Hoje é dia de voltar no passado e viajar pela trajetória da Braniff International Airways, a empresa que foi a mais colorida das Américas e também foi importante no mundo da moda.
Década de 20 até 40
As origens da Braniff International Airways datam do ano de 1926, quando o aviador Paul Revere Braniff criou a Braniff Air Lines, Inc com a ideia de ser uma escola de voos e serviços de manutenção. O projeto não foi para frente, mas no ano seguinte, junto com seu irmão Thomas Elmer Braniff e alguns investidores, Paul fundou um aeroclube em Oklahoma City, nos Estados Unidos.
Em 1928, a dupla de irmãos criou a linha aérea Paul R. Braniff, Inc, que realizou seu primeiro voo na manhã de 20 de junho daquele ano, transportando 5 passageiros a bordo do monomotor Stinson Detroiter. A rota mais conhecida da empresa era a linha entre Oklahoma City e Tulsa. Em 1929, os irmãos venderam a pequena companhia aérea para a Aviation Corporation.
Com a aviação no sangue, Paul e Thomas se lançaram em mais uma empreitada, que eventualmente levaria o nome deles ao redor do mundo, e fundaram a Braniff Airways, Inc, em novembro de 1930. As primeiras rotas partiam de Oklahoma City para Wichita Falls, Kansas City e Tulsa. Na época, os Estados Unidos vivia o período da Grande Depressão e lotar os dois pequenos monomotores Lockheed Vega não era uma tarefa fácil.
Quatro anos mais tarde, a novata empresa chegou próxima de colapsar, mas ganhou a linha dos correios entre Chicago e Oklahoma City. No ano de 1935, a Braniff adquiriu a Long & Harmon Air Lines e a texana Bowen Airlines. A malha de destinos cresceu e passou a abranger desde Chicago até Brownsville e Amarillo, no Texas. Outra novidade foi a introdução dos Lockheed L-10A Electra.
Com seu mapa de rotas amplo, a Braniff adotou na época o slogan “From the Great Lakes to the Gulf”.
Década de 40 até 60
No início da década de 40, a Braniff Airways recebeu seu primeiro Douglas DC-3, um dos bimotores mais populares e revolucionários da história da aviação. No verão de 1942, a companhia mudou suas operações para o aeroporto Love Field, em Dallas, no Texas, e transformou o local em seu principal hub de voos.
Durante o período da Segunda Guerra Mundial, a empresa cedeu metade de sua frota à as forças armadas norte-americanas e também treinou pilotos militares, rádio operadores e mecânicos.
Após o conflito global, as rotas para a América Latina foram concedidas à Braniff e em 1948, a empresa lançou voos para diversas localidades, como Cuba, Equador e Panamá. Para cumprir tais rotas, a empresa incorporou um quarteto de quadrimotores Douglas DC-4 e DC-6.
No ano de 1950, a aérea estreou seus voos em Lima, Buenos Aires, La Paz, Assunção e também para as cidades brasileiras de São Paulo e Rio de Janeiro. De início, os voos partiam de Dallas e em 1951 passaram a ganhar uma parada em Miami, na Flórida. Naquele momento, a empresa estava servindo 29 aeroportos.
Depois de um longo tempo de negociação, a Braniff adquiriu a Mid-Continent Airlines em 1952, adicionando dezenas de cidades ao seu mapa de rotas e chegando a um quadro de 4 mil funcionários. Com a perda de Thomas Braniff, que sofreu um acidente aéreo, Paul Braniff deixou a presidência da companhia, e Charles Edmund Beard assumiu a liderança. Paul faleceu meses depois de seu irmão por conta de questões de saúde.
Nas mãos de Beard, a Braniff continuou sua agressiva expansão e em 1959, a empresa deu um importante passo ao incorporar os Lockheed Electra e também entrou na era a jato com os Boeing 707s.
Década de 60 até 80
No início dos anos 60, a Braniff Airways foi adquirida pela Greatamerica, uma empresa de seguros que reconheceu a linha aérea como uma empresa lucrativa e com possibilidade de expansão global, o que realmente veio a acontecer anos mais tarde.
Em 1964, Charles Edmund Beard deixou a posição de presidente da empresa e logo foi substituído por seu sucessor, Harding Luther Lawrence, que foi o responsável pelo maior crescimento experimentado pela Braniff ao longo de sua trajetória. Ele assumiu o posto no ano seguinte e com 44 anos, era o CEO mais jovem em uma empresa norte-americana naquela época.
Foto: Braniff Airways Foundation
Lawrence contratou Mary Wells, uma especialista em marketing, e ela revolucionou a maneira com que as companhias aéreas se apresentavam ao público. O designer Alexander Girard mudou a cara da Braniff Airways ao introduzir as vibrantes pinturas multicoloridas na fuselagem e também no interior das aeronaves. A pintura tornou-se uma marca da empresa.
Seguindo a campanha End of the Plain Plane, que buscava colorir o mercado da aviação, os uniformes dos funcionários de solo e tripulantes de cabine também foram reestilizados, trazendo um ar aeroespacial para as vestimentas. O responsável pelo desenho das peças foi Emilio Pucci, levando a Braniff a uma era estilosa, que fez com várias outras companhias aéreas seguissem seus passos.
Todas as alterações foram notadas pelo público, que aplaudiu a Braniff, colocando-a em um patamar não só de empresa aérea, mas também de ícone do mundo fashion. A partir desse momento, a empresa seguiu uma linha de crescimento e lucros pelos próximos 14 anos.
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Os primeiros BAC 1-11 da companhia chegaram em 1961, já coloridos com o novo esquema visual.
