O Javelin, que integrou a geração original dos caças a jato, criou um conceito usado hoje até pelo Gripen
O Javelin foi o ultimo avião da Gloster e é outro dos aviões ‘esquecidos’ do Reino Unido. Uma aeronave bruta e gigantesca. O Javelin sofreu um período de desenvolvimento complicado, entrando em serviço com a RAF mesmo não alcançando as especificações de projeto.
A história do Javelin começa de forma semelhante à de muitas aeronaves Real Força Aérea britânica – uma sucessão de requisitos acompanhada por uma sucessão de designs em constante mudança para corresponder. Em 1947, o Ministério da Aeronáutica percebeu a necessidade de um interceptador de alto desempenho para desafiar os projetos de bombardeiros (soviéticos) cada vez mais modernos que estavam sendo produzidos. Duas aeronaves separadas foram previstas; uma diurna e uma noturna. Enquanto o interceptador diurno eventualmente levava ao Hunter da Hawker, a exigência do interceptador noturno para qualquer tempo se resumia a uma luta entre o projeto da Gloster e o da de Havilland (este último acabou mais tarde dando origem ao Sea Vixen).
A especificação foi numerada F.44/46 e três de Havilland DH.110 e Gloster GA.5 foram encomendados. A especificação F.44/46 evoluiu e foi renomeada F.4/48, coberta pelo requisito operacional OR.227, que exigia um caça com um radar poderoso, capaz de 970 km/h a 12.000 m, armado com 4 canhões de 30 mm e 4 mísseis ar-ar.
A Gloster apresentou um projeto baseado na proposta P280 para uma enorme aeronave com asas em delta com dois motores RR Avon. Devido ao peso crescente a companhia foi obrigada a trocar o motor pelo Sapphire, de maior empuxo.
O primeiro protótipo voou no dia 26 de novembro de 1951. O modelo recebeu a designação WD804. O protótipo era uma casca nua, sem radar, nem armas.
Sérios problemas de vibração relacionados ao escapamento e ao fluxo de ar sobre a fuselagem traseira fizeram com que várias reformulações dessa área fossem necessárias. Em junho de 1952, o WD804 perdeu ambos os elevons durante uma corrida de alta velocidade. O piloto, chefe de teste da Gloster, conseguiu pousar usando o compensador de cauda operado eletricamente para controle de inclinação.
A primeira ordem de produção havia chegado, e com ela o nome Javelin. O segundo protótipo, WD808, voou em agosto, mas permaneceu no solo até janeiro de 1953, enquanto a pesquisa continuava para determinar a causa da perda dos elevons. Testes ao longo da primeira metade do ano resultaram em uma série de mudanças no design, incluindo uma “quebra” na asa-delta e fuselagem e superfícies de controle reforçadas.
No entanto, foi neste ponto que a cauda em T alta do Javelin custou a vida do piloto Peter Lawrence – tais projetos são suscetíveis a uma condição conhecida como estol profundo, onde a asa cobre o fluxo de ar sobre a cauda em ângulos de ataque elevados, tornando a aeronave incontrolável (daí o uso de cauda inclinadas para fora como no F/A-18 Hornet – N.T). Em algum ponto do voo, o nariz foi puxado para além de 45º e, quando o estol veio, a velocidade no ar foi reduzida a zero – a aeronave simplesmente caiu do céu. Em março de 1953, um terceiro protótipo (WT827) voou, sendo o primeiro a transportar armas e radar. Vários projetos de radome diferentes foram testados antes de se optar pelo modelo pontiagudo. Grandes tanques no ventre também foram instalados, pois o Javelin tinha um alcance pífio.
Um quarto protótipo (WT830) voou em janeiro de 1954 e, embora sem armas e radar, incorporou todas as melhorias feitas no malfadado segundo protótipo, incluindo ailerons motorizados. O WT830 foi entregue a RAF para ser avaliado pelos pilotos. O quinto e último protótipo (WT836) juntou-se ao programa de voo em julho.
Embora possíveis clientes de exportação tenham se acomodado para observar o progresso do programa antes de expressar qualquer interesse real, em meados de 1956 mais de 20 FAW.Mk.1 estavam envolvidos em trabalhos de teste.
Apesar da designação FAW.1, nenhuma dessas aeronaves estava pronta para entrar em serviço. Enquanto o 46.º Esquadrão e mais tarde o 87.º brincavam com seus novos brinquedos, a verdade é que eles voavam com muitas limitações no envelope de voo e não eram armados com mísseis. O FAW.2 introduziu um novo radar de origem norte-americana, o APQ.43 em vez do FAW.1 AI.17 com um radome maior, e entrou em serviço com o 46.º e, posteriormente, com o 89.º Esquadrão.
