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sábado, 6 de maio de 2023

La Compagnie: conheça a companhia aérea que só tem classe executiva

 


01/08/2020 às 10:30

A La Compagnie é uma companhia aérea francesa que conta apenas com classe executiva em seus aviões (all business class). Fundada em 2014 por Frantz Yvelin e Peter Luethi, opera voos entre Paris e Nova York. Conheça um pouco mais dessa intrigante proposta e também outras empresas que ofereceram serviço semelhante no passado.

História da La Compagnie

La Compagnie (“A Empresa”) começou suas atividades em 2014 com apenas um Boeing 757-200 (matrícula F-HTAG) em sua frota. Seu interior, somente com classe executiva, possuía 74 assentos que não reclinavam totalmente, sem telas touchscreen (tablets eram oferecidos), sem internet a bordo, sem parceiros de conexão e sem programa de milhagem. O futuro não parecia muito promissor.

Seu fundador, Frantz Yvelin, já havia criado uma companhia aérea butique em 2006 (L’Avion), vendida em 2008 para a British Airways. Assim causou surpresa ao anunciar que iria criar outra empresa nos mesmos moldes, já que quase todas as outras apostas nesse modelo terminaram fracassando.

La Compagnie

Boeing 757-200 da La Compagnie

Para a dirigir a nova empresa chamou Peter Luethi, um veterano da indústria da aviação, com passagens pela Swissair e JET Airways. À época ele concedeu entrevista para o blog americano One Mile At a Time onde explicou melhor a proposta:

“Não vai ser a classe executiva mais luxuosa, mas vai ser o melhor preço”. “Nosso modelo é uma combinação de preços baixos e uma classe executiva com foco no conforto, eficiência e uma aeronave menor que oferece mais privacidade”.

La Compagnie

Interior do Boeing 757-200 da La Compagnie

De fato, os preços introdutórios eram fantásticos: por apenas US$ 551 era possível voar um trecho one-way entre Paris e Nova York ou ainda comprar duas passagens ida e volta por US$ 2.014. Vale lembrar que àquela época o dólar estava na casa dos R$ 2,20, ou seja,  por R$ 1.212 você comprava um trecho ou por R$ 2.215 levava uma passagem de ida e volta. E tudo em classe executiva!

Claro que estes eram preços promocionais, insustentáveis a longo prazo. A ideia do plano de negócios da empresa era cobrar entre 30 e 50% a menos que a executiva das grandes companhias aéreas.

Em março de 2015, um segundo Boeing 757-200 (matrícula F-HCIE) chegou e foi lançada uma segunda rota, entre Nova York e Londres (Luton) que durou pouco, sendo descontinuada em setembro de 2016.

Neste mesmo ano fundiu-se com a companhia low-cost francesa XL, criando o XL Airways-La Compagnie Group, focado em oferecer tarifas baixas tanto em econômica como em executiva. No processo, Frantz Yvelin saiu da empresa.

A fusão não alterou em nada os planos de operar uma frota apenas com classe executiva e em 2017 anunciou a aquisição de dois Airbus A321neo direto do fabricante. A primeira aeronave foi entregue em junho de 2019 (matrícula F-HBUZ). A segunda aeronave (matrícula F-HNCO) chegou em setembro do ano passado.

La Compagnie

Airbus A321neo da La Compagnie

Os novos aviões, mais modernos e eficientes, também trouxeram um novo interior com 76 assentos totalmente reclináveis, monitores individuais de entretenimento de 15,6″ com comandos touchscreen e internet a bordo (sem custo adicional).

Desde o início da La Compagnie, as refeições a bordo ficam a cargo do renomado chef Christophe Langrée, do Hôtel Matignon em Paris. Da França para Nova York é servido um menu de 4 passos com entrada, prato principal, queijos e sobremesa. No sentido oposto, em razão do horário, é servido um jantar e café da manhã

Logo quando estava com um produto competitivo e planejando uma segunda rota direta entre Nice e Nova York veio a pandemia e com ela as restrições de viagens entre Estados Unidos e Europa. La Compagnie viu-se obrigada a interromper suas operações em 18 de março e espera retomar seus voos em setembro.