Em 1969, a empresa estreou seus voos no Havaí e dois anos mais tarde recebeu o seu flagship: o Boeing 747. O quadrimotor recebeu uma vibrante pintura laranja e anos mais tarde foi responsável pela estreia do trecho para Londres. A companhia chegou a operar com onze Boeing 747s, sendo quatro da versão -100, quatro da -200 e três do SP.
Pinturas Especiais
O pintor e escultor, Alexander Calder, foi contratado em 1972 pela Braniff para realizar uma pintura especial em um dos Douglas DC-8 da companhia, que se tornou a primeira tela voadora do mundo. Multicolorido, o quadrimotor de matrícula N1805 foi o escolhido para se tornar uma obra de arte. (foto abaixo)
Na década de 70, novas cores foram adicionadas na cartela de pinturas da companhia e no ano de 1976, o conhecido costureiro Halston foi chamado para desenvolver novos uniformes para os funcionários. Elegantes e sofisticados, as novas vestimentas foram aclamadas pelo público.
Entre 1978 e 1979, a empresa incorporou quinze unidades do Boeing 727. Calder também fez a pintura Flying Colors Of the United States em um dos trijatos da empresa.
Concorde
No ano de 1978, o então CEO da companhia, Harding L. Lawrence, negociou a operação do supersônico Concorde sobre o território norte-americano. Os voos se iniciaram em janeiro de 1979, entre Dallas e Washington DC, marcando a primeira vez que o jato foi utilizado em trechos domésticos nos Estados Unidos. Essas operações eram em conjunto com a Air France e com a British Airways.
No trajeto doméstico, a tripulação era toda da Braniff, mas a partir de Washington DC, as tripulações francesas e britânicas assumiam os trechos internacionais para Paris ou Londres.
A empresa foi a única linha aérea dos Estados Unidos a voar com o emblemático Concorde. Os voos com o supersônico na Braniff terminaram em 1980.
Desregulação
Até os anos 80, a Braniff foi uma das companhias aéreas que mais cresceu e se desenvolveu nos Estados Unidos, mas com as mudanças causadas pela Desregulação em 1978, a empresa caiu em uma situação não esperada, assim como várias outras linhas aéreas estadunidenses.
Harding L. Lawrence enxergava duas saídas para a Braniff atravessar aquele momento: ou expandir o seu network de rotas de forma mais agressiva ou experimentar uma erosão de suas rotas mais lucrativas com a entrada de mais concorrência no mercado.
A empresa optou por expandir e acrescentou 32 novas rotas no seu mapa de voos domésticos em apenas um dia.
Depois de sucessivos anos de lucro, a Braniff passou pelo seu primeiro ano de perdas, encerrando 1979 com 39 milhões de dólares de prejuízo. Ainda neste ano, a empresa criou um hub nas cidades de Boston, ampliando o sistema de rotas para Amsterdam, Bruxelas, Frankfurt e Paris, e também em Los Angeles, com voos para Guam, Seul, Hong Kong e Cingapura.
Década de 80
Os anos seguintes, 1980 e 1981, continuaram a sequência de perdas, acentuando o prejuízo da então lucrativa empresa. Outra questão que ajudou foi o aumento do preço do combustível.
Com a companhia começando a entrar em espiral, o CEO Harding L. Lawrence, abandonou seu cargo em 1980 e John Casey assumiu a presidência, sendo rapidamente substituído por Howard Putnam, em 1981.
Empresas como a Delta Air Lines e a American Airlines começaram a sufocar as operações da Braniff, que em 1981 já não tinha mais fluxo de caixa para sustentar seus voos. No início de 1982, a empresa vendeu suas linhas da América Latina para a Eastern Airlines.
Após uma trajetória de sucesso, que marcou época na aviação norte-americana, a colorida Braniff Airways encerrou seus 54 anos de operação em 12 de maio de 1982, um dia em que os certamente ficaram menos coloridos. Todos os voos da companhia foram cancelados e todas as aeronaves estacionadas.
Ainda naquele dia, um Boeing 747 da companhia decolou de Los Angeles para o Havaí com passageiros e no dia seguinte, 13 de maio, aconteceu o último voo regular oficial da Braniff. O quadrimotor partiu de Honolulu para Dallas, colocando assim um ponto final na trajetória da empresa.
Nova Braniff
Dois anos após a falência, surgiu a tentativa de recriar o nome Braniff no setor aéreo. Assim nasceu a Braniff Inc, com um conceito low-fare, totalmente diferente do anteriormente apresentado pela Braniff International Airways.
Com uma pintura pouco atrativa, a empresa iniciou suas operações baseada no Aeroporto Dallas Love Field e o primeiro voo partiu para New Orleans. A ‘Nova Braniff’ voou com jatos como o Boeing 737-200, Boeing 727 e até o Airbus A320.
Em 1986 foi criada a subsidiária Braniff Express e no ano de 1989, a sede da companhia mudou para Orlando. Ainda em 1989, a empresa entrou em concordata e em novembro daquele ano as operações foram suspensas, colocando um ponto final novamente no marcante nome.
Em 1991, uma nova tentativa de colocar a Braniff em cena surgiu com a Braniff International Airlines, que iniciou seus voos no dia 1º de julho de 1991. Também com o esquema low-cost, a nova Braniff, no entanto, trouxe uma particularidade que lembrou os tempos da antiga Braniff: aeronaves pintadas por completo.
Com uma frota menor, composta apenas por três DC-9s e cinco Boeing 727s, a última tentativa de recriar o nome Braniff durou somente um ano. As operações se encerraram em 02 de julho de 1992.
Deixando um legado multicolorido na aviação e na moda, a Braniff International Airways certamente é uma daquelas empresas que sempre serão recordadas na história da aviação.
Veja alguns timetables da companhia:
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