A camuflagem é uma das técnicas mais eficientes quando se quer surpreender o inimigo. Atacando sem ser detectado, as chances de sucesso aumentam consideravelmente, pois não há tempo das forças adversárias reagirem e deterem a investida. Soldados utilizam uniformes que se confundem em meio a floresta ou com o deserto. O mesmo é feito em veículos de combate, cujas pinturas especiais os “escondem” no meio da paisagem. Já os aviões têm uma forma ainda mais especial de camuflagem, que pode deixá-los “invisíveis” aos radares em solo.
Não é qualquer aeronave que consegue enganar um radar. Ela deve ser construída para tal propósito. Essa tecnologia recebeu o nome “Stealth” (Furtivo, em inglês), e a partir dela surgiram alguns dos aviões mais esquisitos que já voaram, como os insólitos bombardeiros Lockheed F-117 Nighthawk e o Nortrop Grumman B-2 Spirit, que podem lançar bombas com precisão sem serem detectados.
Os radares de defesa antiaérea emitem um feixe de sinais eletromagnéticos. Qualquer corpo que cruzar essa onda faz com que seja refletido, na proporção de sua dimensão. Quanto maior for o objeto, maior será a quantidade de sinais refletidos de volta a fonte emissora e a possibilidade de ser descoberto a grandes distâncias.
Todo avião possui uma assinatura “RCS” (Radar Cross Section, “seção equivalente de radar”), que determina a intensidade de como será detectado pelo radar. Para enganar esses sistemas, uma aeronave deve ter um RCS baixíssimo. O “truque” funciona ao repelir as ondas, que não retornam a sua antena de origem, e as absorvendo, o que requer um material especial (uma espécie de tinta) de especificações secretas.
Descoberta por acaso
Quando o radar foi empregado pelo primeira vez, ainda na Segunda Guerra Mundial, já se buscava maneiras de enganá-lo. A primeira forma foi com o lançamento de “chaffs” (tiras de alumínio ou de fibra de vidro) lançadas de um avião, criando uma nuvem nas telas dos radares inimigos e impossibilitando sua detecção.
Ainda durante o conflito os alemães desenvolveram o jato GO 229, um avião revolucionário que mais parecia uma asa – ele não tinha deriva com leme nem elevadores na traseira. Nos primeiros testes, notou-se que essa aeronave não aparecia nas telas dos rudimentares radares da época (o GO 229 nunca entrou em combate). Foi o primeiro passo da era Stealth.
Após a derrota da Alemanha, os Estados Unidos tomou para si o projeto do GO 229 e a partir dele desenvolveu suas próprias “asas voadoras”. O mais famoso foi o protótipo Nortrop YB-49 de 1947, que também conseguia repelir as ondas de radar e que anos mais tarde seria essencial no desenvolvimento do moderno B-2, que também se parece com uma asa plana. No entanto, o conceito de como esconder um avião dos radares ainda engatinhava e os resultados obtidos até então eram obra do acaso.
Outro avião norte-americano que por ventura também tinha RCS baixo foi o velocíssimo Lockheed SR-71 Blackbird, avião de espionagem que podia voar a mais de 3.500 km/h. Com esse projeto, os engenheiros se deram conta de que o segredo para tornar um avião invisível ao radar começava pelo seu formato. O desenho ideal deveria conter curvas sutis com muitas superfícies pequenas e lisas, processo que ficou conhecido como “facetamento”.
A fuselagem facetada atua como um diamante, refletindo os sinais para todas as direções, exceto de volta para radar de origem. Ainda que uma pequena parte das ondas refletidas na aeronave retorne a fonte emissora, esta não conseguirá identificá-lo como sendo um avião. Os operados em solo vêem os sinais como uma “centelha” intermitente, que não lhes permite localizar o objeto e tampouco fixar a mira de um míssil guiado por radar.
Além do formato facetado, aviões Stealth (ao menos os desenvolvido nos EUA) são cobertos por um material absorvente de ondas de radar. A tecnologia, trancada a sete chaves, bloqueia os sinais e converte o excesso em calor em vez de refleti-las . Combinando o design em forma de diamante com a tinta especial, um avião pode ter um RCS semelhante ao de um pássaro.
Para permanecerem indetectáveis, esses aviões não podem levar armamentos presos às asas ou fuselagem. Em vez disso, mísseis e bombas são carregados em compartimento selados, que abrem quando as armas são disparadas.
Batismo de fogo furtivo
A primeira ação de um avião Stealth só foi revelada após sua estreia em combate. O F-117, desenvolvido na década de 1970, foi o primeiro avião invisível operacional e em 1989, ainda mantido sob segredo, foi enviado ao combate na crise do Panamá e destruiu a pista do aeroporto de Rio Hato sem ser detectado pelas forças do ditador Manuel Noriega.
O F-117 também combateu lançando bombas de precisão guiadas a laser na Guerra do Golfo, Kosovo, Afeganistão e na invasão do Iraque. O modelo foi desativado em 2008. Outra aeronave Stealth norte-americana, e ainda em operação, é o B-2 Spirit, que é também o avião mais caro já desenvolvido na história, com preço unitário de US$ 2 bilhões.
O B-2 também lançou bombas nos conflitos no Kosovo, Afeganistão a na última guerra no Iraque. Esse avião também foi cogitado para bombardear a região onde Osama Bin Laden estava escondido no Paquistão, mas a missão foi cancelada. A captura e morte do líder da Al Qaeda, entretanto, só foi possível graças ao emprego de helicópteros Stealth, que ainda não tiveram seus detalhes revelados pelas forças armadas dos EUA.
Os aviões invisíveis mais recentes são o Lockheed/Boeing F-22, um caça de alta performance, e o projeto internacional de caça naval F-35, que ainda encontra problemas para entrar em operação.
Além dos EUA, outras poucas nações detém o conhecimento da tecnologia Stealth. A Rússia está desenvolvendo o super-caça Sukhoi T-50 e a China apresentou recentemente o primeiro protótipo do interceptador J-31.
Nenhum comentário:
Postar um comentário