Qual o futuro da La Compagnie?

Qualquer palpite que se dê sobre o futuro de uma companhia aérea hoje em dia é puro chute. Quando foi fundada a La Compagnie já era uma aposta arriscada em um modelo de negócios que muitos julgavam ultrapassado, e que ela teria vida curta.

Mesmo assim ela não só sobreviveu 6 anos mas também renovou recentemente sua frota com com dois Airbus A321neo. Em condições normais, o futuro parecia ser bom para a empresa francesa.

Mas com as aeronaves em solo, os custos com o leasing são altos sem ter uma receita para fazer frente. Não se sabe quais são as reservas em caixa da La Compagnie e quanto tempo ela consegue aguentar o cenário de baixa demanda que deve suceder na retomada.

Sem uma injeção de capital ou ajuda governamental talvez ela tenha que fechar suas portas. Tomara que não seja este o desfecho para La Compagnie.

Outras companhias aéreas all-business class

A La Compagnie não foi a primeira companhia aérea a tentar o sucesso com aviões somente com classe executiva. No início dos anos 2000 o mundo vivia um momento de prosperidade econômica que incentivou a criação de diversas companhias aéreas butique.

MAXjet foi a primeira delas, fundada em 2003 nos Estados Unidos, tinha a ideia de atrair os viajantes de negócios com preços mais competitivos, obtidos ao operar em aeroportos secundários como Luton e Stansted, em Londres. A ideia não deu certo e ela faliu no final de 2007.

Boeing 767 da MAXjet

Fundada por Dave Spurlock, a Eos Airlines foi mais uma companhia all-business class americana que surgiu em 2004 e começou suas operações em 2005 com voos entre Nova York e Londres (Stansted). Sucumbiu pouco tempo depois da MAXjet, em abril de 2008.

Boeing 757 da EOS

Do outro lado do Atlântico também surgiram iniciativas, como a britânica Silverjet. Criada em 2004, passou alguns anos em desenvolvimento do projeto e captação de capital para iniciar suas operações em 2007. Foi a única a oferecer um terminal privativo – no aeroporto de Luton, em Londres, com sala VIP exclusiva (Silver Lounge). Oferecia passagens de Londres para Nova York por preço fixo (999 libras esterlinas) e chegou a oferecer voos entre Londres e Dubai. Encerrou suas operações em maio de 2008.

Boeing 767 da Silverjet

Outra iniciativa europeia foi a francesa L’Avion, que surgiu em 2006 e teve seu primeiro voo em 3 de janeiro de 2007. Oferecia voos entre Paris e Nova York (soa familiar?). Seu fundador foi Frantz Yvelin, o mesmo que anos mais tarde voltaria com a La Compagnie. Estava em situação financeira precária em 2008, quando foi adquirida pela Openskies, subsidiária da British Airways.

Boeing 757 da L’Avion

OpenSkies, que adquiriu a L’Avion, fez seu primeiro voo, de Nova York para Londres em junho de 2008, usando um Boeing 757 transferido da British Airways. Continuou realizando voos com aviões somente com classe executiva até 2018, principalmente na rota entre Londres e Nova York. Naquele ano mudou de propósito completamente, se transformando na Level, companhia low-cost do grupo IAG.

Boeing 757 da OpenSkies

O que deu errado?

Inicialmente a ideia de uma companhia aérea apenas com classe executiva parecia fazer sentido, já que as rotas entre Paris ou Londres e Nova York estavam congestionadas e cheias de passageiros a negócios. Porém, todas apostaram ao mesmo tempo em um modelo de negócios bastante difícil.

As grandes empresas continuaram fechando seus contratos de compra de voos para os seus executivos com as grandes companhias aéreas. Além de praticar descontos mais agressivos, elas possuem uma rede de conexões que permite voar para mais cidades com um único bilhete.

A pá de cal das aéreas butique foi o preço do barril de petróleo, que passou dos US$ 100 em 2008 e a recessão econômica naquele ano que acabou com boa parte da demanda por passagens em classe executiva.

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