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sábado, 20 de maio de 2023

A FAB no passado também teve que refazer análise técnica por razões políticas

 


Desde 1967, alguns oficiais da Força Aérea Brasileira já pensavam num sistema integrado de Defesa Aérea. Aos olhos do Ministro Márcio de Souza e Mello, a FAB só ganharia credibilidade se fosse capaz de realizar o policiamento e o domínio dos céus da Pátria através da Defesa Aérea e adquirisse a capacidade de intervenção aeroestratégica. O “resto”, segundo o Ministro, era prestação de serviços.

Em 1968, foi dada a partida para a criação do Sistema de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (SISDACTA) e foi criada a CEPAI (Comissão de Estudos para o Avião de Interceptação), cuja função foi avaliar um interceptador para compor o SISDACTA.

A CEPAI avaliou o Mirage III, o Lightning Mk.55, o Draken e o F-104S.

Analisados os resultados, o Mirage IIIE foi sugerido como o preferido pela FAB e o relatório final foi entregue ao Ministro Márcio que (com a presença do Presidente da CEPAI) apresentou-o ao Presidente da República, General Costa e Silva.



Alegando razões de ordem político-conjuntural, o Presidente Costa e Silva inclinou-se pela solução da aeronave inglesa Lightning Mk.55 e propôs que a análise fosse refeita.

Tecnicamente, o Lightning Mk.55 era inviável para operar na infraestrutura de pistas/pátios da FAB, por causa de seu excessivo peso (44.000lb) e pequena área de contato com o solo (52 polegadas quadradas).

O relatório foi refeito e pronto para ser apresentado ao Presidente Costa e Silva. Para melhor avaliar os efeitos da decisão presidencial, um Grupo de Trabalho composto pelos Maj. Av. M.N.Moreira, Lélio Viana Lobo, Sérgio Ferolla, viajou para a Grã Bretanha e visitou as Bases de Binbrook e Warton para familiarizar-se com os impactos e necessidades operacionais e logísticas do Lightning.

O Presidente Costa e Silva, logo após adoeceu e faleceu, vindo a ser substituído pelo Presidente Médici. Este, procurado pelo insistente Ministro Márcio, liberou a aquisição, em 1970, de 16 aeronaves Mirage III (12 do modelo E e 4 do modelo D de dois lugares) ao custo total do Programa de US$ 69 milhões (sendo cada aeronave cotada a US$ 1,15 milhão cada, US$ 19 milhões de armamento/ mísseis/munição e o restante em equipamento de apoio, pista, hangar, Esquadrão de Suprimento e Manutenção (ESM) e ainda a TDI (Tabela de Distribuição Inicial) de peças de reposição.



O F-103 Mirage IIIEBR representou um tremendo salto para a Força Aérea Brasileira, ficando mais de trinta anos de serviço e voando mais de 65.000 horas.

Os Mirage III das versões adquiridas pela FAB foram desenvolvidas primariamente para missões de defesa aérea, embora mantivessem alguma capacidade de atuar como plataformas de ataque ao solo.

O motor era um SNECMA ATAR 09C, cujo empuxo máximo com pós-combustão alcançava 13.900 libras (6.305 kg), levando a aeronave a velocidade máxima de Mach 2,2 (2.350 km/h).

O sistema de controle de fogo era baseado no radar Thomson-CSF Cyrano II, que originalmente operava integrado ao míssil ar-ar infra-vermelho Matra R530, depois substituído pelo míssil israelense Python III.

Como armamento fixo, a aeronave era dotada de dois canhões DEFA de 30 mm. Para navegação, os Mirage III da FAB utilizavam sistemas tipo Doppler. No inícios dos anos 90, a FAB incorporou ao Esquadrão Jaguar as missões de ataque ar-solo, passando a utilizar bombas de queda livre e lançadores de foguetes.



A aquisição dos Mirage IIIE resolveu o problema da Defesa Aérea, pelo menos marginalmente, mas a FAB ainda precisava urgentemente de uma caça tático, para missões de ataque ao solo e com capacidade secundária de combate aéreo.

A FAB queria o F-5A, mas os EUA repetidamente se recusavam a aprovar a venda do Freedom Fighter ao Brasil.

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