Modernização da atual frota francesa de 55 jatos especializados em ataque ao solo inclui novas telas táteis, mísseis Mica IR, pod de canhão, entre outros itens para manter o Mirage 2000D operando na Força Aérea Francesa até 2035
No recente Salão Internacional de Aeronáutica e Espaço (SIAE – Salon international de l’aéronautique et de l’espace) realizado em Le Bourget na França, também conhecido como Paris Air Show, a Força Aérea Francesa realizou, entre as conferências temáticas, uma apresentação sobre a renovação de meia-vida (RMV – rénovation mi-vie) pela qual está passando a sua frota de jatos de ataque Mirage 2000 D.
Segundo nota divulgada no último dia 29 de junho sobre esta apresentação, a renovação das aeronaves deverá permitir que a frota de Mirage 2000 D continue em serviço até 2035. Os primeiros jatos Mirage 2000 D entraram em serviço em 1993 na Força Aérea Francesa (antes chamada de Exército do Ar – Armée de l’Air – e há alguns anos renomeada Armée de l’Air et de l’Espace – Exército do Ar e do Espaço). Trata-se de um avião biposto especializado em ataque ao solo da família Mirage 2000, seguindo conceitos operacionais da década de 1980. Antes desse modelo, foram desenvolvidos e incorporados os caças Mirage 2000 C otimizados para interceptação e combate aéreo (além da sua versão de dois lugares para conversão operacional Mirage 2000 B) e Mirage 2000 N, bipostos especializados em ataque com mísseis dotados de ogivas nucleares (além de terem capacidade para empregar armamento convencional). Além dessas versões, pouco menos de 40 caças Mirage 2000 C da Força Aérea Francesa foi modernizada pelo fabricante Dassault para o padrão 2000-5 em meados da década de 1990.
Um total de 55 jatos de ataque Mirage 2000 D opera atualmente na Força Aérea Francesa, concentrados na 3ª Ala de Caças da Base Aérea 133, de Nancy, e o modelo participou de conflitos na ex-Iugoslávia, Kosovo, Afeganistão, Líbia, República Centro-Africana, Iraque, Síria, entre outros.
O programa RMV – renovação de meia-vida
Segundo nota mais antiga publicada no site da Força Aérea Francesa, o Livro Branco de Defesa da França, de 2013, previa a manutenção de 255 aeronaves na Aviação de Caça, desativando jatos mais antigos e modernizando o Mirage 2000 D para compor o quantitativo com o Rafale, conforme este fosse incorporado em mais esquadrões. Após atrasos, a Lei de Programação Militar 2019-2025 finalmente permitiu iniciar a renovação de meia-vida (RMV) dos 55 jatos Mirage 2000 D.
Alguns dos itens dessa modernização foram apresentados no último dia 22 de junho pelo tenente-coronel Yann, do Esquadrão de Caça (EC) 1/3 “Navarre” (um dos três que compõem a já mencionada 3ª Ala de Caças de Nancy), durante o Paris Air Show / SIAE.
Antes do programa atual, outros esforços de padronização incluíram a integração do Link 16 da OTAN (assim como aparelhos de rádio VHF-FM e sistema de transmissão de vídeo ROVER) e a nacele (pod) do sistema ASTAC, de monitoramento do ambiente eletromagnético e reconhecimento eletrônico tático. Também foram integradas munições duais GPS/laser (caso da GBU 49), e desde 2021 se somaram os tipos GBU 48 e GBU 50, e realizados aprimoramentos na suíte de navegação e biblioteca de bordo escalável.
Porém, foi necessário introduzir uma modernização mais ampla do que as atualizações pontuais mencionadas acima. Assim, a RMV inclui a integração de telas táteis no painel de instrumentos, assim como um novo software, permitindo maior flexibilidade na utilização da aeronave e melhor integração de suas tripulações em missões aéreas complexas. Os mísseis ar-ar Magic II de autodefesa estão sendo substituídos, dentro do programa, pelo Mica IR, versão de guiagem por infravermelho do míssil Mica (cuja cabeça de guiagem é intercambiável com a de radar ativo), cujo alcance é bem maior que o Magic II.
Como o Mirage 2000 D não possui canhões internos (característica comum às demais versões de dois lugares da família Mirage 2000), s , a modernização inclui a integração de uma nacele (pod) com canhão DEFA 550 F3 de 30mm na estação de armas dianteira esquerda da fuselagem, fornecendo capacidade adicional em missões de apoio aéreo aproximado). Segundo o tenente-coronel Yann, a interface da cabine foi totalmente redesenhada com as novas telas e, do ponto de vista da carga padrão de bombas, esta passou de duas para seis de 250kg com possibilidade de seleção do armamento em voo.
A adaptação ao novo padrão é realizada nas instalações industriais aeronáuticas de Clermont-Ferrand e, além das mudanças nas aeronaves, os sistemas de simulação de voo serão atualizados. Aparentemente, com a finalização dos trabalhos, a designação da aeronave passará a ser Mirage 2000 D RMV.
Saiba mais sobre os programas franceses que complementam a introdução do caça Rafale
O Poder Aéreo já publicou diversas matérias, desde que entrou no ar em 2008, sobre os programas de equipamento, racionalização, reestruturação e modernização que a Força Aérea Francesa vem realizando paralelamente à introdução gradativa do caça Rafale. Programas que foram também consequência dessa introdução da nova aeronave, num contexto com alguns óbices de atrasos, reduções orçamentárias e da cadência de produção (esta devido à falta de vendas externas ao longo de vários anos) por um lado, com reescalonamento de entregas nos anos seguintes e posterior atendimento a encomendas estrangeiras quando estas surgiram, por outro lado.
Porém, no geral, algumas características conceituais de reequipamento da Força Aérea Francesa permanecem: ela mantém, ao longo das décadas, uma espécie de “hi-lo mix” baseado na própria renovação dos meios: os caças que numa época formavam o “hi”, porção mais poderosa e de primeira linha desse “mix”, com o tempo (ainda que passando por modernizações) passam a formar o “lo” conforme um novo tipo de caça é introduzido. Paralelamente, unidades que operam um mesmo tipo de jato são agrupadas, algumas extintas e outras criadas, buscando também uma racionalização dos meios
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