A próxima variante era um treinador, o T.3, com assentos em tandem para evitar grandes mudanças no projeto, cauda totalmente móvel, mas sem radar. A mudança no centro de gravidade significava que uma pequena extensão da fuselagem era necessária, e isso foi usado para armazenar combustível extra.
O FAW.4 era semelhante ao FAW.1, mas tinha a cauda do T.3 totalmente móvel e geradores de vórtice nas asas. O FAW.5 era externamente semelhante ao FAW.4, mas tinha o interior da asa redesenhado para dar espaço para mais combustível e provisão para um total de quatro misseis ar-ar Firestreak – embora o avião jamais tenha operado com tal arma. O aprimoramento da asa do FAW.5 logo foi aplicado ao FAW.2, produzindo assim o FAW.6.
Em novembro de 1956 voou o FAW.7, a primeira variante a realmente transportar os quatro mísseis especificados no requisito original. Basicamente um FAW.5, mas com motores Sapphire Sa.7 aprimorados, leme motorizado e fuselagem traseira estendida. A essa altura, tantas variantes diferentes do Javelin estavam no ar, uma dor de cabeça a quem precisava gerir uma cadeia de suprimentos tão diversa.
Somente em junho de 1960 que um Javelin (FAW.7) finalmente disparou um míssil Firestreak, derrubando com sucesso um drone Meteor. O FAW.8, com pós-combustão, estava limitado a usar o pós-combustor apenas a uma altitude mínima; abaixo desse ponto, a PC causava uma perda de empuxo. O FAW.7 era incapaz de decolar usando a pós-combustão. Isso se devia à bomba de combustível do motor. Ela enviava combustível a uma taxa constante e apenas em grandes altitudes havia excesso de capacidade suficiente para permitir que o combustível fosse queimado diretamente sem causar uma perda de empuxo a frio ao mesmo tempo. O FAW.9 era basicamente um FAW.7 incorporando as melhorias do FAW.8 e, por último, havia o FAW.9R.
Em serviço, o Javelin havia se estabelecido para fazer um trabalho constante e nada espetacular além de proteger a nação contra as esperadas frotas de bombardeiros soviéticos – e, embora projetado como um destruidor de bombardeiros de médio alcance e sujeito a muitas restrições sobre como voava, poderia colocar um desempenho digno de crédito contra outras aeronaves da mesma época. Ironicamente, o Sea Vixen poderia superar o Javelin, não tendo nenhuma das restrições deste último, mas não tinha armas adequadas.
O Lightning substituiu o Javelin no Reino Unido e na Alemanha em pouco tempo, com a maioria tendo desaparecido em 1965, mas o Javelin resistiu por mais alguns anos no Extremo Oriente, onde marcou sua única vitória ar-ar ao derrubar um C-130 indonésio durante a crise da Malásia em 1964. Mas com o crescente sucesso do Lightning, os dias do Javelin, mesmo em climas mais quentes, estavam contados, e o último esquadrão foi desativado em abril de 1968.
Ironicamente, embora o Javelin tenha sido escolhido sobre a proposta da de Havilland por ser considerado como tendo mais potencial para desenvolver outras variantes, todas as propostas realmente interessantes foram deixadas de lado. Estas incluíram variantes de reconhecimento, uma envergadura maior, uma versão de ataque transportando bombas em cabides sob a fuselagem e mais significativamente uma versão supersônica com fuselagem com base na regra de área, asas mais finas e unidade de cauda redesenhada. Isso estava sendo explorado seriamente quando foi cancelado. Logo depois o infame Livro Branco da Defesa de Duncan Sandys foi publicado, cancelando a maioria dos projetos de aeronaves avançadas do Reino Unido. Foi a ‘pá de cal’ da Gloster que depois de um período de ostracismo acabou sendo absorvida pela BAC.
O prolongado período de desenvolvimento do Javelin e a falta de oportunidade de provar seu valor em combate levaram a que ele fosse esquecido pelos amantes da aviação, mas foi bem querido por seus pilotos que apreciavam a quantidade de armamento disponível para eles (muito superior a outros tipos da época), sua estabilidade (dentro das diretrizes prescritas) e sua cabine espaçosa.
FONTE: Thunder & Lightnings
Curiosidade: A Gloster, para promover o Javelin perante a opinião pública, fez com que “acidentalmente” um dos protótipos rompesse a barreira do som sobre Londres. O estrondo sônico resultante causou um alvoroço na população local. A posição oficial da Gloster era de que se tratava de um acidente, mas era amplamente considerado uma demonstração de que a aeronave poderia ser supersônica. A empresa foi muito criticada pela imprensa.
Curiosidade²: Os freios aerodinâmicos do Javelin eram incrivelmente eficazes – o suficiente para forçar um atacante a ultrapassar antes que percebessem o que estava acontecendo, e muitas vezes esse recurso era usado para permitir descidas impressionantemente íngremes para o pouso.
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