Enquanto nova família E2 patina nas vendas, avião da primeira geração tem hoje a maior carteira de pedidos entre os jatos comerciais da fabricante brasileira
Quando decidiu aprimorar sua família de jatos comerciais, a Embraer tomou uma decisão ousada: em vez de melhorias pontuais, a fabricante brasileira preferiu recriar os aviões com modificações específicas para cada modelo. Novas asas e soluções aerodinâmicas exclusivas para cada versão, motores mais potentes e econômicos e até espaço interno ampliado em relação aos seus antecessores.
Dessa fórmula nasceram o E190-E2, E195-E2 e em breve surgirá o E175-E2. Mas é justamente este último jato que vive um enorme dilema. Evolução do E175 original, ele pode levar mais passageiros e é sensivelmente mais econômico, porém, bem mais pesado que seu antecessor, beirando as 100 mil libras de peso máximo de decolagem.
Mas com essa configuração, o E175-E2 simplesmente passou a ter sua venda “proibida” nos EUA. A razão está ligada ao acordo entre as companhias aéreas American Airlines, United Airlines e Delta Air Lines com seus pilotos. Para permitir que suas parceiras regionais possam voar com aviões maiores, as três empresas e os sindicatos de tripulantes possuem acordos em que essas aeronaves não podem ultrapassar dois limites, o de número de assentos (76 lugares) e o peso máximo de decolagem, de 86.000 libras (pouco mais de 39.000 kg).
Com isso, os pilotos das três grandes evitaram um esvaziamento natural nos quadros de empregados já que ganham mais que seus colegas contratados por empresas regionais. A regra funcionou bem na época em que os primeiros jatos como o Embraer E145 e seu concorrente CRJ200 passavam longe dessas marcas, mas a partir da introdução de jatos maiores American, Delta e United começaram a ter problemas. Com isso, alguns aviões ganharam cabines espaçosas mesmo podendo levar mais passageiros, mas ainda assim com vantagens econômicas.
O advento da nova geração de jatos regionais como o japonês MRJ, da Mitsubishi, e o próprio E175-E2, no entanto, está em choque direto com as regras americanas. Ambos são bem mais pesados que o permitido na cláusula de escopo, o que tem impedido encomendas no país, maior mercado para esse tipo de avião no mundo.
A Mitsubishi, que está bastante atrasada com seu avião, joga suas fichas no MRJ70, versão menor e mais leve do jato, mas a Embraer ainda tem esperanças de que as grandes companhias dos EUA e seus sindicatos alterem essas regras permitindo aviões mais pesados nas suas regionais.
Velho conhecido dos americanos
Nesse cenário quem tem se dado bem é justamente o E175 de primeira geração. Praticamente sem um concorrente direto, o menor jato da série E1 é hoje o modelo com o maior número de pedidos em carteira da Embraer. São 204 aeronaves encomendadas, quase o dobro do E195-E2, versão mais vendida da nova família.
Além disso, foi o modelo mais entregue no ano passado, com 67 aviões concluídos. Enquanto isso, o E190-E2 teve apenas quatro unidades entregues.
Mesmo sem as inovações de seus irmãos recentes, o E175 se encaixa com perfeição nas necessidades das regionais americanas. Não é à toa que a Skywest, líder no país, possui nada menos que 158 unidades do E175. No ano passado, a Republic Airways, outra grande regional, assinou contrato para 100 jatos E175, pedidos firmes, aliás.
O sucesso repentino do E175-E1, no entanto, tem causado problemas para o E175-E2. Até outubro de 2018, a versão possuía uma imensa carta de intenção de 100 unidades da Skywest, feita em 2013 na época em que a Embraer lançou a nova família. Mas a fabricante retirou essa encomenda da sua lista diante das dificuldades persistentes em alterar o acordo entre as empresas dos EUA e os sindicatos.
Na mesma encomenda de uma centena de E175, a Republic acertou os direitos de compra de outros 100 aviões, mas abriu a possibilidade de parte deles ser convertida para pedidos do E175-E2.
Com isso, a menor versão da família E2 na prática não tem nenhum cliente certo até o momento. Seu desenvolvimento, inclusive, foi postergado em um ano: agora a previsão de início de operação é 2021, isso se até lá surgirem interessados no modelo, certamente um avião muito eficiente, mas que ainda não encontrou seu espaço.
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