo Grande / Cuiabá (terças e quintas)
A empresa iniciou ainda voos para o Rio de Janeiro e atingiu seu pico de cidades atendidas simultaneamente: onze. A Nacional passou a ligar Guarulhos com o Galeão uma vez ao dia, com horários variados e com passagens a partir de R$45.
Mesmo transportando seus passageiros com regularidade e pontualidade, a ocupação média nas aeronaves não era tão satisfatória e girava em torno de 60%.
Planos por água abaixo
A Nacional estava em plena expansão e planejava receber outros três Boeing 737-200 em um acordo com a Varig e chegou a anunciar dois novos destinos: Porto Alegre e Florianópolis. No entanto, os planos da empresa foram por água abaixo.
O mundo da aviação atravessava uma severa turbulência após os ataques de 11 de setembro de 2001. A alta do dólar e a queda da demanda ajudaram com que o futuro da Nacional fosse breve.
O terceiro 737-200 da companhia já estava pronto, mas Aramis decidiu encerrar as operações regulares da empresa por tempo indeterminado. Em janeiro de 2002, a Nacional realizou apenas alguns voos fretados. Em fevereiro, a dupla de jatos foi estacionada e todos os voos foram paralisados.
Dois meses depois, os executivos da empresa oficializaram o encerramento das operações da Nacional Transportes Aéreos, mas antes quitaram todas suas dívidas e não deixaram nenhum passageiro na mão. Os clientes que viajariam com a companhia foram acomodados em voos de concorrentes e os dois 737s foram devolvidos em março de 2002. Assim terminou o rápido voo da Nacional pelos céus dos Brasil.
Serviço de bordo
O serviço de bordo oferecido pela Nacional era mais simples para a época, no entanto, superior ao servido atualmente. A empresa disponibilizava bebidas não alcoólicas, salgadinhos, bolachas e sanduíches frios a bordo de seus voos. Confira imagens do arquivo da Flap:
Detalhes da Frota
Dos três aviões operados pela Nacional, um continua ativo até hoje. Adivinha onde? No Brasil. Confira:
- PP-NAC: depois da Nacional, o exemplar da versão -400 voltou para a Futura e várias empresas o arrendaram. O Boeing passou por uma conversão para cargueiro em 2015 e veio voar novamente no Brasil em 2017 pela Sideral Linhas Aéreas. O jato opera hoje sob o registro PR-SDM e conta com a pintura dos Correios.
- PR-NAC: o bimotor iniciou suas operações em 1985 pela norte-americana Midway Airlines como N701ML. Voou na Nacional por quase um ano ao deixar a frota da aérea brasileira em abril de 2002, foi voar pela LAM de Moçambique. Posteriormente, voou em outras duas aéreas da África: a Air Malawi em 2009 e a Star Air em 2012.
- PR-NCT: sua carreira também começou na Midway Airlines em 1985, mas como N700ML. Antes da Nacional, o jato voou em empresas na Alemanha, Turquia e Hungria. Ao deixar a frota da companhia brasileira, o PR-NCT voltou aos Estados Unidos, onde operou pela Casino Express. Em 2005, se encontrou novamente com “seu irmão” na LAM de Moçambique e, anos mais tarde, encerrou suas operações no Chile voando pela PAL – Principal Airlines.
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