Cinquenta anos atrás os aviões de combate Mirage 5P chegaram ao Peru. O evento marcou um “antes e depois” na Força Aérea do Peru (FAP), devido à mudança tecnológica e doutrinária que isso significou.
Desde 1963, o país estava interessado em renovar sua frota de aviões de combate de primeira linha, porque as unidades disponíveis eram da II Guerra Mundial e da Guerra da Coreia, que ameaçava a segurança nacional e sua operações.
Apesar dos esforços, os peruanos não conseguiram modernizar a força com um novo vetor por causa da pressão internacional. Até que em outubro de 1967, durante o governo do presidente Fernando Belaunde Terry, aproveitando-se da situação produzido após a Guerra dos Seis Dias (5-10 junho 1967) que motivou o veto da França a vender armas para Israel, e que interrompeu a venda de 50 caças Mirage para aquele país, o Peru viu uma nova oportunidade.
O objetivo do presidente Charles De Gaulle para fornecer armas para o Peru foi não só compensar a perda do mercado israelense, mas também afirmar a independência francesa no mundo da Guerra Fria na década de sessenta.
Anteriormente, em Lima, na reunião da Defesa Nacional, presidido pelo Premier Edgardo Seoane com os presidentes das comissões de defesa do Senado e da Câmara dos Deputados do Congresso, concordou sobre a necessidade de antecipar a compra de aeronaves de combate francesas, dando especial ênfase ao propósito de renovar o equipamento e armamento de nossos institutos armados para manter um “equilíbrio”
natural de armas na América Latina.
Bom, bonito e barato
O Mirage 5 foi lançado no mercado mundial como o avião mais barato e o “melhor de sua categoria”. Quando foi adquirido em 1968, transformou a FAP na primeira força na América Latina a operar aviões de combate que podiam voar a mais de duas vezes a velocidade do som (Mach 2.2).
Foi, sem uma dúvida, a primeira aquisição de uma aeronave de combate pelo governo peruano como um resultado de uma análise e uma avaliação adequadas conforme exigência, competindo com outros caças da Suécia, Reino Unido e EUA.
Em 1967, durante o governo do presidente Fernando Belaunde Terry foi assinado o primeiro contrato de aquisição, chamado “Martillo” (Martelo) contemplando 16 aviões que foram renomeados Mirage M-5P. Durante o governo militar, foram assinados 9 contratos adicionais, totalizando a compra de 37 aeronaves.
No céu de Quiñones
Em dezembro de 1967, 8 oficiais e 31 técnicos suboficiais foram designados para treinamento na França.
A instrução dos pilotos incluiu todos os aspectos, desde a adaptação e saída “solo” até voos instrumentais, acrobacias, uso tático, tiro e bombardeio. A instrução do pessoal técnico era muito meticulosa e de caráter teórico-prático já que eram aviões de alta performance e alta tecnologia, algo totalmente novo para os mesmos.
Enquanto isso, na Base Aérea de Chiclayo, foram montados novos hangares para abrigar os escritórios dos assessores técnicos, para manutenção e montagem das novas aeronaves do Grupo Aéreo N ° 6.
O Mirage M-5P No. 182 e o No. 183 foram produzidos na fábrica Avions Marcel Dassault.
Uma vez testados, eles foram desmontados e preparados para o transporte até o porto de Salaverry em Trujillo, onde chegaram em junho de 1968. Em seguida, transferidos por estrada para a Base Aérea Chiclayo para serem remontados e logo colocados em condições de voo.
Voo Supersonico
Os técnicos peruanos e franceses terminaram a preparação das duas primeiras aeronaves em 18 de julho de 1968: O primeiro voo do Mirage M-5P, pilotado em território nacional por pilotos peruanos, sendo gravado na história militar da Força Aérea Peruana.
Oficialmente os aviões deveriam ser entregues a FAP pelo presidente Belaunde, no aniversário da instituição, na base aérea de Las Palmas durante o Grande Desfile Militar de 1968 ao longo da Avenida Brasil, em Lima. Para este fim, no dia 19 de julho de 1968, os dois primeiros Mirage 5 foram levados pelo Major FAP Augusto Romero-Lovo Ferreccio e capitão FAP César Gonzalo Luzza ao Aeroporto Internacional Jorge Chavez e depois para Las Palmas.
A apresentação oficial da aeronave Mirage M-5P, no dia da Força Aérea do Peru, foi impecável, como ilustraram os jornais da época. Além disso, com este ato, o Peru demonstrou sua firmeza e independência sobre as decisões relativas à defesa nacional.
Na defesa nacional
O poder dissuasivo do Mirage durante a sua vida operacional desempenhou um papel muito importante porque a sua presença impediu que conflitos se espalhassem ao longo do tempo.
Em 1981, durante o conflito de Falso Paquisha, com o Equador, efetivamente cumpriu a sua missão de “guarda-chuva”, impedindo a ação de aviões inimigos e permitindo ações livres de aeronaves da FAP, helicópteros e tropas contribuindo como “arma decisiva para vitória”, na recuperação do território peruano. No total, foram executadas 68 missões.
Quatorze anos depois, durante o conflito armado do Alto Cenepa (26 de janeiro a 29 de fevereiro de 1995), as Forças Armadas do Peru e Equador lutaram um novo confronto. Nesta ocasião, o Grupo Aéreo N° 6 recebeu a tarefa de estar em posição de atacar os objetivos militares em território equatoriano. Este papel ficou a cargo do Escuadron Aéreo N° 611, que permaneceu em alerta com um pequeno número de pilotos e aeronaves Mirage M-5P4.
A crise econômica nacional reduziu os orçamentos de defesa, que afetaram a
manutenção da aeronave, o treinamento das tripulações, além do atrito institucional para
intervir por mais de dez anos na guerra interna contra o terrorismo.
No entanto, apesar deste panorama sombrio, a FAP trabalhou arduamente para colocar todas as suas aeronaves e tripulações em operação. O Mirage M-5P4 não participou diretamente das operações, mas permaneceu alerta durante o tempo que durou o conflito. Após 32 dias, foi assinada a Declaração de Montevidéu, pondo fim a esta infeliz situação.
Após este conflito, o desgaste do material, a falta de orçamento e a chegada da aeronave MIG-29, o Mirage M-5P continuou voando até 25 de outubro de 2001, quando seu último voo foi realizado, com o Coronel FAP (R) Rolando Cárdenas Brou no comando de uma aeronave.
No total, 37 Mirage foram comprados entre 1967 e 1977.
Nenhum comentário:
Postar um comentário